Com uma carreira marcada por canções que embalam histórias de amor, dor e pertencimento, Sade Adu também construiu, longe dos palcos, um exemplo poderoso de apoio incondicional. A cantora britânica é mãe de Izaak Theo Adu, que tornou pública sua transição de gênero em 2016.
Nascido Mickailia “Ila” Adu, Izaak enfrentou uma jornada de afirmação de identidade que envolveu desafios emocionais e físicos. Em 2019, ele passou por uma cirurgia de redesignação de gênero e compartilhou em suas redes sociais a experiência de recuperação, acompanhada de uma carta de agradecimento emocionante endereçada à mãe. No texto, Izaak escreveu:
“Obrigado por estar ao meu lado nos momentos mais difíceis e por me dar o espaço e o amor necessários para crescer e me tornar quem eu sou.”
Sade sempre foi discreta quanto à vida pessoal. Mesmo assim, seu filho fez questão de mostrar publicamente o quanto o cuidado materno foi essencial para enfrentar preconceitos e encontrar força. Em entrevistas, Izaak contou que muitas músicas da mãe, especialmente By Your Side, ganharam novos sentidos durante sua transição, apesar de não terem sido compostas especificamente como homenagens a ele. Para Izaak, as letras sobre amor e resiliência passaram a ser também sobre pertencimento e coragem de ser quem se é.
Além do carinho familiar, a história chamou atenção por dar visibilidade à experiência de uma pessoa trans negra em uma indústria cultural que ainda lida com estigmas e desinformação. A relação de afeto entre mãe e filho virou exemplo para muitas famílias, lembrando que o apoio próximo pode ser determinante para a saúde mental e o bem-estar de pessoas trans.
Hoje, Izaak se dedica a falar sobre identidade, saúde e direitos LGBTQIAPN+ em suas redes sociais, sempre destacando que ser amado por quem se é faz toda a diferença. Enquanto isso, Sade segue como um ícone que inspira não só pelo talento musical, mas pela humanidade que transparece dentro e fora dos holofotes.
Muitas inconsistências vindo de fontes oficiais da Indonésia aumentam a angústia dos brasileiros que querem saber o que realmente aconteceu com a jovem publicitária Juliana Marins. Em entrevista à BBC News Indonésia, o médico legista Ida Bagus Alit afirmou que, “de acordo com meus cálculos, a vítima morreu na quarta-feira, 25 de junho, entre 1h e 13h (horário local)”, mesmo dia em que o corpo foi resgatado.
A estimativa, no entanto, contradiz a versão oficial divulgada pela Basarnas, a agência nacional de buscas e resgates da Indonésia, que afirmou ter localizado Juliana já sem vida na noite de terça-feira (24). “De fato, é diferente da declaração de Basarnas. Há uma diferença de cerca de seis horas em relação ao horário declarado por Basarnas. Isso se baseia nos dados de cálculo do médico”, disse Alit.
Mas durante uma coletiva que ocorreu mais cedo no Hospital Bali Mandara, o médico legista chegou a dar outra versão. “Estimamos que a morte ocorreu de 12 a 24 horas antes da chegada ao hospital [em Mataram].” Ou seja, entre 20h40 de terça e 8h40 de quarta.
O laudo da autópsia, divulgado na sexta-feira (27), aponta que Juliana sofreu trauma contundente com fraturas no tórax, ombro, coluna e coxa, que provocaram danos internos e hemorragia. “Havia um ferimento na cabeça, mas nenhum sinal de hérnia cerebral. A hérnia cerebral geralmente ocorre de várias horas a vários dias após o trauma”, afirmou o legista.
Com base nesses indícios, Alit estimou que Juliana tenha morrido cerca de 20 minutos após sofrer as lesões. Porém, não está claro quando Juliana sofreu os ferimentos fatais. Ela foi vista em diferentes profundidades ao longo dos dias: no sábado, poucas horas após a queda, aparecia se movendo entre 150 e 200 metros abaixo da trilha; na segunda-feira, foi localizada imóvel a cerca de 400 metros; e, na terça, seu corpo foi encontrado a 600 metros de profundidade.
Na terça-feira (24), a equipe de resgate conseguiu se aproximar e declarou a morte no local. O corpo foi retirado apenas na quarta-feira, devido às dificuldades no terreno e ao mau tempo.
A família da alpinista acusa as autoridades locais de negligência e afirma que vai processar os responsáveis pela operação. O caso ganhou grande repercussão tanto no Brasil quanto na Indonésia, levantando questionamentos sobre os protocolos de resgate adotados na região.
A novela“Garota do momento” foi surpreendente e vai deixar muitas saudades, um arco na teledramaturgia brasileira. Excelentes atores e atrizes, que pela juventude já fazem parte do futuro da televisão. Que mulheres fantásticas! Quem não se emocionou com Beatriz (Duda Santos), Glorinha (Mariana Sena), Iolanda (Carla Cristina Cardoso) e demais atrizes e atores negros.
A novela cumpriu diversos papeis no resgate da história dos negros no Brasil. Um deles foi o registro dos Clubes Sociais Negros, por meio do Clube Gente Fina. Locais de resistência, de união e de organização de pessoas negras ao longo do século XIX e XX, os Clubes Sociais Negros foram criados para além da proibição (vigente no final do século XIX e nos primeiros anos do século XX) da frequência de pessoas negras em clubes sociais da elite branca. Muitos destes Clubes ainda existem no Brasil em diversos estados, como São Paulo, Rio De Janeiro, Minas Gerais, Bahia, Rio Grande do Sul e outros estados.
A família negra foi destacada pelo trabalho, na garantia da educação de seus filhos, com corajosos exemplos de iniciativas de empreendimentos econômicos construídos com muito esforço, enfrentando preconceitos e discriminações. Deixaram uma mensagem que a luta da família negra vem de muito longe.
A existência de famílias negras em novelas é uma conquista recente, resultado do trabalho do diálogo de atores e diretores. O trabalho dos atores e atrizes de pessoas negras não ficou só na interpretação dos textos da novela, ficou evidente que houve um diálogo e pesquisa sobre a realidade de ser negro no país, com cuidados para que se evitassem cenas estereotipadas.
As situações de discriminação racial que fazem parte do quotidiano das pessoas negras foram denunciadas com situações em que as pessoas negras reagiam e se organizavam para combater o racismo. Um caminho que provavelmente deverá ser trilhado por outras novelas com a presença de pessoas negras.
Um dos pontos muito importantes foram as cenas de amor construídas com muita delicadeza, envolvendo diferentes aspectos, e ressaltando a diversidade de idades, relacionamentos interraciais, homoafetivos na adolescência e de jovens negros.
Em “Garota do momento”, há outros episódios memoráveis, como a homenagem a nossas divas da música: Alcione, que interpreta a si mesma, Alaíde Costa, interpretada pela atriz Bárbara Sut que, na trama, cantou a música “Conselhos”, em homenagem à esta maravilhosa cantora pioneira.
Mas uma novela vive de emocionar os noveleiros como eu, e os beijos de Glorinha e Beatriz foram maravilhosos. As mulheres negras beijaram divinamente. Há um poema “Sanga.Mazza” do escritor Cuti que retrata um pouco a emoção ao ver os beijos de Glorinha e Beatriz com seus respectivos pares:
em festa rodopiem os desejos este beijo é mais que o ensejo de sexo mundos em melanina se fundem no afeto reencontro de rios perdidos selvas sagas mares temperados com africanas algas eletrizantes peixes pretos e seus volts de memória atávica
Não são apenas os beijos em si, mas a união e o encontro de culturas, memórias e identidades, especialmente dentro do contexto do negro brasileiro. Obrigado aos atores e atrizes negros e negras que descortinam um mundo novo, de muito amor e esperança entre as pessoas negras.
O Red Lobster, tradicional rede americana de frutos do mar, iniciou uma nova fase com o objetivo de recuperar relevância no mercado e reverter prejuízos acumulados. Sob o comando de Damola Adamolekun, que assumiu a função de CEO em setembro, a empresa vem apostando em uma combinação de remodelação de cardápio, ajustes na operação e mudanças na experiência do cliente.
O restaurante ganhou projeção cultural ao ser citado por Beyoncé no refrão do hit Formation, lançado em 2016. A menção ajudou a popularizar ainda mais a marca, conhecida por pratos como lagosta, caranguejo e os famosos cheddar bay biscuits. Nos últimos anos, porém, o Red Lobster enfrentou desafios financeiros, culminando em pedidos de recuperação judicial e queda na frequência de clientes.
Adamolekun iniciou sua trajetória profissional como estagiário no banco Goldman Sachs e trabalhou em private equity antes de liderar a compra do P.F. Chang’s em um acordo de 700 milhões de dólares. Durante a pandemia, assumiu o comando do P.F. Chang’s e aplicou uma estratégia de remodelação que hoje serve como inspiração para o plano de retomada do Red Lobster.
Foto: Divulgação
Entre as medidas prioritárias está a revisão de promoções que impactaram severamente a receita, como o rodízio ilimitado de camarão que gerou prejuízos milionários. Em vez de apostar em ofertas desse tipo, a gestão passou a destacar os diferenciais do cardápio, lançando novas receitas de caranguejo e frutos do mar, além de coquetéis sazonais. “Há muitos restaurantes, mas só um serve lagosta e caranguejo como nós fazemos”, afirmou Adamolekun em entrevista ao The Breakfast Club.
O plano inclui também a renovação gradual das 545 unidades nos Estados Unidos. Enquanto o cronograma de reformas avança, pequenas mudanças já começaram a ser implementadas, como ajustes na trilha sonora, melhorias no serviço de mesa e atualização das informações de preço nos forros. O índice interno de satisfação dos clientes, medido pelo chamado sentiment score, subiu de 30 para 60 pontos desde o início da nova gestão.
O Red Lobster também mantém uma unidade no Brasil, localizada no Aeroporto Internacional de Guarulhos, em São Paulo. A expectativa é que essas ações tornem a rede novamente competitiva em um segmento que enfrenta transformações rápidas no comportamento do consumidor. A marca planeja continuar investindo em inovação e reforçar o posicionamento como referência no preparo de frutos do mar.
A publicitáriaJuliana Marins teria morrido cerca de 20 minutos após sofrer uma queda durante uma escalada no Monte Rinjani, na ilha de Lombok, na Indonésia, segundo a autópsia realizada no Hospital Bali Mandara, em Denpasar. A estimativa foi divulgada nesta sexta-feira (27) pelo médico legista Ida Bagus Putu Alit.
Segundo o legista, “o impacto foi intenso e ocorreu nas costas da vítima. Estimamos que a morte tenha ocorrido por volta de 20 minutos após o ferimento”, afirmou em coletiva de imprensa.
Indagado sobre relatos de que a brasileira teria apresentado sinais de movimento após a queda, ele se limitou em dizer que as conclusões se baseiam exclusivamente nos dados da autópsia. “Não há evidências de que a vítima tenha sobrevivido por um longo período após o acidente”, declarou.
A morte de Juliana teve ampla repercussão internacional especialmente em razão do tempo que o resgate levou para ocorrer, que levou quatro dias e precisou contar com voluntários. Família e internautas apontaram a negligência dos procedimentos adotados pelas equipes locais.
As circunstâncias da queda seguem sob investigação pelas autoridades indonésias. O corpo passou por autópsia em Bali, onde também estão sendo conduzidos os trâmites para repatriação. O Ministério das Relações Exteriores informou que acompanha o caso por meio da embaixada brasileira na Indonésia.
Relembre o caso
Natural de Niterói (RJ), Juliana Marins viajava pela Ásia desde fevereiro. Antes de chegar à Indonésia, havia passado por Filipinas, Tailândia e Vietnã.
O acidente ocorreu em 20 de junho, quando a brasileira teria tropeçado e escorregado, caindo cerca de 300 metros abaixo da trilha. Turistas testemunharam a situação cerca de três horas depois e alertaram familiares pelas redes sociais, compartilhando a localização, fotos e vídeos, incluindo imagens feitas com drone.
Uma mobilização online reuniu voluntários, socorristas e autoridades locais. Após quatro dias de buscas, o corpo de Juliana foi localizado sem vida.
Elas estão de volta! Brandy e Monicavão dividir o palco na primeira turnê conjunta da carreira, e o nome não poderia ser mais simbólico: “The Boy Is Mine”. Trata-se de uma homenagem ao clássico de 1998 que marcou uma geração e dominou o topo da Billboard por 13 semanas seguidas.
Duas das vozes mais poderosas e influentes do R&B anunciam uma turnê que vai passar por 24 cidades dos EUA, começando no dia 16 de outubro e encerrando com chave de ouro no dia 7 de dezembro. A tour ainda contará com participações especiais de Kelly Rowland, Muni Long e do novo vencedor do American Idol, Jamal Roberts.
Além do hit “The Boy Is Mine”, que virou símbolo de uma era no R&B, Brandy e Monica também brilharam juntas em “It All Belongs to Me” (2012) e no recente remix com Ariana Grande, que rendeu à dupla uma nova indicação ao Grammy, mais de duas décadas após o estouro inicial.
Após a repercussão da carta pública do curador Hélio Menezes e das renúncias de Rosana Paulino e Wellinton Souza ao Conselho de Administração, o Museu Afro Brasil Emanoel Araujo se manifestou oficialmente nesta quinta-feira (26). Em nota, a instituição afirma que a saída do então Diretor Artístico ocorreu “com base em critérios técnicos, após deliberação formal dos órgãos competentes da entidade, o Conselho de Administração e a Assembleia Geral, em estrita observância aos ritos legais e estatutários”.
Segundo a AMAB (Associação Museu Afro Brasil), que faz a gestão da entidade, a decisão teria sido motivada por divergências entre os objetivos de atuação do diretor e os limites orçamentários da instituição. O comunicado também afirma que foi oferecida a Hélio Menezes a possibilidade de permanecer como Curador Contratado, mas que não houve retorno por parte dele até o momento.
“A medida foi motivada pela ausência de consenso quanto aos termos de atuação do diretor. Apesar dos esforços mútuos, não foi possível alcançar um acordo que equilibrasse as expectativas do diretor então com os limites orçamentários que regem a atuação da AMAB, enquanto entidade responsável pela gestão de recursos públicos”, diz o texto.
Em carta aberta publicada nas redes sociais nesta quarta-feira (25), Hélio havia mencionado que sua demissão ocorreu em meio a um período de grave problema de saúde e relatou que a instituição não teve respeito e práticas éticas desejáveis durante a sua internação hospitalar.
Entre as denúncias feitas pelo curador, ele também destacou que dois conselheiros do Museu Afro Brasil que renunciaram ao cargo, estavam entre as poucas pessoas negras com poder real de decisão dentro da instituição.
Em nota divulgada pelo Museu, eles lamentam o que chamou de “ataques pessoais”. A instituição defendeu os membros do Conselho, afirmando que foram eleitos por unanimidade e que atuam com base em “critérios técnicos, experiência em governança e compromisso com a sustentabilidade institucional da AMAB”. E destacaram que “a pluralidade de trajetórias profissionais, inclusive de lideranças executivas negras em espaços de cultura, é um valor que deve ser respeitado e valorizado”.
Ainda em relação às saídas de Rosana Paulino e Wellinton Souza, o Museu anunciou que a Rosana enviou sua decisão por e-mail no dia 24 de junho, e Wellinton formalizou sua saída no dia seguinte. A entidade afirmou que “endereçaremos os casos de acordo com o que rege a governança de nossa instituição”.
Além de relatar como foi a sua demissão, Hélio Menezes também destacou que o Museu Afro Brasil tem práticas de pessoalismo, pouca transparência e pessoas em cargos de poder que são contra a diversidade e o protagonismo negro. “Se nossos trabalhos criativos, nossas articulações políticas, estéticas e intelectuais não conseguem atingir o tutano do poder institucional, por que prosseguir?”, deixou o questionamento na carta aberta. A instituição não se aprofundou nesses detalhes em nota divulgada.
Leia a nota do Museu Afro Brasil na íntegra:
O Museu Afro Brasil Emanoel Araujo, gerido pela Associação Museu Afro Brasil (AMAB), informa que a decisão de encerrar a relação institucional com o então Diretor Artístico foi aprovada com base em critérios técnicos, após deliberação formal dos órgãos competentes da entidade, o Conselho de Administração e a Assembleia Geral, em estrita observância aos ritos legais e estatutários. A medida foi motivada pela ausência de consenso quanto aos termos de atuação do diretor. Apesar dos esforços mútuos, não foi possível alcançar um acordo que equilibrasse as expectativas do diretor então com os limites orçamentários que regem a atuação da AMAB, enquanto entidade responsável pela gestão de recursos públicos. Inclusive, foi oferecida ao ex-diretor a possibilidade de seguir como Curador Contratado, proposta para que, até o momento, não houve retorno. A Associação também lamenta os ataques pessoais dirigidos à Presidência do Conselho de Administração, eleitos por unanimidade, e cuja atuação é pautada por critérios técnicos, experiência em governança e compromisso com a sustentabilidade institucional da AMAB. A pluralidade de trajetórias profissionais, inclusive de lideranças executivas negras em espaços de cultura, é um valor que deve ser respeitado e valorizado. Com relação à menção de renúncia de dois membros do nosso Conselho de Administração, Rosana Paulino informou por e-mail no final do dia 24/06/2025 o seu pedido e Wellington Souza no início da tarde de hoje, dia 25/06/2025. Endereçaremos os casos de acordo com o que rege a governança de nossa instituição.
Enquanto marcas se preparam para o marketing verde visando a COP30, Domitila Barros fala ao Mundo Negro sobre racismo ambiental e cobra rastreabilidade ética na publicidade brasileira
A publicidade está preparando suas lonas verdes para a COP30, mas em muitos bairros do Brasil, o que se estende é a lona do desespero. Enquanto marcas e agências se mobilizam para aparecer bem na foto da próxima Conferência do Clima da ONU, que será realizada em Belém (PA) em novembro, comunidades negras e periféricas já enfrentam, cotidianamente, os efeitos de um colapso climático silencioso, seletivo e perverso.
“É impossível falar em sustentabilidade sem falar em racismo. O colapso climático tem cor, território e histórico. E ele se agrava toda vez que a publicidade decide fingir que não vê”, dispara Domitila Barros, ativista, comunicadora e consultora internacional em sustentabilidade e marketing ético, em entrevista exclusiva ao Mundo Negro.
Natural da periferia do Recife, Domitila carrega no corpo e na fala o atravessamento de duas urgências: a da justiça social e a da justiça ambiental. Ela já palestrou em 12 países, foi reconhecida como Influenciadora do Ano em Sustentabilidade pelo WIBA Awards em Cannes, atua como embaixadora das Fronteiras Planetárias nos Jogos Mundiais Universitários FISU 2025 e colabora com o Greenpeace. Mas é a partir de sua vivência nos territórios racializados do Brasil que ela constrói sua crítica mais urgente: sustentabilidade sem compromisso com a equidade é só mais um privilégio pintado de verde.
A face racial do colapso
No Brasil, 85% das pessoas que vivem em áreas de risco ambiental são negras ou pardas, segundo o IBGE. A cada novo desastre, seja no litoral norte de São Paulo, nas encostas do Rio de Janeiro, nas enchentes do Rio Grande do Sul ou nos bairros baixos do Recife, o padrão se repete: as mortes não são apenas causadas pela chuva, mas pela negligência política, pelo racismo estrutural e pela lógica de um país que normaliza a exclusão.
Domitila é direta: “Quem morre nas tragédias ambientais do Brasil é quem sempre foi empurrado para a margem. Não adianta encher os aeroportos de banners sobre biodiversidade se o povo preto continua sendo removido sem política de moradia, se os quilombolas são assassinados e os indígenas são silenciados. A publicidade precisa parar de posar de ambientalista enquanto lucra com o silêncio.”
Com a proximidade da COP30, cresce a pressão para que o Brasil assuma protagonismo na agenda climática global. Mas, internamente, o país enfrenta retrocessos sérios, como a recente aprovação no Senado do PL 2159/2021, conhecido como PL da Devastação, que desmonta o licenciamento ambiental e abre caminho para obras e empreendimentos em áreas sensíveis sem avaliação adequada de impacto.
“Ao mesmo tempo que diz liderar a pauta ambiental, o Brasil afrouxa leis que protegem biomas e ignora as vozes das comunidades tradicionais. Isso é greenwashing institucional. E muitas marcas embarcam nesse discurso superficial porque é mais fácil vender utopia do que encarar a verdade: não existe futuro possível sem reparação histórica e redistribuição de poder”, critica Domitila.
Na visão da ativista, a publicidade brasileira, especialmente a de grandes marcas, tem sido covarde. “Estamos em 2025, às vésperas da COP30, e ainda vemos campanhas genéricas sobre sustentabilidade, com slogans recicláveis, mas práticas descartáveis. Onde estão os quilombolas nas campanhas? Onde estão os catadores? Onde estão os corpos reais que fazem a economia circular girar neste país?”
Ela lembra que a publicidade ajudou a construir símbolos de consumo, beleza e pertencimento no Brasil e, por isso, tem o dever de desconstruí-los. “Não é sobre vender produtos ecológicos a quem pode pagar. É sobre devolver dignidade a quem sempre sustentou esse país com trabalho invisível. É sobre quem a marca escolhe colocar no centro da história ou deixar de fora dela.”
Rastreabilidade é poder
Para Domitila, marcas que desejam ocupar espaço com coerência na COP30 precisam mais do que presença institucional. Precisam fazer autocrítica, rever cadeia de produção, abrir os bastidores e garantir rastreabilidade ética. “Não adianta estar na COP com tenda climatizada se não sabe dizer quem costurou seu uniforme, quem colheu o que você serve no coquetel, ou onde vai parar seu lixo. O consumidor negro e periférico está atento. A era da ingenuidade passou.” Ela afirma que regeneração é o novo prestígio. “Saber de onde vem, para onde vai, com que impacto… Tudo isso é status. E se a publicidade não entender isso agora, vai ficar obsoleta.”
Domitila encerra com uma provocação direta ao mercado: “Não é mais tempo de influenciar sem responsabilidade. Celebridades, agências e empresas precisam decidir de que lado da história vão estar. O mundo está observando. E as periferias também”.
A Prefeitura de Niterói (RJ) informou, na noite desta quarta-feira (25), que irá arcar com os custos do traslado do corpo da publicitária Juliana Marins, 26, morta após uma queda no vulcão Rinjani, na Indonésia, e sofrer com a negligência nas operações de resgate.
Em publicação nas redes sociais, o prefeito Rodrigo Neves (PDT) afirmou ter conversado com a irmã da brasileira, Mariana Marins, e garantido o apoio da gestão municipal. “Reafirmei o compromisso da prefeitura de Niterói com o translado da jovem para nossa cidade, onde será velada e sepultada. Que Deus conforte o coração da linda família de Juliana e de todos os seus amigos e amigas”, disse.
Em nota, a administração municipal informou que também será responsável pelos trâmites do sepultamento, que ocorrerá em Niterói, na região metropolitana do Rio.
A decisão ocorre após o Ministério das Relações Exteriores informar que, por lei, não pode custear esse tipo de despesa. Segundo o Itamaraty, a assistência consular não inclui o pagamento de traslado ou sepultamento de brasileiros no exterior, salvo em situações humanitárias.
Diante da negativa, o ex-jogador de futebol Alexandre Pato chegou a se oferecer para financiar o traslado do corpo. A repatriação deve ser organizada nos próximos dias.
O corpo de Juliana foi localizado na terça-feira (24), após quatro dias de buscas, e deve passar por necrópsia nesta quinta-feira (26). Ele foi içado da encosta do vulcão na manhã de quarta-feira (25) e levado ao Hospital Bayangkara.
Relembre o caso
Juliana estava desaparecida desde sexta (20), quando caiu de uma trilha no Monte Rinjani, em Lombok. Segundo familiares, ela tropeçou e escorregou por cerca de 300 metros. Mesmo consciente e com os braços em movimento, não conseguiu sair do local. Foi avistada por turistas horas depois, que alertaram a família com a ajuda de imagens e coordenadas de geolocalização.
Além da negligência denuncia pelos familiares com a demora para resgatarem Juliana, as operações ainda enfrentaram dificuldades por conta da topografia íngreme, das pedras escorregadias e da intensa neblina, o que retardou o acesso das equipes ao local do acidente.
Desde 2020, ao menos oito pessoas morreram e cerca de 180 se acidentaram no vulcão, um dos principais destinos turísticos da Indonésia. Visitantes e especialistas apontam falhas na infraestrutura de segurança, como ausência de sinalização, socorro lento e falta de equipamentos adequados.
Um símbolo da arte e culturas africanas e afro-diaspóricas no mundo, o Museu Afro Brasil Emanoel Araujoestá sendo alvo de denúncias graves como a prática de pessoalismo, pouca transparência e pessoas em cargos de poder que são contra a diversidade e o protagonismo negro, divulgada em carta aberta do Hélio Menezes, que ocupou a Direção Artística da instituição por um ano e cinco meses.
O curador anunciou a sua demissão, além da renúncia dos conselheiros Wellington Souza e Rosana Paulino. “Se nossos trabalhos criativos, nossas articulações políticas, estéticas e intelectuais não conseguem atingir o tutano do poder institucional, por que prosseguir?”, iniciou o texto publicado nas redes sociais, nesta quarta-feira (25).
Hélio contou sobre os avanços conquistados durante sua gestão, junto com outros profissionais, como a produção de mais de uma dezena de exposições temporárias, o primeiro inventário da história do museu e a criação da Rede de Acervos Afro-Brasileiros, que conecta espaços culturais negros em todo o Brasil.
“Assumi essa função com o compromisso de contribuir para a reestruturação de um museu que enfrentava graves fragilidades em todas as suas diversas áreas de atuação, para além da dimensão artística”, destacou.
Apesar dos bons resultados, segundo o curador, o processo de reestruturação encontrou barreiras profundas: “Enfrentar estruturas decisórias consolidadas por práticas marcadas por informalidade, pessoalismo e pouca transparência, ainda majoritariamente compostas por perfis alheios à diversidade e ao protagonismo negro que o Museu representa (ou deveria representar), sem envolvimento com o mundo das artes plásticas e visuais, revelou-se uma coreografia impossível de habitar”, afirmou.
Sua demissão ocorreu em meio a um delicado processo de saúde. “A deliberação e o anúncio da minha destituição ocorreram durante um período de grave problema de saúde, ao longo de uma internação hospitalar delicada e de convalescença ainda em curso, sem a observância de práticas institucionais que prezem por critérios mínimos de respeito e cuidado, e distantes de qualquer protocolo ético desejável”, relatou com mais denúncias.
Rosana Paulino e Wellinton Souza, que renunciaram ao Conselho de Administração da Associação do Museu Afro Brasil, estavam entre as poucas pessoas negras com poder real de decisão dentro da instituição, segundo o comunicado.
Com a saída das lideranças negras, houve recuo de artistas, instituições culturais e parceiros que haviam firmado compromissos para o biênio 2025/26, afetando projetos, doações de obras e o plano de reestruturação da exposição de longa duração do museu.
Apesar do tom de despedida, Hélio finaliza com esperança de que o projeto visionário de Emanoel Araujo, o fundador do Museu, possa florescer sob novas formas de governança, à altura de sua importância simbólica. “Não o deixemos morrer em vida”, alerta.