“Obrigada pelo conselho: você que lute, eu lutei”, diz Andressa Lisboa, aprovada em primeiro lugar na Marinha e que obteve a maior nota do Brasil no concurso
Andressa compartilhou em suas redes sociais o relato de como é ser uma mulher negra, mãe e ter um sonho considerado impossível.
“A melhor parte é que sou mãe e tive que me virar sem base familiar para me apoiar enquanto estudava. Enquanto um negro estuda ele escuta muitas coisas como:
Você tá perdendo tempo ao invés de ir trabalhar em outra coisa”, ‘vagabundo’, ‘Marinha? ih é difícil demais, já pensou fazer um técnico?’, ‘E sua filha vai ficar com quem?’.
Lisboa comemora o fato ao lado de sua filha e diz “Eu não seria nada sem você! Você merece o melhor, eu serei o Exemplo do Melhor!!!
NÓS VENCEMOS!”
Cynhtia Erivo é protagonista do filme Harriet e a única mulher negra ao concorrer ao Oscar 2020. Ela também está envolvida na canção do filme “Stand Up” que concorre ao Oscar de Canção Original. Ela escreveu a música com Brian Campbell.
O longa que ela estrela, conta a história de uma das principais líderes do movimento abolicionista dos Estados Unidos, Harriet Tubman.
No trailer, vemos as lutas da ex-escrava para libertar sua família e outros negros escravizados por fazendeiros.
Se Cynthia sair vencedora do Oscar ela irá se tornar a atriz mais jovem a receber o EGOT(Emmy, Grammy, Oscar e Tony).
Por sua atuação em A Cor Purpura ela recebeu um Tony por interpretar Celie no teatro, um Grammy pela trilha sonora original do musical e um Emmy (um Emmy diurno para ser exato) por uma performance da música “The Color Purple” na programa NBCS Today.
Harriet teve sua estreia mundial no Festival Internacional de Cinema de Toronto em 10 de setembro de 2019 e foi lançado nos Estados Unidos em 1 de novembro de 2019, sendo distribuído pela Focus Features. No Brasil, o filme será lançado em 6 de fevereiro de 2020.
“Tudo nasce em um piquenique no Parque Madureira para unir as famílias negras e aí cresce, hoje é um festival. A ideia é: se a colonização separou nossas famílias, Wakanda quer juntar”. É dessa forma que professor de História e Filosofia Raymundo Jonathan define esse movimento que ele criou e organizou, o Wakanda In Madureira.
Ele explica que esse movimento que começou com o piquenique, hoje organiza muitas outras atividades com foco na cultura negra. “A gente organiza visitas guiadas pelo Rio de Janeiro com roteiros pretos. Tem oficina de carnaval que rola no Wakanda, numa parceria com o grupo Coração Batuqueiro”, detalha Johathan.
Hair Love um filme que encantou o mundo e já tem mais de 10 milhões de visualizações no Youtube foi indicado ao Oscar de Melhor Curta Animado. A lista dos indicados para edição 2020 da maior premiação do cinema foi divulgada na manhã dessa segunda-feira, 13 de janeiro.
O filme é um curta sobre um pai que tenta aprender como deixar o cabelo da sua filha com os penteados que ela gosta. Ela tem um cabelo bem crespo e volumoso e gosta deles assim, desafiando o pai a descobrir como penteá-lo, já que a pequena tem fortes referências estéticas.
O filme é do cineasta Matthew A. Cherry feito em parceria com a Sony Pictures Animation.
A própria Issa Rae que faz a voz da mãe no curta, foi quem anunciou a indicação.
O brasileiro “Democracia em Vertigem” foi indicado como melhor documentário.
“Rei Leão” concorre na categoria de Melhores Efeitos Visuais.
Cynthia Erivo foi indicada ao prêmio de melhor atriz por Harriet que também concorre a estatueta de melhor canção original, com “Stand UP”.
Confira a lista com demais indicados. A premiação acontece no dia 9 de feveireiro:
MELHOR FILME
Ford vs Ferrari
O Irlandês
JoJo Rabbit
Coringa
Adoráveis Mulheres
História de um Casamento
1917
Era Uma Vez em… Hollywood
Parasita
MELHOR ATOR
Antonio Banderas – Dor e Glória
Leoardo DiCaprio – Era Uma Vez em… Hollywood
Adam Driver – História de um Casamento
Joaquin Phoenix – Coringa
Jonathan Price – Dois Papas
MELHOR ATRIZ
Cythia Erivo – Harriet
Scarlett Johansson – História de um Casamento
Saoirse Ronan – Adoráveis Mulheres
Charlize Theron – O Escândalo
Renée Zellweger – Judy: Muito Além do Arco-Íris
MELHOR ATOR COADJUVANTE
Tom Hanks – Um Lindo Dia na Vizinhança
Anthony Hopkins – Dois Papas
Al Pacino – O Irlandês
Joe Pesci – O Irlandês
Brad Pitt – Era Uma Vez em… Hollywood
MELHOR ATRIZ COADJUVANTE
Kathy Bathes – Richard Jewell
Laura Dern – História de Um Casamento
Scarlett Johansson – JoJo Rabbit
Florence Pugh – Adoráveis Mulheres
Margot Robbie – O Escândalo
MELHOR ANIMAÇÃO
Como Treinar Seu Dragão 3
I Lost My Body
Klaus
Elo Perdido
Toy Story 4
MELHOR FOTOGRAFIA
O Irlandês
Coringa
O Farol
1917
Era Uma Vez em… Hollywood
MELHOR FIGURINO
O Irlandês
JoJo Rabbit
Coringa
Adoráveis Mulheres
Era Uma Vez em… Hollywood
MELHOR DIREÇÃO
Martin Scorsese – O Irlandês
Todd Phillips – Coringa
Sam Mendes – 1917
Quentin Tarantino – Era Uma Vez em… Hollywood
Bong Joon Ho – Parasita
MELHOR DOCUMENTÁRIO
American Factory
Learning to Skateboard In a Warzone (If You’re A Girl)
The Cave
The Edge of Democracy
For Sama
Honeyland
MELHOR DOCUMENTÁRIO EM CURTA METRAGEM
In The Absense
Life Overtakes Me
St. Louis Superman
Walk Run Cha-Cha
MELHOR EDIÇÃO
Ford vs Ferrari
O Irlandês
JoJo Rabbit
Coringa
Parasita
MELHOR FILME EM LÍNGUA ESTRANGEIRA
Corpus Christi
Honeyland
Os Miseráveis
Dor e Glória
Parasita
MELHOR CABELO E MAQUIAGEM
O Escândalo
Coringa
Judy
Malévola – Dona do Mal
1917
MELHOR TRILHA SONORA ORIGINAL
Coringa
Adoráveis Mulheres
História de um Casamento
1917
Star Wars: A Ascensão Skywalker
MELHOR CANÇÃO ORIGINAL
Toy Story 4 – “I Can’t Let You Throw Yourself Away”
Rocketman – “(I’m Gonna) Love Me Again”
Superação: O Milagre da Fé – “I’m Standing With You”
O perigo de não contar ao seu filho que ele é negro
No décimo primeiro lugar da nossa retrospectiva das notícias mais lidas de 2019 temos uma reflexão sobre de racismo estrutural: O 20 de novembro já passou, mas as reflexões precisam continuar durante todo o ano. A falta de conscientização racial pode gerar problemas graves nos ambientes sociais que as crianças frequentam, por isso, queremos chamar atenção de todos que convivem com crianças negras para este texto.
Vocês precisam contar para seus filhos que eles são negros, que isso é motivo de orgulho e potência e que existe racismo no Brasil, caso contrário ele pode ser o próximo aluno racista da turma, ou pode estar vivendo agressões racistas e nem se dar conta disso. Veja o caso.
Racismo na escola
Recentemente fomos chamadas para dialogar em uma escola particular, do interior paulista, onde ocorreu um grave caso de racismo, em que uma menina negra de pele retinta vinha sendo frequentemente agredida por um grupo de meninos.
Uma das questões mais espantosas do caso é que o principal agressor é um menino negro de pele clara, caraterizado pela escola como pardo. Esse garoto é adotado e sabe que sua mãe biológica é negra.
A cidade em que essas duas crianças estão inseridas, o agressor e a vítima, é marcadamente racista. Há uma espécie de inconsciente coletivo que afirma a todo momento que ali ser negro é ruim, fazendo com que dificilmente as crianças assumam uma identidade negra e tenham consciência racial.
A omissão que causa dor
O que agrava a situação nesse contexto é que provavelmente nunca disseram para esse menino que ele é negro, porém, ele tem consciência que a cor da sua pele está mais para negro do que para branco. Nesse caso, para negar totalmente a sua negritude e se distanciar o máximo possível da possibilidade de o enxergarem como um garoto negro, ele agride uma criança negra, para deixar bem explícita a diferença entre eles, se colocando em posição oposta e se transformando assim num cruel agressor racista.
A menina agredida tem um núcleo familiar consciente sobre as questões raciais e que valoriza sua negritude. Ela aprendeu, desde muito cedo, a se orgulhar de suas origens, e o mais importante, compreender e denunciar o racismo.
Os desdobramentos desse caso são sempre dolorosos tanto para a vítima quanto para o agressor. Ao longo dos anos, estamos batalhando para a construção de uma sociedade com instituições antirracistas, em que pessoas com comportamentos e práticas racistas não caberão mais. E não desejamos que a criança que convive com você seja apartado dessa sociedade.
O Grupo +Unidos e o Consulado Geral dos Estados Unidos, em São Paulo realizam junto à jovens profissionais e/ou empreendedores afro-brasileiros o E2C – English to Connect, Comunicate, Catalyze, projeto piloto de aprendizado de inglês.
O principal objetivo é capacitar jovens negros, de 18 a 35 anos, para que possam desenvolver habilidades linguísticas que poderão trazer valor para suas carreiras. Além da imersão em inglês, que visa aprimorar a proficiência, o E2C também promoverá palestras com profissionais e investirá em mentorias direcionadas às carreiras profissionais de cada aluno.
O projeto tem 200 horas de instrução direta divididas em duas fases. A primeira fase contemplará 100 horas de instrução direta entre março e junho de 2020, além de atividades extracurriculares. A segunda fase inicia em agosto e será encerrada em dezembro, quando acontece a cerimônia final de graduação e entrega dos certificados.
Foi divulgado em novembro, quais serão os artistas que concorrem ao prêmio mais importante da música, o Grammy.
A artista mais indicada da edição, é a rapper, instrumentista e cantora Lizzo, com 8 indicações pelo aclamado álbum Cuz I Love You e os sucessos que ele inclui, tais como Truth Hurts que atingiu o topo da parada mais importante da Billboard nesse ano, a Hot 100. Além do potencial vocal, Lizzo entrega para o público muita representatividade, negritude, feminismo, auto aceitação e superação.
Mas ela, não é a única a representar a comunidade negra na premiação, já que até Michelle Obama recebeu uma indicação ao troféu que é considerado o Oscar da música. (Mas calma aí, ela não está cantando).
Acontece que existe uma categoria para Melhor Álbum Falado, e Michelle conseguiu ser indicada pelo audio-book de seu Best-Seller, o livro ‘’Becoming’’. Essa não é a única categoria ‘’não musical’’ da noite.
O humorista Dave Chapelle concorre em BestComedian Album, ao lado de nomes como Ellen DeGeneres.
Outro destaque vai para o jovem rapper Lil Nas X, que superou o racismo e homofobia para conseguir se manter por 18 semanas em #1 no topo da Billboard Hot 100. O Recorde, pertencia desde 1996 á Mariah Carey e o grupo Boyz II Men, com o hit ‘’One Sweet Day’’
Como já era esperado quando se fala de Grammy, Beyoncé não ficou de fora. Entre a trilha sonora para o filme O Rei Leão, e o projeto Homecoming, foram 4 indicações.
Honrando o legado do pai, Julian Marley concorre na categoria ‘’Best Reggae Album’’.E na categoria ‘’World Music Album’’, temos África em peso. O nigeriano Burna Boy e a beninense Angelique Kidjo estão juntos na disputa pelo gramofone de ouro.
Ao que tudo indica, a coisa vai ficar preta nessa cerimônia, pois além dos já citados, ainda temos outros talentos na luta pelo troféu: Khalid, H.E.R, Cardi B, Swae Lee, Ella Mai, J Cole, Black Puma, Anderson Paak, Daniel Caeser, Young Thug, Travis Scott, Brandy e FKA Twigs são alguns desses nomes.
Por última, mas não menos importante, temos a nossa Thalma de Freitas como a única brasileira à disputar o Grammy. A artista carioca é indicada na categoria de jazz latino por álbum assinado com o compositor norte-americano John Finbury.
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Coisa de preto é fazer música bem feita. Estaremos na torcida!
Kauan Ferreira tem 21 anos, estudante. Apaixonado por moda, design e cultura pop.
Se você já parou para prestar a atenção nas letras das músicas de Beyoncé, talvez a entrevista da superstar para a Revista Elle não te surpreenda tanto, mas sua abertura em falar de tudo claramente, em uma entrevista, sim. “Quem manda no mundo, mulheres. Temos nossos filhos e voltamos aos negócios”, diz a letra de Run on The World, em tradução livre. A música de 2011 já dava noções de como Bey levaria sua vida e carreira. Mas, a vida com uma filha e com três é bem diferente, ainda mais com uma gestação de gêmeos, onde ela correu risco de vida e seus bebês, hoje com dois anos.
A entrevista e o ensaio, que conta com as peças da collab de Bey com a Adidas serão estampados na Elle nos Estados Unidos, Canadá, Itália, Reino Unido, e em muitos outros países onde a publicação está presente – a Elle Brasil deixou de ser publicada pela Editora Abril, em 2018, então não teremos essa capa histórica em versão tupiniquim.
A estrela nunca escondeu suas adversidades de seus fãs. Desde Bills, Bills, Bils, em que falava sobre pagar as suas próprias contas, passando por Independent Woman (Mulher Independente), ambas do início dos anos 2000, até a mais recente Bigger, lançada há alguns meses no álbum The Gift. Na letra Beyoncé narrava a dificuldade em conseguir tirar dias de folga, admitia que não tirava e “tentando ser uma boa esposa. Ainda é bem difícil, não vou mentir, mas te prometi que iria lutar, então eu luto”, falou francamente, revelando as pressões que sofria. A diferença da entrevista para a Elle canadense, que só sairá em janeiro, é que ela falou abertamente em uma entrevista, não apenas nas entrelinhas das canções.
Ninguém melhor do que seus próprios fãs para enviarem as perguntas, que foram feitas a diva pela Elle. Posando para o ensaio com as peças feitas em uma collab da sua marca Ivy Park com a Adidas, Beyoncé se abriu sobre diversos temas. “Minha mãe instalou em mim a ideia de que a criatividade começa com um salto de fé – dizendo aos seus medos que não são permitidos para onde você está indo”, aponta.
Beyoncé falou ainda sobre sua nova linha em parceria com a Adidas, que será lançada no dia 18 de janeiro. A diva disse que se trata de uma coleção divertida e que está ligada à criatividade, o poder supremo. “Me concentrei em criar uma coleção unissex de calçados e roupas, porque vi homens usando IVY PARK. A maneira como eles adotaram a marca é um presente inesperado. Aprecio a beleza das roupas neutras em termos de gênero e a quebra das chamadas regras da moda.”
Ter que equilibrar carreira e trabalho é algo que estressa a estrela. “Garantir que eu esteja presente para os meus filhos – deixando Blue na escola, levando Rumi e Sir para suas atividades, tendo tempo para sair com meu marido e chegando em casa a tempo de jantar com minha família – enquanto dirijo uma empresa, pode ser desafiador. Fazer malabarismos com todos esses papéis pode ser estressante, mas acho que é a vida de qualquer mãe que trabalha”, disse.
Agora, os gêmeos estão bem e saudáveis, mas a gestação deles foi de risco e abalou a saúde física e mental de Beyoncé. “Depois de uma gravidez difícil, levei um ano para me concentrar na minha saúde. Eu pesquisei informações sobre medicamentos homeopáticos. Eu não coloco qualquer receita no meu corpo. Minha dieta é importante e uso ferramentas como acupuntura, meditação e exercícios respiratórios.”
Sobre seu processo de criação, Bey afirmou que ele também está relacionado a fé: “Reúno minha equipe para uma oração. Garanto que todos somos claros sobre a intenção e qual é o significado mais profundo. Faço o meu melhor e tento impulsionar todos ao meu redor a fazer o mesmo. Acabo dando tudo o que tenho. Quando é lançado para o mundo, deixo para lá porque não é mais meu.”
As barreiras a serem enfrentadas por um negro que decide se tornar comissário de bordo no Brasil, não se limitam ao investimento financeiro, se estendem a árdua resistência e se encaminham para adoecimento mental causado pelo racismo velado.
O racismo que ocorre a bordo ainda não é motivo de pauta para as grandes companhias aéreas, ocasionando então em um ensurdecedor silêncio dos negros comissários, que infelizmente são submetidos à naturalização de tais situações.
Conversamos com Kenia Aquino, comissária com mais de 10 anos de atuação, fundadora do ‘Voo Negro’projeto que auxilia, incentiva e contempla milhares de tripulantes negros pelo Brasil. E ao ouvir seus relatos em todos esses anos de experiência foi possível notar que o racismo no Brasil, segue sendo alimentado e cresce incessantemente.
Além desse racismo ‘sutil’ que os comissários sofrem pelos passageiros, recrutadores e até mesmo pela própria equipe, existem outras questões que tornam a profissão ainda mais desestimulante para os negros. Exigências de um comportamento superior aos demais, subestimação de sua capacidade e as limitações que só decaem aos corpos negros são uma delas.
“Eu percebo sim, que existe uma diferença de avaliação e de cobrança. Porque uma coisa está diretamente ligada a outra, a partir do momento que eu sou uma comissária de voo negra eu preciso manter as cobranças que são feitas a bordo da mesma maneira para todos os nossos clientes, mas eu não sou igual a todos os outros comissários.” Diz Kenia que ainda lembra de uma ocasião em que um passageiro recusou a água que ela estava oferecendo para logo em seguida solicitar um copo d’agua a outra comissária, que por uma inesperada coincidência, era branca.
Kenia Aquino, comissária com mais de 10 anos de atuação (Foto: Arquivo pessoal)
“Em geral, eu sou a única negra do rolê, raramente nós temos duas pessoas negras numa mesma tripulação. Quando eu, enquanto corpo negro chego a um passageiro e preciso que ele faça algo que ele não quer fazer, em geral ele tem uma tendência muito maior a mandar uma reclamação para empresa, porque ele se sente ofendidíssimo com o meu ‘NÃO’,” desabafa Kenia sobre uma situação de tensão entre ela e um passageiro que se recusava a respeitar as regras padrões de voo que lhe foram passadas por ela.
Assim como em muitas outras áreas de atuação, os negros seguem sendo subestimados e resumidos a “inexperientes” nas companhias de aviação.
Enquanto há um negro se esforçando para alcançar a excelência em seus postos, há um branco realizando um trabalho mediano e recebendo muito mais méritos por isso. E esse ‘não’ reconhecimento pode gerar uma frustração que consequentemente desestimula muitos comissários negros a seguir na carreira.
“Tem comissários que estão adoecendo por está vivendo cenas de racismo institucional, não é a instituição da Companhia Aérea, mas o Brasil, as pessoas, os passageiros, os colaboradores, os prestadores de serviços, todo o sistema brasileiro é racista.”
O assunto ‘Cotidiano dos comissários de bordo negros’ não é algo que ouvimos falar constantemente, afinal, com que frequência os vemos? E o que além do fato de vivermos em um país extremamente racista justificaria a falta desses profissionais negros nas companhias aéreas? Podemos apontar alguns fatores, como: a desigualdade social, que muitas vezes impede que uma pessoa negra, pobre, periférica tenha noção do que é necessário para se tornar um comissário de bordo, ou também a dificuldade financeira, que irá o impedir muito antes de conseguir se matricular em um curso, pelo fato da ausência de idiomas, mas muitas vezes sempre irá retornar para a cor da pele que irá tirar a sua merecida vaga e colocar no lugar uma pessoa branca, loira e provavelmente de olhos azuis.
O que foi o caso da Kenia em seu primeiro processo seletivo para comissária de bordo.
“Eu tenho consciência de que nós não somos tantas assim, mas existimos”, diz Kenia ao relembrar conosco o motivo que a impulsionou a criar o “Voo negro”: A falta de representatividade.
“Existem várias páginas e perfis nas redes sociais que falam sobre a profissão, que incentivam os comissários os alunos comissários, exaltam a beleza das comissárias brasileiras e dos comissários do mundo. E na época, eu não identifiquei nenhum perfil que contemplasse as comissárias negras. Eles são vários perfis distintos ali que tem 200, 300, 400 postagens e alguns deles não tinha nenhuma foto de comissárias negras e alguns tinham uma ou duas fotos.”
É viável pontuar que a sutilidade com que muitos casos de racismo acontecem a bordo, pode sim influenciar diretamente na carência de medidas de repúdio contra essa prática, partindo das companhias aéreas. Porém, seria um pouco fantasioso acreditar em tamanha ingenuidade vindo de grandes empresas de aviação. O racismo precisa virar pauta entre essas companhias, informar aos passageiros sobre as consequências dessa prática e dar suporte aos comissários negros que frequentemente são expostos a essas situações é algo que já deveria estar sendo feito.
“Não há uma política anti-racista nas companhias aéreas brasileiras, não existe. Nunca teve, nunca foi uma questão para essas companhias nem para os órgãos que permeiam as companhias aéreas, os sindicatos, nem associações. Há um despertar coletivo, e há uma necessidade enorme de se fazer mais.”
Com a iniciativa da Kenia, na criação do ‘Voo Negro’ hoje, os aspirantes à comissário de bordo negros do Brasil, tem em quem se inspirar, tirar suas dúvidas e descobrir mais sobre o cotidiano dos tripulantes negros.
Bons resultados estão sendo comprovados desde a criação do projeto, os comissários negros, que antes se viam sozinhos em uma luta diária, hoje já conseguem contar com o apoio de outros tripulantes que entendem suas dores. É sobre conforto, compreensão, representatividade e resistência.
“Estamos em contato com as companhias e com algumas entidades afro e escola de comissários com o objetivo de conseguir que as companhias aéreas abram seleção especificamente para as pessoas negras, porque aí não existiria a ‘desculpa’ de que não existem negros na aviação porque eles não fazem o curso, existem muitas pessoas negras que fizeram o curso e estão prontas para começar, elas só não tem as mesmas oportunidades.”
O ‘Voo negro’ não se limita a apenas um perfil em uma rede social, Kenia também nos contou sobre o novo projeto que já está em vigor em parceria com a escola de comissários ‘Palegre’.
“Essa seria a segunda parte do meu projeto, pretendemos criar bolsas de estudo 100% para pessoas negras dentro de escolas de aviação, a gente precisa quebrar essa barreira financeira, e convencer as pessoas periféricas de que é possível seguir esse caminho, atualmente já realizo um trabalho de palestras com pessoas que tem aspiração para se tornar comissário, eu trabalho com pessoas de todas as etnias, mas sempre vou partir do princípio que os negros enfrentam mais dificuldades.”
Paula Dias é uma das idealizadoras do Prêmio Ubuntu
A comunidade preta do Rio está se preparando para uma grande festa: No dia 29 de janeiro acontecerá o Prêmio Ubuntu, que premiará nas categorias Dança, Teatro, Música, Religiosidade, Literatura, Educação, Manifestação Cultural, Personalidade Negra, Menção Honrosa e Protagonismo Juvenil. Serão 20 personalidades homenageadas. A cerimônia acontecerá no Teatro Carlos Gomes, no Centro da capital carioca, a partir das 19h.
Segundo Paula Dias, idealizadora do prêmio, a proposta é “A ocupação cultural, o fazer artístico, a troca entre os artistas para buscar ações que contemplem o fortalecimento, a reflexão e visibilidade da cultura afro brasileira.” Quem quiser assistir a cerimônia pode se inscrever clicando aqui.
As indicações de nomes são feitas por grupos culturais e entidades ligadas ao movimento artístico e negro, por meio da equipe de articulação do projeto. Os indicados têm o nome e o histórico avaliados pela comissão julgadora do Prêmio, formada por representantes da sociedade civil, classe artística, poder público, articuladores do Prêmio e a idealizadora do projeto, Paula Dias , diretora da Ong Afrotribo com parceria com Daniele Gonçalves do coletivo Dandaras pra sempre. Onde buscam a valorização e destaques desses agentes culturais no estado do Rio de Janeiro.