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Aceitem: Friends é plágio de Living Single, sim!

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Living Single é uma série norte-americana criada por Yvette Lee Bowser em 1993 que retrata a vida de seis amigos que compartilhavam suas experiências pessoais e profissionais no Brooklyn, bairro de Nova Iorque. A série foi estrelada por Queen Latifah, Kim Coles, Erika Alexander, T. C. Carson, John Henton, Kim Fields e Mel Jackson (Foto- Reprodução Instagram)

Por Thais Sena

Via Portal TNM

Você já deve ter ouvido falar sobre Living Single em algum momento da sua vida. E é possível (e provável) que a referência tenha sido uma comparação com uma outra série muito semelhante, mas de repercussão muito maior. Esse texto visa discutir essa comparação, mas reafirmo o título: Living Single não é a versão preta de série nenhuma!

Recentemente acompanhei o Tago, que é uma figura ativa nas redes sociais, pensador, escritor do blog Papiro Indômito e mestrando em Saúde Pública, falar sobre como esse tipo de comparação serve para reafirmar a superioridade branca e impedir que os outros tenham seu próprio nome reconhecido: temos sempre a comparação com o “Messi Negro”, a “Fernanda Montenegro negra”, mas nunca o “Pelé Branco”, o “Denzel branco”, a “Viola branca”. Por isso, é importante reafirmar que Living Single não é a variação de uma série de mais sucesso com atores brancos. Pelo contrário. A tão aclamada série Friends, que rendeu os atores mais bem pagos da história da TV e que chegaram a ganhar 1 milhão de dólares por episódio nas últimas temporadas, é que é uma versão branca de Living Single.

Living Single é uma série norte-americana criada por Yvette Lee Bowser em 1993 que retrata a vida de seis amigos que compartilhavam suas experiências pessoais e profissionais no Brooklyn, bairro de Nova Iorque. A série foi estrelada por Queen Latifah, Kim Coles, Erika Alexander, T. C. Carson, John Henton, Kim Fields e Mel Jackson.

Com Queen Latifah no elenco e Bowser como produtora, que posteriormente atuaria como consultora em séries como Dear White People e Black-ish, a série de 5 temporadas teve motivos de sobra para cair nos braços da audiência ao redor do mundo. Sem contar que era a primeira vez que quatro mulheres negras eram protagonistas de uma série norte-americana. Mas seu maior reconhecimento se dá não por isso, mas pela comparação com a série Friends. Por isso, seguem abaixo os principais embates entre as duas séries para que você entenda, de uma vez por todas, que Living Single é sua própria versão de uma série que a copiou (há quem fale sobre inspiração, mas preste atenção para ver se em algum momento a palavra “plágio” vem à cabeça) e que nem sequer rendeu créditos aos envolvidos:

Data de lançamento

Living Single foi lançada pela Fox em 22 de agosto de 1993. Já Friends foi lançada um ano depois, em 22 de setembro de 1994, pela NBC.

Semelhanças

Friends foi lançado um ano após Living Single , observe a foto e tire suas conclusões

Como se a imagem não falasse por si só, as coincidências vão além das personalidades de cada personagem. Um exemplo é Synclaire e Phoebe que, entre outras coisas, eram defensoras dos animais. A introdução de Friends era, digamos, bem parecida com a introdução de Living Single. E tem mais: o canal Behind The Curtain listou o que as séries têm em comum:  Living Single tinha uma relação familiar, entre Khadijah James e Synclaire James-Jones, que eram primas, assim como Friends tinha Monica e Ross, que eram irmãos e dividiam um apartamento. Max e Khadijah são amigas da faculdade, assim como Ross e Chandler. O mesmo acontece na vida amorosa: na parte dos relacionamentos conturbados, Living Single tinha o casal Max e Kyle e Friends tinha Ross e Rachel (e ambos tiveram um filho); já nos relacionamentos mais consistentes (porém inicialmente escondidos), Living Single tinha Synclaire e Overton enquanto Friends tinha Monica e Chandler.

Living Single originalmente foi ao ar pela Fox. No entanto, durante um entrevista no programa The Late Late Show with James Corden, Queen Latifah falou sobre um acontecimento logo após o lançamento da série: Warren Littlefield, então presidente da NBC, foi questionado sobre a possibilidade de levar o show que quisesse para sua rede e ele respondeu que levaria Living Single. 

O posicionamento dos elencos e produção das séries

Em outra entrevista, desta vez para o Watch What Happens Live with Andy Cohen, Queen Latifah menciona novamente o ocorrido com o presidente da NBC e é questionada pelo apresentador se, com o lançamento de Friends, o elenco achou que já estava fazendo algo parecido e ela respondeu: “Não. Nós sabíamos que já estávamos.”

Quando se trata do elenco de Friends, é mais difícil encontrar qualquer pronunciamento sobre sequer o reconhecimento de Living Single. No início do ano, o ator David Schwimmer, que interpretava Ross, deu um posicionamento controverso, que foi interpretado como o do branco salvador. Ele diz que a série abordou diversas questões importantes como sexo com proteção e casamento gay, mas falhou em muitas outras questões sociais, como a diversidade. Ele ainda disse que muitas vezes defendeu a ideia de que seu personagem se relacionasse com mulheres de cor. Depois disso, chegou a defender que talvez Friends tivesse uma versão asiática ou negra. A declaração foi motivo de muita represália nas redes sociais.

Por outro lado, John Henton, que interpretava Overton, fala sobre o fato de que Living Single era inicialmente transmitido aos domingos na primeira temporada e, depois da estreia de Friends, Living Single também passou a ser transmitido às quintas-feiras às 20:30. Isso pode parecer irrelevante agora, mas lembre-se que estamos falando de um tempo em que não havia serviços de streaming e que a pessoa tinha que escolher qual série assistir. No caso, essa escolha tinha grande repercussão na audiência e, portanto, no futuro das séries. Henton diz ter ficado bravo na época porque a ideia eram deles e não receberam nenhum crédito por isso. Hoje as pessoas falam que Friends é uma ótima série, mas não sabem em que ela foi baseada e não há nenhum reconhecimento sobre Living Single.

Já os produtores de Friends, Marta Kauffman e David Crane, dizem que chegaram na NBC com o que viria a ser Friends e que Littlefield respondeu “É isso!”. Note que depois de todas as “semelhanças” que observamos entre as duas séries, sem nem ser questionado, David Crane faz questão de dizer: “Nós não sabíamos que eles estavam procurando por isso.” Logo, só podemos acreditar que as personalidades, a cidade, os apartamentos, as imagens, o enredo e a história não passam de uma coincidência que favoreceu a série embranquecida.

Por fim, vamos às consequências: enquanto os atores de Friends ganharam fama em Hollywood, colocaram 1 milhão de dólares no bolso por cada episódio nas últimas duas temporadas, tiveram suas próprias séries e participaram de diversas outras produções, Living Single foi encerrada em sua quinta temporada. E quem, além de Queen Latifah, é conhecido aqui no Brasil, por exemplo? Aí está a importância de reconhecer e não limitar Living Single à versão de qualquer outra série. Living Single não foi reconhecida, mas foi ela que provocou a “inspiração” de um novo formato que seria muito copiado posteriormente.

Só para vocês terem uma ideia do quão nocivo isso é: até hoje, todos os atores de Friends ganham em torno de U$ 20.000.000,00 (vinte milhões de dólares) por ano, só pelas reprises de Friends – e assim será pelo resto da vida. Acho que com isso dá para viver mais ou menos, não é? 

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Terça Crespa marca o encontro de artistas negros em Lives

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A Terça Crespa é o encontro de artistas negros do teatro, da dança, da literatura, do cinema e da performance, para formação de público, intercâmbio, discussão de temas relevantes a arte negra e construção de material crítico sobre os trabalhos que vêm sendo desenvolvidos por esses artistas, dentro do panorama artístico nacional.

Nesta terça-feira (28) o encontro acontece às 19h30 no Instagram do Centro Cultural São Paulo ( @ccsp_oficial ) com o tema: “Encontro de Gerações”, os convidados irão falar sobre como vêem a arte negra nos dias atuais e contar histórias que marcaram suas carreiras e consequentemente a história cultural brasileira. Os participantes serão: Léa Garcia, Haroldo Costa e João Acaiabe – com apresentação de Lucelia Sergio e Sidney Santiago Kuanza.

O projeto nasce da “Segunda Crespa“, encontro organizado pelos Os Crespos, que juntamente com a “Segunda Preta“, de Belo Horizonte, a “Segunda Black“, do Rio de Janeiro e a “A Cena tá Preta“, de Salvador, fazem parte de um movimento nacional de fortalecimento da cena negra.

A programação conta com mostras curtas de cenas e performances, leitura de textos teatrais, reflexão dos artistas convidados sobre os trabalhos e bate-papo com o público sobre os temas discutidos em cada encontro.

A proposta de continuidade do projeto, em parceria com o Centro Cultural São Paulo, visa aprofundar em assuntos que discutam autoria, referências estéticas, novos temas de pesquisa e as relações com a cultura popular negra e as questões sociais; além de fortalecer a formação de público iniciada em 2019, que teve ótimos resultados, abrindo diálogo entre artistas, pesquisadores, estudantes, público e os grupos de arte negra. Esse encontro resultou na indicação ao Prêmio Aplauso Brasil “Categoria Destaque”.

Assim como nos meses anteriores, em decorrência do isolamento social, a Cia Os Crespos e o Centro Cultural São Paulo darão continuidade ao projeto através de encontros on-line, nos quais os assuntos abordados serão discutidos em LIVES no instagram do CCSP e na sequência disponibilizado nas redes da Cia.

Serão 02 horas de bate-papo com 03 (três) convidados por edição, e interação com o público.

Jogo da memória ‘Sankofa’ mantém viva a memória de mulheres negras da América Latina

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O Jogo da Memória Sankofa foi desenvolvido por Izabelle Simplicio, Nina da Hora e Taynara Cabral. Com o objetivo ser mais uma das ferramentas, que contribuem para manter viva a memória e a história de mulheres negras dos países da América Latina. “Trazer à memória esse legado para os dias de hoje significa não só reconhecer o passado, mas nos serve como inspiração e projeção de futuro. O nome Sankofa foi escolhido justamente por isso, que segundo a filosofia do povo Akan, significa ‘nunca é tarde para voltar e apanhar aquilo que ficou atrás’. O projeto foi desenvolvido sem nenhum financiador”.

Ao longo da história, nas mais diversas áreas, mulheres negras ocuparam a linha de frente da luta pela liberdade, pela garantia de direitos e de possibilidades de futuro. Com batalhas travadas tanto no campo de guerra, como na articulação política, na produção intelectual e artística, mulheres negras utilizaram, e seguem utilizando, de variadas ferramentas que hoje moldam um acervo extremamente rico de legado e estratégia.

As peças do jogo trazem ilustrações de 12 mulheres que marcaram a história de 6 países da América Latina: “Conhecer o passado, construir no presente e projetar novas possibilidades de futuro. A movimentação de mulheres negras transcende todos os ciclos do tempo”.

O material é gratuito e está disponível em duas versões: para imprimir e para jogar on-line, pensando justamente no alcance e na acessibilidade de cada um desses formatos.

Jogo online: bit.ly/Sankofa-Jogo
Jogo para imprimir: bit.ly/Sankofa-jogo-imprimir
Projeto: bit.ly/Sankofa-Projeto

Orgulho Crespo : conheça iniciativas globais que enaltecem o cabelo afro

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Marcha do Orgulho Crespo: Larissa Isis

Por Neomisia Silvestre*

Na semana passada uma amiga compartilhou empolgada no grupo do WhatsApp que, sozinha, havia terminado o processo de dredar os próprios fios crespos a partir de uma técnica ensinada por uma blogueira no YouTube. Muito rapidamente, dread é a forma abreviada e em inglês de dreadlocks e lock-dread para caracterizar cabelos em tranças naturais, emaranhados e popularizados pelo movimento judaico-cristão surgido na Jamaica, na década de 1930, entre negros descendentes de africanos escravizados.

Aqui, não falaremos sobre as motivações religiosas e/ou estéticas que envolvem a dedicação, a paciência e o autocuidado dessa amiga mas, sim, de instigar reflexões acerca de como, em pleno século XXI, paradoxalmente, sua própria aparência pode provocar um impacto negativo na vida social e profissional.

No Estado do Alabama, nos Estados Unidos, em 15 de setembro de 2016, uma lei foi aprovada com o propósito de recusar a contratação de pessoas pelo uso de dreadlocks. Uma lei que viola não só os Direitos Civis de 1964 – que punham fim aos diversos sistemas estaduais de segregação racial -, mas que também se baseia em estereótipos inerentemente discriminatórios e que trata, de antemão, afro-americanos como sendo impróprios e profissionais menos capacitados e eficientes a partir de um penteado fisiológica e culturalmente associado a esta parcela significativa da população americana.

Tal fato motivou a criação do World Afro Day (Dia Mundial do Afro), em Londres, idealizado pela produtora de TV Michelle De Leon a fim de criar uma plataforma para celebrar e educar sobre cabelos afro por meio de uma consciência positiva, expressa em eventos anuais e por uma rede educacional mundial com foco na juventude e na infância.

A inglesa Michelle De Leon, criadora do World Afro Day (Dia Mundial do Afro) Crédito: Divulgação


Diante da aprovação da lei, Michelle relata que queria justamente ressignificar a data e, por isso, escolheu o 15 de setembro de 2017 como marco inicial do World Afro Day, sendo ele um dia de celebração dos cabelos, da cultura e da identidade negra. “Eu sabia que isso [a existência da lei] poderia ser símbolo das atitudes negativas da sociedade em relação aos nossos cabelos e, por isso, a necessidade de mudança”, diz ela.


Em seu primeiro ano, a iniciativa foi endossada pelo Alto Comissariado das Nações Unidas (ONU) para os Direitos Humanos, recebeu cobertura internacional e apoio de celebridades, como a Miss USA 2016 Deshauna Barber, o rapper Jidenna e parte do elenco da série Black-ish, criada pelo produtor Kenya Barris. “Tivemos uma resposta global incrível, mas a cada ano há um desafio para continuar recebendo cobertura. O problema não desapareceu, por isso precisamos manter o foco no nosso trabalho para fazer coisas novas a cada ano. Entendo a mídia e posso usar de minhas habilidades para contribuir, mas é preciso continuar porque sabemos o quanto é importante para a próxima geração”.

Em 2018, o World Afro Day realizou a campanha “Mude os fatos, não o afro”, em que apresentou uma série de cartazes com mulheres negras e estatísticas como: “1 em cada 5 mulheres negras se sente pressionada a alisar os cabelos no âmbito profissional”; e “Apenas 27% se sente confortável em usar dreads para um evento profissional”. A iniciativa alcançou cerca de 6,6 milhões de pessoas e inúmeras menções positivas nas mídias sociais.



A educação é um dos pilares fundamentais do projeto, que desenvolveu um plano de aula para conscientizar alunos e professores e o qual, segundo Michelle, pode ser aplicado em qualquer escola. No ano passado, a ação The Big Hair Assembly recebeu quase 12 mil alunos inscritos em 100 escolas de oito países. Uma de suas embaixadoras é a modelo mirim americana Celai West. Para 2020, diante do contexto da pandemia, o WAD prevê a realização de um evento online que dialogue com iniciativas da Europa, da África e do Brasil, que possivelmente terá a participação da Marcha do Orgulho Crespo e do Encrespa Geral UK.


No que diz respeito às reivindicações dos cabelos naturais como parte da identidade e da beleza negra, Michelle acredita que há um significativo progresso em todo o mundo. E é importante lembrar que o mesmo país que aprova a lei proibindo o uso de dread no local de trabalho, tem em contrapartida Estados como Califórnia, Nova York e Nova Jersey que aprovaram no ano passado a lei Crown – Create a Respectful and Open Workplace for Natural Hair (“Crie um lugar de trabalho respeitoso e aberto ao cabelo natural”), redigida pela senadora Holly Mitchell, que proíbe, também nas instituições de ensino, a discriminação com base no estilo e na textura do cabelo. Colorado e Virgínia fizeram o mesmo em março e outros 20 Estados apresentaram, em seus respectivos Legislativos, projetos de lei para punir a discriminação contra o cabelo afro.

Brasil é crespo

Para a pedagoga mineira Nilma Lino Gomes, importante referência na luta contra o racismo no Brasil nos campos da educação e da antropologia, nos últimos anos o debate, as práticas e a visibilidade sobre o cabelo crespo passaram a ocupar outro lugar na cena política e estética brasileira. “Quanto mais se acirra o racismo, mais vemos pessoas negras assumirem a diversidade das formas de usar e lidar com a textura crespa dos seus cabelos como uma nova forma recriada de estética: a estética da resistência negra do século XXI. Isso tem possibilitado a muitas mulheres (e homens) se identificarem como negras e com as lutas negras no Brasil e no mundo, reconectando-se consigo mesmas, sua corporeidade e sua ancestralidade”. 

Legenda: A pedagoga Nilma Lino Gomes, professora titular emérita da Faculdade de Educação da UFMG
Crédito: Divulgação

Nesse contexto, a Marcha do Orgulho Crespo, movimento nacional criado em São Paulo, em julho de 2015, pelo Blog das Cabeludas e pela Hot Pente, se soma ao debate fomentado e trazido pelo movimento negro brasileiro no final dos anos 1970 ao incentivar a livre expressão do cabelo natural, a representatividade, a autoestima e o empoderamento de negras e negros na sociedade, especialmente por parte de mulheres.

No Brasil, diante de diversas manifestações de racismo no âmbito social, institucional e virtual – e a fim de instigar a visibilização de pautas acerca da estética negra a partir dos cabelos crespos/cacheados -, a Marcha do Orgulho Crespo passou a celebrar o 26 de julho como o Dia do Orgulho Crespo no Estado de São Paulo por meio da Lei 16.682/2018, em parceria com a deputada estadual Leci Brandão (PCdoB). A iniciativa também inspirou o Mato Grosso do Sul, que considera o 7 de novembro como o #DiaDoOrgulhoCrespo pela lei 5.206/2018, sancionada pelo deputado Amarildo Cruz (PT). A data escolhida homenageia Karina Saifer de Oliveira, do município de Nova Andradina, que se suicidou aos 15 anos em decorrência de bullying motivado pelo uso dos cabelos alisados.

“O Brasil é um país que se alimenta do racismo presente na sua estrutura. Desde os tempos da escravidão, o cabelo da negra e do negro é tomado como um símbolo identitário com sentidos que tensionam entre si. De um lado, foi (e ainda é) visto como fealdade e animalidade. Do outro, esse mesmo cabelo foi (e ainda é) visto como afirmação e recriação de elementos culturais africanos no Brasil – característica de resistência construída pelas africanas e africanos escravizados e seus descendentes”, diz Nilma, atualmente professora titular emérita da Faculdade de Educação da UFMG.

Ela é autora de “Sem perder a raiz: Corpo e cabelo como símbolos da identidade negra”, publicação de 2006 e relançada em 2019 pela editora Autêntica como resultado de sua tese de doutorado. No livro, a pesquisadora percorre salões étnicos de Belo Horizonte, em Minas Gerais, e registra depoimentos de cabeleireiros e cabeleireiras acerca das percepções sobre o cabelo como expressão e símbolo de resistência cultural, com base nos penteados de origem étnica africana, recriados e re-interpretados como formas de expressão estética e identitária. A análise se debruça e desperta reflexões sobre autoestima, memórias da infância e como a aceitação/rejeição atua no psicológico das mulheres negras.

“Ressignificar o lugar, a visão e as interpretações negativas que recaem sobre o cabelo crespo, transformando-as em leituras e narrativas afirmativas, identitárias e de luta é retomar a humanidade roubada das pessoas negras, no contexto do racismo ambíguo brasileiro. Nesse sentido, o Dia do Orgulho Crespo é mais do que uma data. Ele é símbolo de reconhecimento e de luta”, completa ela.

Desde sua criação, a Marcha do Orgulho Crespo Brasil é realizada de forma independente, com mobilização online e redes de apoio em nove Estados que envolvem ativistas, pesquisadores, artistas, oficineiras, blogueiras, influenciadoras, afroempreendedoras e público interessado, com o intuito de inspirar mulheres, homens, jovens e crianças de todas as idades a repensarem e a se reconectarem com suas identidades a partir dos cabelos crespos/cacheados que, para além do estético, pode se tornar também uma ferramenta de posicionamento diante do racismo estrutural.

E, aqui, reforço: passar pelo processo de transição capilar – procedimento em que se deixa o cabelo natural crescer até que atinja um comprimento ideal para o chamado big chop e retirar as partes ainda alisadas – pode, sim, ser ferramenta de posicionamento diante do racismo estrutural, já que o que aparentemente é considerado apenas uma mudança de visual, no fim das contas, revela-se uma mudança de postura. O racismo nos paralisa de muitas formas e ele também perpassa esse aprisionamento estético-capilar: do black power coloridão ao jovem negro e periférico.

No Orgulho Crespo, ao inspirar esta passagem, tentamos justamente criar um espaço de fortalecimento e coragem para se existir como desejar. Existir como corpo negro, como corpo social, como carta ancestral em qualquer lugar do mundo; é existir na exigência e na demanda cotidiana de coragens. Por isso, enquanto movimento, tentamos ajudar a entender que uma coisa é optar por alisar seu cabelo e outra é entender quais os motivos reais e alienados de se submeter a um processo de mutilação física absolutamente nocivo.

Diante de uma sociedade que está o tempo todo nos impondo padrões, diante de um contexto de pandemia que nos impede de ir às ruas, ao encontro, deixo meu desejo de que este Dia do Orgulho Crespo seja o seu domingo de repouso e skincare, sim, mas que ele também seja banhado de pensamentos que proporcionem um encontro positivo e afetivo com sua autoestima. Celebrar é preciso.

Aqui, partilho e indico algumas das iniciativas que pautam o cabelo crespo no Brasil e mundo afora.

Livros


“Sem perder a raiz: Corpo e cabelo como símbolos da identidade negra”, de Nilma Lino Gomes
Autêntica, 2006
Sinopse: Na obra, o cabelo é analisado não apenas como parte integrante do corpo individual e biológico, mas, sobretudo, como corpo social e linguagem, como veículo de expressão e símbolo de resistência cultural. 



“História da beleza negra no Brasil”, de Amanda Braga
EdUFSCar, 2015
Sinopse: O livro rastreia a emergência de pistas que refletem um conceito estético atribuído ao corpo negro, bem como o modo como tais pistas vão assumindo novas verdades na dispersão do tempo histórico. Trata-se, portanto, do desejo de revelar mais sobre a forma como historicamente se leu os signos da beleza negra, fazendo vir à tona um enredo que envolve memórias, exclusões e retomadas.



“Esse cabelo: A tragicomédia de um cabelo crespo que cruza fronteiras”, de Djaimilia Pereira de Almeida
Leya, 2017
Sinopse: Neste romance, a escritora portuguesa nascida em Angola mistura memória, imaginação e crítica social com humor e leveza para discutir temas atuais e fundamentais na atualidade, como racismo, feminismo, identidade e pertencimento. 



“Meu crespo é de rainha”, de Bell Hooks
Boitatá, 2018
Sinopse: Publicado originalmente em 1999 em forma de poema rimado e ilustrado, a obra da escritora, teórica feminista, artista e ativista social estadunidense Bell Hooks enaltece a beleza dos fenótipos negros, exalta penteados e texturas afro.



Audiovisual

“Good Hair”, 2009
Documentário criado e apresentado pelo ator e comediante Chris Rock sobre a cultura do cabelo afro-americano e seu faturamento na indústria de cosméticos.
Trailer: www.youtube.com/watch?v=1m-4qxz08So

“Kbela”, 2015
Olhar da carioca Yasmin Thayná acerca das histórias de transição capilar, resistência e luta de mulheres pelo direito de terem sua beleza natural, sem intervenção da indústria e da opinião da sociedade.
Disponível em kbela.org

“Das Raízes às Pontas” (2015)
Dirigido por Flora Egéria e com roteiro de Débora Morais, o curta-metragem retrata Luiza, de 12 anos, que compartilha seu amor e orgulho pelo cabelo crespo.
Disponível no Vimeo



“Fios da Resistência” (2018)
O documentário produzido por alunos de Midialogia da Unicamp (SP) aborda a formação de novas redes de apoio da negritude na internet; como grupos do Facebook, canais do YouTube e influenciadores se tornaram uma ferramenta fundamental no processo de ressignificação identitária e estética de pessoas negras.
Disponível no YouTube


“Felicidade por um fio” (2018)
Baseada no livro “Nappily Ever After”, de Trisha Thomas, o filme mostra o percurso de uma bem-sucedida executiva que muda sua concepção de mundo ao decidir raspar os cabelos.
Disponível na Netflix

“Enraizadas” (2019)
Dirigido por Juliana Nascimento e Gabriele Roza, o filme investiga a tecedura dos fios capilares em tranças nagôs como um processo não restrito à beleza estética, mas também de renovação dos afetos, de resistência e reafirmação da identidade negra.
Ainda não disponível.

“Hair Love”, 2019
Produzido e dirigido por Matthew A. Cherry., o curta-metragem estadunidense  recebeu o Oscar 2020 de melhor animação ao apresentar a relação de um pai que penteia o cabelo de sua filha pela primeira vez.
Disponível no YouTube



“Self Made: A vida e a história de Madam C.J. Walker (2020)
Interpretada por Octavia Spencer, a série de quatro episódios retrata a história da ativista social e primeira mulher a se tornar milionária nos Estados Unidos a partir de sua linha de produtos capilares e cosméticos para mulheres negras.
Disponível na Netflix

Festivais


Natural Hair Academy – Paris
Desde 2011, no primeiro final de semana de junho, o festival celebra o cabelo natural e se consolida como o maior evento europeu dedicado à beleza negra.
Vem ver: https://www.facebook.com/watch/?v=1194732853980161
https://nhaparis.com


CurlFest – Brooklyn, Nova York

Realizado pelo Curly Girl Collective, fundado em 2011, com o intuito de fazer com que mulheres de cabelos com textura natural se sintam bonitas e celebradas. São pioneiras no movimento natural dos cabelos ao conectarem mulheres em eventos que estimulam e atraem os principais influenciadores da beleza afro-americana.


Vem ver:
https://www.curlfest.com



CurlyTreats Fest – Londres
Realizado desde 2017, o maior evento natural de cabelos crespos e cacheados da Inglaterra é realizado a fim de capacitar, educar e enaltecer a beleza negra.

www.curlytreats.co.uk

Encrespa Geral – Brasil
Instituto de promoção humana de desenvolvimento social e cultural voltado à diversidade racial e cultural brasileira criado por Eliane Serafim, em 2013, prima pelo empoderamento feminino por meio da valorização e da difusão do orgulho do cabelo cacheado e crespo. Realiza eventos anuais de alcance nacional e internacional.


encrespageral.com.br

Para acompanhar:

Estados Unidos –
Criada pelos afro-americanos Lindsey Day e Nkrumah Farrar, a revista Crown Mag promove um diálogo progressivo em torno do cabelo natural e das mulheres que o utilizam a partir da perspectiva de um novo padrão de beleza ao documentar de maneira impressa e tangível. Sua última edição traz a atriz, escritora, cineasta e produtora norte-americana Issa Rae, da série “Insecure”.
www.crwnmag.com

África – A artista africana @laetitiaky, da Costa do Marfim, usa a versatilidade de seu cabelo crespo para, literalmente, criar esculturas capilares e passar uma mensagem aos seus seguidores no Instagram.

França – O coletivo de mulheres SciencesCurls, presidido pela jovem Réjane Pacquit, discute o cabelo crespo e cacheado no âmbito acadêmico, dentro do Instituto de Estudos Políticos de Paris – IEP, a Sciences Po Paris, instituição pública de ensino superior especializada nas áreas de Ciências Humanas e Sociais. Adendo para refletir: na França, é comum ver salões que oferecem lissage brésilien (alisamento brasileiro).
www.facebook.com/sciencescurls

Inglaterra – O Curlture é uma plataforma online criada em 2014 pelas londrinas Trina Charles e Jay-Ann Lopez com o objetivo de capacitar mulheres negras. Inicialmente se concentrava em cuidados com os cabelos naturais, mas atualmente abrange tópicos como moda, viagens, produtos para a pele, decoração e afroempreendedorismo.
www.curlture.co.uk

Espanha – Criado pela modelo Awanda Perez, em Madrid, o Go Natural Spain promove o direito e o orgulho dos cabelos naturais a partir de dicas e inspirações para o uso do cabelo afro. Este movimento e também os dias da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, criado em julho de 1992, e o 25 de julho, Dia Nacional de Tereza de Bengela, líder quilombola que viveu no Mato Grosso durante o século XVIII, inspiraram a realização da 1ª Marcha do Orgulho Crespo Brasil.
www.awandaperez.com

* Neomisia Silvestre é jornalista, escritora e agitadora cultural. Soma atuações em projetos artísticos e socioculturais de juventude e periferia, teatro e dança, TV e produçāo de eventos. É uma das idealizadoras da Hot Pente e uma das criadoras do movimento nacional Marcha do Orgulho Crespo Brasil, desde 2015

Marca criada em Londres pela brasileira Islana Rosa lança projeto Vozes Negras e doa 50% das vendas para ONG’s negras

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A Islanna, marca criada em Londres pela brasileira Islana Rosa, já é conhecida no exterior por apresentar uma moda contemporânea e com apelo sustentável. A fundadora e CEO, desenhou um plano de negócios que pudesse traduzir sua visão para uma nova marca de roupas, com menos impacto ambiental e muita informação de moda. A força da mulher independente e autoconfiante também está representada no conceito, que propõe empoderamento e atitude através do styling. Agora, a marca se volta para o mercado brasileiro e lança o projeto Vozes Negras. 

Após a escalada do movimento Black Lives Matter, que tomou conta do Brasil e do mundo em junho de 2020, Islana decide focar seus esforços nas comunidades negras – promovendo artistas mulheres através da moda e apoiando organizações não governamentais, ligadas à promoção da educação e empoderamento feminino.

O projeto Vozes Negras manifesta o desejo de Islana com a sua marca em direção a uma moda antirracista, com base em três pilares: a visibilidade para vozes femininas negras; a criação de conexões entre mulheres negras e a sociedade; e a remuneração justa e empoderamento feminino negro. 

O start do projeto se dá por meio de uma coleção-cápsula de camisetas com estampas exclusivas – em formato de edital online, Islanna convoca artistas mulheres negras brasileiras para enviarem propostas para estampas. As criações irão para votação aberta do público a partir de julho, e serão transformadas em 12 camisetas, com drops de lançamentos mensais em outubro.

“A idea de criar o movimento Vozes Negras surgiu de um desejo antigo de potencializar o poder da comunidade artística negra no Brasil e trabalhar com mulheres na promoção das artes plásticas, grupo que historicamente foi negligenciado”, diz Islana Rosa, fundadora da marca.

O projeto tem viés social em sua totalidade, sendo que 50% do lucro das vendas das camisetas serão distribuídos para a artista detentora da estampa e os outros 50% serão doados para uma das instituições que trabalham com o empoderamento feminino negro no Brasil, como a Gelédes, organização que se posiciona em defesa de mulheres e negros, e a ONG Criola, que defende e promove os direitos das mulheres negras

Informações sobre o edital: Aberto a todas mulheres negras brasileiras, propostas de estampas para as camisetas devem ser enviadas para vozesnegras@islanna.co, até dia 20 de agosto. A seleção será realizada através de votação publica no site do movimento www.vozesnegras.org.

Trace Brazuca: Com 26 anos, Kenya Sade é uma das executivas do primeiro canal de conteúdo afro-urbano do Brasil

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Kenya Sade, Chefe de Programação da Trace Brazuca (Foto: Divulgação)

O Brasil finalmente ganha um canal de conteúdo afrocentrado na TV a cabo e totalmente em português. A Trace Brazuca,  entra no ar no Dia Internacional da Mulher Negra Latino Americana e Caribenha, 25 de julho. O canal muito aguardado, tem uma mulher negra como Chefe de Programação aqui no Brasil. O nome dela é Kenya Sade.

Kenya tem 26 anos e é  jornalista formada pela faculdade Cásper Líbero, faculdade com pouca presença de alunos negros. “Apesar de ser uma faculdade elitista, é importantíssimo que ocupemos esses espaços de poder que são nossos por direito”, defende a executiva.

A chefe da Trance Brazuca,  que  estará disponível para assinantes da Claro (canal 624) e Vivo (canal 630), literalmente se joga no mundo atrás dos seus objetivos.  “Em 2018, fiz um intercâmbio a Irlanda que mudou a minha vida e deu origem ao projeto autoral ‘Pretas Pelo Globo’, plataforma colaborativa que celebra e traz visibilidade às conquistas das mulheres negras espalhadas pelo mundo.  Em maio de 2019, na França (Toulouse) conheci o programador da Trace Global que me apresentou ao projeto da Trace Brasil. A ancestralidade é algo muito forte! Voltei ao Brasil e desde janeiro de 2020, trabalho neste projeto tão potente”, detalha a jornalista.

https://www.instagram.com/p/Bz_R3OaIjgA

Filha de mãe solo , Kenya se refere mãe como uma grande referência. “Minha mãe me ensinou a voar alto, sempre foi uma mulher com muitos sonhos. Ela teve uma infância difícil, mas subverteu todas as adversidades e formou-se economista, numa época em que pessoas negras não tinham espaço dentro da universidade. Eu cresci com esse referencial de mulher potente, independente dentro de casa”, conta.

Trajetória profissional

Kenya acredita que todas suas vivências a preparam para esse momento, onde ela, tão jovem lidera um projeto de relevância Global. “Na faculdade, fui estagiária na TV Cultura e tive oportunidade de trabalhar ao lado das repórteres do Jornal da Cultura Primeira Edição, hoje ‘Jornal da Tarde’ apresentado pela Joyce Ribeiro. Trabalhar com hardnews  é presenciar a  história, vê-la acontecer diante dos seus olhos. Percorri todas as editorias e me encantei com o jornalismo televisivo. Apareci em rede nacional, tenho certeza que essa experiência me trouxe até aqui”, comemora a executiva. Ela também foi jornalista freelancer e tem textos publicados  na Vogue e Glamour.

Na Trace Brazuca além dos desafios esperados há uma satisfação em trabalhar em um ambiente diverso. “Trabalhar em um ambiente com tamanha diversidade racial me faz acreditar em um amanhã melhor, mais plural, na qual haja equidade racial e representatividade de fato! A maioria das pessoas envolvidas na produção do canal são negras e não poderia ser diferente. Tem sido uma experiência de pertencimento, de olhar-se no espelho e orgulha-se da imagem refletida” celebra a jovem jornalista. Entre seus colegas de trabalho estão o Head de Marketing do canal , o influenciador AD Júnior e o jornalista e ator Alberto Pereira Junior, roteirista, diretor e apresentador do Trace Trends.

O que esperar do Trace Brazuca?

A Trace Brazuca chega ao Brasil em um momento que o isolamento social faz com que o consumo de conteúdo online e pela TV aumente. É bom saber que teremos uma fonte de conteúdo com rostos negros e uma linha editorial positiva. “É gratificante trabalhar como programadora do primeiro canal a cabo de cultura afro-brasileira, Trace Brazuca, traz narrativas positivas e conteúdos relevantes. Temos a possibilidade de contar nossas histórias em primeira pessoa, visto que, a subjetividade negra foi construída socialmente por imagens depreciativas”, comenta  Kenya  que detalha que o canal é para a comunidade negra e “pessoas não-negras que queiram conhecer a nossa cultura que se mescla tanto com a cultura brasileira”.

Sobre a programação ela explica que serão “24 horas de programação dedicada à música de todos os gêneros, documentários de grandes nomes do cinema nacional, como Sabrina Fidalgo, além dos conteúdos do programa “Trace Trends”, entre outros”.

Kenya destaca um programa da grade que é o seu preferido até o momento. “Será exibido semanalmente o programa da Mwana Afrika, até então minha menina dos olhos, programa produzido e apresentado pela jornalista angolana Mwana que apresenta, de maneira informativa e descolada, o continente africano nas mais variadas formas de manifestação cultural: história, arquitetura, sociedade, música, beleza e estética, moda. É maravilhoso, acredito que os telespectadores irão amar!”, descreve.

O novo canal faz parte de um grupo multimídia global francês, presente em mais de 120 países, tem forte difusão na África subsaariana com: Trace Naija (Nigéria) Trace Toca (África lusófona) Trace Senegal.  A chegada da Trace é fruto do encontro de Olivier Laouchez, CEO global, com José Papa, ex-CEO do Cannes Lions, líder da operação no Brasil.

Elza Soares celebra aniversário de 90 anos em live especial

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“Elza in Jazz”, acontece nesse sábado (25), Dia da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, e será transmitida no canal oficial da cantora no Youtube. Parte da renda obtida com a live será revertida para as ONGs All Out, que atua globalmente em defesa dos direitos LGBTI+, e Apolonias do Bem, que oferece tratamento odontológico gratuito para mulheres vítimas de violência.

A live da artista terá participação dos músicos Jorge Helder, Gabriel de Aquino, Márcio Bahia e Netão, que irão acompanhar Elza durante a apresentação.

Serviço

Elza in Jazz – Live Especial 90 anos
Data: 25 de julho (sábado)
Horário: 21h
Ambiente de transmissão: youtube.com/ elzasoaresoficial

Repertório
1 – Juízo Final (Nelson Cavaquinho/ Élcio Soares)
2 – Malandro (Jorge Aragão)
3 – Meu Guri (Chico Buarque)
4 – Volta Por Cima (Paulo Vanzolini)
5 – Mulher do Fim do Mundo (Rômulo Fróes/ Alice Coutinho)
6 – Maria Da Vila Matilde (Douglas Germano)
7 – O Tempo Não Para (Cazuza/ Arnaldo Brandão)
8 – Espumas ao Vento (Accioly Neto)
9 – Menino (Elza Soares)
10 – Banho (Tulipa Ruiz)
11 – Carinhoso (Pixinguinha/ João de Barro)
12 – A Carne (Marcelo Yuka/ Ulisses Cappelletti/ Seu Jorge)
13 – Lírio Rosa (Pedro Loureiro/ Luciano Mello)
14 – Dor de Cotovelo (Caetano Veloso)
15 – Pranto Livre (Edel Ferreira/ Everaldo Dias)
16 – Libertação (Russo Passapusso)
17 – Negão Negra (Flávio Renegado/ Gabriel Moura)

Podcast: Escritor Ale Santos lança série sobre os maiores nomes do samba

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O escritor e podcaster Ale Santos (Foto: Divulgação )

Comemorando o vigésimo episódio do podcast Infiltrados No Cast, Ale Santos, escritor do livro Rastros de Resistência: História de Luta e Liberdade do Povo Negro está lançando a série “Lendas do Samba”, dedicada a apresentar a história de figuras importantes para a história da música e do movimento cultural que se tornou pilar do povo negro brasileiro. 

Para enriquecer os episódios o autor e podcaster conta com participações especiais, como do sambista e sociólogo Tadeu Kaçula presidente do Instituto Cultural Samba Autêntico, que recentemente lançou sua obra “A pequena África Paulistana” e outros grandes nomes como da cantora Teresa Cristina que tem um depoimento sobre Candeia no episódio que abre a série. 

“As pautas do Candeia, as reivindicações dele, dentro da obra dele continuam ativas.” – Trecho do depoimento da Teresa Cristina. 

Segundo Ale Santos, reconhecer os nomes e as lutas dessas pessoas podem guiar nossa população nesse momento político que estamos vivendo. “Parece algo distante, mas ao escutar uma ou duas músicas a gente percebe quanto é recente e mais ainda, como ainda é urgente que o Brasil entenda a mensagem dos nossos sambistas para construir nossa democracia.”

Os episódios estão disponíveis gratuitamente no site e nos principais programas de streaming musical. Eles vão ao ar nas Sexta-Feiras e contam com ilustrações fenomenais do Douglas Lopes. 

Onde escutar o Infiltrados No Cast? 

Site oficial – http://infiltradosnocast.com/

Google Podcast – https://podcasts.google.com/feed/aHR0cDovL2luZmlsdHJhZG9zbm9jYXN0LmNvbS9mZWVkL3BvZGNhc3Qv?sa=X&ved=2ahUKEwjn9Mq79-XqAhV5ajABHUoVAzIQ4aUDegQIARAC&hl=pt-BR

“Existe um apagamento das pessoas trans dentro da comunidade negra”, afirma a influenciadora Joe Andrade

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A ativista e influenciadora recifense Joe Andrade - Foto: Arquivo pessoal

Preta, nordestina e trans com muito orgulho. Joe Andrade é uma mulher com uma linda jornada de descoberta, em que ela aprende sobre si mesma, mas também ensina quem cruza seu caminho. Feliz quem pode testemunhar de perto esse renascimento poderoso.  

Joe que é estudante de teatro na UFPE é uma das entrevistadas mais especiais desse nosso Julho das Pretas e fala com a gente sobre sua vida como mulher, como a transição impactou suas relações sociais e familiares. Ela também destaca a transfobia presente na comunidade negra. Para se ter uma noção, Joe administra uma página bem conhecida pela comunidade negra no Facebook, a Desenrolando. Depois que ela começou a publicar mais conteúdos sobre comunidade LGBTQ+ e principalmente sobre mulheres trans, ela perdeu muitos seguidores.

“Minhas redes sociais, 95% são pessoas negras que me seguem. Eu falo sobre questões raciais desde 2013, a gente vai adicionando todas as pessoas pretas, mas depois vamos notando algumas coisas que me deixavam chocadas. Desconsiderar a existência das pessoas negras LGBT é um apagamento”, diz a ativista.

Te convidamos a conhecer mais o universo das mulheres negras trans nessa entrevista.

Mundo Negro  – Quando você descobriu que ser trans era algo possível? Digo pela questão da representatividade , a gente não sabe que pode ser uma coisa que nunca vimos.

Joe Andrade – O processo de autoconhecimento aconteceu em 2016 quando percebi que não era um homem gay e sim uma pessoa trans. Acredito que eu já  sabia desde cedo, quando criança,  me identificava muito mais com os problemas  das meninas negras do que dos meninos negros, quando eu me olhava no espelho eu me enxergava a própria  Taís Araújo  e não  o Lázaro Ramos.  Porém  por medo resolvi me assumir gay para minha família  e andar na linha da cisheteronormatividade. Chega um momento que não  tem jeito, você  tem a necessidade  de colocar para fora  algo muito precioso que está acontecendo dentro de você, e foi quando eu me assumi TRAVESTI, eles não  ficaram  tão  chocados  mas alguns ” amigos” se afastaram, houve aqueles que me excluíram de suas redes sociais, mas eu nunca me senti tão  linda.

Como foi para você o início desse processo e qual era o seu nível de preocupação com o julgamento do outros quando você decidiu ser você. Como foi sua família nesse processo?

Foi uma grande autodescoberta, eu procurava ao máximo  ouvir pessoas trans, principalmente as mais velhas, observava as inúmeras  vivências. Chega um momento em nossas vidas que a gente acha que aprendeu tudo e essa questão me fez perceber que não  é  bem assim. A minha preocupação  era se as pessoas iriam se afastar de mim, hoje em dia eu percebo que isso é  um favor. A minha ideia  de família ou modelo familiar mudou com o passar do tempo, para  mim, família  são  as pessoas que respeitam a sua humanidade  e te dá  todo  o suporte que a vida possa oferecer, independente  de laço  sanguíneo.  Penso que essa ideia de  ” família  é  de sangue” seja fruto de um pensamento colonial,  nós, pessoas LGBTQI+ precisamos descolonizar essa ideia e mostrar para a sociedade  os inúmeros modelos de família brasileira. 

https://www.instagram.com/p/B7ErMLinIcy/

Você fez terapia durante essa mudança? Teve algum tipo de acompanhamento profissional?

Eu busquei a terapia para resolver outras questões, porém  a questão  da travestilidade acabou entrando no jogo e me ajudou ainda mais. Eu pretendo voltar quando começar  o processo  de hormonização, inclusive, é  extremamente perigoso se hormonizar  por conta própria, o profissional irá  nos ajudar  a tomar as quantidades  certas, quais tipos de hormônios tomar. Muitas meninas ficam inseguras de procurar acompanhamento profissional devido algumas violências transfóbicas que vivenciamos com alguns profissionais da psicologia, afinal, só  em 2019 que a OMS retirou a transexualidade da lista de doenças mentais, mas existem muitos profissionais capacitados e que respeitam a nossa humanidade, vale a pesquisa. 

O que mais as pessoas dizem sobre os trans que te irrita, que te tira do sério?

Uma lista de coisas:

  • Que somos pessoas indecisas;
  • Que somos pessoas sem Deus ;
  • Que temos problemas psiquiátricos;
  • Que somos pessoas promíscuas;
  • Quando duvidam  da nossa capacidade intelectual;
  • Que não iremos viver mais de 30 anos ( nossa expectativa de vida)
  • Quando perguntam  nosso “nome verdadeiro” ou se já “fizemos a cirurgia”.  As pessoas se interessam muito pelas genitálias de pessoas trans, ninguém saí perguntando a um homem cisgênero se ele fez a circuncisão, nem deveria.
Joe Andrade em cena no espetáculo “O Dia que os gatos aprenderam a tocar jazz” – Foto: Arquivo pessoal

A comunidade negra é transfóbica ?Pode dar algum exemplo de algo que te afetou pessoal ou profissionalmente?

Acredito que assim como o racismo, a transfobia  é  um problema estrutural na sociedade, isso não  significa  que não vamos nos repensar e jogar  a responsabilidade  para a “sociedade ” como se nós  não fizéssemos parte dela. Nós fazemos  parte dessa estrutura, então, assim como o racismo é  problema  dos brancos a transfobia é  um problema das pessoas  cisgêneras. A comunidade negra é transfobica quando pauta a negritude  apenas no aspecto cisgênero  e heterossexual e exclui todas as outras possibilidades de gêneros e sexualidade. 

Eu acredito que a comunidade negra deveria abraçar  a luta da travesti, afinal, a maioria das travestis que são assassinadas são  negras e eu acredito que isso  se configura genocídio  negro. Essa pessoa trans que não chega até os 30 anos em sua grande maioria é  negra, 90% das meninas que estão na rua se prostituindo devido a falta de oportunidade são negras. A experiência negra deve ser pautada para além da cisheteronornatividade.  Nós travestis negras morremos duas vezes, por ser preta e por ser travesti, às vezes somos assassinadas três vezes, a terceira morte é quando erram nosso nome nas notícias.

Fiz uma seleção para uma agência de modelos, fui aprovada e me convocaram para uma reunião  importantíssima, eu achei que seria para  fechar o contrato, mas foi para me comunicar que infelizmente  não poderiam me contratar. Eles me aprovaram mas a minha aprovação gerou uma certa polêmica  e eles resolveram me dispensar, a justificativa que um dos agentes deu é que sendo uma pessoa trans isso geraria muita polêmica  e alguns clientes poderiam cancelar parcerias, eles não queriam correr tal risco.  Eu me senti extremamente humilhada, quando se é  uma pessoa trans em busca de um emprego não  é o seu curriculum e experiência que está em pauta e sim a sua humanidade.

Agora que você se tornou o que você é? Quais são as suas maiores alegrias, o que mudou no seu autocuidado?

Eu me sinto muito mais bonita e confortável, me sinto uma pessoa extremamente corajosa e feliz, no país que mais mata travesti é preciso ter coragem para andar pela  rua na luz do dia. A minha maior alegria foi ser a primeira da minha família a entrar em uma universidade pública e ter a oportunidade de descolonizar essa instituição que historicamente nos excluiu e desmereceu os nossos conhecimentos. 

Quem são suas referências entre as pretas trans?

As minhas referências principais são minhas amigas, Marcya Soares, Jarda Araújo, Rimena Brilhantina e Sued Hozanna, são pessoas que eu aprendo e me inspiram , são intelectuais maravilhosas e o futuro da nação. Espero que uma delas seja PRESIDENTA do Brasil um dia, acredito que esse país  só  irá para frente quando  tiver uma presidenta travesti. Também  amo as atrizes da série  Pose, MJ Rodrigues, Dominique Jackson, Angelica Ross e o elenco todo.

As crianças trans estão descobrindo mais cedo que não se identificam com o gênero de nascimento. Qual seu conselho para os mais jovens?

Eu acredito que a internet aproxima muitas discussões, hoje algumas crianças já nascem com um smartphone na mão  e tirando uma selfie para postar no Instagram. Penso que todas as pessoas  que querem ter uma criança  deveriam ler sobre questões  de gênero e respeitar os seus filhos, apoia-lo e ajuda-lo no que for preciso. O meu conselho para os mais jovens é que se cuidem emocionalmente, temos um mundo extremamente cruel mas as que vieram antes de nós abriram a porta e nós estamos aqui, não iremos embora, não morreremos pois somos sementes.

Fundadora da Feira-Preta, Adriana Barbosa é homenageada pela Turma da Mônica

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Adriana Barbosa é um patrimônio da cultura brasileira. Por meio da Feira-Preta, maior evento negro da América-Latina, a empresária conseguiu mostrar a força, o talento diverso, a arte da comunidade negra e ainda fortalecer a relevância econômica dos negros enquanto consumidores. Não por acaso, ela recebeu uma homenagem da Turma da Mônica por conta do Dia Internacional da Mulher Negra Latino Americana e Caribenha, 25 de Julho, sendo representada pela personagem Milena. Barbosa agora faz parte do hall do projeto Donas da Rua da História. 

 

A empresária é formada em Gestão de Negócios, é vencedora da categoria Empreendedorismo e Negócios do Prêmio CLAUDIA 2019, do Troféu Grão do Prêmio Empreendedor Social promovido pela Folha de S. Paulo, do Prêmio Estado de São Paulo para as Artes, da Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa, na categoria cultura urbana, e, ainda, é parte do time de fellows de líderes globais da Fundação Ford. 

A linda homenagem faz parte do projeto MSP parceiro da plataforma da ONU Mulheres e do Pacto Global tem como objetivo resgatar a trajetória de mulheres que marcaram a humanidade com suas ações.

Para Mônica Sousa, diretora executiva da Mauricio de Sousa Produções, é uma honra poder somar o nome de Adriana ao projeto. “É extremamente gratificante poder homenagear a criadora de uma plataforma tão importante para o empreendedorismo e para o movimento negro no Brasil. Trazer mais visibilidade a mulheres  notáveis para que sejam exemplo e incentivem outras mulheres é nosso papel não apenas como empresa, mas como cidadãos”, pontua. 



O projeto Donas da Rua e outras Donas da Rua da História podem ser conferidos no site:turmadamonica.uol.com.br/donasdarua/ddr-da-historia.php

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