Vivendo um momento de expansão em sua carreira, a cantora Urias tem muito a celebrar com o lançamento de seu primeiro álbum, intitulado ‘Fúria’. O projeto traz letras intensas e faz reflexões sobre a sociedade, comportamento e sobrevivência da comunidade LGBTQIAP+. Além de assinar as composições, ela traz timbres de R&B, hip hop e cinema noir – sons e estéticas que são as principais inspirações da artista. “Eu sei que no mercado de hoje em dia as pessoas simplificam um bando de singles e fecham o álbum para lançar, mas eu tenho histórias pra contar. Eu quero que escutem e pensem sobre ele, quero que faça as pessoas pensarem alguma coisa“, conta Urias ao MUNDO NEGRO.
Além de ter lançado recentemente o seu tão aguardado álbum de estreia, juntamente com o clipe para da faixa “Tanto Faz”, Urias conquistou o primeiro lugar dos álbuns mais vendidos do iTunes Brasil. É a primeira vez que a artista atinge essa posição na parada de álbuns. Através de um projeto original, refletindo suas vivências e contando histórias de encorajamento e luta, Urias conta ao MUNDO NEGRO, em entrevista para o jornalista Arthur Anthunes, detalhes sobre ‘Fúria’, projeto que segundo ela pode ser descrito dentro das palavras “potência, raiva, possibilidade e faísca”.
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MUNDO NEGRO: O que podemos esperar sobre o “Fúria”?
Urias: “Neste álbum [Fúria] fiz coisas que nunca tinha feito antes, tanto com ritmos quanto com letras e visuais. Eu sempre peço para nunca esperarem nada em específico, não me meço assim. Mas o álbum flerta muito com o R&B, muito com o hip-hop, as minhas rimas, as batidas e tudo mais. Também não deixa de ter identidade de música eletrônica que eu venho passando e misturando ao longo de minha carreira, dando um tom de coisa nova.”
Existe um conceito em torno do preto e branco? É possível ver esses elementos na capa e nos seus clipes.
“No início quando comecei a pensar no álbum, no preto e branco era mais pelo mistério. Uma vibe que pudesse abrir a capacidade de interpretação das pessoas, que elas pudessem imaginar que cor seria. O preto e branco tem esse mistério. Tudo que é relacionado ao CD vem em preto e branco”.
E sobre referências, podemos pensar em quem?
“Nessa segunda parte do álbum me inspirei muito em ShyGirl e Tkay. No geral, me inspirei em pessoas que crescemos ouvindo, como Beyoncé e Rihanna, não tem como, elas são referências pra todas, elas começaram o rolê e é isso”.
Urias, que chegou a prestar vestibular para Design de Moda, conta que estudou sobre Tradução, Relações Internacionais, mas foi na música que encontrou seu pertencimento artístico. “Sempre tratei a arte como um hobbie, nunca pensei que fosse possível viver de música, nunca pensei que eu iria viver disso” conta a cantora. “Não achava que iria viver de arte, sempre pensei ‘isso aqui não vai dar em lugar nenhum, o que vai dar em alguma coisa é a faculdade’. Depois, comecei a me jogar e a tentar, aí deu certo”, revela.
Sobre o AFROPUNK 2021, como foi a experiência?
“Foi uma surpresa, primeiro me surpreendi com o convite. Eu fiquei ‘Meu Deus?’. Eu fiquei 2 anos fazendo shows apenas para câmeras. Quando vi o line-up do AFROPUNK percebi que estava dividindo o palco com pessoas grandes. Fiquei muito nervosa, mas veio a parte boa, escolha do look, tudo em torno. Foi uma das melhores experiências de anos que tive, um sonho realizado. Ver as pessoas cantando minhas músicas novas, eu nunca tinha visto. Você ver que as pessoas estão cantando suas músicas, é uma experiência incrível. Foi uma valorização do meu trabalho. Uma valorização que mostra que o que estou fazendo não é atoa. Um festival de fora está prestando atenção no meu trabalho. Eu pensei que nunca iriam me ouvir, minha mensagem, então só de saber que existem pessoas que nem falam minha língua, querendo me escutar, é muito importante”.
Como você recebe essa menção de ser uma grande inspiração para tantas pessoas?
“Às vezes vem uma certa responsabilidade, do ‘preciso fazer direito’, mas abraço bem. É muito bom saber que você esta fazendo uma diferença positiva na vida de pessoas que você não conhece e que consequentemente essas pessoas estão fazendo da minha arte parte da vida delas. É uma troca muito incrível. Eu não achei que eu fosse ser isso tudo, é muito louco?”.
Quando caiu a ficha de que você é “isso tudo”?
“O AFROPUNK foi um desses momentos. Da última vez que andei de metrô foi uma delas, fiquei pensando ‘o que está acontecendo?’. Tive vontade de sair correndo. Pessoas que também nem sabiam quem eu era se juntavam para ver o que estava acontecendo. Várias fichas vão caindo, até as fichas de responsabilidade, às vezes não posso fazer algumas coisas, mas se eu fosse anônimo eu poderia. Faz parte de um senso de saber quem você e onde você transita”.
Sobre turnês, Urias diz que o “Furia” sempre pensando no palco, mas que existe incertezas por conta da pandemia e já adianta turnê internacional. Cantora comenta ainda sobre o conceito em torno do título do disco.
Porque o álbum se chama ‘Fúria’?
“Eu sei que no mercado de hoje em dia as pessoas simplificam um bando de singles e fecham o álbum para lançar, mas eu tenho histórias pra contar. Eu quero que escutem e pensem sobre ele, quero que faça as pessoas pensarem alguma coisa. Mesmo que elas estejam requebrando o rabo. Aquele meme da Leona Vingativa: ‘A gente faz uma palhaçadinha, mas parando pra pensar’. Resolvi falar sobre a raiva porque ninguém fala muito sobre esse sentimento. Esse sentimento nos força a ter ações em momentos difíceis. Decidi falar sobre isso porque nunca associam minha imagem e meu recorte à raiva, sempre associam a dó. “Ai coitada, ela é travesti”, isso no imaginário das pessoas. Então pensei, eu não estou assim, estou é com raiva de tudo que acontece comigo e porque acontece comigo e não é culpa minha, não tenho nada a ver com isso, vocês que precisam lidar com isso. Queria que as pessoas entendessem que nós estamos com raiva. Tudo em torno do álbum gira em torno disso, em torno da ‘Fúria’”.
Nos conte 4 palavras que podem definir o álbum.
“Possibilidade, raiva, potência e faísca”.
Com ‘Tanto Faz’, seu novo single de trabalho, Urias diz que música reflete o clamor em querer sem ouvida, sobre a raiva de ser negada do afeto. “No clipe faço um paralelo sobre o meu alcance desse amor com o alcance que a loba possui em cantar para a lua, uma relação meio impossível”. Artista finaliza comentando que seu novo projeto apresenta suas vivências e enfatiza: “As minhas vivências não são só minhas”.
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