No Carnaval de 2024, algumas Escolas de Samba de São Paulo: Dragões da Real, Independente Tricolor, Nenê da Vila Matilde, Mocidade Unida da Mooca e Estrela do Terceiro Milênio fizeram homenagens à mulher que mostram a importância que as comunidades e o ativismo do feminismo negro dão ao papel que a mulher negra desempenha na sociedade brasileira.

O ativismo feminino da mulher negra é decisivo nas lutas populares das periferias da cidade de São Paulo. Não existe luta popular sem a participação e a liderança da mulher negra.

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A luta pela moradia, saúde, educação e direitos humanos passa essencialmente pela organização política de mulheres negras. Durante o Carnaval, uma das mulheres mais combativas da Zona Leste de São Paulo, a região mais populosa da cidade, nos deixou. Uma perda sofrida, que não pode ficar no anonimato, como tantas lideranças que nos deixam sem um registro nos grandes jornais ou na mídia eletrônica.

Arlete de Lourdes Isidoro (1948-2024) esteve na liderança em todas as batalhas pela melhoria de vida da população de São Paulo. Não tinha um mandato parlamentar, mas sua voz foi ouvida por prefeitos e governadores.

Nos últimos 50 anos, não houve luta em defesa dos direitos humanos em que ela não estivesse lá, fazendo-se ouvir e, com a sua experiência, dando lições de como se organizar e como influenciar o poder público.

Em defesa da democracia, saiu em passeatas, nas Diretas Já, lutou contra a carestia nos tempos do regime militar. Foi uma das pessoas da vanguarda da luta pela Saúde da População Negra em São Paulo e no Brasil desde o mandato da Prefeita Luísa Erundina. Foi responsável pela inclusão do quesito cor nos formulários da Secretaria Municipal da Saúde na década de 1990.

Arlete foi sempre uma defensora incansável na luta pela saúde da população negra, tendo a sua organização OGBAN(Associação Cultural Educacional Assistencial Afro Brasileira Ogban) sido parceira da Secretaria Municipal da Saúde na primeira atividade de formação envolvendo usuários e profissionais acerca do tema.

Ao longo dos anos, Arlete se manteve na luta. Foi uma das fundadoras da Associação de Anemia Falciforme do Estado de São Paulo-AAFESP, que objetivava a luta pelo “Atendimento da Saúde Integral das Pessoas com Anemia Falciforme”.

Durante a pandemia da Covid, Arlete denunciou a invisibilidade e o descaso com as comorbidades óbvias que, segundo pesquisa da Agência Pública, causaram o triste percentual de 71% dos óbitos por covid no país atingindo pessoas com mais de 60 anos de idade.

Ela também esteve sempre à frente da luta por moradias populares na região de Itaquera. No campo cultural realizou diversas atividades culturais afro-brasileiras nas regiões de Itaquera e Guaianazes, de São Paulo.

Arlete ainda não teve seu nome cantado por nenhuma Escola de Samba, tampouco é nome de rua, escola, praça pública ou posto de saúde. Sua luta foi anônima, mas teve impacto na vida de milhares de pessoas em São Paulo.

Nós estamos habituados a enaltecer o nome de artistas, parlamentares, jogadores de futebol, participantes de programas de TV. Mas nas periferias das grandes cidades, existem mulheres guerreiras que estão fazendo a história do nosso povo. É preciso reconhecer o protagonismo de mulheres como Arlete de Lourdes Isidoro.

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