‘Quero presença. Eu não quero mais estar sozinha nos espaços.’, declara Ana Maria Gonçalves, autora de ‘Um Defeito de Cor’

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‘Quero presença. Eu não quero mais estar sozinha nos espaços.’, declara Ana Maria Gonçalves, autora de ‘Um Defeito de Cor’
Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

O nome de Ana Maria Gonçalves, intelectual negra cujo livro ‘Um Defeito de Cor’, que está na 39ª reimpressão, inspirou o tema do desfile da escola de samba Portela, no Carnaval deste ano, no Rio de Janeiro, continua a circular na imprensa brasileira. Em uma entrevista concedida para o programa da jornalista Miriam Leitão, na Globo News, Gonçalves reforçou a importância da presença massiva de pessoas negras em todos os espaços e destacou ainda o fato de a escola ter elevado a história que ela conta em seu livro “a um nível de alcance de pessoas”.

Além do samba-enredo, ‘Um Defeito de Cor’, que teve seu estoque de vendas esgotado na Amazon e na editora Record um dia depois do desfile da Portela, também é tema de uma exposição que ficará em cartaz no Museu Nacional da Cultura Afro-Brasileira (Muncab), em Salvador, até o dia 3 de março e que deve desembarcar no Sesc Pinheiros, em São Paulo, no mês de abril. Com 370 obras de mais de 100 artistas, a exposição tem curadoria da autora Ana Maria Gonçalves e de Marcelo Campos e Amanda Bonan e é centrada na luta do povo negro por liberdade.

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Ao relembrar o processo de escrita do livro, que pode ser considerado um registro real da história do Brasil e do histórico da violência racial e de gênero que estruturam as relações no país, Ana Maria Gonçalves afirma que este também foi seu ‘romance de formação’, como o gênero é designado: “É uma pesquisa e uma escrita que através do qual eu comecei a me entender como mulher negra, num país escravocrata, num país racista, num país machista”.

Na entrevista para Miriam Leitão, Ana Maria Gonçalves reforçou a importância da construção de uma identidade negra e de uma presença que não seja apenas representativa. “A questão da representatividade acaba sendo as mesmas pessoas, representando um mesmo grupo o tempo inteiro”, afirmou. ‘A gente quer presença. Não quero mais saber de representatividade. Eu quero presença. Eu não quero mais estar sozinha nos espaços. Principalmente sendo escritora ou intelectual, mulher negra, a maioria das vezes eu estou sozinha nos espaços, não tem mais uma outra. Não chamam porque acreditam que eu vou estar representando e falando por vários”, cobrou a intelectual.

Gonçalves também foi questionada sobre o combate ao racismo no Brasil atual e abordou a necessidade de estarmos em espaços de decisão para garantir que estejamos decidindo as pautas: “Acho que a gente precisa ter espaço de decisão. Ter negros em locais de trabalho, como na televisão, por exemplo. Mas a gente ainda não está nesses lugares de decisão. A gente não é um diretor, a gente não tem alguém que está decidindo qual é a pauta”.

“A gente precisa estar nesses lugares para poder decidir qual é o tema, qual é o assunto, quais são as pessoas que a gente vai chamar para tratar desse assunto. Para que a gente realmente possa tentar começar a equilibrar essa balança. Porque racismo é ignorância. Ignorância é algo ativo, não é algo passivo. As pessoas escolhem ser ignorantes porque estão defendendo um espaço de privilégio, às vezes sem mesmo saber que estão”, opinou ela.

A autora de ‘Um Defeito de Cor’ ainda pontuou a necessidade de posicionamento, especialmente vindo de pessoas brancas: “Muitas vezes as pessoas brancas falam: “O que eu posso fazer pra ajudar”? Eu falo: “Use o teu lugar de privilégio para difundir informação”.

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