No novo episódio do podcast Falas Diversas, apresentado pela jornalista Silvia Nascimento, recebemos o casal Vanessa Sanches e Eddie Pipocas. Eles são criadores da plataforma BANTUMEN, que fala sobre a cultura negra na lusofonia.
“A plataforma de comunicação é de e sobre os afrodescendentes que falam português, portanto têm a sua base em Lisboa, Portugal. A plataforma nasceu em Angola há sete anos, e estamos espalhados pela lusofonia. Temos um colaborador em São Paulo, em Moçambique, em Angola e em Cabo Verde, portanto estamos espalhados, é o que tentamos fazer para ter sempre alguém para poder dar a sua própria visão sobre aquilo que se passa no local”, explica Vanessa.
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Eles criaram a BANTUMEN quando estavam morando em Angola, mas se mudaram para Paris, na França, quando uma crise econômica afetou o país.
Eddie nasceu na capital de Angola, Luanda, e Vanessa é filha de uma angolana, mas nascida em Portugal. Eles se conhecerem no território português, e perceberam o quanto tinham em comum, com as vivências de um corpo preto na Europa.
“A minha mãe foi assistente de bordo durante muitos anos, então ela viveu em Portugal a vida toda. E eu com os meus avós, em Angola. Nos anos 2000, meus dois avós faleceram, eu como ainda era menor [de idade], mudei-me para Portugal, onde eu terminei o secundário, fiz faculdade. Agora estamos em Paris, um outro mundo africano, que é o mundo francófono, bem maior do que o lusófono, são muitos mais países, é muito mais cultura, são muito mais religiões”, relata Eddie.
Com essa nova experiência, Eddi complementa que agora eles prentedem incluir as novas experiências na plataforma. “Aproveitamos essa facilidade da Vanessa ter conhecido França, pra nos conhecermos como negros, mas na perspetiva de outras pessoas negras, de outras religiões, para implementar dentro da BANTUMEN, para perceber que existe um atraso no mundo em português e o avanço extremo no mundo francófono”.
“Paris é uma das cidades mais multiculturais que existe no mundo e estou falando só da parte africana. Nós encontramos aqui negros de todos os cantos do mundo. É incrível perceber a forma como cada um de nós tem uma forma tão peculiar, tão diferente de pensar à africanidade”, ressalta Vanessa.
Para o casal, os negros da lusofonia ainda estão atrasados no reconhecimento da negritude. “Portugal foi o último a largar as colônias, foi o último a admitir a escravidão, a hegemonia branca sob os negros, sempre tentou disfarçar as colônias. Portugal reproduziu filmes em África, para passar na Europa, como se fossemos todos iguais”.
Eddie compara a colonização de um país para o outro e como isso ainda reflete nos dias atuais. “Os negros do Haiti se revoltaram há três séculos atrás contra os franceses, então tem consciência de luta há muito tempo. Angola é independente há 47 anos, ou seja, a minha mãe foi colonizada, não estou falando dos meus avós, é muito pouco tempo”.
E complementa: “Nós que viemos de África, com sentido de liberdade, mas é um sentido de liberdade fingido porque nós temos duas ou três canais nacionais, mas depois temos oito canais portugueses, as novelas são portuguesas e felizmente, desde 2015, a Globo já está mais diversa, então nós, mesmo em África, quem está em Angola, quem está em países que fala português, consegue se ver numa Taís [Araújo], se ver no marido da Taís, o [Lázaro] Ramos. Eu vivo em Portugal há vinte anos e nunca vi uma pessoa preta num banco, nem como segurança”.
Vanessa também observa muito a falta da representatividade em Portugal. “Só o ano passado, por exemplo, é que nós festejamos um negro ao vivo num telejornal nacional, e só há três anos, que tivemos a primeira atriz negra personagem principal de uma novela, portanto nós estamos realmente no início do início. E quando nós chegamos aqui em Paris, basta ligar a televisão e vemos publicidades, que aparecem brancos, aparecem pretos. Vamos num banco, somos atendidos por um preto em qualquer esfera. Conseguimos perceber que em quase todas as esferas, há uma certa representatividade”.
“Nós acreditamos que Portugal é a maior estrutura racista do mundo. Portugal trabalhou tão bem na sua estrutura, que nós vamos lidar com isso por pelo menos mais 50 anos”, afirma Eddie.
Em Portugal, também não dados com a quantidade de pessoas negras, apenas de imigrantes. Segundo Vanessa, há alguns anos o povo negro luta por um Censo focado em raça, o Instituto Nacional de Estatística disse que iria incluir a raça nos levantamentos, mas os portugueses ainda aguardam o resultado. “É muito mais fácil contar quantos muçulmanos têm, quantos católicos, de que quantos negros portugueses”, lamenta.
A entrevista completa você pode assistir no canal do Site Mundo Negro no Youtube ou no Spotify.
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