A ‘terça do apagão’ dominou as redes sociais, mas é valido constatar que a comunidade negra vai além de quadradinhos pretos no instagram
“Para o movimento, esta terça-feira foi escolhida para ser um dia de luto. Para participar, basta colocar um quadradinho preto em seu feed, apenas com a hashtag #blackouttuesday. A legenda pode conter alguma mensagem referente à causa.”
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Lendo essa matéria sobre a terça feira do apagão, consegui observar as palavras que eu não entendia nela, pude notar a distorção em suas entrelinhas “basta colocar um quadradinho preto em seu feed”. Notei que colocar apenas um quadradinho preto no feed não significa que você é antirracista e apoia o povo preto, só significa que você colocou um quadradinho preto no instagram.
A campanha que promove o “apagão” nas redes sociais foi usada para demostrar os lutos pela morte de George Floyd e pela morte de João Pedro – ambos mortos por polícias –. Muitos influenciadores e famosos usaram a rede social para promover um debate sobre a comunidade negra e sua importância diante de todos os campos da sociedade.
Com tantos posts de fundo preto e relatos de racismo nas redes, é válido lembrar que a referência negra não pode estar apenas em conteúdos de militância ou intelectual. E que as pessoas que ensinam esses assuntos estão ali para repassar informações e não ser seu guia informacional. É preciso buscar, estudar e colocar esse público como referência na vida. O povo preto não pode caber só no lugar de “prestar serviço e informações”. Somos variedades, somos blogueiras, artistas, cantores, intelectuais e fashionistas.
A ação que foi promovida por grandes empresas da música, como as Atlantic Records, Sony/ATV, Sony Music, Warner Records, deixa a desejar quando as mesmas não utilizam o seu potencial para desenvolver e promover o trabalho da comunidade negra. Dar visibilidade, pagar pelo trabalho e tentar promover a igualdade racial nesse campo, ultrapassa a utilização de campanhas com fundos pretos. Chegou a hora de fazer campanhas que mostrem e compartilhem o trabalho da população preta além do mês de Novembro.
O Deezer enviou a todos os usuários uma nota de apoio ao Blackout tuesday e ao antirracismo, a Netflix promoveu um post falando que concorda com o movimento, mas a primeira plataforma posta fotos com seus funcionários e demostra ser guiada por diversos colaboradores brancos. A segunda investe pouco em produções e cineastas sul-africanos. O antirracismo deveria chegar aí, quando as grandes empresas entendem que o trabalho do preto é tão importante e eficaz que o do branco e os contrata também.
Entender, pagar e valorizar a trabalho de pessoas pretas em todos os seus meios e veículos. Mostrar e compartilhar a arte do preto assim como compartilha a militância do outro. Colocar as pessoas negras como protagonistas e saber qual a importância de ter visibilidade e referência nelas.
Gostaria de acreditar que quadrados pretos no feed das redes sociais mudarão algo, e que a população que mais sofre com invisibilidade social não será só lembrada no mês da consciência negra, mas será ouvida e respeitada todos os dias.
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