Faltam poucos meses para o novembro negro e começou a pipocar no meu feed em várias redes, profissionais e ativistas negros oferecendo seu conhecimento para palestrar e participar de eventos relacionados ao mês da Consciência Negra.
Nada de errado nisso, pelo contrário. Conhecimento tem um custo para ser adquirido, portanto, seu compartilhamento também pode ser vendido como um serviço.
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O que me incomoda como alguém que trabalha com comunidade negra há 20 anos, é ver como o ativismo e o crescimento das redes sociais criaram um fenômeno curioso de dar poder de fala sobre questões raciais a quem tem presença online e um network poderoso, mas não necessariamente está in loco, vendo como a comunidade negra vive.
Obviamente casos assim acontecem entre os feministas, ecologistas e outras pautas, ou seja, pessoas que entendem que há uma demanda sobre um tema que hoje tem valor para sociedade, imprensa e até empresas (ESG) e tornam isso o seu money maker, não necessariamente dialogando com a comunidade que eles dizem entender e fazer parte.
O que dá propriedade para falar sobre comunidade, do ponto de vista de quem se diz um porta-voz, creator, consultor e afins, deveria ser para além da vivência pessoal, relações contínuas com pessoas negras da área que ele representa para além dos palcos do eventos. É sobre conversar com pessoas, empoderar iniciativas comunitárias, usar sua plataforma para dar visibilidade a quem não tem, tem um equilíbrio entre o falar sobre si sem esquecer do “nós”.
É curioso ver gente bombando em espaços badalados pela branquitude, listas, eventos, mas que quando você vai olhar de perto o engajamento desses porta-vozes da comunidade negra, tem mais brancos interagindo do que negros. Não é esquisto?
Acho que carece, das pessoas brancas bem intencionadas, que querem enegrecer seus espaços, um olhar para além do que saiu na revista da Forbes e Top Voices do Linkedin.
É muito preguiçoso fazer uma curadoria baseada nessas referências que privilegiam quem tem um network forte, mas invisibiliza um número imenso de pessoas negras que estão na frente do front, mas sem tempo para fazer um marketing pessoal. Eu tenho orgulho de fazer meu trabalho como jornalista olhando uma mensagem do Facebook com o mesmo afinco que leio um Top Voice do Linkedin no que diz respeito a pessoas negras se expressando.
Eu celebro o avanço e empoderamento da minha comunidade, precisamos dos nossos rostos e corpos em todos os lugares, com discursos ora mais políticos, ora mais leves. E o close também também tem valor político. Mas deixo a reflexão: quem não dialoga com a comunidade negra, pode ser nosso porta-voz?
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