Texto: Ricardo Corrêa

Em vida, ele foi a faísca que acendeu uma fogueira em toda a África do Sul. Sua mensagem aos jovens e estudantes foi simples e clara: Preto é Lindo! Tenha orgulho da sua negritude! E com isso ele inspirou nossos jovens a se livrarem do sentimento de inferioridade em que nasceram, como resultado de mais de trezentos anos de domínio branco.Nelson Mandela

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A história nos demonstra que a supremacia branca utiliza diferentes estratégias, incluindo negros traidores, para interromperem a vida dos revolucionários negros. O sul-africano Stephen (Steve) Bantu Biko é uma dessas vítimas. Ele foi assassinado no dia 12 de setembro de 1977, na África do Sul. Tinha apenas 30 anos, e estava sob custódia da polícia sul-africana. O crime bárbaro provocou indignação e manifestações de diversos países contra a segregação racial naquele país. O governo declarou que a morte foi resultado de greve de fome, depois disseram que foram lesões por tentativa de suicídio, mas as investigações apontaram que Steve Biko foi vítima de torturas. Tudo aconteceu após a sua prisão no dia 18 de agosto de 1977 por – supostamente – violar as leis do apartheid. Os policiais deixaram o revolucionário despido e algemado, durante vinte dias. Ao ser maltratado por um dos policiais, revidou. Daí o espancaram provocando hemorragia cerebral. E assim permaneceu: nú, algemado e machucado gravemente. Quando resolveram levá-lo para atendimento especializado, era tarde demais.

Naqueles tempos o país estava sob o regime de segregação racial, conhecido como Apartheid, implantado depois da vitória do Partido Nacionalista. Essa execrável política vigorou de 1948 a 1994. No conjunto de políticas, havia determinação para que brancos e negros não compartilhassem os mesmos equipamentos públicos: escolas, banheiros, bebedouros, acomodações em transporte, bancos nas praça. Além disso, os negros sofriam tamanha violência do Estado. O Massacre de Shaperville, em 1960, é um dos exemplos sangrentos da época: sessenta e nove pessoas mortas, e mais de cento e oitenta pessoas feridas pela polícia. Na mesma década, Nelson Mandela foi condenado à prisão perpétua, acusado de conspiração e sabotagem.

Steve Biko (Foto: Coleção Everett/Fotosstock)

A luta de Steve Biko se desenvolveu nessa realidade. Aluno brilhante em todos os níveis que estudou, até frequentou um curso de medicina, mas abandonou. Participou e fundou organizações que enfrentavam os impactos das políticas racistas na educação, porém, foi o Movimento da Consciência Negra, surgido da Organização dos Estudantes Sul-Africanos (SASO), que teve importante influência na luta contra o apartheid. 

Steve Biko era o principal articulador do movimento; e trabalhou intensamente elaborando protestos, mobilizações, campanhas. A Consciência Negra buscava elevar o orgulho de todos os negros como arma contra o racismo e, assim, tornarem-se independentes dos brancos, nas palavras de Steve Biko “A filosofia da Consciência Negra, portanto, expressa um orgulho grupal e a determinação dos negros de se levantarem e conseguirem a autorrealização desejada.”

A história desse revolucionário precisa nos servir de inspiração na luta contra o racismo no Brasil. A Consciência Negra não pode ser mero slogan que comemoramos no mês de novembro. Devemos nos perguntar se lutamos em prol do coletivo (direitos sociais, políticos e distribuição de renda) ou a preocupação que nos motiva é apenas individual (sucesso profissional e bens materiais). Pois, se a resposta diz respeito à preocupação coletiva, estamos distantes de uma luta que no mínimo cause preocupação às classes dominantes. E se a preocupação é com o individual, sinto informar que nada faz com que o negro seja visto como branco. Não importa a posição social e econômica. O racismo não nos deixará em paz!

E não ignoro que haja ativistas e militantes, organizações e movimentos negros trabalhando para avançarmos dentro dos espaços de decisão, nas esferas institucionais, nas comunidades etc. No entanto, falta maior massificação. Há muitos negros focados no  próprio umbigo, principalmente quem ascendeu socialmente. Enquanto isso, todos os negros sofrem por ausência de cidadania. Devemos dar uma resposta concreta contra a estrutura racista que nos oprime. Para tanto, coloquemos em prática a filosofia da Consciência Negra; não deixemos que o racismo destrua o que o revolucionário Steve Biko deixou como instrumento para a nossa emancipação.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BIKO, Steve. Escrevo o que eu quero. São Paulo: Editora Ática, 1990.

MANDELA, Nelson. Autobiografia de Nelson Mandela – Um longo caminho para a liberdade. Lisboa: Planeta, 2009.

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