“Não há nenhum empoderamento em imitar um gorila”, observa pesquisadora Bárbara Carine

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“Não há nenhum empoderamento em imitar um gorila”, observa pesquisadora Bárbara Carine
Foto Bárbara Carine: Henrique Santos / Foto Endrick: Reprodução Conmebol

Em um vídeo publicado nas redes sociais na manhã desta quarta-feira, 15, a pesquisadora Bárbara Carine explicou os motivos pelos quais uma pessoa negra não deveria imitar um macaco. Para ela, “não há nenhum empoderamento em imitar um gorila sendo uma pessoa negra para celebrar algo”.

A fala de Carine faz referência ao gesto realizado por Endrick, jogador do Palmeiras, depois de ter feito um gol contra o Liverpool, do Uruguai, no dia 9 de maio. Em justificativa à imprensa, o atacante brasileiro afirmou que a comemoração era sobre um de seus filmes favoritos: “Hoje lançou também o filme do Planeta dos Macacos e isso que quero mostrar, que gosto do filme do Kong, é isso. Estou feliz”.

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Apesar de bem intencionado, o gesto de Endrick foi bastante criticado pelas problemáticas históricas da relação feita por racistas entre pessoas negras e primatas, que justificavam a escravização. No vídeo de Bárbara Carine, ela lembrou que: “A ciência disse que a gente não tinha evoluído à condição humana do homo sapiens sapiens. Então a gente estava lá atrás, na escala evolutiva, em algum estágio do desenvolvimento. E a gente se parecia com algum primata, que eram os ancestrais que vinham antes do homo sapiens. Então, não há nenhum empoderamento em imitar um gorila sendo uma pessoa negra para celebrar algo”, afirmou.

A pesquisadora afirmou que a comemoração representa um retrocesso à luta do movimento negro: “É um retrocesso muito grande de uma luta histórica secular dos movimentos sociais negros, que buscam em todas as instâncias sociais nos re-dignificar do ponto de vista humano, nos humanizando”, disse.

“Seja Endrick, seja qualquer outra pessoa, não deve associar pessoas negras a macacos, a primatas. Isso significa não que a pessoa se parece com um macaco. Ou que a pessoa negra é tão forte como o gorila. Isso reforça um estigma social de desumanização que foi construído lá atrás para legitimar a escravidão negra no mundo. Falo isso aqui não para a gente cancelar com o Endrick, que é um menino preto, jovem, de 17 anos, que tem muita coisa para aprender e eu espero que ele tenha uma rede muito potente perto dele para ajudar. Ele já precisa muito desses processos de letramento, de reforço positivo da sua auto-imagem enquanto homem negro”, reforçou Carine.

Além de Endrick, o jogador argentino Matías Reali, que atua no Independiente Rivadavia, reproduziu a comemoração do atacante brasileiro depois de fazer um gol pelo seu time no campeonato argentino, numa partida que foi transmitida no dia 12 de maio. Em justificativa, Reali disse à imprensa argentina: “A gente sempre brinca com o Gringo Maidana e o Pancho (Petrasso), que são a ‘Gangue dos Macacos’ lá no clube”, contou. “Logo na comemoração do Endrick estávamos rindo porque aconteceu e eles me disseram: ‘Bem, agora você marca o gol e comemora”, disse.

Confira o vídeo publicado por Bárbara Carine:

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