Olhando para as coleções de fotos da Shutterstock da Semana de Moda Outono/Inverno 2020 no início deste ano, notamos que a maioria das top models fotografadas na passarela são brancas. No entanto, há sinais de que a indústria está mudando.
De acordo com o The Fashion Spot, a temporada da Primavera 2020 foi a que mais apresentou diversidade étinica na história. Dos 7.390 modelos escalados para os desfiles principais, mais de 40% não eram brancos. Embora seja um aumento discreto comparado com a estatística anterior do Outono 2019 (menos de 38%), os especialistas do setor consideram encorajador.
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Masculinidades negras: a armadilha da hipersexualização
O padrinho do ShADEs, Andrew James, considera o cenário animador se comparado ao de dez anos atrás. Além disso, ao analisar esse passado não tão distante, havia um pequeno número de modelos afro-descendentes atendendo a requisitos muito específicos. Hoje, no entanto, esse conceito “tradicional” não predomina mais. “A definição do que é considerado belo mudou”, diz Andrew, acrescentando que, há mais de dez anos, muitas pessoas diriam que não haveria possibilidade de “indivíduos com um certo tom de pele ou estilo de cabelo” tornarem-se modelos.
Para unir-se nesta mudança, o membros do ShADEs da Shutterstock compartilham algumas dicas na hora de criar ou escolher imagens que apresentem diversidade e inclusão.
Dica #1: Apoiar a diversidade no mercado de modelos
Ao planejar e escalar o elenco para fotos e filmagens, mantenha a mente aberta a novas ideias de beleza que derrubem as barreiras tradicionais do passado. Esta é a sua oportunidade como profissional para fazer a diferença e direcionar o mercado a novos horizontes.
Dica #2: Mais imagens não significam boas imagens
No que diz respeito a banco de imagens, a líder do ShADEs, Amber Nobles, lembra que não queremos apenas mais representatividade negra. “Precisamos de uma representatividade negra incrível”.
Andrew reforça a ponto de Amber, e acha difícil traçar uma linha que separe a qualidade da essência. “Se te comove, se é convincente — como vamos limitar os critérios que deveriam serem cumpridos?”
Da próxima vez que ligar a câmera ou escolher as imagens para sua campanha, vale ter isso em mente para que seu trabalho não seja apenas cumprir tabela. Bem além disso, você vai querer criar algo que carregue uma mensagem relevante para seu público.
Dica #3: A diversidade é importante também por trás das lentes
Embora possa haver mais sinais de diversidade em algumas áreas, como na seleção de modelos, Amber espera que se torne mais frequente encontrar contribuidores de destaque negros em sites de stock. “Adoraria mostrar estes talentos e colocar um holofote em como estão compartilhando a cultura negra — especialmente quando se trata de expressar visualmente a experiência e a narrativa afrodescendente.”
Steven Russell, membro do SHADEs, diz que a fotografia precisa de uma presença mais ampla de artistas pretos na diáspora como um todo. “Há cultura negra na América do Sul, no Reino Unido e na Ásia”, complementa. Russell acrescenta que o conteúdo stock poderia incluir mais imagens editoriais da atualidade, de eventos, mencionando como exemplos o AfroPunk e oDia do Trabalho em seu país.
O mais importante é que o conteúdo seja autêntico. Andrew completa: “Se o conteúdo é realmente convincente, não importa de onde veio – é importante o que está por trás dele e o impacto que terá.”
Quando for produzir o seu conteúdo, essa questão vai ajudar suas obras a serem concebidas com autenticidade e significado.
Dica #4: Utilização das palavras-chave e descrições certas na plataforma stock
Criar a imagem é uma coisa, mas como todos os elementos de um acervo stock, é igualmente importante considerar usar as palavras-chave certas – especialmente se houver preconceitos, viés ou sensibilidade no uso das palavras-chave erradas. Cabe ao fotógrafo estar ciente e certificar-se de que a linguagem apropriada está sendo utilizada.
Amber diz que um fotógrafo pode ter as melhores intenções em suas ideias, mas isso pode ser manchado se usar palavras-chave que não refletem o conteúdo.
Por exemplo, para tornar os conteúdos mais relevantes nas pesquisas globalmente, o contribuidor pode evitar o termo “afro-americano”, uma vez que o termo é muito centrado nos Estados Unidos, por exemplo. É por isso que é importante pensar em quem está à procura do seu conteúdo, e, em última análise, como será para encontrá-lo.
Dica #5: Chegamos tão longe, mas temos um longo caminho a percorrer
É perceptível que há um progresso na representatividade negra na frente e atrás da câmera, mas ainda há mais por vir. Um bom começo é interessar-se e aprender mais sobre o assunto. Existem muitas organizações que oferecem informações, materiais, treinamentos e workshops.
Kevin Patrick, membro do SHADEs, sugere procurar grupos de fotografia em Historically Black Colleges and Universities (HBCUs) como um ponto de partida. São instituições de ensino superior nos EUA fundadas antes do Civil Rights Act of 1964, com a intenção de servir principalmente a comunidade afrodescendente.
Andrew acredita que o sistema grego é muito forte e influente, especialmente entre os seus profissionais de pós-graduação. Por isso, as coleções de fotografia stock poderiam expandir-se para incluir mais imagens representativas do Conselho Nacional Pan-Helênico. O Conselho é feito das nove organizações internacionais, historicamente negras, escritas pela Grécia Negra (também conhecidas como os Nove Divinos).
As organizações da Black Greek têm eventos e programas internacionais. Estes eventos poderiam ter valor em plataformas stock como uma fonte primária de conteúdo. Além disso, os membros de cada fraternidade investem muito dinheiro para demonstrar o seu apoio às organizações.
Outras organizações de fotografia incluem a The Exposure Group African American Photographers Association em Washington, a Autograph Association of Black Photographers no Reino Unido e a Flickr Group Society of African & African American Photographers.
A fotografia stock mais diversa e inclusiva
Movimentos recentes como o #OscarsSoWhite que viralizou no Oscar 2016 questionam o papel de grupos menosprezados na mídia e escancaram a falta de diversidade em eventos de grande repercussão, como as premiações do Oscar.
Até 2015, apenas 1,1% das mulheres não brancas e 6,8% dos homens não brancos haviam sido premiados. Enquanto os atores negros ganharam prêmios em papéis coadjuvantes em 2017, a questão da diversidade voltou a surgir em 2020. Nesse ano, a estrela de Harriet, Cynthia Erivo, foi a única pessoa não branca indicada para o Oscar nas categorias de atuação.
Da mesma forma, a representatividade negra na fotografia ainda tem muito a evoluir. No entanto, como a Amber salienta, a diversidade também se aplica àqueles que usam as imagens. Ela ainda observa: “Há a complexidade da narrativa da história negra; os obstáculos ultrapassados para alcançar estas conquistas, e a singularidade da nossa cultura multifacetada: há alguma coisa que possa conter tudo isso?”
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