(Foto: Reprodução / MAC Cosmetics Brasil / Instagram)
Antes mesmo da diversidade em tons e subtons se tornar comum entre as grandes marcas da indústria de maquiagens, a MAC Cosmetics já vinha inserindo elementos diversos em seus lançamentos.
A empresa, que nasceu em Toronto, no Canadá, diz acreditar e lutar por um mundo antirracista. No Brasil, para além dos diversos tons em seus produtos, a MAC declara como responsabilidade o ato de criar um campo de atuação equitativo para todas as raças, começando com seus próprios funcionários e estendendo-se às comunidades de trabalho.
“A M·A·C Cosmetics Brasil possui uma das maiores diversidades em itens de maquiagem como bases, pós e corretivos com mais de 280 opções para todos os tons, subtons, tipos e necessidades de pele”,conta Kátia Araújo, artista nacional da MAC Cosmetics Brasil, em entrevista ao MUNDO NEGRO. “Mantemos o compromisso com uma completa gama de produtos que performam na pele negra. Incluindo cuidados com a pele, sombras, blushes e iluminadores com ingredientes que, por exemplo, evitam a aparência acinzentada da pele”.
Kátia conta ainda que, ao longo de toda existência, a marca contribui para a disruptura do padrão de beleza eurocentrado, aumentando o senso de pertencimento e representatividade de cada indivíduo, especialmente dentro da comunidade negra. “A MAC é uma marca com uma presença global massiva, presente em centenas de países e territórios. Ter produtos que atendam a necessidade de todos é uma premissa e deve ser sempre um objetivo a ser perseguido”, conta ela. “Falando de Brasil, por exemplo, onde mais de 50% da população se autodeclara negra (pretos e pardos) a importância de se ter uma variedade de produtos que performam sobre esses rostos e sobre enxergar a todos como consumidores em potencial. Enxergar e considerar suas necessidades individuais e coletivas”.
(Foto: Reprodução / MAC Cosmetics Brasil / Instagram)
E os trabalhos vão além de uma extensa gama de tons e cores em seus produtos, projeto também se estende pela parceria com alguns dos maiores criadores negros do mundo. “A diversidade faz parte do DNA da marca, desde quando ela foi criada em 1984, com valores para todas as raças, todas as idades e todos os gêneros. E o nosso compromisso é continuar com essa atitude e colocando em prática, não só nos nossos produtos com extensão de tons e subtons, mas também no time MAC, de que hoje somos 53% dos funcionários negros”, conta Kátia.
Para a MAC, o propósito é que a comunidade negra deixe de ser vista como um nicho de mercado, e passe a ser entendida como um consumidor que deve ser representado por meio de uma comunicação direcionada. “A marca está desenvolvendo parcerias com grupos de criativos negros. Ela contou com o apoio da Feira Preta, maior evento de cultura e empreendedorismo negro da América Latina e com a Mandacaru Consulti, contribuindo na comunicação, diversidade e identidade, para estruturar campanhas de marketing e lançamentos que se comunicassem verdadeiramente com o consumidor negro. Para a campanha da linha Studio Fix, por exemplo, realizamos um trabalho de cocriação com um time de profissionais criativos negros”, finaliza a artista.
O NICHO 54 lançou o edital de chamamento para a segunda edição do NICHO Executiva, programa dedicado à formação teórica e prática de mulheres negras atuantes na área da Produção Executiva com foco em ambientes de mercado audiovisual.
Serão selecionadas cinco produtoras executivas negras, sendo três com perfil executivo e duas em estágio inicial de carreira.As inscrições podem ser realizadas até dia 25 de novembro mediante formulário online disponível aqui.
As três selecionadas com perfil executivo vão receber formação teórica e prática em Produção Executiva para o mercado audiovisual, incluindo aulas e participações em mercados da área. Já as outras duas participantes em estágio inicial de carreira irão acompanhar as atividades teóricas.
Delegação do NICHO Executiva no TIFF 2022, em Toronto (Foto: Divulgação)
Com início marcado para janeiro de 2023, o programa tem carga horária total de 12 meses. Além de formação sobre atuação executiva – com módulos que abordam temas como Internacionalização, Jurídico, Regulação, Comercialização, Planejamento, Distribuição e Line Production -, as profissionais recebem aulas de inglês – com foco em conversação, suporte psicoterapêutico e participam de reuniões com executivos brasileiros e estrangeiros do setor audiovisual.
Para a seleção serão consideradas duas etapas: triagem e entrevistas. A lista com as profissionais selecionadas será divulgada nas redes sociais do NICHO 54 na primeira semana de dezembro. Consulte o regulamento aqui para ter acesso a todas as informações de participação aqui.
Mais sobre o NICHO Executiva:
Idealizado por Fernanda Lomba, diretora-executiva do NICHO 54, o NICHO Executiva empenha recursos, tecnologias e estratégias em uma metodologia própria que busca atingir objetivos concretos na jornada de aprendizagem e fortalecimento do perfil de liderança executiva de mulheres negras.
A primeira edição do NICHO Executiva foi lançada em janeiro deste ano e possibilitou às profissionais participantes vivências em importantes mercados audiovisuais no exterior na condição de membro da indústria, marcando presença em Cannes (França), Toronto (Canadá) e no American Film Market, em Los Angeles, além de participação virtual no European Film Market e no Toolbox, ambos ligados ao Festival de Berlim, e no DocMontevideo.
LIVE DE TIRA-DÚVIDAS:
Nesta segunda-feira (21), às 19h, Fernanda Lomba realiza um webinar para tirar dúvidas sobre a inscrição do programa. Para participar da live de orientação, basta acessar o link.
SERVIÇO:
O quê: Chamamento para a segunda edição do NICHO EXECUTIVA
O internauta que acessar o Google nesta segunda-feira (21), poderá ver um Doodle de aniversário da psicanalista e socióloga Virgínia Leone Bicudo. Nascida em 21 de novembro de 1910, a brasileira foi pioneira no estudo de questões raciais no Brasil.
Filha de imigrante italiana, Giovanna Leone, que trabalhava como empregada doméstica e Theóphilo Júlio, escravo alforriado, que teve o sonho de ser médico negado por ser um homem negro.
Em 1930, a paulista fez um curso de educação em saúde pública e começou a trabalhar como atendente psiquiátrica. Em 1938, foi a única mulher a obter o bacharelado em ciências sociais na Escola Livre de Sociologia e Política.
Na mesma instituição, em 1945, Virgínia defendeu a tese de mestrado, “Estudo de atitudes raciais de pretos e mulatos em São Paulo“, que ficou marcada como o primeiro trabalho a ter relações raciais como tema.
Com esses estudos, a socióloga foi convidada para participar de um projeto de pesquisa da Unesco que analisa a raça em diferentes países. A conclusão foi que não havia democracia racial no Brasil, mas ela foi impedida de publicar o trabalho porque o orientador não concordava com a conclusão.
Ela foi uma das fundadoras de sociedades de psicanálise no tema em São Paulo e em Brasília. Entre eles a entidade Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo, na qual foi diretora entre 1960 e 1970. Na década de 60, Virgínia foi eleita presidente da segunda diretoria do Instituto de Psicanálise. Ela se tornou a primeira pessoa sem formação médica a ser reconhecida como psicanalista.
Virgínia também foi uma das primeiras professoras universitárias negras do país, com aulas ministradas na Universidade de São Paulo, na Santa Casa e na Escola Livre de Sociologia e Política. E publicou alguns dos artigos sobre as relações raciais e o racismo. A psicanalista morreu em 2003, aos 92 anos, na cidade de São Paulo.
A atriz Lupita Nyong’o publicou imagens de tirar o fôlego de seus treinos submersos para viver Nakia no segundo filme de Pantera Negra. Nos vídeos ela aparece segurando halteres enquanto caminha debaixo d’água, inclusive subindo escadas. “Como eu treinei para nadar em ‘Wakanda Forever’, escreveu ela no vídeo.
“Nadar até Talocan não foi tão fácil quanto parecia”, brincou Lupita na legenda do post, que mostra uma sequência de exercícios desenvolvidos por ela, para gravar as cenas onde ela nada rumo à cidade submersa de Talocan.
Wakanda Forever está em sua segunda semana de exibição nos EUA e permanece no topo da bilheteria. O longa já ultrapassou US$ 550 milhões em ingressos vendidos em todo o mundo.
Parceria entre Apan e Cultne firma elo entre a memória e o futuro do cinema e do audiovisual negros no Brasil
Pensar Memória e Futuridades é o mote da terceira edição do Festival Internacional do Audiovisual Negrono Brasil (Fianb), que este ano propõe pensar “O audiovisual negro como um espaço de uma convocação para a vida”, entre os dias 23 e 27 de novembro, em São Paulo.
O Cultne, maior acervo digital de cultura negra da América Latina, se soma ao Festival, por meio da presença marcante de Filó Filho, idealizador e diretor do acervo que também é uma TV digital.
Com seu trabalho, Filó e uma equipe de profissionais, registraram momentos muito importantes da história do povo negro brasileiro, como a Conferência de Durban, em 2001. O acervo guarda também depoimentos de grandes pensadoras e pensadores negros como Lélia González, Abdias do Nascimento e muitos outros.
“É um encontro da minha geração com a geração de jovens profissionais do audiovisual negro, e todos nós buscamos o letramento audiovisual, que eu fui buscar dentro da memória pública e hoje é construída de formas muito mais diversas.. Então, isso é muito importante, estar trocando conhecimento e perspectivas das formas de fazer e pensar o audiovisual negro, porque é firmar um momento de transformação da linguagem e do cinema brasileiro operado pelo nosso protagonismo”, destaca Filó, que, na programação, vai apresentar uma masterclass sobre Memória e História Pública.
Dando um salto para o futuro desejado, a Associação de Profissionais do Audiovisual Negro (APAN), que realiza o Festival, deseja que o entendimento e reverência a quem veio antes, o conhecimento de caminhos, ferramentas e pontes entre realizadores do Audiovisual negro no Brasil e políticas públicas garantam espaços de protagonismo ao ecossistema do cinema negro no País.
“A APAN tem como missão a articulação permanente da pluralidade do audiovisual negro feito hoje, em todos os cantos do país. Esse movimento de ampliar um seminário para a proposição de um festival só é possível na interlocução com entidades como a Cultne e com diálogos internacionais, como o iniciado este ano com o Steps-Afridocs”, diz Rodrigo Antonio, presidente executivo da APAN.
“É do encontro dessas múltiplas metodologias de afirmação das narrativas negras que a gente constrói formas de incidência social conectadas com o momento político do país e, principalmente, de transformação da percepção do mercado em relação às narrativas negras”, conclui.
Formativas
O Fianb conta com uma rica programação formativa em três espaços da cidade de São Paulo. Confira:
Dia 24/11 – Espaço Itaú de Cinema – Frei Caneca 10h -12h – Painel 1 – Grace Passo, Janaina Oliveira e Tatiana Carvalho
Dia 25/11 – Centro Cultural São Paulo 10h – 12h – Painel 2 – Mercado Audiovisual e Equidade Racial Tom Pinheiro, Maria Shu e Gleidson Mercês – Mediação Janaina Oliveira ReFem
18h30 – Painel 3 – Tecnologias ancestrais, as construções políticas do movimento negro no contemporâneo. Nathalia Carneiro e Sil Bahia – mediação Joyce Prado.
Dia 26/11 – Centro Cultural São Paulo 14h – 16h Mesa 4 – Cinema especulativo no cinema negro brasileiro Kênia Freitas, Yuri Costa, Eric Paiva – Mediação Kariny Martins
Dia 26/11 – Ibira Laqb Cine 15h – 17h Mesa 05 Cineclubismo e a difusão do cinema negro no Brasil com Clemenno JR, Pâmaela Ohnitram, Daniel Fagundes, mediação Thais Scarbio
Dia 27/11 – Centro Cultural São Paulo 15h – 17h – Mesa 6 A comunicação pública como janela de conexão das diásporas. Jeã Santos, Joel Zito Araújo, Rita Freire, Rodrigo Antônio
SERVIÇO – 3º Fianb – Festival Internacional do Audiovisual negro no Brasil
Datas: De 23 a 27 de Novembro Locais – São Paulo/SP
Mostra internacional, Mostra Nacional e debates – Centro Cultural São Paulo
Aretha Saddick encerrando o desfile de Isaac Silva. Foto: Fabiano Battaglin/gshow
No Dia da Consciência Negra, Isaac Silva levou um desfile emocionante para a São Paulo Fashion Week, uma das maiores semanas de moda do mundo. Com referências que remetem a Pantera Negra: Wakanda para Sempre, personalidades negras e indígenas carregaram com estilo e defenderam as criações de Isa, levando à frente o lema “Acredite no seu Axé”.
“O filme mostra o nosso grande potencial. Nós que trabalhamos com moda, precisamos de arte, cinema e música, que são temas que nos inspiram”, disse a estilista ao gshow.
Foto: Fabiano Battaglin/gshow
Pela primeira vez, Isa não levou estampas para a passarela do SPFW. Com a cor branca e tons terrosos dominando a produção, a estilista trouxe também elementos como palhas e búzios e trabalhou com o tecido laise. “O laise é um tecido muito usado pelas pessoas de religião de matriz africana, e é um tecido muito popular, fácil de ser manipulado”, disse.
Personalidades como Roger Cipó, Manoel Soares, Rita Batista, Aretha Saddick – que encerrou o desfile vestida de noiva – e muitas outras passaram pela passarela de Isaac.
A coleção homenageia duas mulheres que inspiram Isa em suas criações: a estilista Marisa Moura, que destaca as raízes brasileiras em seus trabalhos, e a senegalesa Mama, uma das pioneiras em trazer tecidos africanos ao Brasil. Na opinião da estilista, ainda é necessário que se veja com mais atenção o trabalho de pessoas negras na moda brasileira. “Imagine quantas outras como elas não existem por aí?”, questiona.
A cerimônia de abertura da Copa do Mundo no Catar acabou de acontecer na manhã deste domingo (20), mas o país continua sendo alvo de polêmicas fora dos campos devido a violações de direitos humanos e trabalhistas. Ontem, o presidente da Fifa, Gianni Infantino, causou revolta ao dizer que se sente “árabe, gay e trabalhador migrante” ao defender o Catar e criticou os países ocidentais “hipocrisia”: “O que acontece neste momento é profundamente injusto […] Devemos nos desculpar pelos próximos 3 mil anos antes de dar lições de moral”, disse aos jornalistas.
No dia 10 de novembro, um relatório foi divulgado pelo grupo de direitos humanos Equidem que aponta que trabalhadores imigrantes que construíram os estádio da Copa sofreram “violações persistentes e generalizadas dos direitos trabalhistas”. As denúncas incluem discriminação baseada na nacionalidade, práticas ilegais de recrutamento e salários não pagos.
No Instagram, a estudante e influencer Fatou Ndiaye se manifestou contra a posição do atual presidente da Fifa e a violação de direitos humanos e trabalhistas no Catar e relembrou do Joseph Blatter, ex-presidente da Federação. No dia 8 de novembro, ele declarou que “Catar foi um erro, foi uma escolha ruim”, doze anos depois da escolha do país-sede.
“O presidente dos corruptos, o Blatter que fez de tudo para a aprovação do Catar como sede veio dar lição de moral e reconheceu só agora que foi um erro. Já o atual presidente, o italiano Infantino só quer saber de faturar e resolveu cuspir até no prato que comeu para defender o Catar”. E completa: “O ocidente topa tudo por dinheiro e o Catar pagou a nota que queriam. Nada além disso!”, critica.
“Por enquanto, a única seleção que fez algo que presta foi a holandesa. Eles doaram todo o prêmio recebido aos imigrantes que foram escravizados durante a construção dos estádios. Essa Copa bateu recorde de mortes por acidente de trabalho. Mais de 6,5 mil morreram por acidente de trabalho”, escreve Fatou.
Segundo reportagem do jornal The Guardian de 2021, 6,5 mil trabalhadores imigrantes morreram durante as obras da Copa do Mundo. “Não sei quem vai levantar a taça, mas sujará suas mãos com sangue de milhares de pessoas. O curioso é que todos querem a taça”, afirma.
Bassogog conquistou a Copa Africana por Camarões (Foto: Gabriel Bouys/AFP)
Neste domingo (20) será a abertura da Copa do Mundo 2022 e os países africanos estão presentes na competição.
Camarões, Gana, Marrocos, Senegal e Tunísia garantiram suas vagas após uma competição preliminar de quatro equipes seguida de uma fase eliminatória.
Segundo o professor da Universidade de Texas, Wycliffe W. Njororai Simiyu as seleções africanas não estão passando despercebidos na Copa do Catar e o ano de 2022 pode “ser o ano para mudar a história da Copa do Mundo na África“.
“O continente sempre prometeu muito na vitrine internacional, mas entregou muito pouco . As razões para isso incluem má preparação , controvérsias internas, histórico disciplinar ruim , erros técnicos e táticos em momentos cruciais e recrutamento de treinadores estrangeiros no último minuto.” Disse Wycliffe ao site ‘A conversa’.
Senegal é Campeão da Copa das Nações da África. Nesta Copa do Mundo, na primeira etapa, o time enfrenta a seleção da Holanda, Catar e Equador em um grupo que não deve ter medo de um time forte e com boa experiência. A equipe conta com nomes como Édouard Mendy , o capitão Kalidou Koulibaly, Idrissa Gueye , Ismaïla Sarr e o atacante Mané.
Camarões chega à copa sob o comando do técnico Rigobert Song, que disputou quatro Copas do Mundo como jogador, Camarões chegará ao Catar com alguns talentos de alto nível espalhados pela Europa, como André-Frank Zambo Anguissa , André Onana e Eric Maxim Choupo-Moting . Existem também várias estrelas em potencial na equipe.
A frase icônica da Angela Davis realmente soa como um único direcionamento possível quando pensamos em construir uma sociedade mais justa e equânime. “Numa sociedade racista, não basta não ser racista. É necessário ser antirracista”. Sábias palavras de uma mais velha que realmente sabe o que pronuncia. Essa frase virou um mantra na luta contra o racismo e palavras de ordem dos movimentos e coletivos negro. Como essa luta não é só de quem sofre mas de quem criou o problema, podemos observar um número significativo de brancos dispostos a entender e colocar em prática atitudes condizentes com um antirracismo ético. No entanto, tenho observado relatos e situações em que brancos autodeclarados antirracistas naturalizam atitudes racistas contra negros em diversos espaços.
Nesse artigo, em comemoração ao Mês da Consciência Negra, vou abordar um fenômeno muito frequente, “as atitudes racistas praticadas por brancos que se autodeclaram antirracistas”. Esse tipo de violência velada e carregada de perversão é fonte de adoecimento psíquico especialmente para negros que dividem espaços com os ditos “aliados”. Nossas narrativas têm sido sequestradas historicamente por grupos que se utilizam de nossas lutas e construções, seja para o esvaziamento, seja para benefício próprio. Não é difícil notar que o antirracismo vem sendo utilizado por muitos brancos quase como um crachá, a fim de reforçar uma suposta boa intenção e engajamento com o intuito de angariar vantagens e fazer a manutenção dos privilégios. Essa instrumentalização nociva enfraquece todo o esforço empreendido por aqueles que realmente estão comprometidos e pior, acomete pessoas negras e racializadas de uma forma sutil porém muito violenta.
A disputa dos espaços e o adoecimento psíquico
Com o avanço das lutas sociais e a presença de pessoas negras em alguns lugares estratégicos – mesmo que em menor escala, os brancos tem tomado alguns caminhos e os mais polares são: o estreitamento do pacto narcísico a fim de proteger privilégios (a exemplo disso o aumento do conservadorismo e o discurso de ódio) e o engajamento com a luta antirracista (provém do entendimento sobre a própria responsabilidade em termos de privilégios). Entretanto, existe um grupo de brancos (que talvez seja a maioria, não sabemos) impregnados em vários espaços de poder, apossando-se do discurso antirracista de forma instrumental cujo o único intuito é perpetuar a manutenção da estrutura racista e, em consequência disso, seus privilégios sem que possam ser questionados.
O autor Dany-Robert Dufour em seu conceito o perverso puritano pode servir para elucidar as verdadeiras intenções de brancos que tomam para si o discurso antirracista sem ter uma postura crítica diante de suas interações com pessoas negras e/ou racializadas quando diz que “ o perverso (o branco) por ele abrigado desfruta sadicamente do neurótico puritano (o negro) ,enquanto o puritano suporta o perverso, vale dizer, dele desfruta masoquisticamente”. Interagir com pessoas negras sem repensar seu lugar social e de opressão pode ser caracterizado como uma atitude perversa, tendo em vista que atitudes racistas veladas e inconscientemente intencionais reproduz lógicas de opressão e sofrimento psíquico nas vítimas em questão, os negros. Abuso de poder, objetificação, assédio, invisibilização, práticas de silenciamento atitudes incompatíveis com um antirracismo ético e sério.
O racismo desmentido
A partir do conceito de desmentido de Sandor Ferenczi, a psicanalista Jô Gondar discorre sobre o racismo desmentido em que pessoas brancas impõem situações controversas às pessoas negras causando grande confusão. Por um lado, se diz não racista, por outro, continua expressar comportamentos racistas e discriminatórios, e quando questionados tendem a desvalorizar o peso e a seriedade de tal comportamento desconsiderando o dano e o prejuízo causado às pessoas negras, prejuízo tanto material quanto simbólico. O discurso antirracista funciona aqui como uma desculpa, ou até como uma permissão para que tais comportamentos não sejam repensados.
Somos sujeitos compostos de experiências, quando somos forçados a nos submeter a situações em que somos atacados e vilipendiados, e sem o direito de expressar nossa dor e indignação, somos imediatamente reduzidos a não sujeitos, não humanos. Tais circunstâncias adoecem psiquicamente e emocionalmente.
Repensando o Antirracismo
Estamos num processo de avanço, não há como retroceder. A luta antirracista é um remédio numa sociedade que padece do grande mal chamado racismo e, a despeito disso deve ser protegida a todo custo. Os Usurpadores sempre existirão, nos cabe a denúncia, o enfrentamento e o desmascarar dos mal intencionados. Para a nossa saúde individual e coletiva é preciso cobrar, discutir e refletir criticamente. As atitudes racistas merecem resposta a altura pois estamos num ponto onde mudanças radicais devem ser lançadas, em coletivo. O combate às ervas daninhas embrenhadas na luta antirracista requer um conjunto de práticas de enfrentamento basedas no fortalecimento interno do indivíduo assim como nossas redes de apoio e segurança. Violências veladas também adoecem, minam a alma, atingem nossa potência e nos enfraquece, e acreditem, essa é a real intenção. Desenvolver a capacidade de reconhecer os verdadeiros aliados, identificar nossas figuras de opressão e descolonizar os afetos são estratégias importantes de enfrentamento contra o racismo.
Fotos: Arthur Nobre/Divulgação e Vans Bumbeers/Netflix
Nos próximos dias 29 e 30 de novembro, o Pacto de Promoção da Equidade Racial realizará a 1ª Conferência Empresarial ESG Racial no Teatro FECAP em São Paulo. Com a participação de CEO’s de grandes empresas, especialistas em indicadores de equidade racial e lideranças negras, o evento tem como proposta discutir sobre o Protocolo ESG Racial, criado pelo Pacto para mensurar e combater o racismo e a desigualdade dentro das organizações, os impactos do racismo no Brasil e as soluções para a dissolução dessas estruturas culturais, sociais e econômicas. Com apresentação da atriz e influenciadora digital Isabel Fillardis, a conferência acontece das 9h às 18h.
Serão dois dias de evento com uma intensa programação de painéis divididos por blocos temáticos nos quais os palestrantes irão discutir temas como os desafios para mensurar indicadores ESG, sutentabilidade pela otica da diversidade e inclusão, e os impactos dos 10 anos da política de Cotas para uma educação antirracista.
Entre os nomes confirmados estão: Adriana Barbosa, CEO da Pretahub e fundadora da Feira Preta; Celso Athayde, CEO da Favela Holdding; Soraia Cardoso, Gerente SR de Gente na VOX Capital; Ednalva Moura, Relações Institucionais da Associação Pacto; Alberto Cordeiro, Gerente de Engajamento na McKinsey e Compain; Rachel Maia, CEO da RM Consulting; Luana Génot, Diretora-executiva no IDBR; e Helena Theodoro, Presidente do Conselho Elas+.
Além dos painéis, no primeiro dia de evento (29), será divulgada a pesquisa inédita “A mulher negra no mercado de trabalho brasileiro: desigualdades salariais, representatividade e educação entre 2010 e 2022”, elaborada pela Associação Pacto de Promoção da Equidade Racial, com o propósito de analisar e discutir a participação da mulher negra no mercado de trabalho nos últimos doze anos. “Ao considerar diferenças salariais e taxas de participação, as mulheres negras estão em posição desfavorável no mercado de trabalho brasileiro para o recorte analisado na pesquisa, mesmo considerando algumas regiões do país e o extrato de rendimento. Notamos também que, apesar dos resultados negativos, existem evidências de melhora desses indicadores ao longo dos anos”, explica Guibson Trindade, gerente executivo do Pacto.
Para Gilberto Costa, diretor executivo da iniciativa, o evento servirá para ampliar o conhecimento, o engajamento e o desenvolvimento de soluções concretas para que a agenda ESG esteja no centro dos modelos de negócio e do processo de tomada de decisão das empresas. Só assim conseguiremos criar caminhos efetivos para a promoção da igualdade racial e a mudança da forma estrutural e estratégica do cenário de desigualdade enfrentado por profissionais negros na sociedade brasileira”, informa.
O desafio de mensurar a Equidade Racial
O protocolo ESG Racial não é apenas uma ferramenta de promoção da diversidade e inclusão, mas um importante propulsor de transformação social do país por meio da educação qualificada. Com suas métricas exclusivas, diretrizes e ações afirmativas, o protocolo propõe caminhos efetivos para ampliar a capacitação da população negra, gerando riqueza de perspectivas e oportunidades, fomentando o desenvolvimento de novos talentos e promovendo justiça social.
A expectativa é receber mais de 1000 pessoas nos dois dias de evento e que a Conferência passe a ter edições anuais em diferentes regiões do Brasil. A 1ª Conferência Empresarial ESG Racial é uma realização do Pacto de Promoção da Equidade Racial com a Anbima, apoio social da FECAP e patrocínio da Vale, Ambev, Mobile, L’Oreal e United Airlines.
SERVIÇO
O que: 1º Conferência Empresarial de ESG Racial Quando: 29 e 30 de novembro, das 9:20 às 18 horas Onde: Teatro da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (FECAP), Av. da Liberdade, 532 – Liberdade, São Paulo – SP.
DIA 29 DE NOVEMBRO:
Abertura da Conferência – Gilberto Costa, Diretor Executivo do Pacto e Professor Fábio Vargas, Reitor da FECAP
Painéis
29/11 – Terça-feira
10H – O ESG RACIAL NO BRASIL SOB A ÓTICA DOS CEO’S
Participantes: Adriana Barbora, CEO PretaHub; Gilson Finkelsztain, CEO B3; Patrick Hruby, CEO da MOVILE; José Berenguer, CEO XP SA; Celso Athayde, CEO da Favela Holdding.
11H50 – INOVAÇÃO E INDICADORES ESG – O DESAFIO DE MENSURAR A EQUIDADE RACIAL
Participantes: Soraia Cardoso, Gerente SR de Gente na VOX Capital; Carla Crippa, VP Corporate Affairs and Positive Impact AMBEV; Vilma Pinto, Instituição Fiscal Independente – Senado Federal; Leandro Camilo, Membro do Conselho Global de Inclusão e Diversidade da PWC; Fernanda Camargo, Wright Capital Wealth Management
14H10 – PROPOSIÇÕES DE COMBATE AO RACISMO ESTRUTURAL
Participantes: Ednalva Moura, Relações Institucionais da Associação Pacto; Jéssica de Paula, Corporate Venture da GERDAU; Carolina Sierra, Cultura e Diversidade VIVO – Telefônica; Elisa Lucas, Secretária Adjunta de Promoção da Igualdade Racial da Prefeitura de São Paulo; Vânia Neves, CTO Vale; e Zizo Papa Neto, Fundador da Trace Brasil e do Pyaar.
15H10 – ORGANIZAÇÕES SOCIAIS E O MERCADO CORPORATIVO EM UMA AGENDA DE TRANSFORMAÇÃO RACIAL Participantes: Jéssica Rios, Co Founder Black Win; David Hodge, Consulado Geral dos Estados Unidos; Marina Peixoto, Diretora Executiva no Mover; Carlo Pereira, CEO Pacto Global – ONU; Maria Inês Pastori, Superintendente Executiva de Pessoas no BANCO FIBRA; e Jandaraci Araújo.
16H40 – DIVERSIDADE E INCLUSÃO: COMPROMISSOS COM A SUSTENTABILIDADE Participantes: Selma Moreira, Vice Presidente de Diversidade, Equidade e Inclusão no JP Morgan; Alberto Cordeiro, Gerente de Engajamento na McKinsey e Compain; Adriana Alves, Vice Presidente de Diversidade BNP PARIBAS; Andrea Albuquerque, Corporativa de Diversidade e Inclusão no SESI/SENAI; Marina Quental, VP Global de Pessoas da Vale; e Bruno Caldas Aranha, Diretor de Crédito Produtivo e Socioambiental do BNDES.
17H20 – LANÇAMENTO DO ÍNDICE ESG DE EQUIDADE RACIAL MULHERES NEGRAS
30/11 – Quarta-feira
9H – PACTO DE PROMOÇÃO DA EQUIDADE RACIAL Participantes: Guibson Trindade, Gerente Executivo na Associação Pacto; Theo Van Der Loo, CEO NatuScience S.A.; Fabio Alperowich, Diretor FAMA Investimentos; Mônica Marcondes, Executive IB – Banco Santander; Jair Ribeiro, Presidente da Parceiros da Educação; Rachel Maia, CEO RM Consulting
10H30 – INVESTIMENTO SOCIAL PRIVADO EM EQUIDADE RACIAL Participantes: Luana Genot, Diretora Executiva no IDBR; Isabel Clavelin, Gerente do Fundo de Empreendedorismo Negroda BrazilFoundation; Paula Fabiani, CEO at IDIS – Instituto para o Desenvolvimento do Investimento; Ana Buchaim, Pessoas, Marketing, Comunicação, Sustentabilidade e Investimento Social na B3; Giovanni Harvey, Diretor Executivo do Fundo Baobá. 11H30 – O PAPEL DA FILANTROPIA NA TRANSFORMAÇÃO RACIAL NO BRASIL
Participantes: Anna Karla, CEO na Ayo Consultoria; Cassio França, Secretário Geral no Gife; Márcia Silveira, Head de Diversidade e Inclusão da L’Oreal; Jair Ribeiro, Presidente da Parceiros da Educação; e Helena Theodoro, Presidente do Conselho Elas +. 14H – EDUCAÇÃO ANTIRRACISTA – 10 ANOS DE COTAS
Participantes: Beth Scheibmayr, CEO Uzoma Diversidade Educação e Cultura; Prof. Ricardo Henriques, Superintendente Executivo na Instituto Unibanco; Jésus Gomes, Doutor em Ciências Sociais, Professor da Fecap; José Vicente, Reitor da Faculdade Zumbi dos Palmares; e Frei David, Diretor da Educafro
15H – GOVERNANÇA CORPORATIVA COMPROMETIDA COM A EQUIDADE RACIAL
Participantes: Daniel Teixeira , Diretor Executivo na Ceert Equidade Racial; Alexsandra Ricci, Comitê ESG da Fecomercio SP; Cristina Pinho, Conselho de Administração do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa; Fernanda Tauffenbach, Partner in Financial Advisory – Deloitte; Marcelo Billi, Superintendente de Educação e Certificação na Anbima 16H – LIDERANÇAS NEGRAS E ESPAÇOS DE PODER Participantes: Gilberto Costa, Diretor Executivo da Associação Pacto; Kwami Alfama, CEO at Tereos Starch & Sweeteners Brazil; Edvaldo Vieira, CEO na Amil; Claudio Silva, Diretor de Implantação na ADP Latam; Viviane Moreira, C Level e Conselheira 101; Eduardo Santos, General Manager – EF Education First
Encerramento da Conferência – Gilberto Costa, Diretor Executivo do Pacto
Atividade Cultural – Samba das Moças
Sobre o Pacto de Promoção da Equidade Racial
O Pacto de Promoção da Equidade Racial é uma iniciativa que propõe implementar um Protocolo ESG Racial para o Brasil, trazendo a questão racial para o centro do debate econômico brasileiro e atraindo a atenção de grandes empresas nacionais e multinacionais e da sociedade civil para o tema.