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Marina Silva anuncia apoio a Lula: “é democracia ou barbárie”

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Foto: Reprodução.

A ex-ministra e ex-senadora Marina Silva declarou apoio à candidatura do ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva em coletiva de imprensa nesta segunda-feira (12). A ambientalista esteve ao lado do candidato à presidência, do vice, Geraldo Alckmin, e da presidente do Partido dos Trabalhadores (PT), Gleisi Hoffman e pontuou que o momento atual pede que se fique ao lado do projeto de país representado pela candidatura de Lula.

“Agora estamos diante de um quadro que é democracia ou barbárie, democracia ou aniquilação dos povos indígenas, democracia ou aniquilação do povo preto, democracia ou destruição da Amazônia. É na base da democracia que haveremos de reconstruir essas políticas”, disse Marina.

Para ela, se posicionar ao lado do PT, partido do qual fez parte por mais de 30 anos, neste momento, não retira as críticas que ela tem à legenda. “Quando eu faço essa crítica, durante esses 30 anos eu sou parte da crítica. É uma crítica que tem a ver com o legado histórico de que se tivéssemos conversado mais naquilo que é estratégico, talvez não tivesse acontecido isso”, avaliou.

Em encontro com Lula no último domingo, Marina pediu que o candidato se comprometa com a pauta ambiental e que destine mais recursos do orçamento para recompor órgãos e políticas que sofreram desmonte nos últimos anos. Durante a coletiva, Lula acenou para esta pauta.

“A política ambiental será tratada de forma transversal. Ou seja, todos os ministros terão obrigação com a questão climática. Coisas como garimpo, não terá, o desmatamento, a gente vai bloquear, vamos tomar conta das nossas fronteiras para combater o narcotráfico”, prometeu Lula.

Com show histórico e trajetória ascendente, Ludmilla merecia o palco mundo.

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“Quem diria que eu com todas as características de alvo – mulher, preta, periférica, bissexual, do funk chegaria aqui. O palco sempre foi o meu lugar preferido e hoje eu faço do Sunset, o meu Mundo”.  

O espetáculo não poderia começar diferente: relembrando um pouco da trajetória da cantora desde a época em que ainda era a tímida Mc Beyoncé (nome artístico escolhido em homenagem a uma de suas maiores referências). De lá para cá são dez anos de uma carreira consolidada, cheia de hits e sucesso. Ludmilla evoluiu artisticamente diante das câmeras. No funk, ela se estabeleceu como um dos principais expoentes do gênero e escreveu seu nome na história da música brasileira. Mas a cantora já provou que sustenta qualquer estilo musical.

Numa época em que os números de streaming são considerados a principal métrica de sucesso, a artista tem mostrado sua força na alta demanda do público por seus shows. No Numanice Salvador, por exemplo, ela cantou para mais de 30 mil pessoas, já em fortaleza foram 15 mil. Mas mesmo no streaming, Ludmilla é gigante: Recentemente ela recebeu uma placa de comemoração aos mais de 5 bilhões atingidos nas plataformas digitais, sendo a maior cantora negra da América latina em números absolutos.

Com o Ludsessions, numa era em que a maioria das faixas de sucesso tem pouco mais de dois minutos de duração; ela colocou o Brasil pra cantar, chorar e viciar num medley inteiro em parceria com Gloria Groove. Não bastasse o sucesso no funk e no r&b, no Numanice a cantora se destacou com um projeto de sucesso no pagode, gênero com ainda pouco espaço para representantes femininas, emplacando hits como a faixa “Maldivas” onde canta abertamente sobre amar outra mulher preta num país que ainda é extremamente lgbtfóbico e racista como o Brasil.

Para o palco Sunset Ludmilla convidou a funkeira Tati Quebra Barraco, as gêmeas Tasha e Tracie, Majur e Mc Soffia; que apresentaram suas músicas. E mostrou como fazer um bom uso do espaço do festival para potencializar os nossos.

Com um repertório carregado apenas por hits, o público se espremeu para ver a a artista, cantando junto absolutamente tudo. O show nada deixou a desejar em relação as atrações internacionais que se apresentaram no festival, na verdade, muitas atrações internacionais decepcionaram, evidenciando um certo viralatismo nas escolhas dos artistas principais do festival.

Desde a edição anterior, na qual já poderia ter se apresentado no palco principal, Ludmilla tem mostrado o seu potencial como performer e a sua força para animar multidões. Evidenciando mais de uma vez que consegue – e entrega – um espetáculo digno de palco mundo. Vale lembrar que em mais de 30 anos de Rock in Rio só em 2022 uma artista negra brasileira se apresentou como atração principal do palco mundo, a cantora Iza.

Mulher preta e uma das maiores representantes de um gênero ainda marginalizado, o funk, Ludmilla sabe que precisa se esforçar diversas vezes mais para obter o reconhecimento que merece. E assim tem feito. Caminhando a passos largos numa trajetória ascendente de sucesso e excelência artística que evidenciam que não só ela merecia o palco mundo, mas que o palco mundo perdeu muito sem a presença dela.

Omar Sy vai viver Yasuke, o primeiro samurai negro, em série da Netflix

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Foto: Reprodução.

O ator Omar Sy (Lupin) está em negociações para viver Yasuke, o primeiro samurai negro da história em um live-action da Netflix. A série vai ser escrita por Nick Jones Jr. e deve focar na história real do samurai e sua relação com o senhor feudal e guerreiro samurai a quem Yasuke serviu.

Na história, Yasuke é levado como escravizado da África para o Japão, mas se torna amigo de Oda Nobunaga, e acaba sendo o primeiro negro a se tornar samurai.

“Sou inspirado por ‘Yasuke’ há um bom tempo”, disse Sy em um comunicado. “Com este time incrível, estamos criando uma série notável mostrando o que significou ser um samurai africano na história japonesa. As sequências de ação por si só serão fenomenais e engenhosas”, disse Omar Sy.

Além de atuar na produção, Sy também vai produzir a série ao lado de Jones Jr, do cineasta Shawn Levy, do ator Forest Whitaker e da produtora Nina Yang Bongiovi.

A série, que deve contar com cinco episódios, ainda não tem data de estreia.

Zendaya, Tyler James Williams e Issa Rae concorrem ao Emmy nesta segunda; Veja lista completa de indicados negros

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Foto: Reprodução.

A principal premiação da TV norte-americana acontece nesta segunda-feira (12), em Los Angeles, nos Estados Unidos. A apresentação do prêmio fica por conta de Kenan Thompson e a cerimônia começa às 21h, no horário de Brasília, com transmissão pela TNT.

No ano passado, o Emmy teve um número recorde de indicações de pessoas negras, mas nenhum levou em categorias de atuação. Este ano, Zendaya aparece como uma das favoritas na categoria atriz de série de drama, prêmio que ela já ganhou em 2020, também pela série Euphoria.

Este ano, alguns destaques mais conhecidos dos brasileiros na premiação são Tyler James Williams, por sua atuação em Abbott Elementary e Issa Rae, por sua atuação em Insecure. Donald Glover concorre como ator de comédia por Atlanta. Nos programas de competição, RuPaul’s Drag Race concorre em mais um ano, desta vez, ao lado de Lizzo’s Watch Out For the Big Girls e Nailed It, um reality show gastronômico apresentado por Nicole Byer.

Seis das 20 indicações de pessoas e programas de maioria negra este ano ficaram por conta da série Abbott Elementary, que conta a história de uma escola infantil e as dificuldades do cotidiano nesta escola. Pelo menos 13 categorias não contam com nenhuma indicação de pessoa negra este ano. Confira a lista de indicações negras:

Atriz em Série de Drama

  • – Zendaya

Série de Comédia

  • – Abbott Elementary

Atriz de Série de Comédia

  • – Quinta Brunson – Abbott Elementary
  • – Issa Rae – Insecure

Ator de Comédia

  • – Donald Glover – Atlanta

Atriz Coadjuvante em Série de Comédia

  • – Janelle James – Abbott Elementary
  • – Sarah Niles – Tedd Lasso
  • – Sheryl Lee Ralph – Abbott Elementary

Ator Coadjuvante em Série de Comédia

  • – Toheeb Jimoh – Ted Lasso
  • – Tyler James Williams – Abbott Elementary

Atriz coadjuvante de série limitada, antologia ou filme para TV

  • – Natasha Rothwell – “The White Lotus”

Programa de Competição

  • – “Lizzo’s Watch Out For the Big Girls”
  • – “Nailed It”
  • – “RuPaul’s Drag Race”

Talk show de variedades

  • – The Daily Show

Roteiro em série de comédia

  • – Quinta Brunson – “Abbott Elementary”
  • – Stefani Robinson – “What We Do in the Shadows”

Série de Esquetes

  • – “A Black Lady Sketch Show”

Roteiro especial de Variedades

  • – “Jerrod Carmichael: Rothaniel”
  • – “Nicole Byer: BBW (Big Beautiful Weirdo)”

Ludmilla faz história e mostra a força da música negra no Rock In Rio 2022

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Ludmilla. Foto: Rock In Rio.

Entregando um dos melhores shows do festival, Ludmilla transformou o Rock In Rio 2022 num enorme baile de funk. A cantora, que entregou um espetáculo com pouco mais de 1 hora de duração, passeou por todos os gêneros que a consagraram como a maior cantora negra da América Latina. 

As diversas referências às outras artistas que ajudaram a definir a força artística de Ludmilla se fizeram presentes em todo o espetáculo. Num dado momento, a dona do ‘Numanice’ apareceu sentada numa mesa ao lado de Tasha & Tracie, MC Soffia, Tati Quebra Barraco e Majur, referenciando artistas negras que vieram antes dela e também aquelas que estão transformando a cena da música contemporânea. O ato, com muita representatividade, pode ser visto como uma referência ao discurso de Beyoncé no Dear Class Of 2020, ocasião em que a cantora norte-americana citou o ato de criar uma ‘mesa’ para que outras mulheres negras pudessem se sentar com poder e glória, sendo respeitadas por seu trabalho na indústria.

Ludmilla para o ‘Rock In Rio 2022. Foto: Reprodução.

“Um dia me disseram que meu sonho era grande demais pra mim”, disse Ludmilla na abertura de seu show no Palco Sunset. “ Tentaram a todo custo fazer com que eu duvidasse da minha capacidade. Pra mim o caminho sempre foi mais difícil, mas no lugar de onde eu vim, desistir não é uma opção”. A artista apareceu em tons de verde e amarelo, promovendo uma ressignificação da bandeira nacional e lembrando seu orgulho em ser brasileira.

10 anos após estrear como MC Beyoncé, Ludmilla mostra ao país inteiro que se firmou como um dos maiores nomes da música brasileira. Uma artista capaz de navegar por diversos ritmos, mantendo suas raízes e homenageando aquelas que abriram caminhos para sua trajetória. O Palco Sunset ficou pequeno para o poder e força de Lud, que mais uma vez, mostrou a força da música preta brasileira.

Ana Paula Xongani fica 7 horas detida em aeroporto de Portugal com outros brasileiros negros

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Foto: Reprodução/Instagram

A apresentadora da Globoplay Ana Paula Xongani, relatou nas redes sociais nesta manhã (11) ter sido vítima de racismo e xenofobia ao desembarcar no aeroporto de Portugal. “Minha chegada foi traumática, fui encaminhada pra tal salinha da polícia federal onde lá estavam mais 6 negros, todos brasileiros”. Ela diz que ficou detida por 7 horas: “Fome, medo, angústia, ansiedade, estresse…”, relata os sentimentos.

Para Ana Paula, não houve motivo para a detenção. “Uma mulher, brasileira, preta e casada não coincide com a história que eles esperam. Eles não contavam que essa mesma pessoa podia ter pago sua própria viagem, possuía dinheiro, decidiu viajar sem marido e filha, estadia e principalmente liberdade pra viver uma viagem de férias!”, escreveu.

Para sair da sala e dar continuidade a viagem, ela diz que contou a ajuda de um atendente disposto a descobrir quem eu sou pra além da sua imaginação estereotipada sobre mim!”, assim descreve. 

Nos stories, a apresentadora falou que devido a demora para ser liberada, perdeu as malas e o próximo voo. A viagem era uma surpresa para se encontrar com a sobrinha N’weti Ferro. Apesar de estar visivelmente abalada nos primeiros vídeos, ela aparece mais animada. “Já estou acolhida, com a minha família”.


Festival Yalodê: Line-up exclusivo de mulheres negras reúne Mayra Andrade, Margareth Menezes, Fabiana Cozza e mais

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Foto: Divulgação.

Nos dias 17 e 18 de setembro, o Festival Yalodê será palco da estreia de Mayra Andrade em Brasília, e vai oferecer shows de outros grandes nomes da música preta brasileira

A primavera chega ao Distrito Federal ao som de vozes de artistas do Brasil e do mundo, na segunda edição do Festival Yalodê, um encontro internacional em que as mulheres negras são protagonistas com toda sua pluralidade. O Museu Nacional é o local do evento, totalmente gratuito, onde acontecem shows nos dias 17 e 18 de setembro. O Yalodê é uma celebração da potência musical que se mostra rica e variada nas expressões.

O mergulho nos universos sonoros inclui, ainda, Mayra Andrade, Fabiana Cozza e Indiana Nomma, nomes conhecidos no país e no exterior, talentos que emergem no DF, como as Margaridas, artistas consolidadas na cena da capital, como Cris Pereira e Teresa Lopes. Há também espaço para estrear em Brasília a capixaba Afronta MC, que está consolidando carreira no Brasil e o retorno de Bia Nogueira aos palcos da capital.

De origens, idades, fases de carreira e vertentes musicais variadas – que incluem Hip Hop, MPB, samba, pop, samba reggae, pagodão, afro beat, jazz, ritmos eletrônicos, rap  – essas mulheres são artistas com diferentes experiências e trajetórias, múltiplos trabalhos artísticos que a capital federal poderá apreciar nos dois dias do Festival. 

Sobre essa riqueza e complexidade que chegam junto para abrir a primavera, a cantora Fabiana Cozza comenta o que as une e o que significa o Festival para ela. “Cantar ao lado de outras amigas e colegas cantoras, negras, defensoras do patrimônio que é a cultura negra brasileira é praticamente um manifesto. Manifesto onde reafirmamos a arte e o pensamento afrodiaspórico, nossas raízes e ancestres, ecoando nosso coro feito trovoada na luta contra a política da morte, da supremacia branca, da boçalidade, da misoginia. Não somos cinco ou seis. Cada uma de nós é uma garganta que abarca outras centenas de mulheres. Assim nos legaram. Assim aprendemos e por isso seguiremos.”

Como compor esse cenário de pluralidade, com as diferentes facetas artísticas das cantoras? A idealizadora do evento e curadora, Sara Loiola, explica o processo. “A programação musical do festival é sempre um desenho da paisagem sonora do nosso tempo. E aí tem de tudo,  inclusive encontros de gerações como é o caso da Nêssa e a Margareth Menezes, duas artistas potentes da Bahia que se encontram no palco pela primeira vez aqui no DF. O festival é celebração e potencializador das produções negras da diáspora.”

Já a cantora Cris Pereira, que também participou da primeira edição do evento, define o Yalodê como um Festival que já nasceu mãe e que reúne suas filhas para aprender e crescer juntas: “Yalodê já começa sendo festa, um encontro que celebra encontros, e que  tem uma especificidade muito rara e fina por ser desenhado por mulheres negras para mulheres negras. É uma alegria imensa mais uma vez fazer parte, pois acompanho desde o início. Eu poderia dizer que é como ver um filho crescer, mas o Yalodê já nasce mãe. Já nasce mãe de artistas negras, produtoras negras, jornalistas negras, então é como ver a mãe criando suas filhas.”

Do ventre escuro, fértil, rico e potente da diáspora, para o centro do Brasil, as cantoras, DJs, apresentadoras, produtoras, juntas em ação, farão o começo da primavera em Brasília, com talento multifacetado para compartilhar com o público e entre elas mesmas. O Festival Yalodê é um encontro musical imperdível para quem sabe apreciar a arte em suas surpreendentes variáveis.

Programação

Dia 17 Setembro I Sábado

19h – DJ Naju (DF) 

20h –  Cris Pereira (DF) 

20h30 – Bia Nogueira (MG)

21h40 – Indiana Nomma (Honduras/Brasil)

22h40 – Margaridas (DF)

23h40 – Mayra Andrade (Cabo Verde) 

1h30 – DJ Kashuu (DF)

Dia 18 Setembro I Domingo

19h – DJ Naju (DF)

20h – Afronta MC (ES)

21h – Nêssa feat. Margareth Menezes (BA/BA)

22h – Teresa Lopes feat Fabiana Cozza (DF/SP)

23h – DJ Janna (DF)

SERVIÇO:

Yalodê – Festival Internacional de Cantoras Negras

Dias: 17 e 18 de setembro de 2022

Horário: A partir das 19h

Local: Museu Nacional da República

Ingressos: https://www.sympla.com.br/festival-yalode__1709982

A regra é clara: Preto não é influencer!

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Foto: Divulgação.

Prazer! Eu sou o Preto Gourmet – um dos novos colaboradores do Mundo Negro. E como postulante a título de DFI (Digital Food Influencer) na cena gastronômica, o meu recorte é racial. Quero problematizar as pessoas pretas na Gastronomia – uma área marcada pelo eurocentrismo e pelo racismo estrutural. Neste texto de estreia, quero abordar o nosso lugar nas mídias sociais e o nosso apagamento na cena gastronômica como consumidores ou influenciadores digitais.

A criação do Preto Gourmet se deu pela experiência em um restaurante que é indicado pelo Guia Michelin no Rio de Janeiro. Fui representar uma amiga pelo seu blog no lançamento do novo menu do restaurante. Quando sentei à mesa com formadores de opinião e imprensa, me dei conta que eu era o único preto daquela mesa – e aquilo foi um soco no estômago.

Cadê os meus? Não tem preto(a) formador(a) de opinião no Rio de Janeiro? Não tem jornalista preto(a) especializado(a) em Gastronomia? – essas foram minhas reflexões iniciais comigo mesmo com sorrisos no rosto para ser educado no meio de gente que eu desconhecia. Entre sorrisos forçados e bem artísticos (fui bom nisso e a TV me perdeu), viralizavam questionamentos na minha mente. Embora eu já tivesse percebido que na universidade federal em que sou professor no bacharelado em Gastronomia sou o único professor efetivo preto, não tinha percebido quão visíveis eram os resquícios do racismo na mídia profissional gastronômica, nas assessorias de imprensa e agências de marketing.

Essa mesma amiga jornalista branca sempre confiou em mim e dizia: “a ideia do Preto Gourmet é ótima! Siga e não desanime!” Eu segui com a ajuda dela substituindo-a em visitas a restaurantes de cena carioca. Como ela é muito reconhecida entre empresários deste ramo e a imprensa especializada, toda vez que eu falava que estava representando o blog dela, os olhares mudavam e até sentia um tratamento diferenciado (positivamente).

Conhecendo influenciadores digitais em eventos realizados para restaurantes, bares e gastrobares, a questão racial mais uma vez apareceu: eu era o único preto do evento. Mais uma vez caiu a ficha: preto não é influenciador gastronômico. Quando vejo vídeos em parceria de influenciadores gastronômicos com restaurantes, minha percepção se concretiza: são sempre pessoas brancas. Sabe o porquê? Porque a cena gastronômica tem como cerne a distinção social por meio do status.

Como pesquisador e líder do grupo de pesquisa ‘Consumo, Gastronomia e Redes Sociais Virtuais’ – CNPq, o meu tema de interesse atualmente é a avaliação online de restaurantes nas plataformas digitais. No capítulo ‘O Termo Gourmet: sua construção histórica na Gastronomia e o uso nas avaliações online de restaurantes’ no livro ‘Gastronomia: Ensino, Pesquisa e Extensão’ discuto como esta palavra é usada como forma de distinção social entre apreciadores da gastronomia. Neste contexto da gastronomia como marcador da distinção social, nós pretos(as) não temos lugar como consumidores e influenciadores – pelo menos é assim que as agências de marketing, assessorias de imprensa e donos(as) de restaurantes nos vêem. São os brancos que são convidados para este papel.

Remetendo à famosa frase do país do futebol, “a regra é clara”: preto não é influenciador na cena gastronômica – digo isso com conhecimento de causa. Transitando por espaços da alta gastronomia carioca e tendo contato com empresários e grandes chefs da mídia, sabe quantas vezes fui convidado como influenciador para ter uma experiência num restaurante/bar/gastrobar por agência de marketing ou assessoria de imprensa? Apenas 3 vezes – sendo duas delas depois que o Prêmio Gastronomia Preta (spoiler do Mundo Negro) explodiu em todo o Brasil.

Leitor(a), é sobre isso: nossa invisibilidade na cena gastronômica como consumidores e formadores de opinião. O lugar do nosso povo é onde ele quiser, mas a cena gastronômica ainda nos invisibiliza de diferentes formas – e é esse apagamento na Gastronomia que discutirei com vocês nos próximos textos.

Axé!

Para indicar os profissionais negros da gastronomia que você quer ver sendo reconhecidos no Prêmio Gastronomia Preta, você pode preencher o formulário clicando aqui. Saiba mais sobre o prêmio acessando as redes sociais do @pretogourmet.

“Eu quero caminhar com o meu trabalho”, diz Letícia Fialho, que arrebatou mais de 2 milhões de plays com ‘Corpo e Canção’

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Foto: Bruno Soares.

“Chega feito lua cheia, incendeia de feitiço…” se você já ouviu Corpo e Canção, da cantora e compositora Letícia Fialho, com certeza leu essas primeiras linhas cantando. Se não conhece, se prepare porque vai ser amor à primeira vista. Dedicada ao universo das palavras, da música e da composição, a cantora carioca radicada em Brasília tem arrebatado uma legião de ouvintes nas principais plataformas de áudio Brasil afora.

O sucesso das canções de Letícia, que têm chegado a cada vez mais pessoas, ganha um contorno especial quando se observa que as músicas que ela grava são, na absoluta maioria, compostas por ela. A posição de poder contar as próprias histórias e reivindicar esse espaço de autoria tem uma importância enorme na vida da compositora, que não abre mão de ser reconhecida como tal. “Quando falamos em palavra e em tocar um instrumento, estamos falando de narrativa, e da propriedade sobre esta narrativa, ter voz, ter autoria. A gente está sempre sendo objeto e tendo nossa história sendo contada em terceira pessoa, as mulheres negras principalmente”, avalia.

Para ela, todas as guerras, conflitos e disputas existentes na história do mundo passam pela narrativa. “Compor é produzir narrativa, é pegar pra si um pouco da História e dizer: eu vou contar, vou dizer, eu vou sentir, vou falar o que eu poderia sentir, ou falar o que eu nem senti e nem vivi, mas eu imaginei, mas eu criei e tenho aqui uma onda estética e poética e vou criar mundos a partir da palavra”, complementa.

Hoje com 32 anos, Letícia começou a compor aos 12 anos de idade. “Eu lembro que achei em casa ‘A Hora da Estrela’, de Clarice Lispector e ‘Uma Antologia Poética’, de Vinícius de Moraes. Nem fazia ideia de quem eram esses nomes e aí minha cabeça explodiu, porque despertei para o universo da poesia, descobri que era possível se expressar dessa forma”, relembra.

Carta de Fogo

Seu último álbum, Carta de Fogo, lançado em 2021, foi gravado durante o período mais duro da pandemia. Durante este trabalho, Letícia se desafiou a gravar todos os instrumentos do disco. Tanto pela impossibilidade de se reunir com outros musicistas, como também pelo desafio de ver onde isso poderia dar.

O trabalho, riquíssimo do ponto de vista da linguagem, permite uma viagem pelas diversas possibilidades do fogo e nos leva nessa jornada de poesia, som e imaginação com uma qualidade emocionante de ver e sentir.

Para os próximos passos, o que Letícia deseja é poder circular seu trabalho pelo Brasil e pelo mundo. “Eu não sei onde eu quero chegar, mas eu sei que eu quero caminhar com o meu trabalho”, avisa. “Nosso objetivo é levar a música, e levar a gente, poder trabalhar com essa expansão, ir para os lugares e poder todos os dias dizer que tem tal show em tal lugar”, planeja.

“Luxo sem conforto é apenas ostentação”, diz Karine Amancio, especialista em marcas de prestígio

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Foto: Fernando Torquatto

Atualmente, a jornalista Karine Amancio é a única mulher negra na área de Relações Públicas (RP) no mercado de luxo, no setor de moda, pelo mundo. “Eu cresci frequentando ambientes majoritariamente brancos, na escola ou para lazer, e por muitas vezes ambientes de luxo. Era algo que eu já conhecia bem, mas não tinha a vivência frequente de hoje em dia”, disse em entrevista ao MUNDO NEGRO.

Crescida em uma família de classe média no interior de São Paulo, Karine trabalha na empresa brasileira JHSF e atende clientes como o Shopping Cidade Jardim e Shops Jardins e nas áreas nobres de capital paulista, além de ser Editora de Acessórios na Revista Cidade Jardim. A profissional também é engajada na luta racial para inclusão da imagem de pessoas negras nesses ambientes. 

Na última edição da revista, foram publicadas duas capas com o Ex-BBB Paulo André e a top model piauiense Lais Ribeiro, além da jornalista Joyce Ribeiro em um editorial de moda. “Trabalhar a diversidade em todos os espaços é algo presente no meu dia a dia. Não apenas na revista, mas em todas as frentes de comunicação em que atuo. Tenho a felicidade de trabalhar em um time comprometido e empático pelas questões raciais. Então trazer o meu olhar e a minha vivência para este espaço é algo enriquecedor”, diz.

Para Karine, luxo é ter a tranquilidade de poder fazer escolhas para o bem-estar (Foto: Flavia Manssur)

Já na coluna “Mural de Desejos“, ela publica várias dicas de artigos de luxo. “Sempre elegemos uma tendência para abordar e consequentemente escolho peças que são de desejo para mim. Eu amo a pesquisa que faço durante a criação, pois cada vez me aprofundo mais em algum tema que vai além da peça em si para a história da moda”.

E o trabalho às vezes rende alguns mimos luxuosos. “Recentemente ganhei um sapato de uma marca que sou fã e já uso há alguns anos. Lindíssimo e realmente o meu estilo. Fiquei muito feliz e grata por ver que meu trabalho está sendo reconhecido”.

Para Karine, o conforto é indispensável na hora de pensar sobre luxo. “É ter a tranquilidade de poder fazer escolhas para o meu bem-estar. Acredito em conforto na sua abrangência como por exemplo poder escolher o que comer, onde morar e coisas assim”. E afirma: “Luxo combina com conforto, se não é apenas ostentação”.

No cotidiano, ela tem as suas preferências. “Adoro peças com caimento legal e materiais com cores vivas e muito brilho que refletem a minha personalidade vibrante e meu orixá Oxum”.

Karine Amancio iniciou a carreira na moda como modelo na adolescência (Foto: Arquivo pessoal)

Mulher negra de luxo e de referência

Karina diz que a comunicação e a moda sempre foram suas grandes paixões. “Eu fui modelo quando adolescente e fiz jornalismo na faculdade, então conseguir unir esses amores é uma grande realização. Desde pequena eu sonhava em trabalhar com moda. É algo que me faz vibrar e me emociona”, conta Karine.

A jornalista trabalhou na Semana de Moda de Paris, em março deste ano, com algumas marcas internacionais que ela trabalha no Brasil. “Tive a oportunidade de conhecer Olivier Rousteing diretor criativo da Balmain, único negro a frente de uma Maison de luxo. Foi uma realização poder trabalhar com ele, que é um ícone mundial e uma referência”.

Outra grande referência profissional para o início da carreira de Karine foi a jornalista Glória Maria. “Uma mulher negra, jornalista, que fala diversas línguas, sempre conseguia as melhores entrevistas, viajou o mundo todo, tem reconhecimento internacional e é muito respeitada por seu trabalho”.

Hoje, Karine também é uma referência como profissional e sendo a única RP negra no mercado de luxo na área de moda e uma das poucas somando a outros nichos do mercado. “Sabemos o quanto não ter referências é impactante negativamente em nossas vidas. Ser a sua própria referência é um caminho que muitas de nós temos que construir”.

Apesar da falta de representatividade nesta área, a jornalista deixa conselhos importantes para as mulheres negras que também pretendem atuar nesta área. “Sejam curiosas sobre o mercado e as pessoas que estão nele. Estudem bastante e tenham um plano de como fazer para chegarem em seus objetivos. Networking na área de comunicação, em geral, é imprescindível. Então sejam interessantes e estejam interessadas em aprender sempre e estarem conectadas com pessoas que vocês admiram. Hoje a internet nos possibilita alcançar essas pessoas então usem essa ferramenta a seu favor”.


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