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Caso no ‘Pesadelo na Cozinha’ reacende debate sobre gestão de pessoas em restaurantes

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Um episódio recente do programa Pesadelo na Cozinha , apresentado por Erick Jacquin, gerou polêmica nas redes sociais pela forma como um garçom foi tratado após discutir com uma cliente. O caso reacendeu um debate sobre gestão de pessoas, saúde mental e preparo de equipes em pequenos negócios do setor gastronômico.

Infelizmente, no Brasil, reality shows de gastronomia ainda insistem em validar homens estrangeiros para vender a ideia de profissionalismo, como se nossos talentos locais não fossem capazes de ensinar, com excelência, tanto técnicas culinárias quanto gestão de negócios. 

Uma das edições mais comentadas da temporada traz a história de Maria Tereza, uma mulher baiana que abriu seu restaurante na zona norte de São Paulo com foco em comida baiana — especialmente acarajé, prato que inspirou o nome do local: Dona Acarajé. 

É impossível não se emocionar com a trajetória dela. Formada em gastronomia e ex-funcionária do renomado chef Emmanuel Bassoleil, Tereza carrega traumas de ter trabalhado com o famoso chef em um hotel. Quinze anos depois de sua demissão, ela ainda se emociona ao relembrar a experiência. Apesar de Jacquin reconhecer sua habilidade na cozinha, confirmando que gostou do tempero dela, Tereza demonstra insegurança, exaustão mental e baixa autoestima, algo visível em suas lágrimas ao longo do programa.

A gastronomia é uma das áreas mais desafiadoras para o pequeno empreendedor. Além da comida, há questões financeiras, vigilância sanitária, marketing, precificação e, claro, gestão de pessoas. Quando o empreendedor não pode terceirizar parte dessas frentes, acaba sobrecarregado, o que afeta diretamente sua saúde emocional. Some-se a isso a falta de conhecimento em gestão financeira, e o prejuízo aparece mesmo com trabalho de segunda a segunda.

Durante as gravações, Tereza se mostra insegura e impaciente. Ela grita com a equipe, é sarcástica e, muitas vezes, crítica em público. A única pessoa que não perdeu o controle é Rita de Cássia, a auxiliar de cozinha. A situação atinge seu ápice quando um dos garçons, Francisco, discute com uma cliente. Com a casa cheia e apenas dois garçons, Gustavo (sobrinho de Tereza) e Francisco —, a chef decide chamar Gustavo para a cozinha, deixando Francisco sozinho no salão e também responsável pelos espetinhos. Sobrecarregado, ele se desentende com uma cliente. Em seguida, discute de forma ríspida com o próprio Jacquin, chegando a sugerir que iria passar por cima dele. Tereza, visivelmente irritada, demite Francisco aos gritos, na frente das câmeras e dos clientes. No fim do episódio, após a reforma e revisão do cardápio, Francisco retorna para pedir desculpas e desejar sucesso à ex-patroa.

A má gestão de pessoas azeda o negócio

Embora programas de TV passem por edição e não mostrem todos os bastidores, a forma como Tereza lidou com sua equipe foi o que mais repercutiu entre o público. A situação escancarou o despreparo de muitos empreendedores para lidar com pessoas e o impacto direto disso no sucesso (ou fracasso) de um restaurante.

“Em relação a uma gestão de restaurante, o gestor atento precisa entender sobre gestão de pessoas. Ele precisa atuar frente a frente, ombro a ombro, hands-on, para a formação de uma equipe. Então, isso começa no recrutamento na seleção. Se você não tem habilidade, não tem conhecimento para contratar, para fazer um processo seletivo decente, você corre o risco de afetar toda a operação do teu restaurante ”, explica Junia Mamedir, psicóloga especializada em desenvolvimento de lideranças no Outback Brasil e com MBA em Gestão de Bares e Restaurantes. “Se você não sabe contratar, se não conduz um processo seletivo decente, corre o risco de comprometer toda a operação. O sucesso do restaurante depende muito disso.”

Junia explica que a área de gastronomia tem alta rotatividade porque os gestores não sabem contratar, falham no processo seletivo ao negligenciar o perfil comportamental do candidato à vaga. “ Você precisa fazer com que esse futuro colaborador fale sobre ele, fale sobre a vida pessoal dele, sobre os conflitos dele, sobre aquilo que ele mais se identifica, sobre os maiores desafios. Tem que pedir para ele trazer exemplos de cada um. O gestor precisa saber se o candidato se identifica com atendimento, como é para ele trabalhar com alta pressão, como é para ele trabalhar numa estrutura limitada de operação e onde existe grande demanda, onde precisa de velocidade” detalha Junia que reforça que o contratante tem que “ saber exatamente o que você precisa”.

Sobre o caso do Dona Acarajé, Junia aponta a falta de treinamento como um erro grave. “Se tivesse havido um treinamento adequado, o garçom não teria direcionado aquele tipo de palavra à cliente. Ele teria seguido um protocolo, algo previamente definido.”

Tenha cuidado ao contratar amigos ou parentes 

Muitos pequenos empreendedores acabam contratando amigos ou parentes por confiança ou falta de recursos — mas essa prática pode trazer sérios problemas. “Tem uma frase que levo comigo desde que ouvi do Salim Maron, que trouxe o Outback para o Brasil: contrate o sorriso, treine a técnica. Se a pessoa não tem sorriso, nem adianta tentar ensinar técnica. Às vezes o amigo é fechado, ranzinza, e espera-se que ele vá atender bem, não vai acontecer.” Se não houver outra opção além de contratar um parente, Junia orienta: “No mínimo, o gestor precisa saber o que quer para o seu negócio. Como essa pessoa deve atender? Se você não sabe, não entende de serviço, e ainda coloca um parente sem preparo, corre o risco de tudo dar errado.”

Em tempos em que a experiência do cliente é tão valorizada, saber liderar, contratar e cuidar da equipe é tão importante quanto cozinhar bem. Para além dos holofotes da TV, os bastidores mostram que um restaurante de sucesso começa com gestão emocional, escuta ativa e formação de um time comprometido com o propósito da casa.

ID_BR prorroga inscrições do Programa Lideranças SIM focado em profissionais negros e indígenas

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Foto: Freepik

O Instituto Identidades do Brasil (ID_BR), prorroga as inscrições para nova turma do Programa de Lideranças SIM. A iniciativa tem como objetivo capacitar e impulsionar profissionais autodeclarados negros e indígenas para ocupar cargos de liderança. São 300 vagas, e as inscrições estão abertas até o dia 04 de abril, pelo link no perfil do ID_BR no Instagram: @id_br.

A iniciativa, que em 2025 ganha um novo nome e formato, possui uma proposta inovadora e alinhada aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU. O Lideranças SIM é gratuito e oferece uma trilha formativa composta por módulos essenciais para o aprimoramento da liderança negra e indígena. Entre as etapas, destacam-se letramento racial, soft skills e tendências para liderança.

Para participar é preciso ter no mínimo 25 anos e se autodeclarar uma pessoa negra ou indígena, além de possuir graduação completa, ter interesse em impactar positivamente suas áreas de atuação e almejar cargos de liderança, direção ou outros postos estratégicos. O Lideranças SIM é aberto para pessoas de todo o país.

Os integrantes também podem se beneficiar de etapas opcionais, como mentoria individual e atuar como mentores de outros profissionais, promovendo um ciclo contínuo de aprendizagem e troca de experiências.

“Lideranças negras e indígenas são fundamentais para a transformação social e equidade no mercado de trabalho. No programa Lideranças SIM, queremos cultivar talentos que, além de se destacar em suas carreiras, também inspirem uma mudança profunda em suas comunidades. Afinal, precisamos agir agora, e não esperar 167 anos”, afirma Luana Génot, CEO e Fundadora do ID_BR.

Em 2024, 17% dos participantes do programa (que ainda era chamado de PDLNI) possuíam mestrado, 58% eram bilíngues, 11% atuavam com projetos e 96% tinha experiência com cargos de liderança. Além de possuir uma grande diversidade, sendo 22% nordestinos, 4% indígenas e 63% mulheres.

“É uma experiência transformadora, não apenas na minha carreira, mas essencialmente na minha vida pessoal. Desde o início, fui envolvida em um ambiente de aquilombamento e networking, onde me senti verdadeiramente vista e potencializada. Nos encontros do PDLNI, aprendo constantemente sobre como ser uma liderança negra transformadora. O programa não só amplia minhas competências profissionais, mas também fortalece minha identidade e autoestima. A oportunidade de receber uma bolsa para estudar Direito do Entretenimento em uma instituição super conceituada foi um dos pontos altos desta jornada”, relata Nathalia Santiago, liderança em Gestão de Projetos e Políticas Públicas, fellow do programa em 2024.

Após o envio da inscrição, haverá a seleção interna e divulgação dos selecionados. Os encontros acontecerão de forma quinzenal, online, às terças-feiras das 19h às 21h.

Serviço:

Formação e capacitação

Inscrições: https://pt.research.net/r/WHDFVK5?fbclid=PAZXh0bgNhZW0CMTEAAaZdwCRvcvdcbyNk0gZW8kYzrIgaOgC1a4R58An2emg-qVU8iQm4ThFlANw_aem_WeIUfyS5a3BnZLo-jhEjIw&utm_source=Link+da+Bio+do+RD+Station&utm_medium=social&utm_campaign=CTA+no+Link+da+Bio

Período de inscrições: até 04 de abril 

Homens: aliados na luta de gênero

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Foto: Freepik

Texto: Rachel Maia

O mês é das mulheres, mas, este chamamento é para os homens, que historicamente se beneficiaram com o privilégio do poder e das oportunidades em todos os espaços: no meio corporativo, na política, em casa, ou seja, na sociedade. A fala sempre foi produzida por eles, mas neste momento, faz-se necessária uma escuta ativa e reflexiva sobre o nosso futuro, sobre a diversidade, sobre gênero. 

Considero que os homens têm um papel fundamental como aliados na promoção de um ambiente mais igualitário, pois ocupam em grande escala os espaços e cargos de gestão. Importante frisar que ser um aliado não significa apenas apoiar passivamente as mulheres, mas sim atuar ativamente para garantir que todas tenham acesso as mesmas oportunidades de crescimento e reconhecimento profissional.

Como transformar-se em aliado das mulheres

Percebam: a jornada para a equidade começa com a escuta. Os homens podem se tornar aliados ao ouvir atentamente as experiências das mulheres no ambiente de trabalho, compreendendo os desafios que elas enfrentam e se informando sobre vieses inconscientes e desigualdades estruturais.

O “teste do pescoço” cabe perfeitamente nesse contexto: quantos homens há na sua sala de reunião? Quantas mulheres? E quantas delas têm poder de fala e tomada de decisões? Os vieses inconscientes muitas vezes nos impedem de perceber que estamos, sistemicamente, repetindo um quadro constante de exclusão e, portanto, barrando a inovação — que só acontece quando há diversidade.  

Equilibrar o acesso a oportunidades, indicando mulheres e criando espaços de desenvolvimento para lideranças femininas, são algumas das atitudes de quem compreende que há espaços para todos. Costumo dizer que o nosso interesse não é ocupar o lugar dos homens, mas sim concorrer às mesmas oportunidades. 

Construir um ambiente corporativo mais plural, dinâmico e respeitoso para todos vai além de praticar o óbvio. É importante também defender políticas como licença parental para ambos os gêneros, flexibilidade no trabalho e igualdade salarial. E não tenham dúvidas: empresas que adotam essas práticas se tornam mais inovadoras, produtivas e humanas.

Esse compromisso é nosso 

No Brasil, 51,5% da população é composta por mulheres, de acordo com o último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), realizado em 2022. No entanto, no mercado de trabalho, as mulheres ainda ocupam um percentual baixo de cargos de liderança em comparação aos homens. Em 2022, como mostra o IBGE, as mulheres correspondiam a 39,3% desses cargos, e, ao fazer um recorte racial, esse número cai drasticamente.

De acordo com o Ministério da Igualdade Racial (MIR), as mulheres negras representam 28% da população brasileira e também são maioria nos trabalhos informais, especialmente os relacionados aos cuidados, correspondendo a 67%. No entanto, quando o assunto são cargos executivos, esse percentual cai para 1,8%, e, entre os CEOs no Brasil, é praticamente zero. 

A construção de um ambiente corporativo mais justo e inclusivo não é uma responsabilidade exclusiva das mulheres. Quando homens e mulheres trabalham juntos pela equidade, todos ganham: as empresas se fortalecem, a cultura organizacional se transforma e a sociedade avança.

Mais do que reconhecer as conquistas femininas, é fundamental que cada um reflita sobre seu papel nessa transformação. Que esse mês nos inspire a agir, todos os dias, em prol de um mundo corporativo mais justo e igualitário.

Vereadora do Rio propõe política de masculinidade saudável inspirada em série da Netflix

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Foto: Reprodução

A série Adolescência, da Netflix, que aborda os desafios da juventude contemporânea, inspirou a vereadora Thaís Ferreira (PSOL) a apresentar um projeto inédito na Câmara Municipal do Rio de Janeiro: a criação da Política Municipal de Promoção de Masculinidades Saudáveis e Antissexistas. A proposta, protocolada nesta semana, prevê ações educativas em escolas e equipamentos públicos para romper com ciclos de violência, abandono afetivo e machismo na formação de adolescentes.

Presidente da Comissão dos Direitos da Criança e do Adolescente, Thaís afirma que a série retrata uma realidade já conhecida por mães, professoras e profissionais que lidam com jovens. “Nossos meninos estão sofrendo. O Estado precisa agir com cuidado e escuta, antes que seja tarde demais”, diz a parlamentar, mãe de três meninos e ativista dos direitos da infância.

O projeto, que ainda será discutido pelos vereadores, tem como base cinco princípios, entre eles a promoção da equidade de gênero, o combate ao racismo e à homofobia e a valorização do cuidado emocional. As diretrizes incluem: Ações educativas em escolas públicas, com formação para alunos e profissionais; Rodas de conversa e oficinas para adolescentes em vulnerabilidade; Campanhas e materiais digitais sobre masculinidades não violentas e Articulação com políticas de saúde e assistência social.

Contexto de violência

A proposta surge em um cenário marcado por dados alarmantes. Em 2022, 41 mil crianças e adolescentes de 0 a 13 anos foram vítimas de estupro no Brasil, com maior incidência entre meninas de 10 a 14 anos, segundo dados oficiais. Pesquisa de 2023 ainda aponta que 8 em cada 10 jovens brasileiros já se depararam com conteúdos violentos ou discriminatórios nas redes sociais.

Além disso, estudos indicam que 71,8% dos ataques em escolas no país desde 2011 tiveram relação com radicalização online, incluindo buscas por instruções de massacres.

“Precisamos desconstruir a masculinidade tóxica desde cedo, promovendo uma cultura de paz e respeito”, defende Thaís. O projeto prevê parcerias com universidades, coletivos e organizações da sociedade civil. Se aprovado, o Executivo terá 90 dias para regulamentar a lei.

Apple TV+ lança documentários sobre a ascensão de estrelas negras em Hollywood

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Foto: Divulgação Apple TV+

A Apple TV+ lanço na última sexta-feira (28), os documentários inéditos “Homens Negros Conquistam Hollywood” e “Mulheres Negras Conquistam Hollywood” (Number One on the Call Sheet: Black Leading Men In Hollywood e Number One on the Call Sheet: Black Leading Women In Hollywood), que destacam a trajetória de atores e atrizes negros de destaque na indústria cinematográfica.

Produzidos para a Apple por Jamie Foxx, Kevin Hart, Datari Turner e Dan Cogan, os documentários contam com equipes distintas. “Homens Negros Conquistam Hollywood” tem direção de Reginald Hudlin, enquanto “Mulheres Negras Conquistam Hollywood” é dirigido por Shola Lynch e inclui produção executiva de estrelas como Angela Bassett, Halle Berry, Viola Davis e Whoopi Goldberg.

Com entrevistas pessoais, os filmes revelam os desafios e conquistas de ser um protagonista negro em Hollywood. Os atores Halle Berry, John Boyega, Will Smith, Morgan Freeman, Denzel Washington, Gabrielle Union, Cynthia Erivo, Octavia Spencer e outros grandes nomes também participam e falam sobre estereótipos, pressão por representatividade e o legado deixado por pioneiros como Sidney Poitier.

Os títulos se somam ao catálogo de documentários premiados da plataforma, como “Sidney” (sobre Sidney Poitier), “STILL: Ainda sou Michael J. Fox” e “Billie Eilish: The World’s a Little Blurry” (indicado ao Emmy).

Doechii lança plataforma de saúde mental com recursos gratuitos para enfrentar a ansiedade

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Foto: Axelle/Bauer-Griffin/Getty

A ascensão de Doechii, vencedora do Grammy, não se limitou aos palcos e paradas musicais. Agora, a artista transformou sua jornada pessoal com a ansiedade em uma missão coletiva e lançou, na última sexta-feira (28), o centro de saúde mental “A Ansiedade Está Me Observando” — referência a um trecho de sua música “Anxiety”, gravada em 2019 para seu canal no Youtube e que viralizou nas redes sociais.

O projeto, anunciado em seu Instagram, surge como um espaço de acolhimento e recursos para quem enfrenta crises de ansiedade. “Doechii vivenciou os desafios da ansiedade em primeira mão e está usando sua plataforma para fornecer ferramentas que ajudem na sua saúde mental”, diz o texto de apresentação do site. “Aqui, você também encontra conforto em saber que não está sozinho nesta jornada.”

O site reúne links para organizações como Mental Health America (MHA), The Crisis Text Line e The Trevor Project, além de direcionar para iniciativas culturais, como Queer Art e LGBTQ Writers in Schools. Há ainda uma área dedicada a grupos específicos, incluindo programas focados em populações negras, queer e interseccionais. “Obrigada por todo o suporte à minha música. Agora, deixem-me apoiar VOCÊS”, escreveu a artista em uma publicação no Instagram que anunciava o lançamento da plataforma.

Doechii já havia abordado publicamente suas batalhas psicológicas. Em entrevista à revista The Cut em fevereiro, ela revelou ter superado pensamentos suicidas após sofrer bullying na adolescência. “Estava sofrendo tanto que pensei em me matar. Até que percebi: ‘Se eu morrer, serei a única perdendo. Os valentões seguiriam em frente’”, relatou. “Foi quando decidi: sou a personagem principal deste filme.”

A música “Anxiety”, originalmente um rap caseiro postado no YouTube em 2019, ganhou versão oficial neste mês após se tornar um hino informal sobre saúde mental. Agora, o projeto amplia o diálogo — e o apoio — para além dos streams.

Prefeitura do Rio revoga resolução que incluía práticas afro-indígenas como terapias complementares no SUS

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Foto: Renato Manganello

A Prefeitura do Rio de Janeiro revogou na última terça-feira (25) uma resolução que reconhecia práticas de cura de origem africana e indígena — como banho de ervas, chás e defumação — como terapias integrativas e complementares no SUS (Sistema Único de Saúde). A medida havia sido anunciada apenas sete dias antes, em parceria entre a Smac (Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Clima) e a Secretaria de Saúde.

O texto original incluía o reconhecimento de terreiros e casas de santo como “equipamentos promotores de saúde e cura”, além de citar técnicas como escalda-pés, oferendas e o conhecimento das benzedeiras. Em nota, a prefeitura justificou a revogação com o “entendimento de que saúde pública é realizada baseada em ciência” e que “o Estado é laico e não deve misturar crenças religiosas em políticas públicas de saúde”.

A PNPIC (Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares), aprovada em 2006 pelo Ministério da Saúde, inclui terapias como acupuntura, homeopatia e fitoterapia, mas não menciona expressamente rituais afro-indígenas. Estados e municípios, no entanto, têm autonomia para regulamentar suas próprias políticas no âmbito do SUS. A decisão foi criticada por entidades como a Renafro Saúde (Rede Nacional de Religiões Afro-Brasileiras e Saúde), que afirmou que a medida “representa um retrocesso na valorização das práticas de saúde ancestrais” e desrespeita a luta contra a discriminação religiosa.

Atualmente, a rede pública do Rio oferece práticas como medicina tradicional chinesa (com acupuntura e auriculoterapia), fitoterapia e homeopatia. A prefeitura não detalhou se haverá revisão desses serviços após a revogação.

Procurado, o Ministério da Saúde afirmou que os municípios podem implementar PICS (Práticas Integrativas e Complementares) por meio de projetos aprovados pelas secretarias locais ou por leis municipais.

‘Fortalecem a autoestima e geram oportunidades concretas’, Juliana Lourenço explica como redes de apoio fortalecem salões de cabelo natural no Brasil

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Foto: Arquivo Pessoal

Manter um salão especializado em cabelos crespos e cacheados no Brasil envolve desafios que vão desde a falta de profissionais qualificados até os altos custos de capacitação e insumos. Em entrevista, proprietárias de estabelecimentos em Campina Grande (PB) e no Rio de Janeiro relataram as dificuldades que enfrentam no setor e as estratégias que desenvolvem para se manter no mercado.

Para Silmara da Silva Campos, proprietária do Odara Studio, em Campina Grande (PB), a concentração de cursos de especialização no Sudeste do país e os altos custos dificultam que ela e profissionais de outras regiões possam se capacitar constantemente: “As capacitações na área da beleza, em geral, são caras, principalmente se forem cursos presenciais. E, principalmente, são centralizadas no Sudeste, basicamente em São Paulo”, relata. Ela conta que, em Campina Grande, existem apenas 5 salões especializados em cabelo natural, o que aumenta a dificuldade de encontrar mão de obra qualificada.

Já Erica Bello, proprietária de um studio com o mesmo nome na capital carioca, destaca: “Ainda existe uma grande carência de profissionais para o nosso segmento. Os salões tradicionais até ‘oferecem’ alguns serviços para cabelos afro, mas não entregam o que nosso povo necessita. É preciso viver o dia a dia de uma pessoa preta para entender nossas necessidades capilares e oferecer um protocolo assertivo. Eu sou educadora de cabelos afro e formo e qualifico a minha equipe”, explica.

Para a mentora Juliana Lourenço, conhecida como Ju da Conta Delas, as redes de apoio fazem a diferença: “Essas redes criam um ambiente de acolhimento, trocas e crescimento coletivo. Ajudam a romper o isolamento, fortalecem a autoestima e geram oportunidades concretas, como eventos, parcerias e acesso à informação. Quando uma cresce, puxa outra junto. É sobre colaboração, não competição”, afirma.

Juliana explica que, assim como em outros segmentos, o racismo afeta o acesso de empreendedoras negras do setor de beleza a investimentos que poderiam impulsionar seus negócios: “As empreendedoras negras enfrentam racismo estrutural, que impacta diretamente o acesso a crédito, visibilidade e valorização do seu trabalho. Mesmo sendo referência no cuidado com cabelos naturais, muitas vezes essas profissionais não recebem o mesmo reconhecimento ou investimento que salões tradicionais. Além disso, o mercado ainda carrega estigmas sobre o que é considerado ‘profissional’ ou ‘bonito’, o que afeta diretamente o faturamento e a autoestima dessas empreendedoras”.

Para ela, políticas públicas e programas de apoio — como “microcrédito com juros baixos, específicos para empreendedoras negras” — são essenciais para o desenvolvimento dessas empresárias no mercado. “Também é importante oferecer capacitação focada na realidade desses salões, com conteúdos sobre gestão, marketing e finanças, e garantir que políticas de compras públicas incluam salões e serviços de estética liderados por mulheres negras”, reforça Juliana.

Aposta no acolhimento e personalização do atendimento ajuda a fidelizar clientes

Para Erica e Silmara, a concorrência em salões especializados em cabelos crespos e cacheados ainda é baixa, mas o atendimento personalizado é um diferencial fundamental para manter clientes fiéis.

“Procuro oferecer às minhas clientes uma consultoria de cuidados home care. Percebi a frustração de novas clientes ao chegarem ao studio e relatarem que, no salão da colega, saíam com o cabelo finalizado, mas não sabiam como mantê-lo em casa. Uma avaliação precisa conduz a um resultado assertivo. Após o atendimento, entrego um ‘receituário’ com a conduta diária — assim como um médico faria após um protocolo de saúde —, além de um canal para tirar dúvidas (sem custo adicional). Assim, elas sentem que têm alguém que realmente se preocupa com suas dores”, detalha Erica.

Silmara ressalta que muitas clientes chegam ao seu salão após enfrentarem desafios para manter os cabelos crespos ou cacheados naturais: “Meu objetivo é fazer com que o atendimento não seja apenas um serviço de embelezamento, mas também um momento em que a cliente saia se sentindo linda, poderosa e incrível com seu cabelo natural — aquele com o qual ela nasceu. É fazê-la entender que esse cabelo não tem defeito algum”.

“Deixe de ser uma cabeleireira e vire uma empresária!”

A realidade para quem pensa em empreender pode parecer assustadora, mas existem caminhos, como destaca Juliana Lourenço: “Conecte-se com sua história e com a potência do que você representa. Não é ‘só’ um salão — é um espaço de cuidado, identidade e empoderamento. Para crescer, o salão precisa de você em um papel estratégico. Estude gestão, finanças e marketing, e posicione-se como referência da sua marca. Busque conexões poderosas, participe de redes e eventos para empreendedoras negras. Networking é essencial: você precisa estar onde as oportunidades estão. Deixe de ser uma cabeleireira e vire uma empresária!”

Cia AfroOyá leva AFRO-SAPIÊNCIA ao palco com potência, ancestralidade e recorde de público

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Foto: @brumcatarine

Texto: Rodrigo França

Um corpo negro em movimento é um ato político, uma declaração de existência e uma celebração de sabedoria ancestral. É com esse princípio que a Cia de Dança AfroOyá, uma das mais conceituadas companhias de dança do Brasil, reverberando sua arte em palcos nacionais e internacionais, apresenta seu novo espetáculo: AFRO-SAPIÊNCIA. A obra será apresentada nos dias 04, 05 e 06 de abril, no Sesc Santana, em São Paulo, com direção e coreografia de Tainara Cerqueira e Priscila Borges – duas das principais referências da dança afro-brasileira contemporânea.

O nome do espetáculo já diz tudo: sapiência é sabedoria. E quando se fala de povo negro, falar de sabedoria é falar de estratégias de resistência, de criatividade cotidiana, de espiritualidade e memória. Criado a partir da vivência de Tainara Cerqueira, professora, dançarina e pesquisadora, AFRO-SAPIÊNCIA nasceu como uma celebração da inteligência negra em sua forma mais pura – aquela que garante a sobrevivência, reinventa a estética e estrutura o futuro.

“Pensar AFRO-SAPIÊNCIA é validar esse lugar de existência plena e ancestral. É dar nome à sabedoria do nosso povo que foi, por séculos, silenciada ou subestimada. Mas ela está viva, no terreiro, na sala de aula, na roda de samba e, principalmente, no palco”, afirma Tainara.

A potência do espetáculo também se revela na recepção do público. Em sua temporada no Centro de Referência em Dança da cidade de São Paulo, a obra bateu recorde de público, com mais de 300 pessoas em uma estrutura que não comportava tanta gente. Esse impacto direto com o público se deve, em parte, ao profundo enraizamento da companhia em territórios culturais da cidade. Professora em centros como o Centro Cultural Grajaú, Quilombolas de Luz e diversas unidades do Sesc, Tainara e sua companheira de direção, Priscila Borges, formam não apenas bailarinos, mas comunidades inteiras apaixonadas pela dança afro-brasileira.

Dança, teatro, música ao vivo e artes visuais se entrelaçam em cena, sem que um elemento sobreponha o outro. A percussão, comandada por Priscila Borges e Magnata, se harmoniza com a discotecagem afrofuturista de DJ DefBrks. Tudo isso veste o corpo de balé que reverencia, em cada gesto, a presença dos orixás, uma escolha estética e espiritual que também é um posicionamento político: “A dança afro-brasileira é fundamentada na dança dos orixás. Portanto, ela é, por essência, um combate ao racismo religioso”, defende Tainara.

A trajetória das coreógrafas é marcada pela inquietação com o modo como a arte negra é tratada nos bastidores e nos palcos. Ao fundar a AfroOyá, elas decidiram que não esperaria mais por convites que nunca chegavam. Transformaram a inquietude em criação e ofereceram aos bailarinos uma estrutura de valorização, protagonismo e autonomia.

O processo de criação da companhia nasce do cotidiano: dos terreiros, das festas populares, da observação atenta da comunidade. Para Tainara, a Bahia – onde passa três meses por ano – é o grande laboratório da dança afro. “Ali, a dança afro é traço cultural da identidade. Eu volto para me alimentar dessa fonte viva.”

Apesar dos desafios que ainda enfrentam para manter e expandir seus projetos, as conquistas da AfroOyá já podem ser sentidas em São Paulo e Salvador. O avanço é fruto de uma luta coletiva, que inclui companhias e núcleos como o Núcleo AJEUM, o Coletivo Calcâneos e o Desterro Coletivo. “Queremos mais e podemos mais. A dança afro-brasileira constrói a identidade cultural desse país e merece ser tratada com a mesma dignidade que qualquer outra forma de arte”, afirma.

Depois da temporada no Sesc Santana, o objetivo é circular com AFRO-SAPIÊNCIA por outras regiões, incluindo Salvador, além de levar também o espetáculo Xirê de Rua, contemplado pelo fomento à dança. E vem coisa nova por aí: Tainara já planeja o próximo espetáculo. “A gente escreve, se inscreve nos editais da vida, reza pra ser aprovado e segue dançando. Porque dança afro é vida.”

SERVIÇO
Espetáculo: AFRO-SAPIÊNCIA
Dias 04 e 05 de abril, às 20h
Dia 06 de abril, às 18h
Local: Sesc Santana – São Paulo

Ficha Técnica
Direção e Coreografia: Tainara Cerqueira e Priscila Borges
Bailarines: Maiwsi Ayana, Munique Costa, Vick Fonseca, Dalila Leal, Adejatay, David Sena, Wesley Peixinho
Percussionistas: Priscila Borges e Magnata
DJ: DefBrks
Figurino: Maiwsi Ayana
Iluminação: Renato Banti
Dom: Carlos e Guina Theodoro

8 séries que exploram a adolescência com protagonismo negro

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Foto: HBO

Para além de abordagem sobre a misoginia, a recém lançada minissérie “Adolescência”, da Netflix, trouxe um olhar sensível e diverso sobre essa etapa da vida, incluindo a perspectiva das vivências de jovens negros. Inspirado por essa produção que tem levado os telespectadores a refletir sobre diferentes temas que giram em torno dos adolescentes, o Mundo Negro selecionou algumas séries que colocam adolescentes negros no centro da narrativa, abordando questões como identidade, pertencimento, família, saúde mental, desigualdade, entre outros temas.

Veja a lista completa abaixo: 

Bel-Air 

O reboot de ‘Um Maluco no Pedaço’ é uma versão dramática com pouco tom de humor. O personagem principal ainda é Will (Jabari Banks), que vê sua vida mudar completamente, após se envolver numa briga com um criminoso de seu bairro. O adolescente é obrigado a abandonar sua vida na Filadélfia para fugir dos problemas e passa a viver com os tios e primos em uma mansão em Bel Air. A série tem três temporadas, todas disponíveis no Disney+.

Da Ponte pra Lá 

Malu (Gabz), uma jovem preta e periférica, se infiltra na escola mais exclusiva da alta sociedade paulistana em busca de uma resposta: Quem matou o seu melhor amigo Ícaro (Victor Liam), um jovem trans e negro? Ela não acredita em caso de suicídio, como insistem as autoridades. Agora, os novos colegas de Malu, que é rapper e filha do maior traficante da cidade, membros das famílias mais poderosas do Brasil, se tornarão cúmplices, amigos, amantes e suspeitos. A produção tem uma temporada, disponível na Max.

Euphoria 

Estrelado por Zendaya, a série se destaca por sua abordagem realista sobre as dificuldades da adolescência. A trama gira em torno de Rue Bennett, uma jovem que luta contra o vício em drogas enquanto tenta encontrar seu lugar no mundo. Ao longo dos episódios, a série explora temas como saúde mental, identidade sexual, relacionamentos abusivos e a pressão das redes sociais. As duas temporadas estão disponíveis na Max.

Olhos que Condenam 

Dirigida por Ava DuVernay, a minissérie baseada em uma história real, retrata o caso dos Cinco do Central Park, um grupo de adolescentes negros e latinos que foram injustamente acusados e condenados pelo estupro de uma mulher branca em Nova York, no final da década de 80. Com uma abordagem intensa e emocional, denuncia o racismo estrutural e o impacto da injustiça na vida de jovens negras e latinas nos EUA. Disponível na Netflix.

Sangue e Água 

A trama da produção sul-africana segue Puleng Khumalo (Ama Qamata), uma adolescente de 16 anos que suspeita que sua irmã mais velha, sequestrada ao nascer, pode estar viva e estudando em um colégio de elite na Cidade do Cabo. Determinada a descobrir a verdade, ela se infiltra em uma escola e se aproxima de uma uma nadadora popular que pode ser sua irmã. Conforme investiga, Puleng se vê envolvida em segredos familiares, crimes e intrigas no mundo dos ricos e poderosos da África do Sul. A série tem quatro temporadas disponíveis, todas disponíveis na Netflix. 

This is Us 

A série acompanha a família Pearson ao longo de diferentes décadas. Um dos personagens centrais é o Randall (Sterling K. Brown), sendo o filho negro adotado por Jack e Rebecca. O drama explora a vivência dele e dos irmãos na adolescência, em paralelo com o vínculo dele e da esposa Rebecca com suas filhas, Tess, Annie, e Deja, que também passam por desafios enquanto jovens. A família se vê em conflitos que giram em torno de buscas por pertencimento, identidade, racismo, sexualidade, adoção, luto, saúde mental, entre outros temas. As seis temporadas estão disponíveis na Disney+ e no Prime Video. 

Toda Família Tem 

A série brasileira protagonizada por Pedro Ottoni, acompanha o Pê, um jovem que vê sua vida mudar quando retorna com a família para a casa da avó Geni no Rio de Janeiro, deixando para trás seu estilo de vida confortável. Enquanto se adapta às confusões da Família Silva, ele enfrenta seus próprios dilemas e inquietações em busca de autoconhecimento. A comédia explora temas como relacionamentos, redes sociais, educação, entre outros. Com uma temporada, a produção está disponível no Prime Video. 

Todo Mundo Odeia o Chris 

A comédia baseada na adolescência do comediante Chris Rock, acompanha Chris (Tyler James Williams), um garoto negro crescendo no Brooklyn dos anos 1980, lidando com os desafios da época em uma escola de crianças brancas, a família, o trabalho, amizade e relacionamentos. Com humor ácido, a narração sarcástica do Chris Rock aborda críticas sociais sobre racismo e desigualdade. As quatro temporadas estão disponíveis na Globoplay, Paramount+ e Prime Video. 

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