A partir do dia 11 de março, a CAIXA Cultural São Paulo abre suas portas para a exposição Entre o Aiyê e o Orun, que reúne obras de 14 artistas inspirados nas narrativas e mitos da criação do mundo das religiões afro-brasileiras. A mostra, que fica em cartaz até 4 de maio, apresenta uma diversidade de técnicas e linguagens, incluindo pinturas, esculturas, fotografias e instalações, todas com entrada gratuita.
Com curadoria de Thais Darzé, a exposição tem como eixo central a cosmologia africana, destacando a influência das matrizes culturais afro-brasileiras na produção artística. A abertura contará com uma visita guiada pela curadora no dia 11 de março, às 11h, sem necessidade de inscrição prévia.
A seleção de obras inclui nomes consagrados das artes plásticas, como Emanoel Araújo, Mestre Didi e Rubem Valentim, além de artistas contemporâneos. “O eixo conceitual da exposição são os mitos da criação do mundo na visão afro-brasileira, e as obras selecionadas transitam por essa poética”, explica Darzé.
A exposição também celebra a diversidade de suportes e técnicas, reforçando a riqueza da produção artística oriunda da Bahia, considerada o berço da cultura africana no Brasil.
Serviço: Exposição Entre o Aiyê e o Orun Local: CAIXA Cultural São Paulo – Praça da Sé, 111 – Centro Histórico de São Paulo, SP Abertura: 11 de março (terça-feira), às 11h Visitação: 11 de março a 4 de maio de 2025 Horário: Terça a domingo, das 8h às 19h Classificação: Livre Entrada Franca Acesso para pessoas com deficiência Patrocínio: CAIXA e Governo Federal
A criação de um cardápio criativo é um dos grandes diferenciais quando falamos de restaurantes. Contratar uma consultoria para agregar novas ideias é um serviço cada vez mais requisitado na gastronomia. Quem já teve a experiência de saborear a coxinha de vatapá da Casa Sankofa, em Salvador, provou uma das várias receitas afrocentradas da Chef Manuela Gomes, mais conhecida como Chef Mannu Bombom.
“Eu tinha um vatapá congelado, que sobrou de um almoço que fiz em casa. Sempre busco inovar e criar novas receitas dentro da culinária afro-baiana, aproveitando ingredientes já conhecidos para surpreender com novos formatos e apresentações. Foi assim que surgiu a ideia da coxinha de vatapá”, detalha Mannu, nascida em Camaçari e com mais de 20 anos de experiência em gastronomia. “Após descongelar o vatapá, aqueci e acrescentei mais farinha de trigo para deixá-lo mais espesso, até atingir uma textura ideal para modelar a massa. Todos os ingredientes utilizados são os mesmos do vatapá tradicional baiano, com a diferença de que a massa precisa ser mais consistente e preparada com farinha de trigo sem fermento. O recheio escolhido foi de camarão seco defumado, processado, que combinou perfeitamente com a massa”, complementa.
Esse prato, além de fazer sucesso na Casa Sankofa, levou Mannu a participar do concurso Panela de Bairro, um quadro do jornal da TV Bahia, afiliada da TV Globo. “Participamos do concurso e vencemos! Foi uma vitória coletiva, pois, sem o espaço do estabelecimento, eu não teria conseguido divulgar a receita para um público maior”, celebra.
Além da coxinha, a chef criou outros pratos para o tradicional restaurante baiano. “Apresentei três pratos: a coxinha de vatapá, o arroz de xinxim e a carne seca com farofa d’água – essa última inspirada em uma receita da minha mãe, que aperfeiçoei. Essas três receitas passaram a fazer parte do cardápio da Casa Sankofa, onde também realizei um treinamento com a equipe, elaborando ficha técnica e orientações para que elas pudessem replicar os pratos sem minha presença”.
Coxinha de VatapáCeviche de manga à moda da chefeA Chef Mannu BombomQueijadona do reino com compota de goiaba
Mannu, que tem formação no Instituto Gastronômico das Américas (IGA) e estudos contínuos no Centro Universitário Cruzeiro do Sul, destaca a importância de reconhecer os conhecimentos técnicos das mulheres negras na gastronomia.
Recentemente, a chef ministrou uma oficina de comida baiana no Instituto de Ações Sociais Vó Tutu, em São Paulo, além de ter criado um cardápio para a Cozinha Ocupação 9 de Julho. Em 2023, participou do evento MESA ao Vivo Bahia, promovido pela revista PRAZERES DA MESA.
Consultoria para restaurantes e outros serviços
Sobre os trabalhos de consultoria para restaurantes, Mannu detalha os aspectos da precificação desse serviço. “Quando fecho um pacote de consultoria que inclui receitas de minha autoria, já considero todo o processo necessário para garantir a qualidade e a padronização. Isso envolve testes para aprovação da receita pelos envolvidos, seguidos do treinamento da equipe. O valor do pacote inclui um número determinado de aulas presenciais, geralmente seis visitas, para conferir se a receita está sendo replicada corretamente, seguindo a ficha técnica com medidas exatas e modo de preparo. Caso o estabelecimento deseje um acompanhamento contínuo para manter o padrão de qualidade, há a possibilidade de pacotes periódicos.”
Na parceria com a Casa Sankofa, as três receitas criadas pela Chef Mannu citavam sua autoria no cardápio. “Nem sempre há esse reconhecimento formal, pois, ao final da consultoria, o método e as receitas passam a ser do restaurante. No caso da Casa Sankofa, houve um acordo para que minha autoria fosse mencionada, mas isso não é uma prática comum.”
Embora tenha ficado famosa pela coxinha, o expertise de Mannu Bombom se traduz em uma diversidade de trabalhos, incluindo cursos e workshops que realiza na Bahia e em outros estados. “Meu carro-chefe é o serviço de buffet, no qual executo almoços, coquetéis e cafés nordestinos. Minha culinária é afro-brasileira, mas com um olhar especial para a valorização da gastronomia afro-baiana, destacando as influências africanas na culinária da Bahia.”
Um estudo publicado este mês na revista científica Plos One trouxe novos insights sobre as diferenças de generosidade entre homens e mulheres. A pesquisa, conduzida por Marina Pavan, da Universidade James I, na Espanha, utilizou o chamado “jogo do ditador” para medir a disposição de indivíduos em doar dinheiro a desconhecidos. Os resultados indicaram que as mulheres tendem a ser mais generosas do que os homens, doando cerca de 10% a mais do valor disponível, fator que pode ser explicado ao analisar as construções sociais que são impostas a cada gênero.
O estudo contou com a participação de 1.100 voluntários, que foram colocados em pares para simular a dinâmica do jogo. Um dos participantes, denominado “remetente”, recebia 10 euros (aproximadamente R$ 60) e tinha a opção de doar parte desse valor ao outro participante, o “destinatário”. Enquanto a teoria econômica tradicional sugere que o “ditador” não doaria nada, a prática mostrou o contrário: tanto homens quanto mulheres compartilharam parte do dinheiro, mas as mulheres se destacaram por sua maior generosidade.
Em média, os homens doaram 25% do valor recebido, enquanto as mulheres abriram mão de 35%. Além disso, a decisão mais comum entre os homens foi não compartilhar nada, enquanto as mulheres optaram, em sua maioria, por uma divisão igualitária. “Sabíamos que os estudos anteriores analisando diferenças de gênero em doações encontraram alguma ou nenhuma diferença em generosidade entre homens e mulheres, mas eles foram baseados em um número menor de observações, ou não tinham o grau de controle que tínhamos. Então, preenchemos a lacuna na literatura”, explicou Pavan em matéria publicada pelo jornal Folha de S. Paulo.
A pesquisa também considerou outros fatores que podem influenciar a decisão de doar, como traços de personalidade e emoções positivas. Segundo os autores, características como amabilidade e abertura a mudanças aumentam a disposição para doar, especialmente entre as mulheres. No entanto, aspectos como valores sociais, educação e normas culturais, que também podem impactar a generosidade, não foram totalmente explorados no estudo. “Essas dimensões são complexas e merecem investigação futura”, complementou Pavan.
À Folha de S. Paulo, Simone Jorge, professora da PUC-SP e especialista em ciências sociais, destacou que a diferença de gênero observada no estudo pode estar relacionada a construções sociais. “Os homens são frequentemente incentivados a serem competitivos e focados em si mesmos, enquanto as mulheres são associadas ao cuidado e ao afeto. Isso pode explicar, em parte, por que elas tendem a ser mais generosas”, afirmou Jorge. Ela ressaltou, no entanto, que essa visão pode reforçar estereótipos e desigualdades de gênero.
Para o futuro, Pavan planeja expandir a pesquisa, analisando dados de doações reais em ONGs e instituições de caridade. O objetivo é verificar se a tendência observada em laboratório se repete em contextos do mundo real. “Queremos entender melhor as motivações por trás da generosidade e como fatores externos influenciam essas decisões”, concluiu a pesquisadora.
Você já se perguntou: quais são os impactos da invisibilidade de meninas e mulheres negras na tecnologia? As discussões sobre o fato de que o setor de tecnologia da informação ainda é uma das áreas de grande desigualdade racial e de gênero no Brasil já são antigas e acontecem com frequência. Em outras palavras, podemos dizer que a quantidade de pessoas brancas e homens trabalhando no desenvolvimento digital é muito maior do que a de colaboradores negros e mulheres.
Também vale a pena avaliar o gap da falta de acesso a computadores, internet e outras tecnologias, que faz com que a digitalização e seu domínio sejam algo muito distante para a maioria dos estudantes, principalmente nas periferias urbanas e rurais.
Conforme dados da pesquisa TIC Domicílios (2019), quase 30% dos lares brasileiros não possuem acesso à internet, e apenas 39% têm computador. Nas classes sociais D e E, que já sofrem com outros tipos de exclusão, o percentual de domicílios sem acesso à internet é de nada menos do que 50%. No que diz respeito ao uso, 59% dos brasileiros dizem não usar a internet para estudar e trabalhar. Apenas 31% das pessoas que usam computador afirmam ter manipulado uma planilha de cálculo, por exemplo.
Quando focamos em mulheres negras neste setor, percebemos uma diferença ainda maior. A forma como mulheres negras são afetadas nesses contextos as impede de se reconhecerem nos produtos como consumidoras ou até mesmo como criadoras. Essa invisibilidade, que a princípio parece inofensiva, é mais uma forma de segregar pessoas negras.
Raça é a maneira como a classe é vivida. Da mesma forma, o gênero é a maneira como a classe é vivida. Precisamos refletir bastante para perceber que entre essas categorias existem relações mútuas e outras que se cruzam. Ninguém pode assumir a primazia de uma categoria sobre as outras (DAVIS, 1997, p. 8).
Angela Davis deixa explícito o entrelaçamento entre as identidades e como elas se cruzam e não se excluem. O algoritmo, sendo criado por pessoas brancas, exclui racialmente aqueles que não se enquadram nos perfis determinados por seus comandos.
Embora representem quase 30% da população, as mulheres pretas ainda são minoria nas empresas de tecnologia do Brasil e ocupam apenas 11% dos cargos no setor. Os dados estão compilados em pesquisa divulgada pela Iniciativa PretaLab, que aponta questões estruturais na base do problema.
O cenário não é novo e foi observado em estudos anteriores da PretaLab. No contexto da crise atual, no entanto, ele se perpetua e é reforçado. De acordo com dados do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese), a taxa de desemprego entre mulheres pretas em 2020, primeiro ano da pandemia, representou o dobro dos índices observados entre homens não negros.
A ONU destaca a importância da participação feminina nas áreas de Ciências, Tecnologia, Engenharia e Matemática (STEM) como fundamental para alcançar o quinto Objetivo de Desenvolvimento Sustentável, que é a igualdade de gênero. Embora as mulheres tenham atingido níveis educacionais superiores aos dos homens na média global, elas continuam a receber salários menores no mercado de trabalho. Além disso, a organização ressalta que a maioria das mulheres atua em profissões fora do campo das STEM, onde os salários costumam ser mais baixos.
A previsão é mencionada no relatório Futuro do Trabalho do Fórum Econômico Mundial (FEM) em 2025, juntamente com a pesquisa “Mapa do Trabalho Industrial 2025-2027”, realizada pelo Observatório Nacional da Indústria (ONI). Segundo o mapa elaborado pelo ONI, o setor de Tecnologia da Informação (TI) lidera no ranking de criação de empregos e no crescimento de vagas formais dentro do setor industrial. No Brasil, estima-se a criação de 972 mil oportunidades de trabalho nesta área até 2027. No caso do Distrito Federal, a projeção é de 36 mil vagas, ficando atrás apenas dos setores de logística e transporte, com 47,6 mil vagas, e de construção, com 39,9 mil.
É importante ressaltar que existem esforços contínuos de várias iniciativas para impulsionar a diversidade dentro do mercado. Nos últimos anos, têm surgido coletivos e grupos com o objetivo de atrair, capacitar e servir de rede de apoio e networking para que mais mulheres negras optem por uma formação e carreira em tecnologia.
Promover a inclusão de mulheres negras no setor de tecnologia é mais do que uma questão de justiça social; é uma necessidade para o avanço da indústria como um todo. Ao diversificar as vozes e experiências dentro da tecnologia, desbloqueamos um potencial criativo que reflete mais fielmente nosso mundo e suas necessidades. Assim, ao abraçar a diversidade, não apenas estamos criando oportunidades equitativas, mas também garantindo um futuro mais inovador e sustentável. Que possamos continuar unindo esforços para transformar este cenário e construir um setor tecnológico onde cada indivíduo, independentemente de raça ou gênero, tenha a chance de brilhar e contribuir significativamente.
O mundo tecnológico nos propiciou muitos avanços, mas há uma reflexão necessária sobre os moldes atuais que precisa ser observada de perto para que as práticas de discriminação não se perpetuem nas redes.
Equilibrar inovação com responsabilidade para garantir um impacto positivo em todas as áreas será fundamental para que todos sejam igualmente contemplados positivamente. Para que a evolução ocorra de forma ética e inclusiva, precisamos considerar fatores como inclusão e diversidade, garantindo que todas as mulheres se sintam representadas. Afinal, os algoritmos são desenvolvidos por pessoas e, inevitavelmente, carregam suas visões de mundo.
Relatórios da McKinsey & Companyapontam que a Inteligência Artificial (IA) generativa, utilizada para criar imagens, textos, músicas, entre outros, poderá movimentar de US$ 2,6 trilhões a US$ 4,4 trilhões na economia mundial anualmente, o que proporcionará novas oportunidades, mas também novos desafios, como mostra a pesquisa. Diante desses dados, é importante ressaltar que mulheres negras movimentam a economia ativamente e não podem ficar de fora quando o assunto é negócios e lucratividade.
Inteligência artificial: é preciso redefinir conceitos
Um tema recorrente nos debates sobre tecnologia e sociedade é a reprodução de desigualdades nos algoritmos. Por isso, as questões de raça e gênero são pautas relevantes nas minhas palestras e geram interesse do público pela narrativa inclusiva e educativa, pois estão alinhadas ao cenário real da sociedade, que precisa nos perceber para além da nossa cor.
Embora tenhamos avanços significativos, ainda enfrentamos desafios, como a falta de representatividade das mulheres negras na economia digital. Um exemplo disso é o impacto desigual da IA no mercado publicitário. Mesmo as pesquisas apontando as mulheres negras como consumidoras ativas, as profissionais negras, principalmente as retintas, ainda enfrentam barreiras para competir de maneira equitativa.
As mulheres ainda são julgadas e discriminadas por serem diferentes do padrão idealizado de maneira excludente, impossibilitando-as de competir organicamente no digital. Ao reforçar padrões discriminatórios, o algoritmo dificulta o alcance e, consequentemente, a monetização do conteúdo produzido por mulheres negras. Se, no passado, a publicidade em revistas e TV excluía determinados grupos, hoje, com o domínio das plataformas digitais, essa realidade persiste.
O futuro da IA e das mulheres negras no digital
A maneira como vivemos e trabalhamos já não é mais a mesma. Por isso, para garantir um impacto positivo, é essencial desenvolver mecanismos de segurança e uma legislação assertiva, promovendo a diversidade e protegendo os direitos de todos.
O debate sobre IA não pode se limitar ao campo tecnológico — deve incluir aspectos sociais, culturais e econômicos. Somente assim poderemos criar oportunidades e alcançar resultados conjuntos para um futuro mais justo, onde a inovação esteja alinhada com a diversidade que é característica marcante da sociedade brasileira.
A forma como a IA será usada — seja para automação de tarefas, personalização de serviços ou tomada de decisões — determinará seu impacto na sociedade. Portanto, cabe a nós definirmos como essa tecnologia será integrada ao nosso dia a dia, para que toda mulher tenha a possibilidade de ser, existir e pertencer, com suas características que são únicas.
No Dia Internacional da Mulher, muito se fala sobre sororidade, mas a experiência feminina não é homogênea. Mulheres negras enfrentam desafios específicos que mulheres brancas muitas vezes não vivenciam, seja no mercado de trabalho, nas relações sociais ou na busca por direitos. O cinema e a TV têm explorado essas dinâmicas, mostrando tanto os conflitos quanto às tentativas de solidariedade entre elas.
Selecionamos filmes e séries que abordam essas interseccionalidades de forma significativa, revelando como raça e classe afetam a experiência das mulheres de maneiras diferentes.
1. Little Fires Everywhere (2020) – Série
Disponível em: Prime Video
Minissérie estrelada por Kerry Washington e Reese Witherspoon que escancara as tensões raciais e de classe entre uma mãe negra e uma mãe branca rica nos Estados Unidos. A história mostra como privilégios moldam suas experiências de maneira desigual, impactando suas relações e seus filhos.
2. Histórias Cruzadas (2011) – Filme
Disponível em: Disney+
Explora a relação entre empregadas domésticas negras e suas patroas brancas nos anos 1960, nos Estados Unidos. O filme mostra tanto os laços de afeto quanto as desigualdades e humilhações sofridas pelas mulheres negras dentro do ambiente doméstico.
3. Estrelas Além do Tempo (2016) – Filme
Disponível em: Disney+
Baseado na história real de cientistas negras na NASA, o filme evidencia a desigualdade de gênero e raça dentro de um ambiente altamente masculino e branco. Mostra como as mulheres negras enfrentavam barreiras adicionais, enquanto algumas mulheres brancas podiam ser aliadas ou perpetuar a discriminação.
4. Falas Femininas: Mancha (2023) – Episódio da TV Globo
Disponível em: Globoplay
Parte da minissérie antológica Histórias (Im)Possíveis, dentro do Projeto Falas da TV Globo, o episódio Falas Femininas: Mancha explora a relação entre uma patroa branca e sua empregada doméstica negra. A trama destaca as complexidades dessa interação no Brasil, trazendo nuances das desigualdades e do racismo estrutural no ambiente de trabalho.
A Cor Púrpura (1985/2023) – Filme
Disponível em: Max
A Cor Púrpura (1985/2023), baseado no romance de Alice Walker, narra a trajetória de Celie, uma mulher negra no sul dos Estados Unidos no início do século XX, que enfrenta abusos e injustiças ao longo da vida. Entre os personagens marcantes está Sofia, interpretada por Oprah Winfrey e Danielle Brooks, uma mulher forte e destemida que se recusa a se submeter à opressão masculina e racista da sociedade.
Em uma sociedade onde o capitalismo insiste em transformar datas comemorativas em produtos de consumo, chegamos ao Dia das Mulheres – como se fosse o único. Recebemos flores, somos chamadas de guerreiras e ouvimos a mesma pataquada que já não suportamos mais. Mas aí eu me pergunto: esse “suposto”, ou melhor, “imposto” Dia das Mulheres realmente nos representa? Claro que não.
Como publicitária e sommelière, atuando há 22 anos no mercado de bebidas, raríssimas vezes vi meu rosto ou meu trabalho destacados em matérias comemorativas como as do 8 de março. E, para dizer a verdade, nem no Dia Nacional ou Internacional dos Sommeliers mulheres negras, indígenas e orientais são celebradas e têm suas atuações divulgadas – e muito menos a comunidade LGBTQIAPN+. Deve ser porque não costumamos ocupar esses espaços? Será mesmo? Claro que não.
Como li hoje na matéria da minha amiga e jornalista Isabelle Moreira Lima, no Guia da Folha de S.Paulo, as mulheres são protagonistas no mundo do vinho há algum tempo. E eu não só concordo, como vivencio isso diariamente. Sommelieres educadoras, consultoras e empreendedoras como eu estão por toda parte: comandando importadoras, atuando como consultoras comerciais, enólogas, agrônomas, jornalistas, blogueiras, influenciadoras e entusiastas. Estamos realizando um grande trabalho.
Agradeço a Isabelle por, através dessa matéria, me dar ânimo (porque sim, estou e estamos exaustas) para, do meu lugar de fala – como uma mulher afro-indígena e sommelière –, estender a mão e mandar um abraço afetuoso a todas as mulheres negras, indígenas, orientais e à comunidade LGBTQIAPN+ que atuam não só no mundo do vinho, mas também no mercado cervejeiro e na coquetelaria, onde também transito profissionalmente com muito orgulho.
Pode parecer pouco diante da realidade machista e racista que enfrentamos todos os dias. E é. Mas ainda assim, continuo acreditando que, talvez, neste dia, possamos lembrar da importância de darmos as mãos e nos fortalecermos diariamente. Porque todos os dias são nossos – e devem ser de todas nós.
E para quem ainda duvida da presença e da força das mulheres negras e indígenas no mundo do vinho, aqui estão algumas das muitas profissionais que fazem a diferença e que deveriam ser amplamente reconhecidas pelo seu trabalho: Eliane B Silva (@videwine), Raissa Cachoeira (@ellasvinhos), Lígia Aleixo (@lesvignoblesdedemain), Raquel Queiroz (@ra.queiroz), Erika Firmo (@sommelierikaf), Patrícia Penha (@patriciapenha_vinhos), Carol Souzah (@carousou_sommeliere), Márcia Alpaes (@marciapaes_sommelier), Antonia Cruz (@afrommeliere_), Manuelle de Oliveira (@entre_vinhas_vinhos), Rosangela Oliveira (@ro_oliveira75), Larissia Bezerra (@enotrajetoria), Aline Guedes (@chefalineguedes), Andrea Ferreira (@andrea.confraconstantia), Geíza Abreu (@uvizaa), Paula Theotonio (@paulatheotonio), Suely Cavalcanti (@suely.m.cavalcanti), Nivia Rodrigues (@confrariavinhonegro) e Luiza Dias (@cantindovinho).
Que este seja um lembrete de que estamos aqui, ocupamos esses espaços e seguimos construindo um mercado mais diverso e representativo.
Patricia Brentzel é sommelière, empresária e educadora afro-indígena com 21 anos de atuação no mercado de bebidas. Fundadora do Beba Bem e referência no vinho natural no Brasil, é apresentadora do podcast “Que Vinho Foi Esse?”.
Constantemente somos convidados a seguir em frente depois de um episódio de racismo. “Bola pra frente!”, “Você é mais forte do que isso!”, “Isso vai te fazer uma pessoa, ainda, mais forte!”, “Não liga pra isso!”. Estas são algumas das muitas frases que nós (e este texto eu vou me permitir escrever na primeira pessoa do plural) ouvimos cotidianamente. Ouvimos quando nos tratam como indivíduos suspeitos nas lojas, quando nos oferecem os elevadores ou entradas de serviços, quando nos confundem (afinal, pretos são todos iguais, para a branquitude, quando hipersexualizam nossos corpos, quando nos agridem, quando nos insultam, quando nos chamam de macacos e fazem gestos fazendo alusão ao mesmo animal).
Quando ao final do fatídico jogo de futebol entre Palmeiras e Cerro Porteño, pela Copa Libertadores da América, ocorrido ontem no Paraguai, o repórter esportivo pergunta ao jogador do Palmeiras Luighi acerca do que ele sentiu sobre o jogo, há ali um flagrante de algo denunciado por mim aqui há meses: a desumanização do homem negro. Esse mesmo jovem que chorou copiosamente após sofrer inúmeras violências durante aquela partida tem toda a sua dor anulada e é convidado a falar sobre o jogo de futebol.
Quantas vezes, caro leitor e cara leitora, depois de passar por uma situação de racismo, você teve que secar as suas lágrimas e performar estar bem? Se você é um homem ou uma mulher preta, eu sei que a resposta é “várias vezes”. Luighi desmascara a crueldade do racista, imediatamente. Luighi não é herói. E não podemos colocá-lo neste lugar. Ele é um jovem negro que foi violentado em inúmeros momentos naquele campo de futebol e desamparado por todos. Não havia ali outra alternativa para ele que não fosse gritar após tantas violências seguidas. O pacto da branquitude que faz com que todos se calem, naquele espaço faria a violência passar batida se não fosse o grito de Luighi. Não dava para ser violentado em mais um momento, naquele “show de horrores”.
O script ali estava posto “ainda que violentado, nos ofereça o espetáculo!”. É isso que a branquitude faz conosco desde sempre. Os homens negros que violentados fisicamente tinham que trabalhar, as mulheres negras que estupradas e violentadas de todas as formas tinham que trabalhar para a casa grande. Atualmente, mesmo que vivenciemos todas as dores e violências, precisamos chegar nos nossos trabalhos e “oferecer o show” esperado. O grito de Luighi é a solicitação para ser visto como gente. Como alguém que sofreu uma violência e, por isso, está destroçado. Até quando?
Se depender da nota do clube Cerro Porteño, não tem prazo para acabar. O time de futebol em nota pública disse que os jogadores não podem se importar com o que ocorre nas arquibancadas. Tratando o fato como algo simples e natural. O que não é! É racismo! E racismo é crime! Há tempos tenho dito que sempre que houver uma situação de racismo no futebol, a partida precisa ser interrompida na hora. É inaceitável!
Os impactos psicológicos do racismo nos acompanham por toda a vida. O que Luighi passou e o que nós vivenciamos no cotidiano precisa ser interrompido. A gente não aguenta mais! Esse era o grito de Luighi!
A plataformaMãesNegras do Brasil está anunciando os últimos ingressos disponíveis para o evento “Eu Sou Uma Mulher – Plantando Prosperidade”, um encontro que vai além da celebração do Dia Internacional da Mulher. O conjunto de atividades marca o início oficial do ciclo de 2025 para a plataforma e da programação de eventos.
O evento será realizado neste sábado, dia 08 de março, das 09h às 17h, no Edifício Corp Tower, em São Paulo, e também será transmitido de forma on-line para quem não puder estar presente no local.
As participantes terão a oportunidade de vivenciar uma programação especial, repleta de painéis, palestras inspiradoras, momentos de reconhecimento e networking. A programação inclui recepção com coffee break a partir das 08h30, abertura, apresentação institucional, palestra inspiracional, painel entre protagonistas, TED Talks, momento de reconhecimentos e uma verdadeira celebração final.
Além disso, o evento marcará o lançamento oficial do Mapa de Profissionais da MãesNegras do Brasil, uma plataforma dedicada a conectar e dar visibilidade a mulheres negras em diversas áreas do mercado de trabalho. O mapa será uma ferramenta essencial para ampliar as oportunidades de empregabilidade e negócios, fortalecendo ainda mais a presença dessas profissionais no cenário nacional. Acesse: www.maesnegrasdobrasil.com/protagonistas.
Segundo Thaís Lopes, CEO e fundadora da plataforma, o encontro será uma oportunidade de empoderamento coletivo e de resgate de força e ancestralidade para todas as mulheres presentes. “Enquanto mãesnegras, fazemos questão de celebrar nossa trajetória para reconhecer o legado que estamos construindo juntas, por meio da inovação social”, afirma.
O evento oferece oportunidades para marcas e empresas que desejam associar-se a uma iniciativa que valoriza a mulher negra, ganhar visibilidade e promover ativações, gerar conexões e oportunidades de negócios com profissionais mãesnegras, conectar propósitos comuns com a comunidade e fortalecer sua responsabilidade social corporativa. Empresas e pessoas interessadas também podem se tornar patrocinadoras do evento e ampliar seu impacto social.
Carnaval brasileiro de 2025 ficará marcado pelo esforço da branquitude em demonizar religiões de matriz africana e por tentativas de desassociar a festa, que no país possui profunda influência africana, dos temas afro, abordados nos sambas-enredos. A Unidos de Padre Miguel, escola de samba que retornou ao Grupo Especial do Carnaval do Rio após 52 anos, anunciou nesta sexta-feira (7) que entrará com recurso para contestar o rebaixamento sofrido durante a apuração do Carnaval deste ano. A agremiação, que levou para a Sapucaí um enredo sobre Iyá Nassô e o Axé da Casa Branca do Engenho Velho — considerado o mais antigo templo afro-brasileiro em funcionamento —, terminou em último lugar e foi rebaixada para a Série Ouro.
Um dos pontos de controvérsia foi a penalização de 0,1 ponto aplicada por um dos jurados, que justificou a decisão pelo “excesso de termos iorubás” no enredo. A crítica gerou reação imediata da escola, que respondeu em sua conta no X (antigo Twitter): “Esquecer nossa oralidade para atender a um acadêmico não negro não está nos planos da nossa escola”. Em nota oficial, a diretoria da Unidos de Padre Miguel afirmou que o resultado da apuração foi “inaceitável” e não refletiu o desfile apresentado na avenida. “Identificamos inconsistências graves, incluindo penalizações relacionadas a um problema técnico no caminhão de som, o que foge da responsabilidade da escola”, destacou o comunicado.
Outro jurado também descontou um décimo da pontuação, argumentando: “Em uma letra que exerce tamanha função na comunicação de palavras de matriz africana, a comunicação de palavras em língua portuguesa é decisiva para efeitos descritivos e/ou interpretativos do enredo”.
A agremiação ressaltou que o desfile foi “digno, vibrante e emocionante”, reconhecido pelo público e por entusiastas do Carnaval, mas que os jurados “não enxergaram da mesma forma”. A escola também afirmou que está reunindo documentos e evidências para embasar a contestação, com o objetivo de garantir uma apuração “justa e imparcial”.
“Nossa luta é por justiça e pelo reconhecimento do esforço incansável de nossa comunidade. Seguimos confiantes de que a verdade prevalecerá”, concluiu a nota.
O rebaixamento da Unidos de Padre Miguel ocorreu em um ano marcante para a escola, que celebrou a história e a resistência do terreiro de candomblé mais antigo do Brasil. Apesar do revés, a agremiação promete se reerguer. “O amor pelo samba e a garra de nossa comunidade são maiores do que qualquer resultado. Vamos voltar ainda mais fortes, porque o nosso lugar é no Grupo Especial”, afirmou a escola.
O caso reacendeu debates sobre a representatividade cultural e a valorização das raízes afro-brasileiras no Carnaval, além de questionamentos sobre os critérios de julgamento utilizados pelos avaliadores. Enquanto aguarda o desfecho do recurso, a Unidos de Padre Miguel mantém sua tradição viva e reafirma o compromisso com suas origens.