O livro “Coisa de Rico”, de Michel Alcoforado, oferece uma análise profunda e provocadora sobre a mentalidade, os códigos sociais e os privilégios que moldam a elite brasileira. A obra desmistifica o conceito de meritocracia e expõe as estruturas históricas, econômicas e raciais que sustentam as desigualdades no Brasil, desmontando o discurso de que a ascensão social é fruto exclusivo do esforço individual.
Alcoforado contextualiza essas discrepâncias desde o período colonial, quando a sociedade brasileira foi estruturada sobre bases escravocratas e patriarcais. Essa herança não apenas definiu quem detém o poder e os recursos, mas também perpetuou barreiras simbólicas e práticas que garantem a manutenção dessas estruturas de privilégio.
Um dos pilares explorados pelo autor é a questão racial, um elemento intrínseco e determinante na composição dessa elite. Para além da riqueza material, a noção de pertencer a esse grupo social — ou, como colocado por Alcoforado, “ser dele” — envolve códigos de comportamento, traços físicos, sobrenomes e acessos que estão, historicamente, vinculados a um padrão branco e europeu. Essa realidade evidencia como, em muitos casos, o discurso de “igualdade de oportunidades” não passa de uma narrativa conveniente.
Alcoforado ilustra como a elite brasileira limita e filtra o acesso a seus círculos, utilizando não apenas o capital econômico, mas também símbolos de pertencimento que excluem os corpos e histórias que não se alinham aos seus. Pessoas negras e de classes sociais menos privilegiadas enfrentam barreiras que vão desde processos seletivos enviesados até a constante necessidade de comprovar legitimidade em espaços nos quais sua presença é uma exceção.
Para mim, em minha atual posição profissional, a leitura ressoou de uma forma muito particular. Me deparei com a certeza de que “eu não sou uma deles”: não tenho as melhores roupas, não moro nos melhores bairros, não tenho o sobrenome, o mestrado ou o doutorado na University X ou Y. Sinto na pele a dificuldade de furar bolhas, uma barreira que se agrava ainda mais pelas lentes da raça e do gênero. Você pode estar se perguntando: isso acontece no Terceiro Setor? Sim, aqui mesmo, um ambiente que depende do Primeiro e do Segundo Setor, onde quem se destaca e consegue circular com fluidez e certeza de continuidade dos projetos vem “deles” ou é “apadrinhado” por eles.
A raça como código social de exclusão
No Brasil, ser “de rico” não é apenas ter dinheiro, mas circular e ser aceito por um grupo que historicamente se construiu em torno da herança branca e elitista. Michel Alcoforado explora características como tom de pele, sobrenome e formação educacional preferencialmente em instituições internacionais de prestígio que operam como marcadores de inclusão neste grupo. Enquanto isso, indivíduos negros e periféricos são frequentemente invisibilizados ou enfrentam um isolamento que transcende o aspecto econômico, abrangendo valores simbólicos e culturais.
O livro aponta que a “bolha” descrita pelo autor não é permeável pelo mérito individual. Pelo contrário, o acesso é restrito por critérios que remontam a séculos de desigualdade institucionalizada. Para quem vive fora da bolha, o caminho não apenas é mais árduo e solitário, mas também está repleto de obstáculos que exigem esforços contínuos de adaptação e resistência.
Um convite à reflexão e ação
“Coisa de Rico” é muito mais do que uma observação sobre a elite econômica brasileira; é um estudo sobre privilégios, exclusão e as dinâmicas de poder que moldam a sociedade. Michel Alcoforado nos lembra que repensar essas dinâmicas é essencial para a construção de um país mais justo e igualitário. O livro não apenas questiona quem detém o poder, mas provoca os leitores a refletirem sobre o papel que cada um desempenha nesse cenário.
Para quem busca compreender como raça e classe se entrelaçam na criação das desigualdades no Brasil, esta é uma leitura imprescindível. A obra provoca discussões essenciais para que as estruturas sejam não apenas analisadas, mas desafiadas. Afinal, o verdadeiro progresso exige uma tomada de consciência e ações concretas para romper com as bolhas sociais que Alcoforado tão bem descreve.
Fotos: Museu Histórico e Diplomático @palaciodoitamaratyrj
O Ministério das Relações Exteriores do Brasil concluiu a digitalização de documentos históricos do Museu Histórico e Diplomático, preservados pelo Arquivo Histórico do Itamaraty, lançando luz sobre uma das páginas mais marcantes da história brasileira: o tráfico transatlântico de pessoas escravizadas no século XIX.
O acervo reúne cerca de 50 metros lineares de registros — mais de 25 mil páginas — que detalham aproximadamente 160 navios negreiros interceptados por forças navais britânicas, brasileiras e de outros países. Esses casos foram julgados pela Comissão Mista de Combate ao Tráfico em Serra Leoa, que funcionou entre 1815 e meados do século XIX.
Os documentos oferecem informações sobre as condições a bordo das embarcações, além de estratégias jurídicas e políticas utilizadas para tentar legitimar o comércio de pessoas escravizadas. Hoje, servem como fonte essencial para pesquisadores das áreas de História, Direito, Relações Internacionais, Memória Social e Direitos Humanos.
A iniciativa de digitalização do Itamaraty cumpre um papel crucial: preservar a memória histórica, democratizar o acesso aos documentos e incentivar pesquisas sobre essa etapa fundamental da história da diáspora africana.
A Afroesporte, em parceria com a Betano, anunciou a 4ª edição do Afroesporte Fund – Edição Estrelas, o primeiro fundo de apoio ao empreendedorismo no setor esportivo voltado para atletas negros. O programa oferece bolsa mensal de R$ 6 mil, mentorias, acompanhamento psicológico e uma formação prática com duração de 12 meses.
As inscrições ficam abertas de 8 a 21 de setembro de 2025, pelo site da Afroesporte, e são voltadas para atletas negros de alto rendimento, com 18 anos ou mais, de todo o país. Os candidatos devem ter disponibilidade para estar em São Paulo (capital) ao menos cinco vezes ao longo do projeto, especialmente atletas que desejam empreender no setor esportivo e ampliar presença digital.
Estrutura que garante permanência
Mais que apoio financeiro, o programa combina infraestrutura de permanência: bolsa mensal, mentorias e rede de suporte. “Num momento em que tantas marcas descontinuam times de diversidade, ter a Betano como parceira no combate ao racismo é ousado e inovador. Muitos atletas desistem por falta de condições, e sermos pioneiros em um programa que garante permanência com bolsa é uma conquista histórica”, afirma Mia Lopes, CEO da Afroesporte.
A iniciativa busca enfrentar um desafio estrutural: segundo pesquisa Esportes para Todos? (Serasa/Opinion Box), 39% dos atletas precisam trabalhar fora do esporte para se manter, e 32% apontam a falta de incentivos financeiros como obstáculo à carreira.
Quem avalia
A banca do júri reúne nomes de destaque no esporte e na comunicação, como Rafaela Silva, Fofão, Márcia Fu, Negrete, Neide Santos e Diego Moraes, além de especialistas da Afroesporte e da Betano.
Compromisso com reparação
Para a Betano, o apoio é um passo estratégico. “Sabemos quanto potencial pode ser desperdiçado por falta de apoio e acesso. Se queremos ser os grandes patrocinadores do esporte brasileiro, é preciso também que iniciemos ações que combatam desigualdades históricas”, destaca Fernanda Brunsizian, diretora de Comunicação e Responsabilidade Social da Betano.
Serviço — Afroesporte Fund (4ª edição)
Inscrições: 08 a 21 de setembro de 2025
Resultado: 01 de outubro de 2025
Aula de boas-vindas: 18 de outubro de 2025
Encerramento: 03 de outubro de 2026
Vagas: 10 atletas negros de alto rendimento
Benefícios: bolsa mensal de R$6.000, mentoria financeira, media training, acompanhamento psicológico, kit de boas-vindas e certificado
Formação: masterclasses ao vivo quinzenais (sábados, 13h–18h) nos cinco módulos temáticos
Kananda Eller, conhecida nas redes sociais como Deusa Cientista, tem aproximado a ciência de pessoas negras e periféricas. Somando mais de 500 mil seguidores no Instagram e no TikTok, a química e mestra em Ensino de Ciências Ambientais pela USP, explica que seu objetivo é mostrar que a ciência “faz parte da história delas e que elas podem se apropriar desse conhecimento para mudar a qualidade de vida delas”, disse em entrevista ao Mundo Negro.
Desde o início da pandemia de covid-19, em 2020, Kananda ampliou seu conhecimento para as redes, levando informações científicas de forma acessível e descolonizada para comunidades que historicamente foram excluídas desse campo. “Trazer referências de intelectuais negros para alimentar o imaginário coletivo das pessoas negras de que elas são intelectuais, foi o que me fez ir pra internet.”
Além de trazer referências de pesquisadores negros, Kananda mostra como a química está presente no cotidiano, por exemplo, desmistificando produtos usados na desinfecção de alimentos e compartilhando dicas práticas para a rotina em casa.
Recentemente, ela entrevistou a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, onde conversaram sobre o retrocesso da PL da Devastação, o perigo do Brasil para os ambientalistas, e a vulnerabilidade social das comunidades tradicionais. O encontro será disponibilizado em breve nas redes sociais da influenciadora.
Leia a nossa entrevista completa abaixo:
MN: Como surgiu a ideia de tornar a ciência um território de representatividade, especialmente para pessoas negras e periféricas, nas redes sociais?
Deusa Cientista: A ideia de tornar-se acessível para pessoas negras e para comunidades periféricas surge assim, foi um processo. Eu tinha acabado de me formar em química, eu tinha estudado sobre formação de professor de química e como os professores relacionavam química com essas discussões raciais e eu me deparei com muitas discussões sobre racismo científico. Então eu percebi que o meu lugar seria muito mais interessante na internet do que na sala de aula, porque eu conseguiria trazer referências para professores e consequentemente também pra comunidade negra, pra comunidade periférica de como discutir a ciência para nossa comunidade. E aí quando veio a pandemia, foi aquele momento em que todo mundo tava falando sobre ciência, né? A maioria das pessoas da minha própria comunidade também vinham até mim, querendo entender sobre o que estava acontecendo, e eu comecei a fazer esse trabalho de aproximação da ciência das pessoas para que elas entendam que isso é algo que faz parte delas, faz parte da história delas e que elas podem se apropriar desse conhecimento para mudar a qualidade de vida delas. Durante a pandemia, a maioria dos divulgadores científicos, até hoje, essa comunidade ainda é muito branca. Então, trazer referências de intelectuais negros para alimentar o imaginário coletivo das pessoas negras de que elas são intelectuais, que houveram muitos intelectuais e que elas podem continuar produzindo conhecimento para que a gente não morra dentro desse lugar do pensar, do escrever, foi o que me fez ir pra internet.
MN: Durante esse período enquanto cientista e criadora de conteúdo, houve algum momento mais específico que para você reforçou a importância da divulgação científica de forma acessível?
Deusa Cientista: Eu venho de uma trajetória que eu sou do subúrbio de Salvador em Plataforma. Lá eu tinha um pré-vestibular social e nesse pré-vestibular social, a gente dava aula para que os estudantes pudessem acessar as universidades. Eram aulas gratuitas. Eu era professora de química, me formei assim como professora na prática. Nesse pré-vestibular, isso foi muito marcante para a minha trajetória. Quando eu fui para a internet, eu entendi que o meu lugar estava mais no lugar de trabalhar para essa opção pública, de ajudar, compartilhar ou trabalhar junto com a cultura do país, de trazer pro imaginário coletivo das pessoas essa ideia sobre essa ciência na perspectiva acessível, descolonizada. E eu vou para diversos lugares para fazer isso, para as escolas públicas. Até nas universidades públicas, porque isso não é uma coisa que a gente aprende na universidade. Se a gente aprendesse, eu não teria estudado isso fora dela, eu teria estudado dentro da universidade. Já fui para espaços, onde jovens, adolescentes, cumprem medidas socioeducativas para falar sobre ciência, para falar sobre esse imaginário, trazer referências de representatividade para essas pessoas e tornar a ciência mais acessível. Até a forma, a linguagem que eu utilizo, tudo isso são estratégias que eu vou usando para deixar as coisas mais fáceis, para mostrar que não é um bicho sete de cabeça, para tornar a ciência mais próxima das pessoas. Porque a ciência, essa ciência ocidental, ela se colocou muito no pedestal, ela se distanciou da comunidade. E isso espalha muito a gente, né, em cenários, por exemplo, como foi a pandemia, em que ficou fácil também desconfiar da ciência em alguns momentos do movimento antivacina, muita desinformação, muitas notícias falsas. Então, quando a gente tá próximo, quando a gente entende como que é, quando a gente entende que a gente faz parte disso também, fica muito mais fácil de se trabalhar junto com a população, que hoje no Brasil é maioria negra.
MN: Como enxerga o papel da ciência na luta por equidade e inclusão social?
Deusa Cientista: Eu acredito que a ciência, a filosofia, ela pensa e teoriza muito as formas da gente se comportar, viver no mundo. Então, a ciência é muito importante para que a gente consiga melhorar a qualidade de vida das pessoas, para que a gente tenha uma sociedade mais equânime. Então, pensar uma ciência que sirva ao povo, pensar uma ciência que traga respostas pro povo. Eu vejo, por exemplo, uma vez eu estive no Rio Grande do Sul para fazer uma palestra na universidade lá e aí tinha uma mãe de santo de uma ilha em Porto Alegre. E antes de acontecer o desastre ambiental, a casa dela já tinha sido inundada. Ela tava mostrando lá na universidade Unisinos, como que a casa dela estava inundada, a água passava, chegava perto do topo da geladeira. E ela falou assim: “Cadê a ciência que não tava aqui para me avisar que a casa ia alagar?” Então assim, quando a gente tem a inserção de jovens negros nas universidades, jovens, adultos, mais velhos, nas universidades, a gente tem uma demanda maior pela discussão sobre a comunidade negra que era esquecida pela ciência. Então, se a gente não tem dados sobre a comunidade negra que discrimine, que entenda que as pessoas negras são mais afetadas em termos de saúde, educação, aprendizagem, qualidade de vida, impactos ambientais, a gente não vai ter como criar políticas para essa comunidade, porque ela é invisível aos dados científicos e invisível ao que a gente tá pensando. Se a gente não sabe, a gente não tem como resolver o problema. Então, a ciência tem que partir desse princípio, de entender, de não negar mais a existência de pessoas negras, tanto na produção de conhecimento científico quanto nos dados, de não usar os nossos corpos como objeto, como a eugenia fez, de usar os corpos de pessoas negras como objeto e trazer respostas para ciência e fingir que aquelas pessoas não existem ou que não eram pessoas. E a gente precisa ter muito cuidado porque isso ainda acontece hoje em outra proporção. Então, a ciência vai trazer mais qualidade de vida para as pessoas, ela vai trazer mais dados e respostas para que a gente consiga trazer uma qualidade de vida e uma vida plena para as pessoas negras.
MN: Que impacto você percebe que seus conteúdos tem na autoestima e no senso de pertencimento de cientistas negros e negras?
Deusa Cientista: A gente costuma estudar no marketing o público alvo e os públicos que a gente tá atingindo, mas eu sou muito feliz de ver que tem crianças e tem idosas e tem pessoas da minha idade que se afinam e que são impactadas com o meu conteúdo. Então as crianças conseguem criar no imaginário dela a existência de cientistas negras. E isso faz elas terem orgulho de quem elas são. Não veem elas mais somente com a corda no pescoço quando aparece nos livros didáticos, na aula de história durante a escravidão e acabou. Elas sabem que existe uma perspectiva de futuro para elas e que elas fazem parte desse futuro. Para muitas mulheres mais velhas, elas veem o quanto os sonhos se passaram pela frente delas por causa da violência do racismo, do machismo, enfim. Então, quando elas veem, elas falam assim: “Ah, eu quero voltar para a universidade”. Já vi muitas histórias de pessoas que falaram que estavam voltando pra universidade depois que viram o meu conteúdo. Para as pessoas que estão ainda na universidade, elas também são violentadas até hoje. Porque esse processo de desigualdade, de poucos orientadores negros, de não ter um letramento racial nesses espaços, existe uma disputa muito grande. Isso afeta a nossa autoestima, afeta a nossa vontade de permanecer, afeta a nossa vontade de pesquisar sobre nós mesmas. Então, quando você entende que o que você pensa, o que você vive é válido, é importante, existem pessoas que estão fazendo isso também, a gente se sente forte, a gente se sente capaz de continuar a nossa história, dar continuidade ao que a nossa ancestralidade fez. Então, eu sinto que é sempre um reforço dessa autoestima, o meu conteúdo para comunidade negra.
5 – Recentemente, você entrevistou a ministra Marina Silva. Como surgiu essa oportunidade e que reflexões você trouxe neste contato com a Ministra do Meio Ambiente?
O convite chegou através da comunicação do governo federal brasileiro e eles chamaram alguns influenciadores para fazer uma série de vídeos entrevistando a ministra Marina Silva e vai lá no perfil deles, no nosso. Foi um momento muito enriquecedor, a ministra Marina Silva tem uma trajetória longa na política e ela é muito profunda nas coisas, tudo o que ela vive. Ao mesmo tempo muito poética e muito conhecedora assim do trabalho de base, da política real e enfim de outros setores da sociedade no geral. A minha pergunta com ela foi com foco na educação para falar um pouco sobre a PL da Devastação que foi um retrocesso no Brasil, falar um pouco sobre desmatamento. Para finalizar, eu falei sobre o Brasil ser um país perigoso para os ambientalistas. Eu trouxe essa discussão junto com ela, que ela também entende e reafirma isso no discurso, dos indígenas, das comunidades quilombolas, dos catadores de materiais recicláveis, que são as pessoas que estão na base mesmo dessa discussão da sustentabilidade, do meio ambiente, e que são em sua maioria negros, indígenas, pessoas em vulnerabilidade social muitas vezes, porque elas nem sempre, essas comunidades tradicionais, estão em vulnerabilidade social, mas elas subsistem muitas vezes sem o apoio das políticas. E quando a gente tem um impacto os impactos ambientais chegam primeiro. Então eu pude discutir com ela sobre esse presente, porque quando a gente vai falar sobre sustentabilidade, fala muito que o planeta vai aquecer, que o nível da água do mar vai subir. Só que quando a gente vai falar sobre essas comunidades tradicionais, elas já estão vivendo isso agora. São comunidades que muitas vezes moram em territórios que ofertam água para cidades, para lugares onde o bioma já foi altamente devastado, e eles vivem uma lógica de existência ali que preserva esse meio ambiente. Mas ao mesmo tempo é muito comum você ver regiões, territórios assim que muitas vezes fornece a água para as cidades urbanas, os centros urbanos e as capitais, e que existe ali uma falta de água, uma escassez. Então, toda essa contradição da desigualdade social e do desequilíbrio ambiental. Então, quando a gente olha para a parte social, o desequilíbrio ambiental também tá aí nessa desigualdade. E foi isso que eu pude conversar com ela, tentei trazer esses aspectos.
Se as questões econômicas atravessam a todos nós, a diversidade e a expansão das políticas de inclusão também deveriam
Muito se tem falado sobre diversidade e inclusão nos últimos anos, especialmente nos contextos corporativo e acadêmico. Entretanto, uma pergunta essencial precisa ser feita: a quem, de fato, interessa a diversidade? Quem tem se articulado para que as políticas avancem para além do discurso e gerem impacto real na vida das pessoas e na economia do país?
Há quem pense que a diversidade é apenas uma pauta social, voltada a grupos historicamente marginalizados. Porém, ao observarmos os impactos econômicos e sociais da inclusão, percebemos que seu alcance é coletivo.
Estudos internacionais, como os da consultoria McKinsey, mostram que empresas com maior diversidade racial e de gênero são mais inovadoras e lucrativas. Isso ocorre porque diferentes experiências de vida ampliam a criatividade, aprimoram a resolução de problemas e fortalecem a capacidade de adaptação em mercados dinâmicos.
As pesquisas têm nos levado a uma reflexão: a diversidade como motor econômico. Sendo assim, precisamos sair da estagnação e partir para a ação. Não há o que discutir: somos múltiplos e precisamos de soluções que se materializem de acordo com a sociedade em que vivemos.
Economia, inclusão e as políticas de diversidade na sociedade contemporânea
Adriana Barbosa (Foto: Tiago Simas)
Adriana Barbosa, diretora executiva do Preta Hub, CEO e fundadora do maior evento de cultura e empreendedorismo negro da América Latina — o Festival Feira Preta —, tem sentido na pele as dificuldades impostas pela falta de investimentos estruturados e de políticas públicas consistentes. Esse vácuo limita o avanço do fomento e impede que a potência criativa e empreendedora da população negra se traduza em impacto pleno para a economia e para o futuro do país.
“As mudanças políticas no Brasil expõem uma disputa de projetos: enquanto alguns avançam na agenda de equidade racial, outros insistem em retrocessos que aprofundam a desigualdade. Para a população negra, cada decisão do Estado é também uma disputa de vida e de futuro”, afirma a CEO do Festival Feira Preta.
No Brasil, 56% da população — pessoas pretas e pardas — enfrenta barreiras persistentes no mercado, seja como empresárias, empreendedoras ou colaboradoras. Para esse grupo, o motor econômico está diretamente ligado à oportunidade.
Um exemplo é o Festival Feira Preta, que existe há mais de vinte anos e, em sua última edição, injetou cerca de R$ 14 milhões na economia — segundo dados da organização —, beneficiando diretamente 170 empreendedores negros e gerando aproximadamente 600 empregos temporários. Contudo, em 2025, o evento foi adiado por falta de patrocínio, o que evidencia a fragilidade do apoio financeiro a iniciativas que impulsionam a economia negra e a cultura empreendedora no país.
O potencial transformador do evento deveria ser motivo suficiente para sua expansão. No entanto, o hiato em sua realização representa não apenas a ausência de uma celebração cultural, mas também a invisibilidade de uma cadeia inteira de empreendedores, artistas, veículos de mídia e influenciadores negros. Essa interrupção fragiliza iniciativas que poderiam se articular de forma mais ampla para promover a autonomia financeira e fortalecer o protagonismo da população negra.
Construir uma sociedade mais justa e sustentável não é tarefa apenas de talentos negros. É também responsabilidade das empresas que querem crescer, dos governos que buscam estabilidade e da sociedade que almeja equidade. Para que mulheres, pessoas negras, indígenas, pessoas com deficiência e outros grupos tenham acesso a trabalho digno, educação e consumo, é necessário o engajamento de toda a sociedade.
O erro está em tratar a diversidade como um tema de nicho. Na realidade, ela constitui uma agenda de desenvolvimento nacional. A expansão das políticas de inclusão não apenas atende minorias, mas reposiciona o Brasil em termos de inovação, justiça social e prosperidade econômica.
Portanto, a diversidade interessa a mim, a você e a todos nós!
Lizzo falou sobre o relacionamento com o comediante e músico Myke Wright em entrevista à New York Magazine, publicada nesta segunda-feira (8). A cantora compartilhou sobre a intimidade da relação e destacou o quanto se sente apoiada pelo parceiro.
“Sou muito grata por ter alguém que me apoia muito, que não me pede nada, nem precisa de nada de mim”, afirmou. Brincando com o início da relação, Lizzo disse que a história deles é um clichê de “amigos que viram amantes — ou talvez inimigos que viram amantes”.
Durante a entrevista, a reportagem descreveu o momento que Wright se juntou a Lizzo em uma sessão de violão improvisada. A artista acompanhou a canção ‘Love in Real Life’ e foi recebida com aplausos e elogios do namorado.
Lizzo e Wright se conheceram em 2016, quando coapresentavam o programa musical ‘Wonderland’, da MTV. Os rumores de romance começaram em 2021, após serem vistos juntos em Los Angeles. A confirmação veio em abril de 2022, e em junho o casal fez sua primeira aparição pública no tapete vermelho durante um evento do reality ‘Watch Out for the Big Grrrls’, da Amazon Prime.
Desde então, Lizzo não esconde a intensidade do relacionamento. Em entrevista à Vanity Fair, em novembro de 2022, ela disse que acredita em uma parceria duradoura: “As pessoas lutam pela monogamia como se rezassem por ela todos os dias. Eu não sou uma pessoa poliamorosa, não estou apaixonada por múltiplos parceiros. Isso não é comigo. Ele [Wright] é o amor da minha vida. Somos companheiros para a vida toda”.
A artista também já refletiu sobre casamento: “Será que eu quero me casar? Se eu quisesse abrir um negócio com ele, eu me casaria, porque é aí que as finanças se encaixam”, disse.
Os Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP) — Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné-Bissau e São Tomé e Príncipe — compartilham com o Brasil muito mais do que a língua. Música, dança, culinária, religiosidade e trajetórias históricas atravessam séculos, evidenciando laços que vão além do passado colonial. Ainda assim, no imaginário brasileiro, essas conexões permanecem invisíveis.
Em artigo publicado no Bantumen, a pesquisadora e escritora Jamila Pereira (@millie_gp) evidencia essa desconexão:
“90% dos brasileiros com quem interagi não fazia a mínima ideia de que, para além de Angola, existem outros países africanos que igualmente partilham a língua portuguesa.”
A observação de Jamila revela um padrão recorrente: o Brasil, mesmo carregando uma herança cultural africana tão profunda, privilegia referências distantes ou fantasiosas da África, apagando da memória coletiva as histórias contemporâneas dos PALOP. Essa ausência de conhecimento gera desconexão e uma sensação de não pertencimento para quem vem desses países, mesmo que conheça o Brasil profundamente.
A caboverdiana Karen (@eukarenpacheco) também critica essa percepção:
“Se dá muito mais atenção numa África que não existe, que é Wakanda, e você ignora uma África que existe, que é muito mais interessante.”
O problema não é apenas acadêmico ou midiático. Ele é simbólico e social: invisibilizar os PALOP significa negligenciar as pontes culturais que poderiam enriquecer o debate sobre Africanidade no Brasil. Língua, tradições, música, dança e experiências sociais compartilhadas não são apenas curiosidades; são formas de resistência, identidade e pertencimento.
Reconhecer e valorizar esses laços é essencial para construir diásporas mais fortes e conexões genuínas entre Brasil e África. Expandir a visão da Africanidade no país implica incluir os PALOP na educação, na mídia e na cultura cotidiana, transformando invisibilidade em presença e curiosidade em conhecimento.
O desafio está lançado: olhar para África como ela é — diversa, plural, viva — e reconhecer que os PALOP não são apenas parceiros históricos, mas protagonistas de uma Africanidade que pulsa no Brasil, muitas vezes ignorada, mas sempre presente.
O governo do Quênia anunciou um investimento de US$ 3,9 milhões (cerca de Ksh 500 milhões) para disputar a primeira Academia Africana do Grammy, iniciativa inédita que visa impulsionar a indústria musical e cultural do continente. O país se posiciona como candidato a receber um hub permanente da Recording Academy, reforçando seu compromisso com o desenvolvimento da música africana e a formação de novos talentos.
Ao contrário do que muitos imaginaram, o valor não se refere à realização da cerimônia anual do Grammy Awards, que continua ocorrendo nos Estados Unidos. O investimento destina-se à criação de uma base oficial da Recording Academy na África, um centro voltado para treinar artistas, fortalecer a infraestrutura criativa e conectar talentos africanos às redes internacionais do setor musical.
O espaço proposto para o projeto é o Konza Technopolis, cidade inteligente em construção a 60 km de Nairóbi. Lá, a Academia Africana do Grammy poderá oferecer cursos, workshops, apoio a produção musical e oportunidades de networking que colocarão o continente em destaque no cenário global da música.
Segundo o governo, o valor pago representa um depósito de candidatura. Caso o Quênia não seja escolhido como sede — concorrendo com países como Nigéria e África do Sul —, o montante será devolvido. Mesmo assim, a iniciativa já sinaliza a determinação do país em ocupar um papel central na indústria criativa africana.
Para o Quênia, sediar a Academia Africana do Grammy significa mais do que status internacional: é um passo estratégico para fortalecer a economia criativa, gerar empregos e ampliar a visibilidade da música africana. A medida pode se tornar um marco histórico, posicionando o continente como protagonista no mercado global de entretenimento.
Apesar do entusiasmo, alguns críticos questionam o momento do investimento, argumentando que existem demandas urgentes em outras áreas. Ainda assim, a decisão do Quênia evidencia uma visão de futuro voltada para a valorização da cultura e do talento africano, mostrando que o continente está pronto para escrever seu próprio capítulo na história da música mundial.
Acusado de racismo contraTaís Araujo, o empresário Celso Henrique de Oliveira Yamashita terá seu passaporte bloqueado e apreendido pela Justiça de São Paulo. A decisão também se estende a documentos em nome de Musashi Henrique de Oliveira Yamashita, identidade que ele teria adotado recentemente. A informação é do blog Rogério Gentile do UOL.
O caso teve início em abril de 2022, quando Yamashita escreveu em um grupo de WhatsApp de um condomínio em São José do Rio Preto (SP) a frase: “É uma infeliz. Maldita Princesa Isabel”, em reação a um vídeo em que a atriz criticava o então presidente Jair Bolsonaro. O Ministério Público reconheceu que a fala se configura no crime de racismo, já que faz referência contra a abolição da escravidão e sugere que pessoas negras não teriam o direito de se posicionar caso a Lei Áurea não tivesse sido assinada.
A denúncia foi aceita em julho de 2023 pela juíza Maria Letícia Buassi, que abriu processo penal contra o empresário, já condenado por homicídio em 1993. Desde então, Yamashita não foi localizado para citação. O promotor Fabio Miskulim apontou que o acusado estaria viajando com frequência ao Japão, o que motivou o pedido de bloqueio do passaporte.
Na defesa, o advogado Mamede Neto tentou relativizar o caso, descrevendo a frase como uma “brincadeira de bom humor”, classificando a denúncia no Ministério Público como “exagero” e se referindo ao morador que denunciou como “alguém desocupado”.
O juiz Eduardo Albuquerque acatou o pedido do Ministério Público e determinou a apreensão do documento, reforçando que a medida impede Yamashita de entrar ou sair do Brasil sem ser citado no processo.
Billy Porter, ator da série ‘Pose’ e estrela da peça ‘Cabaret’ na Broadway, foi diagnosticado com um caso grave de sepse, condição séria em que o corpo reage de forma extrema a uma infecção e pode comprometer o funcionamento de órgãos vitais. Por orientação médica, o ator precisará de uma agenda de descanso, o que levou a produção a encerrar o espetáculo em 21 de setembro, quase um mês antes do previsto.
De acordo com a Clínica Mayo, a sepse ocorre quando os processos de defesa do corpo se voltam contra ele próprio, exigindo tratamento imediato e podendo representar risco de vida. Apesar da gravidade, os médicos afirmam que Porter deve se recuperar totalmente.
“Billy foi um ‘Mestre de Cerimônias’ extraordinário, trazendo sua paixão característica e talento notável. Desejamos a Billy uma rápida recuperação e estou ansioso para trabalhar com ele novamente em um futuro muito próximo”, disse o produtor Adam Speers ao anunciar neste domingo (7) o encerramento antecipado da temporada.
Inicialmente, Porter e Marisha Wallace (Sally Bowles) ficariam no elenco até 19 de outubro. Agora, Wallace seguirá no papel até a nova data de fechamento, marcada para 21 de setembro.