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Aluno de 14 anos sofre racismo em campeonato escolar, em São Paulo

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Foto: Divulgação

Na última sexta-feira (12), um menino de 14 anos foi alvo de atos racistas enquanto participava do campeonato de interclasses no Instituto de Ensino São Francisco de Assis (IESFA), colégio particular localizado na zona sul de São Paulo. 

O adolescente estava jogando uma partida de futebol no campeonato escolar na IESFA, no Jardim São Luís, quando alunos nas arquibancadas começaram a chamá-lo de “macaco”. No momento do ato, ele não percebeu, mas após o final do jogo colegas o informaram sobre o ocorrido e mostraram o vídeo para ele, que logo entrou em contato com os pais e a coordenação da escola. As informações são do Ponte Jornalismo.

“Ele ficou inconsolável, caiu no choro, foi uma comoção”, revelou a irmã dele, Vitória Roberta Ribeiro, 21. Ela contou também que a escola disse que acharia os responsáveis e que era para eles irem para casa. “A escola conversou com meus pais e disse que iria levantar os nomes dos responsáveis, apurar os vídeos gravados e pediram para ele ir para casa porque isso ia se resolver depois”, disse.

“É extremamente doloroso porque meu irmão é uma pessoa extremamente apaixonada por futebol, pelo Corinthians, muito alegre, muito querido na escola, muito amado (…) Esse é um colégio particular, numa região periférica, mas com pessoas com mentalidade extremamente elitista e que já teve histórico de outros casos de racismo”, desabafou a irmã.

Para a Ponte, o aluno contou que em cinco anos que estuda na IESFA, essa foi a primeira “situação explícita” de racismo que viveu. “Na hora, eu liguei para a minha mãe, fui na coordenação. Eles conversaram comigo, disseram que iam ajudar, mas até agora nada concreto”, contou o aluno. Ele garante que vai continuar indo para escola. “Voltar [para escola] eu vou, porque eu recebi muito apoio de muita gente, mas não quero que isso aconteça com amigos meus e nem que a minha família fique abalada de novo com isso”.

Após todo o ocorrido, a escola emitiu uma nota pelo Instagram dizendo que rejeita qualquer tipo de discriminação e logo após o ocorrido atendeu as familias e colocou seu corpo juridico à disposição. 

“Sobre o fato ocorrido em nossas dependências entre alunos durante uma competição esportiva em 12 de maio, informamos que logo após o ocorrido atendemos as famílias e colocamos nosso corpo jurídico à disposição delas”, disse em nota. 

Mas diferente do que a nota diz, a família revelou que não receberam nenhum apoio. “O advogado que conseguimos é particular. Nem apoio psicológico tivemos”, disse Vitória. A família vai registrar um boletim de ocorrência nesta segunda-feira (15).

Jovem acusa shopping de Fortaleza de racismo após ser expulso do estabelecimento

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Foto: Reprodução

Um rapaz negro, de 26 anos, está acusando um shopping de Fortaleza, no Ceará, de racismo após ter sido expulso por seguranças do local na noite do último sábado (13). O estabelecimento alega que a expulsão foi realizada por suspeita de importunação sexual.

Familiares e amigos que acompanhavam Tomas Michael da Silva Adewoye filmaram a ação dos seguranças do shopping Benfica, que imobilizaram o rapaz pelas costas e levaram à força para fora do shopping enquanto outros seguranças afastavam as pessoas do local. Tomas registrou boletim de ocorrência no 34ª DP na manhã do último domingo, 14. 

O shopping emitiu uma nota alegando que vai apurar as imagens e que chamou o jovem para ouvir sua versão, mas afirmou que um dos seguranças acusou Tomas de gravar mulheres em seu celular. 

O comunicado dizia que a ação “Foi necessária a reação para controlar agressões, a fim de preservar a integridade de todos: envolvidos e os demais que não tinham participação no fato ocorrido”. 

Tomas, que é de São Paulo, nega as acusações e diz que foi xingado durante a ação dos seguranças. Ele conta que teve hematomas no pescoço após ser imobilizado com um mata-leão.

O rapaz havia ido ao shopping com amigos e familiares para fazer compras. “Eu fui pro shopping para passar a tarde com dois amigos. Minha mãe e as esposas deles estavam também, só que no andar debaixo fazendo compras. Desde que a gente chegou no shopping nós três [ele e os amigos], os seguranças estavam atrás de nós, acompanhando até o banheiro, praça de alimentação. Eu gravei tudo”, explicou em entrevista para o portal g1.

“Parei para beber uma cerveja e fiz vídeos de mim mesmo para câmera, não filmei ninguém. Já tinha percebido que estava sendo vigiado por três seguranças. Não fiz nada e quase fui para a delegacia por importunação sexual”, contou o jovem. 

Segundo a Polícia Militar, ao chegar no local após ser chamada para atender uma ocorrência de desordem, os agentes foram informados que um indivíduo havia cometido importunação sexual contra uma mulher. Segundo a PM, a suposta mulher que havia feito a acusação não estava mais no shopping quando os policiais chegaram no local.

Tomas conta que durante a discussão com os seguranças do shopping, uma mulher teria se apresentado e dito que não gostou da forma como ele teria olhado para as filhas dela. Ele nega que tenha tido contato com a mulher e suas filhas. “Tentaram colocar como importunação para justificar os atos. Eu estava com amigos, minha mãe, família, não olhei nem falei com ninguém a não ser meus amigos”, disse.

O rapaz foi quem acionou a Polícia Militar e disse que mesmo assim, os policiais não deram tanta atenção. Um boletim de ocorrência foi registrado.

De acordo com a Secretaria da Segurança Pública, um boletim de ocorrência registrado no 34º Distrito Policial, foi transferido para a Delegacia de Repressão aos Crimes por Discriminação Racial, Religiosa ou Orientação Sexual (Decrin), unidade que dará prosseguimento às investigações.

“O que importa é a história que estou contando e o espaço que estou conquistando”: Larissa Nunes fala sobre o seu crescimento no audiovisual

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Foto: Lorena Dini

Larissa Nunes, 27, começou sua carreira artística em 2010 e a cada ano que passa conquista mais e mais espaço no audiovisual. Ela começou a ganhar espaço em “Coisa Mais Linda”, da Netflix, e hoje é a protagonista de “Americana”, da Star+, que está sendo gravada no interior de São Paulo.

Em uma entrevista exclusiva ao Mundo Negro, Larissa falou sobre sua personagem Sebastiana, em “Americana”, e sobre o destaque que vem ganhando nos últimos trabalhos.

“O que importa é a história que estou contando e o espaço que estou conquistando”. Com quase 13 anos de carreira, nos últimos tempos Larissa vem conquistando papéis relevantes. Em 2022, ela interpretou Letícia Carvalho, na novela “Além da Ilusão”, da Globo, e também a “Cleusa”, na série “Rei da TV”, da Star+.

Para a atriz, que tem a maioria dos seus trabalhos no streaming, trabalhar em uma novela foi um sonho realizado. “Sempre quis fazer novelas, sempre me encantei pelo universo da dramaturgia, acessível, aquela que todo mundo vê, que todos os públicos acompanham. Então para mim foi a primeira vez que eu tive algum tipo de visibilidade que pudesse ir além do público específico que o streaming me traz, que é interessantíssimo”, disse Larissa que também mencionou que não tem preferência: “Eu sou do streaming, da TV, eu sou de onde me chamarem (risos).”

Sebastiana, personagem de Larissa em Americana, é uma mulher inteligente e a frente do seu tempo, que sem saber foi um experimento social da sua ex-proprietária, ela aprendeu idiomas, matemática, estratégia e piano. Em Americana, onde vive confederados da Guerra Civil nos EUA, ela e seu atual proprietário, Tobias, vão investigar a morte de um menino indígena. 

“É uma investigação que ela acaba chegando nela mesmo, porque ela começa encontrar umas figuras na cidade, como por exemplo, o Benedito, que é interpretado por David Junior, que é um rapaz preto que também tem um lugar bem ousado e acaba despertando coisas e questões que nunca tinha vivido antes. É uma história que fala de descobertas, investigações, fala sobre muitas coisas (risos). Eu acho que tem a ver com uma jornada consigo mesma para se encontrar”, revelou a atriz.

Para Larissa, o tempo que estamos vivendo, com diversos protagonistas negros, nunca aconteceu antes. Mas ainda é preciso continuar se qualificando para “mostrar pra que realmente a gente veio”. 

“A medida que a demanda está aumentando a gente precisa se qualificar mais, mostrar pra que realmente a gente veio e é isso que estou tentando fazer nessa série, é isso que quero fazer nos próximos trabalhos e naquilo que eu me propuser a fazer. Eu acho que protagonismo é muito importante, tem lugares que muitas mulheres precisaram ir primeiro, como Zezé Motta, para estarmos aqui, agora temos o compromisso, uma responsabilidade no momento que a gente se torna protagonista, de contar a história com a magia e dignidade que ela deve ter. E cada uma encontrar a sua maneira de contar suas histórias. Pra mim tem sido isso”, disse a atriz.

Leia a entrevista completa a seguir:

Mundo Negro – Você já viveu vários papéis em diversos projetos, como Coisa Mais Linda e 3%, da Netflix, a novela Além da Ilusão, da Globo e Rei da TV, da Star+. Para você, como mulher negra, as portas estão se abrindo cada dia mais?

Larissa Nunes: Eu acho que hoje de alguma maneira as oportunidades estão mais a nossa vista, mesmo que os desafios de permanecer e ter um lugar na sua carreira artística ainda seja desafiador. Esses desafios ainda existem. Mas eu acredito sim, é muito nítido a diferença de como as oportunidades rolavam há 10 anos atrás, só de pensar que em 2010 eu quis ser atriz e comecei a estudar e aquele cenário já era muito diferente do cenário que to vivendo hoje e que meninas da minha idade daquela época estão vivendo hoje, uma oportunidade de poder atuar não só no teatro, mas no cinema e na televisão. Tem mudanças acontecendo sim.

MN – Falando sobre Além da Ilusão, como foi para você trabalhar em uma novela e voltar agora para as séries/streamings? Há muita diferença?

Larissa Nunes – A experiência de gravar uma novela foi muito incrível pra mim porque acho que tem um imaginário muito forte quando a gente começa atuar. Pelo menos eu, sempre quis fazer novelas, sempre me encantei pelo universo da dramaturgia, acessível, aquela que todo mundo vê, que todos os públicos acompanham. Então para mim foi a primeira vez que eu tive algum tipo de visibilidade que pudesse ir além do público específico que o streaming me traz, que é interessantíssimo. Porque eu acho que no streaming você consegue perceber mais o gosto de quem tá assistindo e o que você produz vai ali na afinidade de cada espectador. Em Coisa Mais Linda, por exemplo, muitas mulheres vinham até mim falando: “eu gosto muito dessa série”, “gosto muito dessa personagem”, “A Ivone é incrível”, “me inspiro nela”, enfim. Então, eu acho que trabalhar [atuando] hoje em dia é poder andar por todos os lados. Eu acredito que a televisão é um lugar que para mim é importante, mas eu sou uma pessoa que veio do streaming, eu gosto dessa rotatividade, dessas mudanças e ambientes que a gente acaba construindo. Eu sou do streaming, da TV, eu sou de onde me chamarem (risos). Para mim, o que importa é a história que estou contando e o espaço que estou conquistando.

MN – Nessa questão de história, a Ivone, em Coisa Mais Linda, e Larissa Carvalho, na novela Além da Ilusão, que são personagens de épocas passadas. Como é agora em “Americana” vivenciar uma personagem em uma época há mais de 100 anos atrás?

Larissa Nunes – Eu acho que de uns tempos pra cá, essa construção da minha carreira como atriz vem muito com um certo tipo de máquina do tempo, eu acabo fazendo épocas porque de alguma maneira para mim o passado tem coisas que precisamos resgatar para contar histórias do futuro e do presente, principalmente. Eu gosto de personagens que atravessam estes tempos e coincidentemente eu fiz algumas épocas. Eu comecei com “Coisa Mais Linda”, anos 60, depois eu fui para o “Rei da TV”, que é a biografia do Silvio Santos, fiz a primeira fase, nos anos 70, depois eu fui para Além da Ilusão, falando um pouco dos anos 40 e agora eu to completamente dentro de um século que eu sei da importância histórica que ele teve, principalmente no brasil, que é o século XIX. Um período bem conturbado, intenso, ainda estávamos no auge da escravidão, então sao assuntos que conversam com o presente o tempo todo. Mas eu gosto muito das viagens que minhas personagens me levam e agora tem tido muito espaço para um contemporâneo que vem surgindo, eu acabei de terminar as gravações de uma série, dirigida pelo Gustavo Bonafé, chamada “Vidas Bandidas”, ela se passa em 2024 e minha personagem Marina é totalmente atualizada e dentro do seu tempo, lidando com os problemas que temos enfrentado como mulher, vivendo um triângulo amoroso intenso. Além dessa série, eu fiz a biografia do Anderson Silva, que também vai estrear em breve no Paramount+, onde minha personagem a Dayane, esposa do Anderson, também vive um lugar contemporâneo, com questões contemporâneas ligadas também a mulher e aquilo que a gente vive mesmo. Todas as minhas personagens estão tentando contar algo muito importante para o presente, é um lugar que eu preservo muito, essas conquistas tem acontecido porque tem personagens muito bacanas que vem surgindo. Para mim tem sido assim, um pouco de atravessar o passado e viver esse presente, contar e imaginar, que faz parte do que faço como atriz. Imaginar é meu motor.

MN – O que podemos esperar de Sebastiana em Americana?

Larissa Nunes – Sebastiana é uma mulher bem reverente, muito peculiar, muito à frente do seu tempo. Ela é uma garota que foi criada de um modo diferente, mesmo no contexto da escravidão no brasil, acaba ganhando muitas habilidades, como piano, idiomas, estratégia, matematica, enfim. Ela é conhecedora de muitas coisas. Ela não sabe que foi parte de um experimento social feito pela proprietária dela que até então ela tinha como tutora, então vamos encontrar uma sebastiana muito inteligente e audaciosa que tem uma certa curiosidade e acaba se tornando uma investigadora juntamente com Tobias, que é o atual proprietário dela. E a relação dos dois quando eles não estão na frente das pessoas é uma relação bem horizontal, são uma dupla. Ele do jeito dele, ela mais ponderada e observadora. Eles acabam se envolvendo em um crime na cidade de Americana e ela sabe que é uma cidade de confederados, que tem recebido pessoas que perderam a guerra civil nos EUA, então ela conhece a intolerância dessa galera e mesmo assim vai, até porque ela ainda depende legalmente do Tobias. Ela acaba se envolvendo mais nesse crime, nesse assasinato de uma criança, quando descobre que é um menino indígena, coisa que até então não sabiam. E Tobias já quer ir embora, é um caso que ele não quer se envolver, mas ela é tomada por uma força de querer ficar por aqui e ela enfrenta tudo e todos pra desvendar esse mistério. É uma investigação que ela acaba chegando nela mesmo, porque ela começa encontrar umas figuras na cidade, como por exemplo, o Benedito, que é interpretado por David Junior, que é um rapaz preto que também tem um lugar bem ousado e acaba despertando coisas e questões que nunca tinha vivido antes. É uma história que fala de descobertas, investigações, fala sobre muitas coisas (risos). Eu acho que tem a ver com uma jornada consigo mesma para se encontrar.

MN – E pra você Larissa, como foi fazer uma personagem no período da escravidão?

Larissa Nunes – É importante dizer, que essa serie Americana, retrata um periódo que apesar de ser a escravidão no Brasil ela tem um olhar muito diferenciado sobre esse momento histórico. Ela vai contar de um ponto de vista que não conhecemos, principalmente quando estamos falando de histórias que poderiam acontecer dentro da escravidão, que são as histórias dos escravos libertos. Aqueles que fugiram e deram conta que se salvaram, dessas mulheres que tiveram, de alguma maneira, contato com a casa grande e tiveram ali, de uma maneira contraditória e complexa, algum tipo de conhecimento e de contato que fizeram elas se salvarem também, uma vez que aprendem a ler. Estamos contando histórias de pessoas extremamentes inteligentes e que estão tentando além de sobreviver tentar encontrar outras pessoas pretas. Eu gosto muito de dizer que Sebastiana é uma mulher muito mágica, cheia de habilidades, tem um porte muito vivido nesse período. ela é uma mulher que vive um processo de apagamento e esse processo faz com que ela de alguma maneira sobreviva a essa sociedade racista e eu acho que isso tem muito a ver com nosso contemporâneo. Porque a gente também tem muitos processos de se descobrir como pessoa preta, a gente vive um processo de apagamento e embranquecimento sem perceber. Então eu acho que esse é o caráter que a série vai abordar, de como se perceber e se conhecer é um caminho sem volta, estamos retratando um período histórico com peculiaridade, com coisas que o público não é acostumado em ver, eu tenho tido esse olhar sobre a história.

MN – Queria saber de você, uma mulher negra protagonista no audiovisual em uma época que temos novelas da Globo com protagonismo negro ganhando muita audiência, acha que as novelas e os streamings, estão enxergando que esse caminho da representatividade é mais rentavel?

Larissa Nunes – Eu acho que o momento que estamos vivendo nunca vivemos anteriormente. Ver tanto a televisão aberta como streamings com esse olhar de protagonismo que tá tentando contar boas histórias, que não é apenas só estar lá por ser uma pessoa preta, tem sido muito interesse. Eu acho que o público também precisa prestar atenção nesse momento, nessas pessoas que estão contando a história. Tem muitas mudanças muito incríveis de lá pra cá. Acho que esse protagonismo precisa ser cada vez mais com qualidade, com variedade e com diversidade de histórias, tem coisas que estão acontecendo que são muito bonitas, mas a gente tem sempre que se atentar aos estereótipos, aos clichês, as coisas que tem a ver com a nossa realidade, mas que o público no geral acaba não percebendo. Acho que tem ainda um lugar do mercado de exigir e reparar que é uma demanda. Virou uma demanda representatividade, ter pessoas pretas, as pessoas reclamam quando não tem, então sim, tem um olhar mercadológico nisso, mas em contrapartida, tem gente [preta] criando, tem pessoas pretas atrás das câmeras, diretores, roteiristas. A medida que a demanda está aumentando a gente precisa se qualificar mais, mostrar pra que realmente a gente veio e é isso que estou tentando fazer nessa série, é isso que quero fazer nos próximos trabalhos e naquilo que eu me propuser a fazer. Eu acho que protagonismo é muito importante, tem lugares que muitas mulheres precisaram ir primeiro, como Zezé Motta, para estarmos aqui, agora temos o compromisso, uma responsabilidade no momento que a gente se torna protagonista, de contar a história com a magia e dignidade que ela deve ter. E cada uma encontrar a sua maneira de contar suas histórias. Pra mim tem sido isso.

MN – Já estamos quase na metade de 2023, quais são seus planos e expectativas para o resto do ano?

Larissa Nunes – Eu quero muito continuar trabalhando e vendo quais são os próximos trabalhos a vista, estou aberta às novidades que vierem. Ao mesmo tempo que tem sim um desejo muito grande de viajar, [colocar] o repertório de vida de novo em jogo, uma viagem internacional, um lugar que eu possa conhecer mais pessoas. E basicamente curtir minha família, ficar com minha mãe, ficar com meus amigos. Eu acho que tem sim um momento que provavelmente vou tirar um tempo pra mim e ao mesmo tempo plantando novas sementes para os novos trabalhos.

Quem está falando sobre as mães negras com filhos neurodivergentes? 

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Arte: MJ

A maternidade das mães negras e indígenas possui uma carga mental maior do que a de outros grupos. O racismo, preconceito e demais violências físicas e simbólicas são algo a mais que nós, que maternamos crianças não-brancas, temos que enfrentar. 

Quando, além da pele escura e cabelo crespo, essas mães negras têm fatores que envolvem transtornos mentais dentro de casa, o peso das demandas aumenta brutalmente.

Socialmente falando, no caso da criação de crianças negras, que é o meu caso, trabalhamos a autoestima dos nossos filhos para que os olhares, dedos apontando e cochichos, seja na escola ou em ambientes de lazer, não afetem o amor-próprio de quem cuidamos.

Acontece que quando falamos de crianças ou adolescentes negros, neurodivergentes, ou seja com transtornos mentais, nem sempre conseguimos blindá-los de fatores externos. Isso os afetam e a nós também, visto que muitos dos transtornos mentais têm aspectos complexos de interação social. Não é fácil lidar com isso em um mundo cheio de vieses perversos sobre nós.

A nossa ansiedade no que diz respeito a inclusão social dos nossos filhos negros não pode ser ignorada. Destaco aqui o papel da mãe negra que acaba, sendo na maioria dos casos, o elo emocional, o colo quentinho, a escuta atenta, quando seus filhos têm crises. E o que nos diferencia das mães brancas é a naturalização da figura da guerreira incansável e que já nasceu sabendo como lidar com todos os desafios da maternidade, inclusive os mentais que às vezes nem os profissionais sabem explicar.

Criar crianças e adolescentes negros e neurodivergentes em uma sociedade racista como o Brasil é um carga mental pouco debatida até dentro dos espaços de discussão sobre maternidade. Nós temos que blindar nossos filhos quase duplamente de uma sociedade tóxica, com pessoas negras e pessoas atípicas.  

Se formos levar para o aspecto das nossas carreiras, não conseguiria definir de maneira mais coerente do que a escritora, professora de história e economista Gláucia Batista: “Reiteradamente, somos enquadradas na categoria ‘mãe atípica’, como se isso fosse uma profissão mística autossustentável. Essa ideia só omite o fato de que somos muito mais. Somos inclusive profissionais de diversas áreas”.

Imagine em uma entrevista de emprego, onde nós, que já temos desvantagens sendo mulheres negras, que só aumenta quando somos mães, acrescentamos que criamos pessoas com transtornos mentais. Eu, como empresária, tenho um controle maior sobre a minha agenda, mas já perdi dinheiro, reuniões e eventos importantes porque minha filha precisava da minha presença (faria tudo novamente). 

O “quem cuida de quem cuida” ganha outras camadas neste cenário. Relacionamentos, carreira, vida social, redes de apoio, todos são afetados quando se tem filhos que podem ser imprevisíveis. 

Nós, mães negras com filhos neurodivergentes, existimos, resistimos, mas estamos bem cansadas da carga mental e da invisibilidade.

André Nepomuceno é o primeiro ator fora dos EUA a estrelar a série infantil de sucesso mundial “Blippi”

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Foto: Megan de Souza

O ator, André Nepomuceno, foi escolhido para interpretar o personagem Juca no primeiro spin-off internacional da série “Blippi”, que estreou no Brasil no dia 9 de janeiro e é transmitida pela HBO Max, Cartoonito Brasil e também disponível no Youtube. 

“Ser o primeiro personagem da marca Blippi fora dos EUA, no mundo, é um grande privilégio e representa uma alegria quase que inenarrável. Representar um país, nesse segmento, fazendo parte da infância de uma geração de crianças e ser aprovado por seus respectivos tutores, é muito significativo. Trazer representatividade para crianças brasileiras, dentro e fora do país, enquanto um homem preto retinto, cuja população nacional apesar de ser majoritariamente preta, acaba sendo minimamente representada em lugares positivos de destaque, é muito mágico”, destacou o ator.

Ele ressaltou o fato de ser um homem negro atuando para o público infantil no Brasil.  “Acho que homem preto nesse lugar de protagonismo dentro do universo infantil, no Brasil, é inédito. Provavelmente outros personagens e amigos do Blippi virão, mas JUCA sempre será o primeiro!”, celebrou. 

A seleção para o personagem foi realizada por produtores norte-americanos do programa que escolheram o ator depois de um teste presencial feito nos EUA. “A primeira parte foi através do envio de material on-line, a partir daí fui passando para as próximas fases até chegar ao teste presencial, que por sua vez, foi apresentado à equipe Blippi nos EUA, que me escolheu dentre os demais finalistas, para dar vida ao JUCA”, contou.

O canal oficial da atração no Youtube já soma mais de 17 milhões de inscritos, além de mais de 14 bilhões de visualizações. No Brasil, o canal iniciado em 2020, soma quase 2,5 milhões de inscritos e se aproxima da marca de 1,5 bilhões de visualizações. “Blippi” é direcionado para crianças e tem como objetivo incentivá-las e motivá-las a explorarem o mundo ao seu redor e a partir disso desenvolver seus aprendizados.

Stevin W. John, o Blippi dos EUA e André Nepomuceno – Foto: Wallace Santiago/Divulgação

As gravações com o personagem de Nepomuceno aconteceram nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro e Brotas e foram feiras no ano de 2022. O ator contou que se divertiu muito  durante esse processo, que teve a presença do criador e ator que dá vida a Blippi, Stevin W. John.  “As gravações foram muito divertidas. Apesar de ele fazer a série há quase uma década, conseguiu ter toda paciência e empatia necessária para que eu me sentisse confortável durante todos os nossos dias de set de filmagem”, revelou. 

O ator também falou sobre como tem sido a repercussão com o público depois de sua estreia no spin-off da série. “A repercussão junto as crianças, e também aos pais, tem sido incrível. Estou sendo abordado por uma nuvem de amor, afeto, carinho e gratidão que me envolve por todos os lados. Mensagens de carinho, gratidão e declarações de amor são constantes. Pais e mães têm se tornado meus fãs por causa dos seus respectivos filhos, que hoje são apaixonados pelo JUCA, por suas brincadeiras e aventuras”, detalhou.

“Vejo acima de tudo como uma forma muito coerente e assertiva de gerar representatividade e identificação com o grande público. Pois já estamos por todas as partes, só que geralmente no setor de serviços, atendendo numa lanchonete, loja, shopping, nos serviços gerais, na segurança e etc. Então, nossos corpos pretos que foram e são tão competentes para prestar serviços manuais e braçais nesse país, também podem e devem prestar serviços educacionais, sociais, intelectuais, educativos e tantos outros”, destaca André Nepomuceno ao comentar o quão representativo é ver um homem negro retinto protagonizando a produção. 

13 de maio: “a resistência negra nasceu junto com o sistema de exploração escravista”

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Foto: MJ

Em 13 de maio de 1888, há 135 anos o Brasil aprovava a Lei Áurea, que abolia a escravidão. Mas isso você já sabe, não há novidade nesta frase. A princesa Isabel na condição de Regente do império brasileiro assinou a lei, assim libertava a população negra, que havia passado os últimos quase quatro séculos cativa. Mas o que não te contaram é que a publicação da lei não foi uma dádiva da princesa e sim produto de lutas políticas, principalmente o movimento abolicionista.  

Angela Alonso no livro ‘Flores, Votos e Balas‘ defende a ideia (concordo com a historiadora) que o movimento abolicionista, que começou em 1868 e foi até 1888, foi o primeiro movimento social do Brasil. Nunca tínhamos visto antes, ocorreu em solo brasileiro, a construção de uma rede de interações sociais em meio de um grande conflito, ou causa, em que se alinhava uma diversidade de pessoas, eventos e organizações. Para além, ou melhor dizendo, a resistência negra nasceu junto com o sistema de exploração escravista. Em todos os espaços, do Brasil colônia ao império independente dos lusitanos os negros nascidos aqui (denominados crioulos) e africanos se organizaram exigindo o fim da escravização. 

Centrar a narrativa histórica da abolição na princesa heroína que por bondade concedeu a liberdade aos negros e negras é, no mínimo, um erro historiográfico.. Resumir a emancipação dos escravizados ao dia 13 de maio também é um erro. É preciso, pensar em caminhos da liberdade trilhados por aqueles que mais sofriam com a manutenção desse sistema violento e cruel.  

Em maio de 1888, no Brasil, defender a manutenção da escravidão (como muitos fazendeiros fizeram) era incoerente. Não podemos esquecer que o Brasil foi a última nação das Américas a acabar com o trabalho escravo. O projeto de abolição foi amplamente discutido. A extinção do trabalho forçado mediante a identização do escravizado, ou mesmo, doação de um pequeno lote de terras para os negros ou mesmo, os mais conversadores que defendiam que o Estado deveria indenizar os antigos donos de escravizados. No texto da lei votado pela Câmara e depois encaminhada para o Senado, apresenta apenas dois artigos, neles o Estado se isentava de qualquer tipo de indenização. Na transição do trabalho escravo para o livre, o Brasil formulou políticas públicas para promover a entrada de imigrantes brancos, vindos principalmente para as fazendas do Sudeste, as regiões cafeeiras. Para os brancos estrangeiros subsidios, já para os negros o Estados fazia questão de colocar entraves, de acesso a terra (a Lei de Terras de 1850, é um exemplo) até educação. 

No dia seguinte à abolição, em 14 de maio de 1888, estava nas primeiras páginas de todos os jornais da época a notícia da extinção da escravidão. No Gazeta de Notícias, do Rio de Janeiro, estampava: “Brazil Livre” e daí em diante dois grandes feitos do Estado brasileiro: 1) a construção da narrativa oficial da princesa salvadora; 2) e um processo de marginalização da população negra. Dá margem, que eles insistem em nos colocar a gente nada, rema e navega para o centro. Seguindo o exemplo do Chico da Maltide (dragão do mar) navegamos em direção a emancipação. Este sim, deve ser considerado um dos símbolos da extinção da esravidão, um jangadeirro que lutou incansavelmente no Movimento Aboliscista  no Ceará, a primeira província a acabar com a escravidão, no ano de 1884. 

Neste 13 de maio de 2023, vamos lembrar dos negros e negras que lutaram pela liberdade, celembremos a memória e trajetória de: Zumbi, Luiz Gama, José do Patrocínio, Tereza de Benguela. Uma celebração cuja trilha sonora é o samba. Mais especificamente o samba enredo da Mangueira campeã do carnaval de 2019, que diz: “Brasil, o teu nome é Dandara/ E a tua cara é de cariri/ Não veio do céu/ Nem das mãos de Isabel/A liberdade é um dragão no mar de Aracati”.

Mães negras e carreira: quando decidi contratar uma mulher grávida

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Ilustração: MJ

Meu negócio nasceu no digital. Nunca vi muito sentido em ter um escritório, um endereço físico fazendo o que eu faço. Mesmo antes do Mundo Negro crescer como empresa, sempre imaginei uma equipe remota e diversa. Para mim, pelo o que o meu negócio representa, sempre me pareceu mais coerente investir em pessoas, do que em aluguel, com todos outras despesas que vem nesse pacote.

Quando se é mãe, poder trabalhar perto dos filhos pequenos é um privilégio. Gerenciar meu trabalho como jornalista, empresária e mãe me fez desenvolver skills que dificilmente teria trabalhando em outro cenário. Não estou romantizando o estresse de ter que equilibrar tantos pratinhos ao mesmo tempo, eu ainda sofro alguns gaps de memória de uma época muito exaustiva de quando meu negócio crescia junto com as minhas três filhas.

Tendo em mente as premissas anteriores, ainda no cenário pandêmico, surgiu a oportunidade de contratar uma nova redatora para o Mundo Negro. Uma pretendente a vaga se destacou por ter experiência em mídia negra, ótima formação acadêmica, além de ser uma mulher negra, minha preferência para aquela posição.

A entrevista se desenrolou como esperava, até que quase ao final da nossa conversa, ela me conta que está nos primeiros meses de gestação. Isso era algo inesperado. Minha equipe é eficiente, mas bem enxuta. Fiquei insegura por conta da nossa demanda de conteúdo que já estava deixando meu time sobrecarregado. Não a contratei, porém a chamei para alguns freelas.

O texto dela era excelente, como já se era esperado por sua experiência. Ela fez entrevistas incríveis, conversando com as fontes presencialmente e entregando as demandas dentro do prazo. E foi quase na metade da sua gravidez que eu decidi contratá-la em uma função acima do cargo que conversamos originalmente. Se antes ela seria redatora, agora entra para o time como editora.

Sua gestação não influenciou em nada seu rendimento no trabalho e ainda humanizou a relação da nossa equipe. Ter uma gestante traz um senso de carinho e cuidado de forma orgânica ao ambiente de trabalho, o que já existia de certa forma, visto que todas mulheres do time, eram mães, mas com uma gravidinha era diferente.

Minha agora editora, teve que se afastar um pouco antes do esperado, por conta de problemas de saúde. Fato que ele nos comunicou de forma que conseguimos nos organizar. Quando ela retornou, seu trabalho continuou sendo eficiente e consistente. Tem horas que até esqueço que ela tem um bebê de poucos meses pertinho dela, mas ela sabe que eu como gestora e mãe, prezo pelo bem-estar da minha equipe e por isso pouquíssimas vezes ela se ausentou. O tempo que ela precisa focar no bebê, dentro do horário de trabalho, jamais é questionado.

Quando se tem uma equipe pequena, cada contratação tem grande impacto, por isso hesitei em um primeiro momento em tê-la de forma fixa. Como gestora, aprendi que ao final do dia o que importa são os resultados. Precisamos de vez destruir a mentalidade que gestantes e mães não entregam. Seja pelos soft skills que adquirimos tentando encontrar um equilíbrio na carreira e vida pessoal, seja pela nossa energia em agarrar oportunidades raras nesta fase da vida, é inegável que mães e gestantes conseguem trabalhar de forma eficiente em ambientes que acolhem o seu perfil.

Todas as mulheres da redação do Mundo Negro são mães negras, assim como a maioria das nossas colunistas. Os resultados estão aí em alcance e relevância. Há quem pense que somos dezenas de funcionários em algum prédio badalado em São Paulo, mas não. Eu tenho um dream time de jornalistas que trabalham de onde eles quiserem e ter mães negras dentro da minha equipe, é sem dúvida, um dos segredos do Mundo Negro ser líder do seu segmento há duas décadas.

Mari Oliveira e Sol Menezzes protagonizam ‘Dois Tempos’, nova série nacional de ficção científica

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Foto: Divulgação.

As atrizes Mari Oliveira e Sol Menezzes são as protagonistas de ‘Dois Tempos’, nova série nacional que já está disponível no Star+. No tom de drama e fantasia, a série acompanha Paz (Sol), a maior influencer brasileira de 2022, que vê seu mundo cair quando ela é cancelada na internet e perde muitos seguidores e contratos. Num mundo alternativo, Cecília (Mari) é uma escritora de 1922 que se vê forçada a se casar com um homem.

Mari Oliveira como Cecília em ‘Dois Tempos’. Foto: Divulgação.

De acordo com a sinopse oficial, presas em seus quartos e sem perspectiva de escapar de seus destinos, as duas personagem expressam o mesmo desejo: “Eu não quero muito, eu só quero ser livre!”. Muito atento, o universo decide ajudá-las: misteriosamente, elas viajam no tempo e acordam uma no corpo da outra. Vivendo em séculos diferentes, as duas encaram os problemas e as maravilhas de cada realidade e repensam questões femininas das respectivas épocas, enquanto buscam seus novos papéis no mundo.

Sol Menezes como Paz em ‘Dois Tempos’. Foto: Divulgação.

Quando cai de paraquedas em 1922, Paz precisa se adequar para dançar conforme a música, tentar se fazer passar por Cecília até descobrir como voltará para sua vida. O que não imagina é que passará por uma trajetória da qual sairá transformada, vinculando-se às mulheres da sua nova realidade e tornando-se mais altruísta e ciente que seu papel no mundo é mais relevante do que ela pensava.

Por que não falamos de Dolores Duran, precursora da Bossa Nova?

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Foto: Reprodução

Texto: Ivair Augusto Alves dos Santos

Uma das maiores cantoras, compositoras e instrumentistas do gênero samba-canção, e que influenciou uma geração de artistas que vieram depois. Ouso dizer que a Bossa Nova tem raízes nas composições de Dolores Duran.

Viveu pouco e amou muito. Adiléia Silva da Rocha, mais tarde conhecida como a cantora Dolores Duran, nasceu no dia 7 de junho de 1930, na zona central do Rio de Janeiro. Ela morreu muito jovem, aos 29 anos, no dia 24 de outubro de 1959.

Deixou um legado de composições que, passados mais de 60 anos de sua morte, em 1959, faz parte do repertório de todos os grandes cantores da música brasileira. Ela é uma das compositoras com mais regravações da história da música popular brasileira.

A intérprete compôs sua primeira canção, “Se É Por Falta de Adeus”, em parceria com Tom Jobim, sucesso na voz de Dóris Monteiro, que nunca deixou de cantá-la:

Se é por falta de adeus
Vá-se embora desde já
Se é por falta de adeus
Não precisa mais ficar

Com Jobim, ela faria uma das melhores canções do período: “Por Causa de Você”, um clássico da dor de cotovelo pré-bossa nova:

Ah! Você está vendo só
Do jeito que eu fiquei
E que tudo ficou
Uma tristeza tão grande
Nas coisas mais simples que você tocou
A nossa casa, querido
Já estava acostumada aguardando você
As flores na janela
Sorriam, cantavam por causa de você

O ambiente aconchegante, escuro, etílico e esfumaçado das boates onde Dolores Duran fez carreira pedia uma interpretação, forjou o jeito intimista, fez de Dolores uma precursora dos intérpretes da nascente Bossa Nova. Com uma carreira de intérprete já sedimentada no rádio e noite cariocas, Dolores começou, tardiamente, a escrever suas próprias canções.

Uma noite, após o fim do expediente na boate Baccarat’s, durante a conversa informal entre músicos e crooners, o então desconhecido Tom Jobim tocou ao piano uma melodia que havia criado para que Vinícius de Moraes pusesse letra. Dolores, que era crooner ali, ouviu tudo de uma mesa mais afastada e escreveu uma letra rapidamente num guardanapo com um lápis de delinear sobrancelhas, um processo usual quando compunha. Levantou-se, foi em direção a Tom e lhe propôs parceria, cantando a letra recém-escrita com o nobre acompanhamento do maestro.

A letra foi mostrada a Vinícius, que gostou tanto que saiu da parceria deixando espaço aberto para a composição de Dolores. A canção era “Estrada do Sol”. O seu grande diferencial estava justamente no tom, que fugia do pessimismo e da tristeza das composições da época, para a leveza e até esperança.

É de manhã vem o sol mas os pingos da chuva que ontem caíram
Ainda estão a brilhar
Ainda estão da dançar
Ao vento alegre que me traz esta canção
É de manhã vem o sol mas os pingos da chuva que ontem caíram
Ainda estão a brilhar
Ainda estão da dançar
Ao vento alegre que me traz esta canção
Quero que você me dê a mão vamos sair
Por aí sem pensar no que foi que sonhei que chorei, que sofri
Pois a nova manhã
Já me fez esquecer
Me dê a mão vamos sair pra ver o sol
É de manhã vem o sol mas os pingos da chuva que ontem caíram
Ainda estão a brilhar
Ainda estão da dançar
Me dê a mão vamos sair pra ver o sol, Me dê a mão pra ver o sol
O sol

A Estrada do sol foi gravada por Elis Regina, e faz parte das grandes músicas do movimento Bossa Nova. Dolores Duran uma das mulheres negras mais importantes na cultura popular do Brasil do século XX, precisa ter sua história resgatada e levada para os livros didáticos.

O 13 de maio e a reflexão sobre as práticas das empresas com a equidade racial

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Foto: Freepik

Texto: Ivair Augusto Alves dos Santos

O 13 de maio é uma data para reflexão sobre o racismo de nossos dias. Sem dúvida uma data para ser celebrada, discutida, comentada e denunciada. Esta semana a Revista Época Negócios do mês de maio tornou pública uma pesquisa do Instituto Ethos e do Centro de Estudo das Relações de Trabalho e Desigualdades (Ceert), da Coalizão Empresarial para Equidade Racial sobre a verificação de práticas de diversidade, equidade e inclusão do país. No qual vamos comentar as estratégias para a promoção da diversidade e inclusão, governança, cultura organizacional para a promoção da equidade racial.

Um trabalho que nos apresenta estratégias que o poder público deverá prestar uma atenção redobrada para implementar o decreto 11.443 de 2023, que estabeleceu cota para pessoas negras em, no mínimo, 30% dos cargos comissionados e de confiança no governo federal. O texto destaca, depois de avaliar as táticas de 75 empresas, que a boa governança é fundamental para ir além do discurso e ver resultados na prática.

A administração pública deveria se debruçar sobre os resultados da pesquisa e discutir como poderia ser incorporada nas estratégias de implementação do decreto 11443/23. Isto implicaria na criação de metas, envolvimento das altas lideranças do serviço público e o acompanhamento constante dos resultados, cruciais para introjetar valores de diversidade e inclusão na cultura organizacional dos órgãos públicos.

O ideal seria discutir os resultados da pesquisa com as universidades públicas e institutos que adotaram sistema de cotas para negros, os Núcleos de estudos afro-brasileiros das universidades, com as estatais, governos estaduais e municipais, o poder judiciário e os ministérios públicos.

Um dos aspectos fundamentais registrados no resultado das pesquisas para o sucesso na implementação de medidas é a constituição e o reconhecimento de grupos de pessoas negras em cada instituição que se vá promover a equidade racial. Estas pessoas serão importantes no monitoramento constante, na definição de estratégias e avaliação dos resultados. Nas empresas que obtiveram bons resultados esse é o primeiro item destacado.

As práticas discriminatórias deverão ser punidas com medidas disciplinares em todos os níveis hierárquicos. Recentemente tivemos o escândalo do assédio sexual na Caixa Econômica Federal. Os casos de racismo na administração pública existem e são ignorados. Que sejam criados canais com profissionais preparados para atender a denúncias de discriminação e assédio moral e sexual, e política de não discriminação nos processos de mobilidade interna, promoção e participação em treinamentos.

Uma estratégia importante é monitorar, analisar pesquisas internas de clima, dados de canais de denúncia e dados de seus empregados, adotando as providências necessárias para promover a equidade de oportunidades e eliminar possíveis discriminações contra pessoas negras.

Para cada órgão público é fundamental que se defina uma instância e o responsável que garanta a implementação das ações para equidade racial. O decreto 11443/23 precisa ser conhecido por todos da administração pública, mas também é necessário que cada órgão formalize o compromisso com a agenda da promoção da equidade racial e divulguem ao público interno. É necessário capacitar amplamente os funcionários de diferentes níveis hierárquicos sobre vieses inconscientes e estereótipos discriminatórios.

Precisamos garantir que o tema da equidade racial atravesse todas as áreas e processos. E, para isso, entendemos necessária uma estrutura de governança com pessoas engajadas, precisaremos de um processo contínuo de formação de quadros para atuar.

Que um 13 de maio refletindo sobre como as experiências das boas práticas de diversidade e inclusão nas empresas possa refletir no quotidiano do serviço público e levar a mudanças permanentes na situação da população negra do país.

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