A maternidade das mães negras e indígenas possui uma carga mental maior do que a de outros grupos. O racismo, preconceito e demais violências físicas e simbólicas são algo a mais que nós, que maternamos crianças não-brancas, temos que enfrentar.
Quando, além da pele escura e cabelo crespo, essas mães negras têm fatores que envolvem transtornos mentais dentro de casa, o peso das demandas aumenta brutalmente.
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Socialmente falando, no caso da criação de crianças negras, que é o meu caso, trabalhamos a autoestima dos nossos filhos para que os olhares, dedos apontando e cochichos, seja na escola ou em ambientes de lazer, não afetem o amor-próprio de quem cuidamos.
Acontece que quando falamos de crianças ou adolescentes negros, neurodivergentes, ou seja com transtornos mentais, nem sempre conseguimos blindá-los de fatores externos. Isso os afetam e a nós também, visto que muitos dos transtornos mentais têm aspectos complexos de interação social. Não é fácil lidar com isso em um mundo cheio de vieses perversos sobre nós.
A nossa ansiedade no que diz respeito a inclusão social dos nossos filhos negros não pode ser ignorada. Destaco aqui o papel da mãe negra que acaba, sendo na maioria dos casos, o elo emocional, o colo quentinho, a escuta atenta, quando seus filhos têm crises. E o que nos diferencia das mães brancas é a naturalização da figura da guerreira incansável e que já nasceu sabendo como lidar com todos os desafios da maternidade, inclusive os mentais que às vezes nem os profissionais sabem explicar.
Criar crianças e adolescentes negros e neurodivergentes em uma sociedade racista como o Brasil é um carga mental pouco debatida até dentro dos espaços de discussão sobre maternidade. Nós temos que blindar nossos filhos quase duplamente de uma sociedade tóxica, com pessoas negras e pessoas atípicas.
Se formos levar para o aspecto das nossas carreiras, não conseguiria definir de maneira mais coerente do que a escritora, professora de história e economista Gláucia Batista: “Reiteradamente, somos enquadradas na categoria ‘mãe atípica’, como se isso fosse uma profissão mística autossustentável. Essa ideia só omite o fato de que somos muito mais. Somos inclusive profissionais de diversas áreas”.
Imagine em uma entrevista de emprego, onde nós, que já temos desvantagens sendo mulheres negras, que só aumenta quando somos mães, acrescentamos que criamos pessoas com transtornos mentais. Eu, como empresária, tenho um controle maior sobre a minha agenda, mas já perdi dinheiro, reuniões e eventos importantes porque minha filha precisava da minha presença (faria tudo novamente).
O “quem cuida de quem cuida” ganha outras camadas neste cenário. Relacionamentos, carreira, vida social, redes de apoio, todos são afetados quando se tem filhos que podem ser imprevisíveis.
Nós, mães negras com filhos neurodivergentes, existimos, resistimos, mas estamos bem cansadas da carga mental e da invisibilidade.
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