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Brasil se sente mais negro e conhecer mais da história da África é fundamental

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Foto: Vogue USA

O Brasil se sente mais negro e a principal razão por trás disso é incrível, um maior conhecimento sobre a história da África. Nos últimos dez anos, o número de pessoas se autodenominando negras cresceu de 47,9% e para a marca de 54%; é a primeira vez que podemos dizer que negros são maioria no país.

Sabemos por que paramos aqui, a nossa contribuição para a sociedade brasileira e ao lado desta nova identidade entre nós, existe muito orgulho das raízes e um olhar para dentro da cultura brasileira. Me arrisco dizer que quanto mais nos sentimos negros, mais identidade brasileira carregamos na pele.

Na pauta da grande mídia, o continente africano ainda é marcado por notícias negativas diariamente como doenças e guerras, mas existe sim uma agenda positiva atual. Ruanda, por exemplo, é o país com maior número de mulheres em um parlamento. Enquanto o mundo discute equidade de gênero, a nação centro-oriental tem 64% de mulheres responsáveis pela legislação. Senegal, Namíbia, Seychelles e África do Sul possuem 40% de mulheres nestas cadeiras.

 
Adolescentes que desenharam o primeiro satélite privado do continente em Capetown, África do Sul.

Por mais que os ataques terroristas do Boko Haram ocupem as notícias, sobretudo pela imensa quantidade de mortos, as guerras civis reduziram e são apenas 12 hoje. Outro fato que podemos comemorar juntos é a redução da pobreza extrema e o crescimento rápido de uma nova classe média, bastante conectada e disposta a usar a tecnologia para reduzir as desigualdades sociais.

O revolucionário aplicativo M-Pesa se enquadra perfeitamente neste quadro. O app é um serviço de pagamento móvel muito popular no Quênia. O cliente usa o dinheiro virtual em lojas de varejo que, por conseguinte, podem movimentar este valor convertido na moeda local. É tão importante para a economia que se tornou 11% do PIB do país. Já o Tuluntulu, por exemplo, é uma plataforma de conteúdo mobile adequado para baixa velocidade de internet. Ambos foram classificadas pela Interbrands como marcas valiosas.

No campo das artes, estrelas como a atriz Lupita Nyongo e Chimamanda Ngozi, autora consagrada mundialmente, fazem questão de ressaltar os aspectos positivos das suas memórias no continente. O último ritmo a ganhar o mundo foi o Azonto, nascido em Gana e que mistura música africana com House (também de origem negra, porém criado na diáspora).

Estes são apenas alguns exemplos de como um olhar mais atento pode descobrir mais sobre nossas origens e de como os nossos irmãos africanos continuam

criativos, exportadores de tendências e vencendo adversidades. A velha e moderna África, motivo de tanto orgulho hoje, só prova que estamos mais conectados do que nunca. Aqui e lá.

Ouça Azonto no Spotify:

Nadja Pereira é jornalista, community manager e fundadora da consultoriaZeroponto54, especialista em insights de consumo da classe C.

*Este artigo foi publicado originalmente no blog da agência Santa Clara.

Mulher negra e autoestima

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No último sábado eu participei de um encontro incrível no Instituto Carrefour. Centenas de mulheres negras, tão incríveis quanto eu, estiveram lá debatendo assuntos que são tão comuns a nossa gente. Eu cresci em uma casa em que a “autoestima” não foi trabalhada. Não por culpa minha, mas isto não é algo tão comum em nossa sociedade. Ao mesmo tempo, “vencer na vida” faz parte da minha personalidade porque fui muito estimulada a estudar, trabalhar e deixar um legado.

Voltando ao Coaching Time, foi um dia intenso de aprendizado e eu vou destacar algumas das frases mais emblemáticas e que toda mulher negra deve aplicar (e aprimorar) na própria vida. A maioria delas foram ditas pela Alexandra Loras, consulesa da França no Brasil, da qual eu dispenso apresentações.

Vou comentar algumas delas:

Liste 10 mulheres que te inspiram, sobretudo negras

Em minha vida, mulheres negras de sucesso sempre me inspiraram. Não falo somente de celebridades, mas quando via uma mulher negra sendo empresária ou jornalista, sempre ficava com aquela imagem na minha mente de que queria ser como elas. Acredito que não vale somente dizer quem são, mas o por que de admirá-las; ler e acompanhar sua trajetória é fundamental.

A Zim Ugochukwu, fundadora do Travel Noire, está na minha lista. Ela criou a primeira comunidade online voltada para negros que viajam. Quebrou paradigmas e sua empresa foi escolhida pela renomada Fast Company como uma das mais inovadoras do mundo. Já perdi as vezes de quanto assisti sua palestra e fiquei emocionada. Ela conta um pouco da sua história aqui, em inglês.

A insegurança é domável

Todas nós somos inseguras a tal ponto, mas a forma como lidamos com isso é que nos destaca. É só reduzimos o medo e não deixarmos que ele nos domine. A insegurança precisa nos impulsionar para um aprimoramento.

Exemplo: eu tinha uma insegurança em falar em público.

O que devo fazer? Treinar em casa sozinha e pedir a opinião dos outros sobre o meu desempenho. Se tiver segura sobre o tema, já é meio caminho andado.

Erros são ótimos professores; revise os erros do dia.

Todos os dias eu agradeço ao universo por mais 24h em minha jornada no mundo e isso falado pela Alexandra caiu como uma luva. Por que não revisar os erros do dia para não voltar a cometê-los? É muito importante não cair em um autoflagelo e sim pensar “no que posso ser melhor amanhã?”

Foque em suas qualidades e trabalhe os defeitos

Procrastinação é um hábito que eu tenho. Como trabalho com mídias sociais, as visitas constantes ao Facebook passaram a ser um problema porque eu não me concentrava. Se isto rouba meu tempo, por que continuar? O jeito foi desativar as notificações para enxergar novas formas de trabalhar. A técnica do pomodoro (de trabalhar 25 min e parar por 5 min) foi essencial para lidar com isso. Experimente.

Valor não é o próprio trabalho, valor é identidade

Descobri isso da pior forma: quando estava desempregada. Trabalho não é o centro da minha vida e sim eu mesmo. Não adianta ficar angustiada porque não o tenho. Lógico que foi bem difícil ver dívidas se acumulando no período, mas isto me faz perceber que enquanto trabalhamos não devemos deixar a nossa vida pessoal de lado. Eu fiz isso em nome de trabalho e dinheiro. Não recomendo este descuido a ninguém.

Fazer planos e manter o foco

Estava perdida quando comecei o coaching profissional com a Dani e, quase um ano depois, eu sei exatamente o que eu quero. Se você não puder ter um auxílio de um profissional, faça um exercício mental de revisitar o que te motivava. É uma excelente forma de resgatar sonhos antigos e correr atrás deles. Pra te ajudar, faça visualizações criativas e recrie na mente os seus sonhos. Vai te ajudar e muito a chegar lá. Eu tô começando a colher os frutos de já declarar pro universo o que quero pra minha vida. Estou mais otimista.

Seja a melhor versão de você mesmo

Não deixe mais nada pra depois. Se teu corpo te incomoda, coma melhor e faça exercícios. Se você precisa se qualificar, invista em cursos e não deixe pra depois. Parece que tem uma vozinha da auto sabotagem dentro da gente mandando em nosso modo de agir. Celebre mais você, faça mais coisas que gosta e se envolva menos em atividades que não te dão prazer.

A nossa revolução (e evolução) começa em nós mesmos e gritar somente raivosamente contra o mundo não resolve nada. Ao invés de ficarmos tão estressados por conta de um post racista, que tal irmos nas comunidades para aumentar a amor-próprio de nossos meninos e meninas? Muitos deles têm uma enorme dificuldade de ligar a palavra “negro” a qualidades positivas. Precisamos nos juntar para resolver os problemas das comunidades, colocando nossas diferenças de lado porque existem problemas maiores a serem resolvidos e a nossa autoestima é ainda um dos maiores.

Léo Santos viraliza com react sobre “terreiro gourmet” no RS: “a ancestralidade passa a ser comercializada”

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Fotos: Divulgação

“A casa de Oxum. A casa de axé”. A comunidade negra e tradicional de religiões de matriz africana está desde ontem, com essa frase na cabeça, após Léo Santos publicar um vídeo curioso no Instagram, relacionado ao Ilê Oxum Docô, do Babalorixá Pedro de Oxum, localizado no Rio Grande do Sul.

Em forma de sátira, o humorista fez um react com o vídeo publicado recentemente pelo perfil do terreiro. “O erro desse sacerdote é chamar um espaço gourmet desses terreiro de axé, quando na verdade parece um hotel, um espaço de estética, dentre os outros estabelecimentos que se assemelha”, disse Léo Santos em entrevista exclusiva ao Mundo Negro.

No vídeo em questão, a equipe apresenta o terreiro que tem mais de 39 anos de atuação em Porto Alegre. Com o site www.oxum.com.br e redes sociais, eles oferecem serviços espirituais tanto no presencial, como no virtual, e o Babalorixá divulga que já atendeu diversas estrelas ao redor do mundo. Em um vídeo antigo, Pedro de Oxum inclusive aparece no antigo programa Domingão do Faustão, da TV Globo, ensinando simpatias contra inveja. (Assista aqui)

Léo Santos, adepto do candomblé, denomina as religiões de matriz africana como da oralidade. “Quando a gente perde isso, se torna o que está se tornando, esse espaço colonizado”.

Leia a entrevista completa abaixo:

Léo, o seu último vídeo viralizou e chamou muita atenção ao que discutimos sobre a apropriação. Para quem é leigo, como você explica o que tem de errado com a apresentação deste espaço religioso?

A princípio não há nada de errado em praticar sua fé de forma individual, porém devemos parar pra pensar como está sendo praticada essa fé, com quais fontes você aprendeu. Candomblé (assim como outras religiões) tem dogmas, regras, costumes, o erro do vídeo está na organização, no reflexo europeu que eles estão trazendo para uma religião de matriz africana.

Como isso afeta negativamente na imagem dos terreiros que mantém uma tradição oral de matriz africana ao longo de todos esses anos?

A oralidade vai se esvaindo dentro dessas modernidades, a ancestralidade passa a ser comercializada, imagine se os nossos ancestrais cobrassem para passar seus ensinamentos? Hoje em dia não teríamos o candomblé, pois em sua grande maioria são pessoas que não tem condições financeiras nenhuma, ou seja, não pagariam para adquirir aprendizado. Candomblé é oralidade, candomblé é troca de palavras, o que foge disso não é mais candomblé. Computadores, notebooks, ebós virtuais, são utensílios que não fazem parte da construção do candomblé.

Não só esse caso, mas tantos outros que estão nos afastando dos nossos Deuses, cada dia mais somos colocados a um quilômetro de distância de Orixá, e assim vamos nos afastando pela ganância, pela ousadia, pela modernidade, pela falta de tradição.

Foto: Arquivo pessoal

O site levando o nome de uma orixá é desrespeitoso às entidades e aos religiosos de matriz africana?

Em partes não. O erro desse sacerdote é chamar um espaço gourmet desses de casa de candomblé, terreiro de axé, quando na verdade parece um hotel, um espaço de estética, dentre os outros estabelecimentos que se assemelham. Podem dizer que é prosperidade, mas pra mim as coisas tem limites, Orixá não é isso. Existem casas maiores, com mais condições financeiras, porém entende que tudo existe tradição, limites, tudo é uma questão de senso. Quando a gente não tem simancol, e quando a gente deixa nosso senhor de engenho gritar mais do que nossos ancestrais, nosso espaço religioso vai ficando cada vez mais a cara da Europa, ao invés da África.

No próprio site, também há um vídeo antigo em que ele aparece no programa do Faustão ensinando simpatias contra a inveja e a fofoca. O que você achou dessa atitude em TV aberta?

As pessoas que não tem responsabilidades com a sua própria ancestralidade, gostam disso, de conhecer em um programa de TV, de mostrar um candomblé, uma fé que não existe, que traz o amor em 7 dias, ensina as pessoas a ficarem obcecadas achando que todos tem inveja delas, e aí essas pessoas vivem em pró de fazer trabalhos e limpezas espirituais toda hora, e assim só vão perdendo saúde mental, em pró de uma “melhora” que não irá acontecer.

Quem é de candomblé de verdade não precisa ir para televisão ensinar simpatia, ebó, feitiço, essas coisas gente ensina pessoalmente. Por isso que candomblé é a religião da oralidade, quando a gente perde isso, se torna o que está se tornando, esse espaço colonizado, cheio de senhores de engenho querendo roubar a todo modo a nossa tradição e transformá-la em casa grande.

|ATUALIZAÇÃO : Erramos! O Ilê Oxum Docô é uma casa de Batuque e não de Candomblé, como mencionado na entrevista. Entretanto, a crítica que o Léo Santos fez é em referência à todas as religiões de matriz africana. “Independente de ser batuque, tudo que vem dos nossos ancestrais pretos, não se parece com a Europa, somos pés no chão”|.

Assessoria de MC Marcinho nega notícia sobre o falecimento do cantor: “continua vivo e em estado grave”

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Foto: Divulgação.

A assessoria de MC Marcinho desmentiu a informação do falecimento do cantor, que foi publicada pelo jornal O Dia nesta tarde de sexta-feira (25). Em nota, os representantes do artista destacaram que ele teve um piora no quadro de saúde, mas continua vivo.

“MC Marcinho continua vivo e em estado grave. Contamos com a colaboração de todos com informações verdadeiras, em respeito à família e aos fãs”, informou a assessoria. “Ele está grave, sim, a família foi chamada, sim, mas ele segue ligado aos aparelhos”.

Foto: Divulgação.

O artista foi hospitalizado no dia 27 de junho devido a complicações de insuficiência cardíaca e renal, além de ter enfrentado uma grave infecção generalizada. No último dia 22 de agosto, seus familiares chegaram a pedir por doações de sangue para o artista.

A situação agravou-se quando o nome de Marcinho foi retirado da lista de espera para transplantes de órgãos. Isso ocorreu devido às regulamentações do Sistema Nacional de Transplantes, que estipulam que o receptor precisa apresentar condições mínimas para tolerar o procedimento cirúrgico e o subsequente enxerto do órgão. Infelizmente, MC Marcinho não atendia mais aos critérios dessa lista.

Luva de Pedreiro anuncia que vai ser pai: “Cristiano Ronaldo Jr. vem aí”

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Foto: Simon Plestenjak/UOL.

O influenciador Iran Ferreira, conhecido como Luva de Pedreiro, utilizou sua página no Instagram para anunciar que vai ser pai. Sem maiores detalhes, ele contou que o seu primeiro filho se chamará Cristiano Ronaldo Jr., em referência ao consagrador futebolista português.

“Vou falar a verdade todinha, não gosto de postar nada na internet, porque é só polêmica. Pronto, falei: eu vou ser pai”, disse Luva de Pedreiro, através do stories, com a legenda “Cristiano Ronaldo Jr. vem aí” no vídeo. O influenciador, que possui mais de 20 milhões de seguidores apenas no Instagram contou que não iria revelar a novidade por agora, mas que a gestação já está no quinto mês.

“Meu filho tem cinco meses e eu nunca falei a ninguém na internet, porque é só polêmica. Era para eu falar num momento momento especial, mas o pessoal estraga as coisas das pessoas só para botar em polêmica, em mentira”, contou ele. “Me deixa em paz, eu vou ser pai, agora (a gravidez é de) cinco meses, Cristiano Ronaldo Jr. vem aí. Pronto, falei. Não era para eu falar agora, mas vou falar. Me deixa eu em paz, deixa eu viver minha vida, estou feliz. Cristiano Ronaldo Jr. vem aí e é isso que importa“.

Luva de Pedreiro é um super fã de Cristiano Ronaldo e sempre viu o jogador como uma inspiração. Ele conheceu o astro no último mês de julho. “Depois de toda dificuldade que passei, andava mais de 10km a pé para postar um vídeo e o celular não tinha memória para gravar os mesmos. E hoje, chegar onde eu cheguei é algo inacreditável. Realizei meu sonho que era conhecer CRISTIANO RONALDO, onde eu achava que seria impossível“, publicou o influenciador. “Pra galera que me acompanha, sabe que ele sempre foi minha inspiração e isso que aconteceu comigo serve de exemplo pra todos vocês, não desista dos seus sonhos”.

Silvero Pereira aparece como Maníaco do Parque em novo filme sobre o homem que aterrorizou São Paulo nos anos 90

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Foto: Reprodução / Prime Video.

Foi divulgada nesta sexta-feira (25) a primeira imagem de Silvero Pereira caracterizado como o motoboy Francisco de Assis Pereira, condenado por atacar 21 mulheres, assassinar dez delas e esconder seus corpos no Parque do Estado, em São Paulo, no final dos anos 90. A obra, chamada de ‘Maníaco do Parque’ é produzida pela Santa Rita Filmes e tem previsão de lançamento para 2024.

Foto: Prime Video

No filme, Giovanna Grigio é Elena, uma repórter iniciante que vê na investigação dos crimes do homem conhecido como o maníaco do parque a grande chance de alavancar sua carreira. Ela revela as histórias de assassinatos enquanto Francisco de Assis Pereira segue livre atacando mulheres, e sua fama cresce vertiginosamente na mídia, gerando terror na capital paulista.

A produção do filme ‘Maníaco do Parque’ foi anunciada junto com o documentário O Maníaco do Parque: A História não Contada, que revisita o caso do assassino condenado sob uma nova perspectiva, a de quatro vítimas sobreviventes. Os projetos tiveram origem em uma pesquisa sem precedentes sobre os crimes. Para criar os roteiros, mais de 20 mil páginas do processo foram analisadas e mais de 50 pessoas foram entrevistadas, incluindo sobreviventes, familiares de vítimas, promotores, delegados, peritos, psicólogos, psiquiatras e advogados.

Zanin, Ministro indicado de Lula, confirma lado conservador e reforça a necessidade de enegrecer o STF

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Carlos Moura/SCO/STF

O voto de Criatiano Zanin contra a equiparação do crime de homofobia a injúria racial e contra a descriminalização do porte de drogas para consumo próprio é a constatação de que precisamos de uma pessoa negra com histórico de luta pelas pautas sociais ocupando um cargo no Supremo Tribunal Federal (STF).

Na última quinta-feira, 24, o julgamento sobre a descriminalização do porte de drogas para consumo próprio foi retomado no STF após o ministro Gilmar Mendes, relator do processo, pedir o adiamento da ação no dia 2 de agosto e propor que a medida fosse limitada à maconha, fixando uma quantidade permitida entre 25 e 60 gramas. 

Neste novo capítulo sobre a descriminalização do porte de maconha, o voto contra dado pelo ministro Cristiano Zanin, que no dia 3 de agosto tomou posse no STF após ter sua indicação publicada no Diário Oficial da União no dia 5 de julho, deixou a esquerda contrariada. Zanin era visto como um aliado, já que foi indicado pelo presidente Lula a impressão que muitos de nós tínhamos é a de que o ministro estaria alinhado às pautas progressistas e de que daria seu parecer favorável. Já que não se trata apenas de diferenciar quem é usuário de quem é traficante, mas de promover novas políticas sobre o tema que está diretamente ligado à pauta racial que vê o encarceramento em massa como uma consequência da guerra às drogas que aprisiona e mata em grandes números o povo negro.

Em sua justificativa Zanin argumentou que: “A mera descriminalização do porte de drogas para consumo apresenta problemas jurídicos e pode agravar a situação que enfrentamos na problemática do combate às drogas, que é dever constitucional. Não tenho dúvida de que os usuários são vítimas do tráfico e das organizações criminosas ligadas à exploração ilícita dessas substâncias, mas se o Estado tem o dever de zelar por todos, a descriminalização poderá contribuir ainda mais para esse problema de saúde”.

Ao argumentar que seria esse um “problema de saúde”, Zanin também ignora dados que mostram que 16 crianças foram atingidas por tiros só no Rio de Janeiro em confrontos entre policiais e bandidos só esse ano e que sete delas morreram, segundo dados do Instituto Fogo Cruzado, em uma guerra que não se justifica. A menina Eloah Passos, de 5 anos, é o rosto mais recente de criança que morreu ferida com um tiro no peito na Comunidade do Dendê, localizada na parte central da Ilha do Governador, durante uma manifestação que cobrava justiça pelo assassinato de um adolescente de 17 anos, morto pela polícia horas antes de Eloah na mesma comunidade.

Esperamos muito de um homem branco, de classe média que nunca se posicionou publicamente a favor de pautas raciais, mas que apenas defendeu outro homem branco em um julgamento que foi importante. Em resumo, é isso que Zanin representa, os seus, e isso é sobre o pacto da branquitude de que Cida Bento tanto argumenta. Na prática, ele ocupa um espaço porque concedeu ao seu antigo cliente uma vitória processual e “mereceu” um benefício. 

E já chegou ao STF reproduzindo o modelo de sociedade para o qual foi criado e do qual é beneficiado ao votar a favor de que magistrados julguem casos de escritórios em que seus parentes trabalham.  Afinal, antes de ser advogado de Lula, Cristiano Zanin era sócio do escritório “Teixeira Martins, que pertence ao seu sogro e está localizado em São Paulo, nos Jardins, área nobre da cidade. Depois do rompimento, ele abriu seu próprio escritório, chamado Zanin Martins Advogados.

O voto contra a equiparação do crime de homofobia com injúria racial e racismo é outro exemplo da falta de compromisso de Zanin com a realidade social do Brasil. Sua assessoria ainda justificou: “O voto deixa claro a importância que o ministro confere ao tema, no entanto, ele entende, e transcreve de forma fundamentada em seu voto, que o mérito do julgamento não poderia ser alterado por embargos de declaração, que servem apenas para esclarecer omissão, obscuridade, contradição ou erro material no julgado. E, na visão do ministro Zanin, não haveria a obscuridade apontada pelo ministro Fachin, relator do recurso”.

Ao que parece, Zanin sequer fez a lição de casa. Se é que recebeu a tarefa.

Diferente disso, uma pessoa negra que conheça as questões que tanto nos afligem e que causam danos coletivos devem ser critérios fundamentais para a próxima indicação de Lula ao STF. E ele pode achar nomes comprometidos para isso, já que existe uma campanha dedicada a alçar mulheres negras para uma cadeira no Supremo quando Rosa Weber se aposentar, no mês de setembro. Essa é a chance de Lula fazer mais que um favor, como fez a Zanin, mas de se responsabilizar pela questão racial que ele tanto afirma prezar.

Contra o racismo religioso, Luciano Bom Cabelo e João Martins lançam clipe do samba “Povo de Santo”

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Foto: Divulgação

Para aprofundar o debate sobre racismo religioso e respeito aos povos de terreiro, Luciano Bom Cabelo e João Martins uniram as canetas e as vozes para a canção “Povo de Santo”, lançada nesta sexta-feira, dia 25 de agosto, em todas as plataformas digitais, além do clipe oficial que já está disponível no Youtube.

A obra traz o debate provocativo sobre racismo religioso, sobretudo em tempos em que a intolerância é convertida em impunidade. A crítica vem em forma de música com a fé em dias melhores, mostrando a necessidade de expor a opressão e todas as dádivas proporcionadas pela fé: “Respeita o povo de santo que eu respeito o seu altar”.

Reconhecido como grande representante de compositores da nova geração de sambistas, Luciano Bom Cabelo tem um timbre de voz forte oriunda dos principais terreiros de samba do Rio de Janeiro como como “Renascença” ,“Beco do Rato”, “Terreiro de Crioulo”, “Criolice”, “Samba do Barão”, “Jacutá do Samba” e “Festa da Raça”. Devoto de Almir Guineto, o cantor e compositor já dividiu o palco com grandes nomes como Jorge Aragão, Wilson Moreira, Nei Lopes e Leci Brandão.

Já o músico João Martins, começou sua carreira nas rodas do Rio de Janeiro transitando entre a Lapa e o subúrbio com seu banjo. Além dos três álbuns autorais, já teve obras gravadas por nomes como Diogo Nogueira, Samba do Trabalhador, Revelação e Renato da Rocinha, e é autor de canções tocadas em todas as rodas de samba da cidade, como “Lendas da Mata (O Saci Rodopiou)”.

Com direção de Pedro Oliveira e produção de Felipe Pereira, o clipe é inspirado em pessoas que vivenciam e que estão todos os dias na luta contra o racismo religioso. Os profissionais também vem desenvolvendo na Cultne uma linguagem diferenciada na produção de vídeos para artistas como Leci Brandão, Nego Alvaro, Xande de Pilares, Marina Iris e Jessica Ellen.

Assista o clipe:

Ludmilla recebe Medalha Pedro Ernesto da Câmara do Rio por campanha de doação de sangue

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Foto: Ygor Marques

Nesta quinta-feira (24), a cantora Ludmilla recebeu da Câmara Municipal do Rio de Janeiro a Medalha Pedro Ernesto, maior honraria da Câmara, por causa da campanha promovida pela cantora em colaboração com o hospital HemoRio. O prêmio é concedido para pessoas e instituições que desempenham papéis importantes na sociedade. Familiares, amigos e fãs estiveram presentes na cerimônia que foi aberta ao público. 

A campanha do Numanice com o HemoRio aconteceu no mês de julho e, durante os três dias de ação, quem fosse doar sangue ganharia um ingresso para o Numanice no Rio. 

Logo no primeiro dia, os fãs lotaram o HemoRio e foram feitas mais de 500 doações, sendo o maior número de doações do hemocentro em um dia desde sua criação, em 1944. No total, foram arrecadadas mais de 2 mil bolsas de sangue nos três dias.

“Eu acho a gente não tem noção perfeita do que a gente acabou fazendo naquela ação. Muitas pessoas foram positivamente afetadas. Quero agradecer a vocês, a todos que foram lá doar. Ter esse reconhecimento agora, de pessoas que estão à frente da nossa cidade, com certeza vai entusiasmar outras pessoas a continuarem fazendo essas doações”, disse Lud durante a homenagem. 

Geração sanduíche e a exaustão dos profissionais negros 40+

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Foto: Reprodução

Texto: Viviane Elias Moreira

Precisamos honrar a nossa ancestralidade e pavimentar o futuro. Ouvir isso é como se fosse o efeito Drop the Mic [Largue o microfone, em tradução livre] do Obama e explico porque: nós, a primeira geração de executivos negros em posições estratégicas nas empresas (+ de 1% segundo as estatísticas em pesquisas de mercado), começamos a vivenciar um ponto inédito em nossa jornada coletiva: a vivência do tripé de cuidados familiares. O tripé de cuidados familiares é o nos tornar responsáveis pelos cuidados financeiro, social e de saúde da nossa base (pais) e do nosso futuro (filhos), e em muitos casos, a nossa base não é restrita a nossos familiares de 1º grau, pois envolve muitas vezes avós, tios, primos, primas, entre outros e o nosso futuro envolve sobrinhos e afilhados. Em resumo, somos parte da “geração sanduíche”.

A expressão “geração sanduíche” foi criada pelas assistentes sociais Dorothy Miller e Elaine Brody e descreve pessoas adultas que estão divididas entre os cuidados e responsabilidades com os próprios filhos e seus pais que, a partir de uma certa idade, também passavam a demandar alguns cuidados. No estudo “Geração Sanduíche no Brasil: realidade ou mito?”, as pesquisadoras detalham que esse fenômeno social acomete principalmente mulheres, sobretudo, as mulheres negras, entre os seus 40 e 49 anos que são encurraladas pela especificidades de duas gerações. Pare agora e reflita: se você não é uma destas pessoas, com certeza, conhece no mínimo 2 ou 3 nesta situação. Eu sou uma delas. 

Como diz minha querida amiga Andréa Cruz, da Serh1 consultoria, precisamos fazer a paz com a realidade. E esta realidade é que, de forma coletiva, não fomos preparados nem em segurança psicológica e financeira e muito menos orientados a desenvolver as possíveis estratégias para minimizar estes impactos em nossa rotina. A falta de acesso para muitos dos nossos avós, pais e irmãos mais velhos não nos permitiu viabilizar esta ação e, pego a minha geração pecando em não passar este conhecimento para as gerações futuras. Um exemplo: você incentiva os jovens da sua família a realização de exames médicos preventivos, como um check-up anual? Se a última vez que eles foram ao médico foi em uma consulta ao pediatra ou ao pronto-socorro, precisamos iniciar esta conversa.

Se me perguntarem como é ser uma executiva, c-level, head ou qualquer outra definição importada que concedam para nossos cargos, eu direi, sem dúvidas, que é exaustivo. Em meio a tantas demandas: carreira, vida social, o mercado, o racismo estrutural nosso de cada dia, as contas que não esperam, uma rotina conturbada e uma vida que pede arrego silenciosamente, muitos de nós estamos vivendo o que a sabia Conceição Evaristo diz: parecemos inteiros por fora, quando estamos partidos por dentro. 

De forma geral, o mundo corporativo não está preparado para apoiar seus executivos, sobretudo negros e suas interssecionalidades relacionadas a raça, gênero e classe neste ponto. Benefícios que poderiam minimizar estes impactos como  seguro funerário com extensão a pais e avós ou a possibilidade de adicioná-los  ao seu plano de saúde, mesmo que o custo seja só seu, possivelmente não fazem parte das cartas ofertas de muitos dos executivos negros do 1% no Brasil. 

“Afinal, quem cuida, de quem cuida?” No meio do fogo cruzado, essa pergunta que tem urgência de ser questionadora e ativa, mas que muitas vezes, se não a maioria, torna-se silenciosa, é sufocada por uma lista de tarefas intermináveis. Aqui fica o meu convite para esta  reflexão, porque quando você está na fase de geração sanduíche, líderes excludentes e envolvidos em processos moldados na falácia da meritocracia corporativa e racismo estrutural irão utilizar contra nós de forma muita estratégica e dolorosa os impactos que é cuidar de quem cuida. 

O objetivo desta coluna não é trazer soluções efetivas para cada jornada individualizada de famílias negras em nosso país que têm nesta onda de executivos negros a esperança de dias melhores para os seus descendentes. O que eu fiz para mitigar os impactos da minha vivência na geração sanduíche foi buscar uma rede de apoio dentro e fora do círculo familiar (ter muitos irmãos, primos, tios e tias nem sempre é garantia que a sua rede de apoio deve ser centralizada no núcleo familiar), encarar que a contratação de seguros de vida e funerário não são “coisas da elite” e sim uma demanda necessária, investir em possibilitar acesso a saúde preventiva e familiar (nem sempre particulares e aqui fica o meu Viva o SUS), buscar alternativas populares para realização de exames médicos de baixa complexidade quando necessário, proporcionar nem que for o mínimo de segurança e suporte psicológico de quem estamos cuidando, entender que financeiramente o não também é necessário, ter e viver meu tempo pessoal (o que preciso, o que quero e o que me motiva/satisfaz) e por fim, saber que alguns pratinhos irão cair. E tá tudo bem. Faz parte do acordo com a realidade. 

*Dedico esta coluna a todos os meus companheiros de jornada que estão vivendo este dilema. Vocês não estão sozinhos e não ficaram.

 

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