O cantor e empresário Akon afirmou que sua cidade futurista, conhecida como a “Wakanda da vida real”, avaliada em US$ 6 bilhões e planejada para ser construída no Senegal, negou rumores de que o empreendimento teria sido cancelado e afirma que ela está sendo alvo de ataques.
“O projeto Akon City está sob ataque. O impacto que vai causar para a África abalou um monte de agendas. Então você vai ver muita desinformação na Internet”, disse o artista, em entrevista recente ao TMZ.
Apresentada em 2018, a “Akon City” foi anunciada com promessas de hospital, universidade e estruturas movidas a energia solar, em um terreno de 136 acres na cidade de Mbodiène, no Senegal. Até agora, apenas um campo de basquete e um centro de informação foram construídos.
Akon garante que a iniciativa segue em andamento e que não foi abandonada. “É impossível. É o meu propósito desenvolver a África, e esse projeto faz parte desse desenvolvimento”, declarou.
Para ele, os ataques ao projeto fazem parte de uma tentativa deliberada de desacreditar sua proposta. “Quando se está a fazer algo tão grande em África, especificamente com todas estas agendas ligadas a isso, eles têm de tentar desacreditá-lo para que isso não aconteça”, concluiu.
Imagine morar em um país onde a política de governo não oferece abertura de negociação para todos que não pertencem a determinada raça, e ainda responde a qualquer tentativa através do uso da força. Pois era esse o contexto em que emergiu a liderança política de Nelson Mandela, cuja celebração da memória ocorre no dia18 de julho (Dia Internacional Nelson Mandela), mesma data de seu nascimento.
Nascido na aldeia de Mvezo no Transkei, África do Sul, em 1918, Nelson Mandela teve uma trajetória impactante e inspiradora, caracterizada pela coragem, resiliência e perseverança. O Partido Purificado alcançou o poder do país em 1948, e naquele momento iniciou as políticas de segregação racial, conhecidas como Apartheid. Os negros e brancos deveriam conviver separados, independentemente dos lugares em que estivessem. Escolas, banheiros públicos, assentos nos transportes, nas praças públicas, bebedouros, todos deveriam ser separados. Os casamentos inter-raciais eram proibidos. A circulação da população negra estava submetida a controle, tanto no perímetro quanto horário, entre outras medidas. Embora o prejuízo era somente da população negra, os brancos continuavam gozando de um elenco de privilégios.
Paralelo a essas situações, Mandela se tornava uma importante liderança política no meio dos estudantes e ativistas políticos. Ele era estudante de Direito na Universidade de Fort Hare, e participava de organizações que se articulavam para enfrentar a segregação racial. Mas quando ingressou no Conselho Nacional Africano (CNA) se projetou e tornou-se conhecido nacionalmente. O CNA passou de instituição de caráter burocrático, emissão de petições, e assumiu a luta armada contra o governo. Nelson Mandela e seus companheiros passaram a atuar na clandestinidade. O governo do Apartheid não permitia diálogo, era tudo a base da truculência, tanto que teve o trágico episódio conhecido como Massacre de Shaperville. Os policiais sul-africanos assassinaram dezenas de pessoas negras durante um protesto pelo direito de ir e vir sem restrição.
Convulsões explodiram pelo país, e mesmo assim o governo não parava com a violência. Mandela foi encarcerado e condenado à prisão perpétua pelo crime de terrorismo. Ainda assim, a sua esperança se manteve inabalável em meio a todas essas adversidades. Um governo racista e uma pena que teria que cumprir para o resto da sua vida. Do lado de fora do presídio, a população ao redor do mundo se mobilizava exigindo que o governo libertasse o famoso preso. Era inaceitável aquele regime de segregação e a prisão de alguém que se opunha àquela política.
Para os pessimistas, o improvável aconteceu. Muitas negociações ocorreram. Em 1990, após vinte e sete anos encarcerado, Nelson Mandela foi solto. Aboliram o Apartheid e o herói sul-africano se tornou presidente da África do Sul. Obviamente, acabou sendo agraciado com o prêmio Nobel da Paz. Portanto, a lição para nós, vítimas sistemáticas do racismo brasileiro, é que não podemos em hipótese alguma perder as esperanças. Lembremos sempre da história de Nelson Mandela.
Para falar de comida e ancestralidade para um público de afroempreendedores, não poderia deixar de voltar alguns anos na história do Brasil, onde as raízes desse nicho específico de empreendedorismo residem. Anos? Não, séculos. Precisamos falar das “escravas de ganho”, as “ganhadeiras” ou “negras de tabuleiro” dos séculos XVIII e XIX. Mulheres escravizadas, algumas libertas, que saíam às ruas do Rio de Janeiro, Salvador, São Luís do Maranhão e outras cidades com seus cestos, balaios e tabuleiros vendendo toda sorte de quitutes. Para as que ainda não tinham sido alforriadas, parte do ganho de suas vendas era destinado aos seus senhores, que podiam viver do ócio graças à desenvoltura de suas serviçais. Já as libertas eram donas de seus ganhos e, com isso, garantiam o sustento de suas famílias, a compra de alforrias e de bens como joias e, futuramente, imóveis.
É praticamente impossível citar todos os seus nomes, mas uma delas é notável: Tia Ciata, Hilária Batista de Almeida. Uma mulher baiana que, perseguida por policiais, teve que se mudar para o Rio de Janeiro, onde, com seus quitutes, exerceu forte influência na sociedade negra, comprou um imóvel que era ponto de encontro do movimento político, porto seguro para encontros musicais e onde foi gravado o primeiro samba brasileiro. Você imaginava que vender manjares, cocadas, bolos e acarajés nas ruas, no período colonial, poderia gerar tamanha revolução num sistema escravista?
Essas histórias estão registradas em alguns livros e também podemos conhecer parte dessas mulheres no acervo permanente do Museu Afro Brasil Emanoel Araújo, localizado em São Paulo. Essa visita é obrigatória e fundamental para todos nós. Se hoje milhares de mulheres empreendem na área da alimentação, é porque somos herança direta dessa fonte. Trago esse fato histórico para que a gente não se esqueça e para que sintamos orgulho do que nos constitui e nos faz empresárias, confeiteiras, cozinheiras, chefs de cozinha, assistentes, merendeiras, padeiras, quituteiras…
Outra informação que não pode ser deixada de lado é a existência brilhante de Benê Ricardo, que, nos anos 1980, foi a primeira mulher (você leu bem: mulher, e não mulher negra) a se formar numa graduação em gastronomia e a primeira a chefiar uma cozinha profissional de hotel cinco estrelas. Ela foi pioneira de verdade e deixou para nós um legado sem precedentes!
Lá nos Estados Unidos, também temos dois exemplos importantes: Lena Richard, autora de livros de cozinha e chef que apresentou um programa de televisão em Nova Orleans nos idos de 1940. Sabe a famosa cozinheira Julia Child? Ela estreou seu programa vinte anos depois de Lena Richard. E o primeiro chef de cozinha norte-americano foi James Hemings, um negro nascido escravo em 1765 e que foi chef do terceiro presidente dos Estados Unidos, Thomas Jefferson.
Dito isso, a ancestralidade é uma riqueza e nós precisamos beber nessa fonte. Mas, para mim, ela não é algo que ficou preso lá no passado; é algo que nos permeia, que corre muito viva em nossas veias a todo momento. A nossa ancestralidade pulsa, como querendo dizer: estou aqui com você. Olha para mim, me reconhece, lembra de mim, deixa eu ir junto com você nesse caminho do empreendedorismo gastronômico.
Sabemos que os caminhos nem sempre são fáceis, muitas vezes são tortuosos. Mas a capacitação é ferramenta fundamental para que as pedras do caminho sejam retiradas uma a uma, para que a tal da luz surja no tal do fim do túnel e que nosso jeito único de empreender seja finalmente encontrado. Tem quem faz assim, tem quem faz assado e tem quem não faz. Então, se você segue trabalhando, acreditando nos seus sonhos, estudando, aprendendo novas tecnologias, aprimorando o seu negócio, você está de parabéns e tem o nosso apoio.
A comida brasileira é afroindígena e muito do que comemos hoje é herança direta dos nossos antepassados. Para te inspirar, te conto que alimentos como o quiabo, o feijão fradinho, a melancia, o café, o inhame, o dendê, a pimenta malagueta e outros são de origem africana e vieram para estas terras durante as rotas transatlânticas. A fermentação de grãos e frutas é uma descoberta egípcia e, se o mundo todo come pão, bebe cerveja e vinho, é graças aos nossos antepassados mais distantes.
Eu sou pesquisadora de culturas alimentares e encontrei um jeito todo meu de fazer da casa e dos hábitos das mesas brasileiras o meu delicioso objeto de estudo. Uso a comida como desculpa para falar de tantos outros assuntos. Porque comer é um ato biológico, mas a comida é muito mais. Ela é ferramenta de comunicação, ato político e instrumento de transformação social. Eu vejo essa transformação acontecendo a todo momento. E te convido a enxergar a revolução que a comida também fez, faz e fará na sua vida. Então, recupera o caderno de receitas da sua família, tira o pilão do fundo do armário, respira bem fundo, enche o seu peito de ar e de autoestima e mãos à obra. Tem muita gente lá fora querendo comprar a sua comida e os seus serviços, vende bem o seu peixe! Ou a sua moqueca, bolo ou geleia. Estamos aqui para te aplaudir.
Texto: Patty Durães [@patty.duraes]. Pesquisadora de culturas alimentares, especializada na influência das heranças afrodiaspóricas na culinária brasileira. Com experiência em instituições como SESC, MASP e SENAC e Sebrae, ela é autora do curso “Muito Além da Boca” na plataforma EAD da Fundação Itaú, foi curadora da primeira edição do Menu Cultural em 2024. TEDX speaker e professora convidada na Dillard University, em New Orleans, também em 2024. Patty pesquisa projetos editoriais para a Cia das Letras e assina a pesquisa de personagens da série Coisas Daqui, para a Globo Minas e GNT. É professora de Festas Tradicionais Populares, Hospitalidade e Turismo gastronômico na pós-graduação em comida brasileira da faculdade de gastronomia do SENAC Santo Amaro e no Instagram, compartilha suas experiências e pesquisas.
Esse conteúdo é fruto de uma parceria entre Mundo Negro e Feira Preta.
Flora Cruz, filha do cantor e compositor Arlindo Cruz, se manifestou nas redes sociais nesta quarta-feira (16) para rebater informações falsas sobre o estado de saúde do pai, que está internado no Centro de Terapia Intensiva (CTI) do Hospital Barra D’Or, na zona oeste do Rio de Janeiro, desde o dia 29 de abril.
O sambista, que enfrenta sequelas de um AVC sofrido em 2017, foi hospitalizado com um quadro grave de pneumonia e, segundo a família, desenvolveu recentemente uma infecção por bactéria resistente. Apesar da gravidade, o quadro clínico é considerado estável.
Flora criticou a disseminação de conteúdos antigos e descontextualizados, muitos deles baseados em trechos da biografia. “Em nome de todos os familiares, amigos e principalmente em meu nome, como filha do Arlindo Cruz, gostaria de pedir respeito perante o momento que todos nós estamos vivendo. Meu pai segue internado, estável, sendo bem atendido e cuidado por toda equipe médica. Arlindo segue VIVO! Quanto a matérias com inverdades proferidas, muitas falas são baseadas em trechos que dizem respeito de momentos passados, que estão contidos na sua biografia, ‘O Sambista Perfeito’”, escreveu ela no Instagram.
A influenciadora também afirmou que entrevistas concedidas por sua mãe, Babi Cruz, esposa do cantor, vêm sendo compartilhadas como se fossem atuais. Segundo ela, as falas fazem parte de relatos antigos publicados no livro biográfico de Arlindo.
Flora disse ainda que as redes sociais serão o canal oficial de comunicação da família para futuras atualizações sobre o quadro de saúde do artista. “Qualquer atualização, será realizada por aqui e pelas redes do meu pai. No mais, gostaria apenas de reiterar e implorar por respeito”, concluiu.
A aprovação do novo marco do Licenciamento Ambiental pela Câmara dos Deputados representa um dos maiores retrocessos socioambientais da década — e seus impactos não serão distribuídos de forma igualitária. Esse projeto de lei, travestido de modernização, abre brechas graves para a dispensa de avaliação de impacto ambiental em empreendimentos de alto risco. Em um país marcado por desigualdades estruturais, é urgente nomear: trata-se também da oficialização do racismo ambiental como política de Estado.
Racismo ambiental é quando populações negras, indígenas e periféricas são as mais afetadas pelas decisões que destroem o meio ambiente, mas as menos ouvidas nos processos de decisão. É quando o desenvolvimento é autorizado em territórios onde o Estado historicamente só chega com abandono, ausência de serviços públicos ou repressão. É quando a floresta cai, o rio seca e a conta recai, mais uma vez, sobre quem tem menos recursos para se proteger.
O novo texto aprovado flexibiliza o licenciamento a ponto de permitir que empresas façam autodeclarações em vez de estudos técnicos. Dispensa audiências públicas em determinados casos. E classifica como “baixo impacto” atividades que, na prática, podem causar desmatamentos, poluição e expulsão de comunidades inteiras de seus territórios.
Não é só sobre burocracia. É sobre justiça.
Quando o Estado abre mão de sua responsabilidade de fiscalizar, quem perde não são os grandes empreendedores — são os animais silvestres, que perdem seu habitat, são os povos tradicionais, empurrados à margem, e são as periferias urbanas, que verão os efeitos da degradação ambiental no preço dos alimentos, na escassez de água potável, no aumento das zoonoses e da insegurança climática.
Não há como defender os animais sem defender os territórios onde eles vivem. E não há como falar em defesa ambiental sem enfrentar o racismo estrutural que orienta as prioridades políticas e econômicas do país.
A aprovação desse projeto revela também a urgência de mais diversidade e representatividade nos espaços de decisão. Onde estavam as vozes negras e indígenas quando se decidiu o futuro das florestas e dos rios? Quando a política ignora quem mais sofre os impactos de suas decisões, ela se torna cúmplice da injustiça.
Mas este não é um ponto final. É um chamado.
Precisamos fortalecer as redes de mobilização, ocupar espaços de poder, articular movimentos e transformar indignação em ação política. Porque proteger o meio ambiente também é lutar contra o racismo. Porque defender os animais também é defender os povos e comunidades tradicionais e seu modo de vida. E porque a vida, em todas as suas formas, precisa estar no centro das decisões.
Priscilla Arantes é jornalista, especialista em comunicação de impacto, colunista do site Mundo Negro e coordenadora de projetos de advocacy voltados para justiça racial, ambiental e direitos humanos. Natalia Figueiredo é gerente de políticas públicas da Proteção Animal Mundial Brasil. Atua com advocacy socioambiental, políticas públicas para o bem-estar animal e integração entre justiça climática e direitos das comunidades tradicionais.
Com o objetivo de enfrentar o racismo e a violência obstétrica nos serviços de saúde, a formação “Doulas Ikunle – Acolhimento Ancestral” anuncia a sua primeira turma pensada por e para mulheres pretas, indígenas e afroindígenas. O curso une ciência e tradição para fortalecer o cuidado perinatal em territórios urbanos, rurais e comunitários.
Idealizado pelas doulas Alice Vitória e Mariana Borges, a formação começa no dia 31 de julho, data em que se celebra o Dia Internacional da Mulher Africana. O Ikunle tem a proposta de formar mulheres racializadas que desejam atuar de forma ética, segura e conectada com seus saberes no acompanhamento de gestantes, partos e puerpérios.
A jornada formativa inclui certificação de até 280 horas. São 31 aulas online ao vivo, uma imersão presencial de 4 dias na Kasa de Maat (RJ) e mentoria com estágio supervisionado. As participantes aprendem com um corpo docente formado por parteiras tradicionais, enfermeiras obstetras, psicólogas, fisioterapeutas e lideranças espirituais — todas pretas e indígenas —, oferecendo uma experiência profunda de aprendizado, acolhimento e cura coletiva.
“Eu vejo o curso de formação para Doulas Negras como um território de partilha, cuidado e construção coletiva. Um espaço feito por nós e para as nossas, onde valorizamos os saberes ancestrais e as práticas baseadas em evidências científicas. Aqui, reafirmamos o poder da comunidade no acolhimento das nossas histórias, dos nossos corpos e dos nossos nascimentos”, destaca Mariana, doula, coordenadora, docente e mentora da formação.
A formação também abre espaço para práticas tradicionais como o uso de ervas, rebozo, massagens, ginecologia natural, medicina chinesa e rituais ancestrais. O objetivo é promover uma formação integral, que reconhece a sabedoria de quem historicamente sempre cuidou, mas nem sempre foi valorizada como profissional.
Além de combater o racismo estrutural na saúde, o Ikunle atua na redução da mortalidade materna e infantil e fortalece redes comunitárias de cuidado. Para ampliar o acesso, a organização ofereceu bolsas para mulheres quilombolas, indígenas, periféricas e assentadas.
“O Curso de Formação de Doulas Ikunle é uma iniciativa revolucionária, concebida por e para mulheres negras e indígenas — aquelas que mais sofrem com a violência obstétrica e lideram as estatísticas de mortalidade materna no Brasil. Para além desse gesto curador de transformar nossos maiores desafios em fonte de potência, o curso coloca os saberes ancestrais do partejar africano como parte fundamental do conhecimento, promovendo um encontro entre tradição e ciência. Assim, fortalece-se a união entre o conhecimento científico atualizado e o resgate da subjetividade feminina como um elemento essencial no ciclo gravídico-puerperal”, afirma Laís, aluna afroindígena, mãe e assentada do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra).
Houve uma seleção de bolsas para mulheres quilombolas, indígenas, periféricas e assentadas, garantindo acesso à formação e ampliando o impacto nas comunidades, mas já foi encerrada.
As inscrições estão abertas pelo Sympla, com valores a partir de R$65.
Foto: Bob Paulino/Globo e Leo Martins / Agência O Globo
Lázaro Ramostransformou seus dias ao lado de Ruth de Souza em uma emocionante homenagem literária no livro ‘A Rainha da Rua Paissandu’. A obra celebra a primeira grande dama negra da dramaturgia brasileira, que se tornou a primeira atriz negra a atuar no Theatro Municipal do Rio de Janeiro e a primeira brasileira a ser indicada a um prêmio internacional de cinema. Ruth tem sua trajetória contada por quem se reconhece como parte do caminho que ela abriu para artistas negros no Brasil.
Nascida em um subúrbio do Rio de Janeiro, Ruth de Souza morou por alguns anos em Minas Gerais, mas voltou à capital carioca após a morte do pai. Ainda muito jovem começou a atuar em peças e, com pouco mais de 20 anos, entrou no Teatro Experimental do Negro, grupo que abriu caminho para os artistas negros no Brasil. Esta e tantas outras histórias a própria Ruth — ou Dona Ruth, como era carinhosamente chamada — conta neste livro, como contou a Lázaro Ramos pouco antes de falecer, aos 98 anos.
Lázaro, que em sua trajetória como artista sempre se sentiu na obrigação de continuar desbravando o caminho aberto por Ruth de Souza, faz jus a essa grande mulher ao traduzir literariamente, com muita sensibilidade, as palavras dela. “No seu tempo e espaço e na cadência do seu ser.”
Com delicadeza, valendo-se das múltiplas possibilidades do texto dramatúrgico, Lázaro lança luz não só sobre a vida da dama do teatro e do cinema nacionais, como também sobre a participação da memória e dos afetos na construção das nossas histórias. Misto de peça, memórias e tributo, A Rainha da rua Paissandu, reúne fotografias, ilustrações inéditas e farta pesquisa para contar a vida de Ruth de Souza.
Publicado pela editora Intrínseca, o livro impresso custa R$ 69,90. O e-book: 34,90.
Referência no pensamento afro centrado, o filósofo e professor Renato Noguera convida o público a repensar o amor como força transformadora em seu novo livro, ‘ABC do amor – O que a poesia e a filosofia têm a dizer sobre os afetos’. A obra propõe um exercício de letramento afetivo, reunindo ensaios curtos sobre 103 palavras e expressões que atravessam as muitas formas de experienciar o amor, compreendendo-o como potência política e ato coletivo.
Inspirado na tradição dos griots — contadores de histórias da ancestralidade africana que transmitem sabedoria por meio da oralidade — Noguera constrói uma escrita acessível e profunda, que entrelaça pensamento filosófico, espiritualidade, poesia e vivência. Ao trazer termos como “Abraço”, “Alegria”, “Afeto”, “Amor como ato político”, “Amor-próprio”, “Amizade” e “Agamia”, o autor desenha uma cartografia dos afetos que convida à escuta, ao cuidado e à responsabilidade emocional.
A base teórica do livro passeia por diferentes matrizes do saber, articulando nomes como Espinosa, Platão, bell hooks, Sobonfu Somé e Nêgo Bispo. Nesse encontro de cosmopercepções ocidentais, afrodiaspóricas e indígenas, o amor aparece como tecnologia ancestral, como ferramenta de conexão e como impulso para o Bem Viver.
Para Noguera, publicar o livro é um gesto de partilha: “Publicar este livro é um sonho com os olhos abertos! Porque eu sempre quis adubar sorrisos solares dos afetos (incluindo os sombrios), compartilhando o desejo de saber o que sinto diante do tumulto do mundo”. O resultado é uma obra que não se limita a definir o amor, mas o reconhece em sua complexidade, em sua beleza e em sua capacidade de mover mundos.
No verbete “Abraço”, por exemplo, ele escreve que “entre Kemet, Kama Sutra e Umbanda, o abraço emerge como tecnologia ancestral de aproximação e reconexão. (…) O ato de abraçar está entre os afetos onde tudo cabe – do arrepio ao alívio, do calor do toque ao silêncio do amparo, do tesão ao compadrio”. Já em “Agamia”, é apresentado a “dinâmica amorosa que valoriza a solitude — estar bem sozinho. (…) A escolha consciente de viver fora do script de formar par”.
Lançamento e celebrações
O lançamento marca também três celebrações importantes para o autor: o dia do seu aniversário, os 18 anos de sua trajetória como escritor e a chegada de mais uma obra que une filosofia e poesia a serviço do afeto. A comemoração acontece no dia 18 de julho, no Cortiço Carioca, na Lapa (RJ), a partir das 18h, com música, roda de samba com a cantora Ana Bispo e encontro com leitores, parceiros e amigos.
Depois do lançamento no Rio de Janeiro, Renato Noguera participa da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), onde fará a abertura da Casa Poéticas Negras e integrará debates e mesas na Estante Virtual e na Casa Libre, entre os dias 30 de julho e 1º de agosto.
SERVIÇO
Eventos de lançamento do livro ‘ABC do Amor’
Dia: 18 de julho, sexta-feira, às 18h Local: Cortiço Carioca – Rua Joaquim Silva, 105 – Lapa, RJ
–
Lançamento em Paraty (RJ) / FLIP 2025
30/7 – 19h30 – Abertura Casa Poeticas Negras – ABC do amor: ancestralidade e letramento afetivo
31/7 – 10h – Estante Virtual – Renato Noguera e Daniel Dornelas
31/7 – 13h30 – Casa Libre – Palavras de cuidado e de luto com Cynthia Araújo, Daniel Dornellas e Renato Noguera
31/7 – 19h30 – Casa Poéticas Negras – Quando a palavra cura: racismo, saúde Henrique Marques Samym, Elisa Mattos e Renato Noguera.
A publicação mapeia experiências e serviços turísticos protagonizados por pessoas negras, além de identificar boas práticas nacionais e internacionais e subsidiar políticas públicas voltadas ao setor.
Para a elaboração do guia, foi aberto um formulário público onde empreendedores negros, comunidades tradicionais e gestores puderam indicar experiências em seus territórios. A curadoria resultou na seleção de 43 iniciativas afrocentradas.
O guia organiza as experiências por macrorregiões e por tipo de atividade, trazendo opções que vão de visitas a quilombos e terreiros até circuitos gastronômicos, museus e feiras culturais. Ao todo, as regiões Nordeste e Sudeste do país contam com 16 roteiros cada uma seguidas do Norte, com 5 roteiros; Centro-Oeste, com 4; e Sul, com 2 roteiros.
Entre esses passeios estão: a caminhada São Paulo Negra, que resgata as histórias negras que estão por toda a cidade; a Pequena África, onde os visitantes vão à zona portuária da cidade do Rio de Janeiro, conhecida pelo patrimônio cultural negro; e a Rota Pantanal Negro, uma experiência que une natureza, cultura e ancestralidade em pleno Pantanal Mato-Grossense.
A Academia de Televisão dos Estados Unidos anunciou nesta terça-feira (9) as indicações ao Emmy, e a representatividade de atores e apresentadores não brancos registrou queda em relação aos anos anteriores. Dos 28 profissionais de diversas origens reconhecidos este ano, houve uma redução de 18% frente aos 34 do ano passado, número próximo ao mais baixo desde 2019, quando 26 foram indicados.
As informações foram publicadas pelo portal Deadline, que apontou que o ápice da diversidade ocorreu em 2021, com 49 nomeados. Enquanto em 2023 apenas duas categorias não tiveram indicados não brancos, em 2024 foram três: Melhor Atriz em Série Dramática, Melhor Atriz Convidada em Série Dramática e Melhor Ator em Série de Comédia. Entre os não brancos, os artistas negros foram a maioria: 30 nomeados, representando 31% do total. O número é superior ao de 2023 (25 de 102, ou 24%) e 2021 (25 de 97, ou 26%), mas ainda abaixo do recorde de 2022, quando 42 dos 108 indicados (39%) eram negros, o maior patamar da história do Emmy.
A categoria de Melhor Atriz Coadjuvante em Comédia foi a mais diversa, com Jessica Williams (Shrinking), Sheryl Lee Ralph e Janelle James (Abbott Elementary) e Liza Colón-Zayas (The Bear), que em 2023 se tornou a primeira mulher de origem latina a vencer o prêmio. Já a estrela de ‘O Urso’, Ayo Edebiri, fez história como a primeira mulher negra indicada simultaneamente a atuação e direção em um mesmo ano. Aos 29 anos, ela também é a mais jovem a acumular três nomeações na carreira. Quinta Brunson (Abbott Elementary), com 11 indicações no total, igualou-se a Stefani Robinson como a mulher negra com mais nomeações em roteiro.
Pedro Pascal (The Last of Us) foi o único latino na categoria de Melhor Ator em Drama. Bowen Yang (Saturday Night Live) foi o único representante da comunidade AAPI (asiáticos e ilhas do Pacífico) entre os indicados, enquanto performances em The White Lotus e Round 6 foram ignoradas.
Entre os estreantes estão Zoë Kravitz (The Studio), Javier Bardem (Monsters) e Ruth Negga (Presumed Innocent), esta última já indicada ao Oscar em 2017. Rashida Jones, filha de Quincy Jones, recebeu sua primeira nomeação por atuação (Black Mirror), após ser reconhecida em documentário em 2015.
A cerimônia do Emmy será realizada em 15 de setembro, em Los Angeles, nos Estados Unidos.