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Vila AfroJunina celebra o São João com sabores ancestrais de empreendedoras negras em Salvador

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Cynthia Paixão (Aria Santana)

Em clima de festa junina, Salvador se prepara para receber a primeira edição da Vila AfroJunina – Comidas que Contam Histórias, iniciativa da Afrocentrados Conceito, instalada no piso L2 do Shopping Bela Vista. Até o final do mês de junho, o espaço se transforma em uma vila gastronômica dedicada a receitas típicas, bebidas artesanais e uma curadoria 100% assinada por mulheres negras empreendedoras.

A proposta vai além da venda de produtos sazonais. A Vila AfroJunina aposta na valorização da culinária afetiva e ancestral, reunindo doces, bolos e quitutes com narrativas que atravessam gerações. Entre as opções disponíveis para consumo imediato, encomendas ou retirada no local, o público encontrará releituras criativas de clássicos como bolo de paçoca, bolo de laranja e aipim, doce de jenipapo e amendoim coberto.

A seleção das marcas participantes foi conduzida por Cynthia Paixão, fundadora da Afrocentrados Conceito, além de idealizadora de projetos como o Ayô Circuito AfroColab e o coletivo Afrodonas. A estrutura logística, comercial e de comunicação também fica sob responsabilidade da Afrocentrados, garantindo que as expositoras possam focar exclusivamente na produção e na geração de renda.

“O que estamos criando é mais do que um ponto de venda. É um espaço que exalta as potências da culinária preta, das mãos que cozinham com memória, e da força do empreendedorismo feminino e comunitário. Nada melhor do que unir saberes tão importantes através de uma culinária que atravessa gerações. Nós, da equipe Afrocentrados, estamos muito orgulhosos com a chegada da nossa nova Vila!”, destaca Cynthia.

Conheça as empreendedoras que estarão na Vila AfroJunina

Cuscuz Odara 

A Cuscuz Odara tem como missão resgatar e valorizar a alimentação ancestral por meio de cuscuz recheado de milho, além de oferecer cuscuz de tapioca e cuscuz de arroz, sempre preparados com cuidado, sabor e afeto. Nossa proposta é levar ao cliente muito mais do que uma refeição: entregamos memória afetiva, cultura e aconchego em cada prato.

Meu nome é Dandara Bastos, proprietária da Cuscuz Odara, que nasceu em 2020, em meio à pandemia, quando o desemprego me levou a transformar um desafio em oportunidade. Desde então, venho me dedicando à gestão e à produção da empresa, cuidando de praticamente todas as áreas, muitas vezes com o apoio valioso da minha mãe e da minha irmã.

Dandara Bastos (Foto: Iaô Espaço de Criação)

Sabor com Amor 

Rejane Sacramento é confeiteira desde os 15 anos, apaixonada por transformar sabores em memórias afetivas. Com mais de 20 anos de experiência, é professora de confeitaria e fundadora da marca Sabor com Amor, onde desenvolve receitas exclusivas e experiências gastronômicas inspiradas nas tradições da sua mãe e avó, resgatando histórias de família em cada preparo. Para este São João, Rejane traz releituras criativas dos sabores típicos juninos, com aquele toque caseiro que aquece o coração

Doces Divinos da Mi

Meu nome é Michele de Jesus, tenho 42 anos. Sou uma mulher preta, periférica, mãe solo e empreendedora. Sou a CEO da Doces Divinos da Mi.  O negócio nasceu a partir de um momento desafiador em 2014, quando fui desligada da empresa em que trabalhava e logo em seguida fiquei grávida. Mas o empreendedorismo sempre esteve comigo, pois já vendia outras coisas desde a adolescência e cresci vendo minha mãe vender lanches nas ruas quando ficou desempregada. O empreendedorismo sempre fez parte da minha vida e eu amo empreender, pois empreender pra mim é um ato político e um caminho para a independência financeira.

Docizin

Meu nome é Taiana Carvalho, uma mulher preta, mãe solo, confeiteira e criadora da Docizin! A confeitaria sempre fez parte da minha vida, cresci encantada vendo minha mãe e minha avó transformar ingredientes simples em verdadeiras delícias. Na pandemia, decidi transformar esse amor em negócio. Assim nasceu a Docizin: uma confeitaria cheia de afeto, cor e sabor, especializada em bolos personalizados, feitos com todo cuidado nos mínimos detalhes. Cada bolo que sai daqui leva um pedacinho da minha história… e quero muito fazer parte da sua também!

Michele de Jesus (Foto: Divulgação)

Oyá Doces Delícias

A Oyá Doces Delícias nasce em agosto de 2015, com o desejo de conectar nossa ancestralidade à gastronomia contemporânea, a partir da criação de receitas, produção e comercialização de sequilhos artesanais com identidade ancestral. Marina Bonfim está à frente de um empreendimento familiar que reúne mulheres pretas de 30 a 69 anos, dando vida a um sonho coletivo. 

Nossa missão tem sido realizada, a medida que impacta a vida de mulheres pretas da periferia de Salvador – cercadas pelas múltiplas violências, através das nossas Oficinas de Culinária Criativa; onde elas aprendem a fazer sequilhos, ao tempo que fortalecem sua autoestima e se conectam com suas ancestralidades. Impactar é trazer doçura à vida das pessoas, é o que concretiza a existência da Oyá Doces Delícias.

Serviço

Vila AfroJunina – Comidas que Contam Histórias

Quando: até 30 de junho
Horário: Segunda à sábado, das 9h às 22h e aos domingos, das 12h às 21h
Onde: Loja Afrocentrados – Shopping Bela Vista (Piso L2)

Na visão de Marcele Gianmarino, pessoas diversas impulsionam inovação e crescimento na Sephora Brasil

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No mercado da beleza, sobretudo de marcas de prestígio, uma experiência de compra se torna mais rica quando temos variedade de produtos, seja por marcas, seja por ativos, seja por tecnologias inovadoras, somadas à credibilidade das marcas tradicionais. Quanto mais variado o leque de opções no ponto de venda, maior a satisfação do cliente.

Quando falamos de Sephora, gôndolas luxuosas atendem à demanda de clientes exigentes e dispostos a gastar para ter o melhor. No Brasil, por trás da estratégia de uma marca tão renomada e admirada, também está uma filosofia que tem no diverso a sua fortaleza.

A Gerente de Diversidade, Equidade e Inclusão da Sephora Brasil, Marcele Gianmarino, é a personificação da cultura da sede brasileira da empresa. Mulher não branca, de cabelos cacheados, bissexual, que ainda carrega na sua vivência a experiência de uma pessoa que foi adotada quando criança. “Essa agenda me atravessa por inteiro, pois é impossível dissociar minha trajetória pessoal do trabalho que realizo aqui. Acredito na transformação que ela pode gerar, não só para a sociedade, mas também para mim”, comenta Marcele.

Na Sephora, a executiva atua como líder estratégica em programas de equidade, inclusão e diversidade, com foco no desenvolvimento de iniciativas inovadoras que ampliem a conscientização e as competências culturais.

Foto: Divulgação

Com menos de três anos na empresa, Marcele já conseguiu feitos importantes no esforço de trazer mais diversidade para a marca, seja no time de colaboradores, seja entre os clientes. Um exemplo é o projeto Classes for Confidence, que utiliza a maquiagem como ferramenta para fortalecer a autoestima e promover o empoderamento de grupos sub-representados. A iniciativa já impactou mulheres trans, pessoas com deficiência, mulheres negras e mães atípicas. Em parceria com ONGs e institutos, a marca também realiza oficinas de beleza para mulheres em tratamento oncológico.

Porém, Marcele não disfarça que um de seus principais objetivos é trazer mais pessoas diversas, sobretudo pessoas negras, para dentro da empresa, para que a Sephora tenha um time de colaboradores que se pareça com a maioria dos brasileiros. Felizmente, a companhia, a nível global, compartilha do mesmo desejo, e a criação da área de Diversidade, Equidade e Inclusão (DEI), em 2023, foi o primeiro e fundamental passo para esse objetivo.

“A criação da área de Diversidade, Equidade e Inclusão (DEI), em 2023, marcou um ponto de inflexão para nossa empresa, transformando a diversidade em um pilar estratégico essencial para o nosso negócio. Primeiramente, desenhamos uma estratégia chamada Sephora (+), que foi apresentada a todos os colaboradores, trazendo transparência e envolvimento para toda a organização. Essa estratégia está dividida em curto, médio e longo prazo, e no curto prazo estamos focando especialmente na atração de talentos, com ênfase em raça e pessoas com deficiência, para que possamos refletir de forma mais fiel a demografia do Brasil”, detalha Marcele, destacando que o apoio da liderança foi essencial para dar visibilidade e direcionamento à agenda.

AUMENTO DE 32% DAS LIDERANÇAS NEGRAS

A inclusão da meta de diversidade nas metas da liderança foi uma das estratégias que resultou no aumento de representatividade e diversidade racial na empresa, inclusive nos cargos de gestão. De forma concreta, a Sephora conseguiu ampliar em 49% o número de colaboradores que se identificam como negros.

Na liderança, o número de colaboradores negros aumentou em 32%. Marcele detalha. “Investimos em treinamentos específicos para o time de recrutamento, capacitando-os para identificar e minimizar vieses inconscientes, e implementamos uma abordagem de recrutamento afirmativo, focando em atrair mais candidatos negros para todas as áreas, especialmente nas de liderança. Também realizamos uma travessia de diversidade para toda a liderança da organização, promovendo uma maior conscientização sobre as questões raciais e o papel de cada líder na construção de uma cultura inclusiva.”

Foto: Divulgação

Um dos maiores desafios em programas de grande impacto na cultura da empresa é a retenção de pessoas, e manter esses novos colaboradores também faz parte da estratégia.

“Para criar um ambiente onde essas pessoas se sintam verdadeiramente pertencentes e possam visualizar um caminho de desenvolvimento dentro da empresa, contamos com ferramentas como a pesquisa de engajamento anual e o censo de diversidade que rodamos a cada dois anos e que nos ajudam a monitorar a satisfação e o progresso dos nossos colaboradores negros, ajustando as estratégias conforme necessário para garantir um ambiente inclusivo e justo”, explica a líder.

Até o desligamento do colaborador recebe atenção específica, considerando os recortes racial e de pessoas com deficiência. “Isso nos permite entender as razões das saídas e agir proativamente para reduzir a rotatividade e melhorar nossas práticas de inclusão”, detalha Marcele.

ORGULHO PARA ALÉM DO MÊS DE JULHO

Neste ano, a Sephora ampliou sua atuação no Mês do Orgulho LGBTQIAPN+ com uma série de iniciativas de impacto, como o patrocínio da Parada do Orgulho LGBT+ de São Paulo e ações voltadas para a empregabilidade de pessoas LGBTQIAPN+. Para Marcele, essas ações externas são uma extensão natural do trabalho interno da empresa.

“Queremos que nossa empresa reflita a diversidade do Brasil e, por isso, estamos cada vez mais representando diferentes recortes em todos os níveis da organização”, afirma. O resultado já aparece na prática:  27% dos colaboradores são LGBT, sendo que 25% deles estão em cargos de liderança. 

Além da visibilidade proporcionada em grandes eventos como a Parada, a Sephora aposta em iniciativas concretas que geram oportunidades. “Essas ações externas não são apenas gestos simbólicos, mas a materialização do nosso compromisso com a inclusão”, destaca Marcele. O trabalho se estende ao fortalecimento da visibilidade de pessoas LGBTQIAPN+, mulheres, pessoas negras e pessoas com deficiência, criando mais portas de entrada para talentos diversos. Essa postura também reverbera dentro da empresa, que hoje oferece mais espaços de apoio e pertencimento para todos os colaboradores.

“ESSE TRABALHO TEM SIDO FUNDAMENTAL PARA AS MINHAS PRÓPRIAS CURAS”

Liderar uma agenda de diversidade, equidade e inclusão em um país marcado por profundas desigualdades exige mais do que estratégia. Envolve também vivências pessoais. No caso de Marcele, mulher não branca e membro da comunidade LGBTQIAPN+, o trabalho dentro da Sephora carrega um significado ainda mais especial.

Sua trajetória é atravessada por muitas das questões que hoje busca transformar na empresa. Ao longo dessa jornada, algumas experiências marcaram de forma decisiva sua atuação e seu olhar sobre o impacto dessas mudanças.

Foto: Divulgação

“Acompanho as mudanças de dentro da empresa com uma conexão muito pessoal. O momento mais marcante para mim foi o lançamento da nossa estratégia de diversidade, quando me apresentei abertamente como uma pessoa bissexual e adotada. Esses são temas sensíveis para mim, que normalmente não costumo falar abertamente, mas eu sabia da importância de compartilhar minha jornada, principalmente porque esses dois temas ainda carregam um estigma muito forte no nosso país”, diz a líder.

Marcele acredita que seu envolvimento profissional com o tema não pode ser dissociado de quem ela é. “Compartilhar minha história, sabendo que ela pode inspirar outras pessoas, tem sido uma forma de me conectar mais profundamente com minha própria jornada e com o impacto que buscamos gerar dentro da empresa”, comenta a gerente, que tem vivido e proporcionado experiências inéditas para pessoas como ela dentro das lojas da Sephora no Brasil. “Esse trabalho tem sido fundamental para minhas próprias curas e ressignificação de dores como a rejeição e a invisibilização”, finaliza.

Aclamado, “Torto Arado – O Musical” retorna a São Paulo com sessões no Sesc Pinheiros

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Foto: Caio Lírio

Após temporadas com sessões esgotadas em Salvador, Rio de Janeiro e São Paulo, “Torto Arado – O Musical” retorna à capital paulista a partir desta sexta-feira, 20 de junho, no Sesc Pinheiros, onde segue em cartaz até 6 de julho. A produção terá 12 apresentações, sempre de quinta a domingo. Os ingressos estão disponíveis no site do Sesc e nas bilheterias.

Inspirado no romance homônimo de Itamar Vieira Junior, o espetáculo propõe uma leitura livre da obra que aborda temas como trabalho análogo à escravidão, racismo, disputa por terra e religiosidade popular no sertão da Bahia. A montagem busca traduzir para o palco o lirismo e a carga social presentes no livro.

Com texto de Elísio Lopes Júnior, Aldri Anunciação e Fábio Espírito Santo, a produção mistura teatro e música para contar a história das irmãs Bibiana e Belonísia, marcadas por um acidente na infância e pela vivência em condições precárias de trabalho na Chapada Diamantina. A adaptação inclui ainda uma nova personagem: a avó Donana, ausente na narrativa original.

Foto: Caio Lírio

O elenco reúne 22 artistas, entre músicos e atores. Os papéis principais são interpretados por Larissa Luz (Bibiana), Bárbara Sut (Belonísia) e Lilian Valeska (Donana). A direção musical e as composições inéditas são assinadas por Jarbas Bittencourt, com foco em ritmos nordestinos e sonoridades ligadas ao cancioneiro do sertão.

“Fazer música para um personagem é aquele momento em que você abre um espaço em você, assim como faz o ator, e se deixa ser outro; deixa que outra voz lhe cante a música que está criando”, afirma Bittencourt sobre o processo criativo das canções. O espetáculo tem duração de duas horas e vinte minutos.

Segundo Elísio Lopes Júnior, que também assina a direção geral, a temporada de dois meses na capital baiana foi decisiva para fortalecer a identidade do projeto. “A sensação de ter estreado Torto Arado em Salvador, na Bahia, perto do lugar onde essa história foi concebida e perto das pessoas que entendem esse universo, nos deu uma sensação de pertencimento. A entrada do público foi mais um elemento dentro dessa contação de história e a gente percebeu que Torto Arado tem humor, tem dor, tem poesia, e isso tudo extraído do livro a partir do convívio desses personagens em cena”, disse.

Foto: Caio Lírio

“Os personagens de Torto Arado nos ensinam e agora partimos para novos palcos, novas plateias, mantendo a nossa musicalidade, nosso sotaque e a nossa identidade, esperando que o olhar de quem é de fora também consiga captar a poesia dessa aridez, esse humor e essa dor que a narrativa de Itamar Vieira Júnior nos oferece e que conseguimos transpor para o palco com o desejo de mostrar um pouquinho mais para o Brasil quem é o Brasil”, completa.

A direção de movimento é do diretor e coreógrafo Zebrinha, que baseou sua pesquisa na estética do Jarê, religiosidade do povo que permeia toda a trama. “O que estou tentando fazer com a estética e o vocabulário do movimento no espetáculo é tornar contemporânea essa visão e apresentar o que há de mais bonito e mais plásticos dentro dos rituais do Jarê”, afirma.

O espetáculo tem cenografia de Renata Mota, figurinos de Bettine Silveira e coordenação geral de Fernanda Bezerra, também idealizadora do projeto.

Foto: Caio Lírio

SERVIÇO:  

Torto Arado – O Musical

De 20 de junho a 6 de julho | quinta a sábado às 20h, e domingos e feriados às 18h

Duração: 150 minutos  

Local: Teatro Paulo Autran (Sesc Pinheiros)

Classificação: 14 anos

Ingressos: R$ 50 (inteira); R$ 25 (meia) e R$ 15 (credencial plena) 

Sesc Pinheiros – Rua Paes Leme, 195 

O show tem que continuar com e sem medo da tecnologia

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Cleber Augusto, ex-Fundo de Quintal (Foto: Cadu Andrade/Divulgação)

Texto: Viviane Elias

Sabe aquele dia de rotina que todas as mulheres pretas que fazem o seu corre ao longo da semana tiram para fazer o combo cuidar de si, da casa, dos seus afetos, tudo junto e misturado, ouvindo o seu samba e sem querer guerra com ninguém? Então, no meio da execução do meu combo semanal, o algoritmo me entrega o Grupo Arruda e o efeito choro-e-latinha-abrindo-sozinha aconteceu automaticamente ao ouvir o álbum Flores em Vida: Arruda Canta Cléber Augusto.

A skin do mundo corporativo foi ativada imediatamente quando percebi a conexão entre o álbum do Grupo Arruda, de 2021, e o projeto fantástico do Spotify, de 2025. Cada um à sua maneira: o Grupo Arruda, lá do samba do Maria Zélia, com a tecnologia periférica, e o Spotify, por meio da tecnologia hypada da IA, fizeram o que deveríamos ter feito há muito tempo: devolver a voz ao Cléber. E aqui vai toda a minha gratidão ao Grupo Arruda, que me fez esgotar, em duas horas, o estoque de latinhas programado para o final de semana, ouvindo: “Eu não sei o que é que vou dizer, quando chegar, e o sol raiar, você brigar por me esperar, me censurar, desta vez coberta de razão…”.

Voltando ao texto: estamos falando de um país que não reconhece os próprios gênios. E que precisa da tecnologia (ora, ora, parece que o jogo virou, não é mesmo?) para lembrar quem nos deu tanta beleza em forma de samba. Sim, estou falando de Cléber Augusto, violonista, compositor e uma das vozes fundadoras do grupo Fundo de Quintal. Se o nome não te soou familiar, não se culpe. 

A gente, enquanto sociedade, foi ensinada a esquecer as potências pretas, mesmo aquelas que escreveram “hinos” que você canta até hoje sem saber a origem. “O Show Tem Que Continuar”, “Só Pra Contrariar”, “A Batucada dos Nossos Tantãs”, “O Mapa da Mina”, “Oitava Cor”, “Você Quer Voltar”, entre tantas outras, têm a assinatura dele. Foram mais de 500 composições e, ainda assim, o racismo estrutural o empurrou durante muitos anos para o esquecimento e uma doença degenerativa chamada disfonia espasmódica, que afetou sua laringe e o impediu de cantar por quase duas décadas.

A empresa Spotify, com apoio da família e especialistas em tecnologia, usou a IA para recriar a voz do artista a partir de gravações antigas e nos devolveu a possibilidade de ouvir Cléber cantando novamente, potencializando o alcance do que o Grupo Arruda começou em 2021. Sim, a tecnologia, que muitos dizem que vai tirar nossos empregos, hoje devolve uma parte essencial da cultura preta brasileira, não somente para nós, brasileiros, mas para todo o mundo. Foi como ver um pedaço da história preta sendo refeito e restaurado. Um Brasil que ousa ouvir de novo os seus maiores mestres esquecidos.

A verdade é que qualquer tecnologia pode ser ferramenta de opressão ou de libertação. Tudo depende de quem está programando, de quem está usando e, principalmente, de quem está sendo lembrado. Dados da PwC mostram que, até 2030, a IA poderá agregar até US$ 15,7 trilhões à economia global, sendo a saúde uma das áreas com maior potencial de impacto. A IA já tem sido usada em diagnósticos precoces de câncer, predição de epidemias, reabilitação motora e criação de próteses inteligentes. Imagine isso aliado à recuperação de vozes, histórias e memórias pretas que o tempo e o racismo estrutural tentaram apagar?

Enquanto a IA cura vozes, o Brasil ainda se recusa a escutar. Porque é mais fácil viralizar tretas sobre colorismo no TikTok do que reconhecer quem realmente construiu nossa cultura. E vamos ser francos: tem muita gente ganhando dinheiro dividindo a gente. O caso de Cléber Augusto é um lembrete poderoso de que a tecnologia, quando usada como meio, e não como fim, pode ser um instrumento de cura, memória e justiça cultural. Enquanto perdemos tempo em discussões rasas sobre se a IA vai “roubar nossos empregos”, a verdade está em outra pergunta: como ela pode nos devolver o que a desigualdade nos tirou? Por que não reprogramar o futuro com os nossos nomes no código-fonte?

Para debatermos o futuro preto coletivo em tecnologia, precisamos discutir, de forma correta, como as respostas a questionamentos sobre como a IA pode potencializar talentos pretos, como podemos formar profissionais pretos para trabalhar com IA e como podemos usar essa tecnologia para contar a nossa história, a verdadeira, não a reborn que foi editada pelos “os” de sempre.

Cléber é só um entre tantos nomes pretos que merecem ser lembrados, não por nostalgia, mas por legado. A IA pode ser uma aliada nessa recuperação da história real, da música, da cultura, da ciência preta e, para isso, precisamos parar de ter medo da tecnologia e começar a dominá-la. Se queremos ocupar o topo das empresas, dos algoritmos e das narrativas, precisamos sair do medo e entrar no protagonismo.

O show tem que continuar, sim, mas com um novo roteiro. E se for para usar a IA ou qualquer outro tipo de tecnologia, que seja para amplificar nossas vozes, não para silenciá-las mais uma vez. Que a batucada dos nossos tantãs ecoe nos algoritmos. Que o mapa da mina inclua os nossos nomes. E que cada samba que o Brasil tentou esquecer seja lembrado em estéreo, com voz restaurada e memória viva, afinal, como já dizia Cléber, “ninguém vai calar esse nosso canto”.

Eu estou indo porque preciso voltar ao meu combo e abrir uma nova latinha, porque agora está tocando Oitava Cor. Salve Cléber Augusto, Grupo Arruda e todos envolvidos neste projeto do Spotify. Este brinde é para vocês e para a tecnologia lindamente utilizada como meio por vocês.

Titi Gagliasso completa 12 anos: ícone de estilo e inspiração para meninas pretas

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Foto: Reprodução/Instagram

O tempo passou muito rápido e Titi Gagliasso, filha de Giovanna Ewbank e Bruno Gagliasso, completa 12 anos nesta sexta-feira, 20 de junho. Crescendo sob os holofotes, Titi conquistou nossos corações com seu carisma, estilo único e, principalmente, como símbolo de representatividade para tantas meninas pretas que se veem nela. Além disso, a pré-adolescente já considerada um ícone fashion.

Com combinações de looks estilosos, penteados que valorizam a beleza dos cabelos crespos e as múltiplas possibilidades de penteados afro, Titi já protagonizou ensaios fotográficos, participou de campanhas e encantou seguidores de seus pais com sua autenticidade.

Além da influência no mundo da moda, ainda que muito pequena, Titi também representa muitas crianças negras no Brasil, um país onde o racismo estrutural ainda impacta a infância, ver uma menina preta sendo celebrada como referência é um ato poderoso de transformação. Nas redes sociais, os pais Giovanna e Bruno frequentemente compartilham momentos especiais ao lado da filha, sempre exaltando sua beleza, inteligência e força. As publicações da família neste dia de celebração são uma verdadeira demonstração de amor e orgulho.

Para celebrar a data, os pais de Titi compartilharam no Instagram um ensaio fotográfico com um texto emocionado sore Titi: “Você ja tem opinião. Tem atitude. Autoestima e amor-próprio. E está começando a dar os próprios passos, e o mais lindo é que não são os passos que a mandam, não os que esperam de você…mas os que vêm do seu coração, da sua vontade, os que fazem sentido pra você. E isso é muito potente!”.

Roberta Rodrigues recorre na Justiça e pede R$ 10 milhões da Globo por racismo nos bastidores de novela

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Foto: João Cotta/Globo

A atriz Roberta Rodrigues entrou com recurso na Justiça para aumentar a indenização no processo que move contra a Globo por racismo nos bastidores da novela ‘Nos Tempos do Imperador’ (2021). Ela já teve a ação reconhecida em primeira instância, mas contesta o valor fixado: R$ 500 mil, teto estipulado pelo Ministério do Trabalho.

Em entrevista ao portal Leo Dias, Roberta afirmou que também solicitou a retirada do sigilo do processo. “Ganhei o processo já, eu recorri a respeito do valor e também pedi para que não fique em sigilo, porque eu acho que as pessoas que entrarem com qualquer ação a respeito de racismo, pode usar esse processo a favor”, disse.

Segundo a atriz, o pedido de segredo de Justiça partiu da emissora. “No meu caso, eu não tive nenhum [caso] para poder acoplar no meu. Eu quero que ele sirva para que as pessoas entendam que tem que batalhar pelos seus direitos”, afirmou.

Roberta afirmou ainda que a Globo não pagou a indenização de R$ 500 mil determinada pela Justiça. “A gente não teve acordo. Eu ganhei o teto máximo do Ministério do Trabalho, e aí eu recorri pelo valor que eu pedi e aí estamos aí esperando o resultado. E mesmo assim a Globo não pagou os 500 mil, por isso que eu tô batalhando. Vamos para os 10 milhões”.

Ela e outras atrizes que participaram da novela, Dani Ornellas e Cinara Leal, acusaram o diretor Vinícius Coimbra de conduta racista, com relatos de segregação entre brancos e negros nos bastidores da produção.

Desde então, longe da TV aberta, Roberta Rodrigues tem se dedicado ao streaming e ao cinema. Recentemente, estreou na quarta temporada da série ‘A Divisão’, do Globoplay, e foi indicada ao Prêmio Grande Otelo 2025 como Melhor Atriz de Série de Ficção pelo aclamado papel de Berenice em ‘Cidade de Deus – A Luta Não Para’, da HBO Max.

No Mano a Mano, Lula critica violência policial: ‘Não é ficar perseguindo a pessoa pela cor’

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Foto: Ricardo Stuckert

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi o convidado do episódio mais recente do podcast Mano a Mano, apresentado por Mano Brown e Semayat Oliveira, que foi ao ar na última quinta-feira,19 d e junho. Em uma conversa gravada no Palácio da Alvorada, Lula falou sobre a realidade da juventude negra e periférica no Brasil, abordando especialmente a violência policial e as desigualdades que seguem matando os jovens.

Durante o episódio, Semayat Oliveira lembrou do Plano Juventude Negra Viva, lançado pelo governo federal, por meio do Ministério da Igualdade Racial, que busca a redução das vulnerabilidades que afetam a juventude negra brasileira e a violência letal alicerçada no racismo, questionando o presidente sobre ações para diminuir a violência: “Hoje, na periferia, a polícia age como se fosse inimigo. No bairro do pobre ela chega atirando, no bairro do rico ela chega perguntando. Porque nós estamos exigindo o uso da câmera? Porque ela vai tornar mais comedido o comportamento policial. Ele sabe que ele tá sendo vigiado, então ele tem que chegar e perguntar para as pessoas. Não é ficar perseguindo a pessoa pela cor, ou pelo bairro ou se a rua tem asfalto ou não. As pessoas têm que ter seriedade. É isso que nós queremos instruir”, disse Lula, ao defender a volta das câmeras corporais nos uniformes da polícia.

“A questão da segurança é um problema no Brasil desde que me conheço por gente. Hoje, o policial é mal remunerado, anda armado e, de preferência, ele não quer saber da violência que ele pratica. Por isso estamos exigindo a volta das câmeras para que a gente saiba o que vai fazer”, afirmou.

Ao lembrar a demarcação de terras indígenas e de territórios quilombolas durante a conversa com Mano Brown, Lula afirmou: “Você sabe quantos territórios indígenas já liberamos? Quantos quilombolas estamos legalizando? Estamos dando cidadania a um povo que estava sem esperança nesse país. E isso é tudo muito complicado, porque você tem toda uma máquina estruturada criando dificuldade para fazer”, disse.

Além da segurança pública, Lula falou sobre o cenário político nacional e garantiu que será candidato à reeleição em 2026. “Se depender do meu esforço físico, da minha consciência política, a extrema direita não volta a governar esse país, pode ter certeza disso”, destacou. O presidente criticou a dificuldade em disputar espaço nas redes sociais diante das campanhas de desinformação. “Eu nunca vou esperar que um bolsonarista fale bem de uma política minha. Eu acho que ele vai sempre nos criticar, ele vai sempre dizer uma mentira, sempre vai contar uma inverdade. E nós temos que estar preparados para isso. Eu trato isso com muita tranquilidade. É um jogo que está sendo jogado.”

Lula também reforçou seu compromisso com uma campanha limpa: “Eu só posso te dizer uma coisa, eu não utilizarei as redes digitais para contar mentiras contra nenhum adversário. Não me peçam para fazer uma campanha mentirosa, que não faz parte da minha vida.”

Novas medidas sociais

O presidente aproveitou o episódio para anunciar novas medidas sociais. Ele prometeu uma linha de crédito para entregadores de aplicativos comprarem motocicletas elétricas, além de lançar um programa para financiamento de reformas habitacionais. Lula também garantiu que pretende incluir o gás de cozinha na cesta básica, permitindo que cerca de 17 milhões de famílias tenham acesso gratuito ao botijão.

“Ainda este mês tenho que anunciar um programa de crédito para reforma de casa. Porque às vezes você tem sua casinha e não quer uma casa nova, você quer fazer um quarto, quer fazer um banheiro novo.”

Sobre o preço do gás, o presidente criticou a diferença entre o valor de venda da Petrobras e o preço pago nas periferias: “Um gás de cozinha sai da Petrobras a R$ 37 o botijão de 13 quilos e chega às pessoas por R$ 140. Então, estamos encontrando um meio de fazer com que essas pessoas mais pobres recebam este gás de graça.”

Lula também falou sobre a necessidade de dialogar com a juventude brasileira e reconheceu que este público é um dos mais impactados pela falta de acesso e pelas desigualdades. “Conversar com a juventude brasileira é uma coisa séria. A juventude é muito mais vulnerável, é muito mais ousada, é muito mais rebelde. E nós precisamos conversar muito com a juventude, porque é ela quem vai construir o futuro desse país.”

Em resposta à jornalista Semayat Oliveira sobre a crise no INSS e o impacto nas pesquisas de opinião, Lula foi direto: “Quando sai uma denúncia de corrupção no meio do meu governo, é normal que no primeiro momento as pessoas pensem que foi no governo Lula, porque fomos nós que descobrimos. Eu tenho certeza que a gente vai melhorar na pesquisa, eu tenho certeza que o governo vai melhorar.”

Idris Elba e Halle Bailey são cotados para viver protagonistas de ‘O Guarda-Costas’

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Foto Halle: Don Arnold/Getty Images Foto Idris Elba: Frazer Harrison/Getty Images

O remake de O Guarda-Costas, clássico de 1992 estrelado por Whitney Houston e Kevin Costner, pode ter seus protagonistas definidos em breve. Segundo rumores dos bastidores, a cantora e atriz Halle Bailey, intérprete de ‘Ariel’ no live-action de A Pequena Sereia e o ator Idris Elba estão entre os favoritos para viver Rachel Marron e o guarda-costas Frank Farmer, respectivamente.

As especulações ganharam força após a Warner Bros. confirmar, em abril, os planos para o relançamento do filme, com Sam Wrench (Taylor Swift: The Eras Tour) na direção e Jonathan A. Abrams (Jurado Nº 2) no roteiro. A produção ainda não divulgou um cronograma oficial, mas a escolha do elenco é aguardada com expectativa, especialmente pelo legado do original — que arrecadou US$ 411 milhões e teve trilha sonora recorde, impulsionada por sucessos como I Will Always Love You.

Halle Bailey surge como forte candidata após o nome de Taylor Swift gerar polêmica entre fãs. Também conhecida por seu talento vocal, Bailley teria perfil ideal para interpretar a estrela pop ameaçada por um stalker. Outros nomes, como Ariana Grande e Chlöe Bailey, irmãe de Halle, também foram especulados. Já para o papel do ex-agente do Serviço Secreto, Idris Elba lidera as apostas.

O filme original, dirigido por Mick Jackson, foi um fenômeno cultural, conciliando suspense, romance e números musicais icônicos. A Warner Bros. pretende manter essa essência, mas com uma “nova leitura” para as gerações atuais. Além do remake de O Guarda-Costas, o estúdio investe em revivals como MatrixBeetlejuice Beetlejuice e Practical Magic.

“Até a Última Gota”: quando o racismo, o machismo e o classismo esgotam uma mulher negra

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Crédito: Chip Bergmann/Perry Well Films 2/Cortesia Netflix ©2025

Texto: Luciano Ramos

(Contém spoilers)*

Em Até a Última Gota, o diretor Tyler Perry nos oferece um filme que é mais do que drama. É denúncia. É espelho. É ferida aberta. A personagem Janyah — magistralmente interpretada por Taraji P. Henson — não é apenas uma mulher negra em desespero. Ela é o retrato vivo das consequências devastadoras do racismo estrutural, do machismo e da desigualdade de classe que moldam, controlam e, por fim, esmagam a vida de milhões de mulheres negras no mundo real.

Janyah é mãe solo, cuidadora, profissional dedicada. Mas no sistema em que vive, isso nunca é suficiente. Ela acorda às 5h da manhã, enfrenta dois empregos mal remunerados, carrega a responsabilidade integral pelo cuidado da filha doente e lida com uma burocracia institucional fria, cega e racista. Ao longo de um único dia, ela é despejada, demitida, descredibilizada, ignorada por instituições públicas e privadas — tudo isso enquanto tenta salvar a vida da filha, que precisa de um tratamento urgente.

Mas por que essa história nos atravessa tão fundo? Porque não é ficção. É estrutura. É cotidiano.

Taraji P. Henson em ‘Até a Última Gota’ (Crédito: Chip Bergmann/Perry Well Films 2/Cortesia Netflix)

Racismo estrutural: a negação da humanidade

O racismo aqui não aparece com capuz, nem com insultos gritados. Ele aparece com um sorriso burocrático, com a falta de atendimento no hospital, com o gerente do banco que a humilha, com a assistente social que desacredita sua palavra. O racismo impede que Janyah seja vista como uma mulher digna de confiança, de cuidado, de escuta.

Janyah não é enxergada como mãe. É tratada como ameaça. Como suspeita. Como problema. O sistema não se importa com sua dor — e pior: não acredita nela. Isso é o que o racismo estrutural faz com mulheres negras todos os dias. Ele opera silenciosamente, em camadas, retirando direitos, secando oportunidades, apagando afetos. E quando elas reagem, são tratadas como loucas, perigosas, irracionais.

Taraji P. Henson em ‘Até a Última Gota’ (Crédito: Chip Bergmann/Perry Well Films 2/Cortesia Netflix)

Machismo e a ausência do cuidado partilhado

Janyah está sozinha. Nenhuma figura masculina a apoia. O pai da criança é ausente. No trabalho, homens brancos ocupam posições de poder e controle, enquanto ela é explorada e descartada. Essa solidão feminina não é casual. É estrutural. O machismo retira dos homens a responsabilidade pelo cuidado e joga nas costas das mulheres — especialmente das mulheres negras — o peso de sustentar o mundo. Se algo dá errado, a culpa também é delas.

A dor de Janyah não é apenas pela filha. É também pela carga solitária, insuportável, de ser tudo para todos e ainda ser desacreditada. A masculinidade, neste contexto, aparece como ausência. E essa ausência é uma forma de violência.

Taraji P. Henson em ‘Até a Última Gota’ (Crédito: Chip Bergmann/Perry Well Films 2/Cortesia Netflix)

Classismo e o ciclo da pobreza

O classismo se materializa em cada porta fechada. Janyah mora num prédio em condições precárias, pega ônibus lotado, raciona comida, não tem acesso a crédito, não tem tempo para o próprio sofrimento. Quando sua filha adoece, ela não tem a quem recorrer. O sistema não oferece amparo, mas armadilhas: se ela falta ao trabalho, perde o emprego; se deixa a filha sozinha, é negligente; se pede ajuda, é suspeita.

A falta de acesso a recursos básicos — moradia, saúde, renda — empurra Janyah para uma espiral de desespero que culmina numa ação extrema: o assalto a banco. Mas o filme deixa claro: essa não é uma história sobre crime. É uma história sobre abandono.

Taraji P. Henson em ‘Até a Última Gota’ (Crédito: Chip Bergmann/Perry Well Films 2/Cortesia Netflix)

O limite entre o colapso e a resistência

Quando Janyah entra no banco, ela carrega uma arma, mas carrega também um pedido de socorro. Um pedido para ser vista, ouvida, cuidada. É o grito de quem já perdeu tudo, até mesmo a filha — e não teve tempo de chorar. A cena final, em que descobrimos que Aria já havia morrido, expõe a profundidade do trauma: Janyah estava negando a morte como forma de sobrevivência psíquica.

A dor não é individual. É coletiva. É o retrato da negligência institucional que insiste em tratar mulheres negras como descartáveis, mesmo quando elas gritam por dignidade.

Teyana Taylor e Rockmond Dunbar em ‘Até a Última Gota’. (Crédito: Chip Bergmann/Perry Well Films 2/Cortesia Netflix ©2025)

Precisamos ouvir Janyah

Até a Última Gota é um filme sobre violência. Mas não a violência espetacularizada das armas. É a violência cotidiana que esmaga lentamente. A violência de ser invisível, desacreditada, usada, abandonada.

Se Janyah chegou ao limite, é porque o sistema falhou. O crime, aqui, é o abandono. É a ausência de políticas públicas. É a naturalização do sofrimento negro. É a misoginia. É o racismo. É a pobreza.

Este filme não deve ser apenas assistido. Deve ser debatido. Deve nos constranger. Porque cada “Janyah” que se cala ou enlouquece sem ser ouvida é mais uma prova de que seguimos falhando — enquanto sociedade, enquanto política, enquanto humanidade

Taste Festival 2025 recebe Feira Preta Pocket com chefs negros e sabores de ancestralidade

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Foto: Reprodução/Instagram

O Taste Festival 2025, um dos maiores eventos de gastronomia do mundo, está de volta a São Paulo e, nesta edição, conta com uma presença preta super potente, reunindo chefs e empreendedores negros, além de uma muitos shows. O evento permanecerá até o dia 29, aos finais de semana, no Parque Villa-Lobos.

Entre os destaques está a Feira Preta Pocket, que chega ao festival com as marcas PopCorn Gourmet, da Elaine Moura, Dona DÔ’s Doces, da Domênica Sousa, e Matulas da Nêga, da Suellen Maristela, levando sabores que têm ancestralidade e afeto como principais ingredientes.

“É muito importante a gente conseguir estar nesses espaços. É muito importante estar em meio a toda a gastronomia, aos grandes da gastronomia, e mostrar que a gente também tem essa potência. Poder estar num evento desse tamanho, podendo mostrar nossos produtos, nossa marca, estar perto dos nossos, que fazem também produtos de tanta qualidade”, disse Suellen nas redes sociais, ao convidar o público para prestigiar os afro empreendedores no evento.

A programação segue com nomes de peso da cena periférica e afro-brasileira da gastronomia. No dia 22, o espaço Fire Pit by BB Estilo, contará com a participação de Tia Nice, Thiago e Cátia do Organicamente Rango, ensinando a preparar tainha na folha de bananeira. Enquanto no dia 27, Dona Carmem Virgínia do Altar Cozinha Ancestral vai mostrar como fazer o Arroz Jollof, uma comida ancestral para partilhar.

Veja a programação completa e os ingressos disponíveis aqui!

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