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Dívida tem cor: como o crédito reproduz o racismo e a desigualdade no Brasil

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Foto: Freepik

Por Alan Soares

No Brasil de 2025, a palavra “crédito” designa duas realidades radicalmente opostas. Para uns, é alavanca de enriquecimento, ferramenta de multiplicação patrimonial, estratégia sofisticada de construção de império. Para outros, especialmente para a população negra, é uma armadilha de sobrevivência, mecanismo de endividamento estrutural, caminho sem volta para a inadimplência e a exclusão.

Esta não é apenas uma diferença de grau, mas de natureza. O sistema de crédito brasileiro não é neutro. Ele foi desenhado, historicamente, para transferir riqueza de baixo para cima, dos pobres para os ricos, dos negros para os brancos. E compreender essa dinâmica é fundamental para entender como o racismo estrutural se perpetua através das finanças.

O Abismo em Números: Quando os Dados Revelam o Racismo

Os dados de 2024 e 2025 revelam uma crise de endividamento sem precedentes, mas que atinge as classes sociais e as raças de maneiras brutalmente desiguais.

81% das famílias com renda de até três salários mínimos estão endividadas, com 37% inadimplentes e 18% sem condições de quitar seus débitos. Em contraste, 66% dos ricos (acima de 10 salários mínimos) estão endividados, mas apenas 14% inadimplentes e só 5% sem condições de quitar.

A aparente contradição, os pobres terem mais dívidas que os ricos, apesar de terem menos acesso a crédito revela algo fundamental: os pobres se endividam para sobreviver; os ricos se endividam para enriquecer.

E quando adicionamos a dimensão racial a essa equação, o quadro se torna ainda mais brutal. A população negra representa 56% dos brasileiros, mas 72,9% dos desempregados. Mesmo quando conseguem trabalho, ganham em média 66% do salário de pessoas brancas. Mulheres negras enfrentam taxas de desemprego mais que o dobro das de homens não negros.

No mercado de crédito especificamente, empreendedores negros têm crédito negado três vezes mais que empreendedores brancos, mesmo representando 53% dos micros e pequenos empreendedores do país. Quando conseguem crédito, frequentemente recebem condições piores: maiores taxas de juros, menores limites e prazos mais curtos.

Esta é a face do racismo financeiro: não apenas negar oportunidades, mas cobrar mais caro por elas quando finalmente são concedidas.


Rodar da minutagem 2:26 até 3:28 https://www.youtube.com/watch?v=e3_TniHlH0Q&list=RDe3_TniHlH0Q&start_radio=1

Como os Ricos Usam o Crédito: A Alavancagem como Acumulação

“Rico sempre financia”, afirmou Caio Mesquita, CEO do Grupo Empiricus, explicando como utilizou alavancagem financeira para adquirir uma propriedade de R$ 8 milhões, que quatro anos depois estava valendo R$ 20 milhões, com um ganho de R$ 15 milhões “sem nem mesmo precisar usar o próprio dinheiro”.

Esta lógica, pegar emprestado para enriquecer, é o oposto absoluto da experiência da população negra e pobre com o crédito. Para os ricos, o crédito permite:

Preservar liquidez: O dinheiro que seria usado na compra à vista permanece disponível para outras oportunidades de investimento.

Alavancar patrimônio: Com o mesmo capital, é possível adquirir múltiplos ativos, multiplicando exponencialmente os ganhos quando esses ativos se valorizam.

Acessar dinheiro barato: Brasileiros ricos costumam contrair empréstimos, muitos denominados em dólares, usando garantias como ações, com juros muito inferiores aos praticados para a população em geral.

Fazer o dinheiro trabalhar: Comprar um imóvel financiado e alugá-lo, usando a renda do aluguel para pagar as parcelas, permite aquisição de patrimônio com custo líquido próximo de zero.

A XP, a maior corretora independente do Brasil, abriu um banco oferecendo empréstimos onde indivíduos podem tomar crédito usando como garantia o dinheiro em fundos de investimento. Ou seja: você pega emprestado dinheiro do banco usando seu próprio dinheiro investido como garantia, mas mantendo esse dinheiro rendendo.

Esta é a mágica da alavancagem para os ricos: eles podem, simultaneamente, usar o dinheiro (via crédito) e mantê-lo (via investimentos que servem de garantia). O crédito não os empobrece, ele os enriquece.

Como os Pobres e Negros Usam o Crédito: Sobrevivência como Endividamento

Para a população negra e pobre, o crédito opera em uma lógica completamente oposta. Quando 81% das famílias com renda de até três salários mínimos estão endividadas, não estamos falando de estratégias de alavancagem patrimonial. Estamos falando de pessoas que usaram o cartão de crédito para comprar comida, que pegaram empréstimo para pagar remédio, que entraram no carnê da loja porque o salário não chegou até o fim do mês.

O endividamento da população negra tem características estruturalmente distintas:

1. Crédito de Alto Custo: A média de juros do rotativo do cartão era de 455% ao ano em 2023. Mesmo com as novas regras limitando a 100% ao ano em 2024, a situação permanece brutal. 75% dos brasileiros parcelam suas compras, e o cartão virou saída para necessidades básicas.

2. Ausência de Garantias: Sem patrimônio acumulado, resultado de séculos de escravização e exclusão , a população negra não consegue acessar linhas de crédito mais baratas. Paradoxalmente, quem menos precisa de crédito consegue crédito mais barato. Quem mais precisa, paga mais caro. Trata-se de uma verdadeira corrida dos ratos.

3. Uso para Consumo, não Investimento: O crédito não financia ativos que se valorizam ou geram renda. Financia despesas de consumo que não deixam nenhum resíduo patrimonial. A dívida permanece, mas o bem consumido já se foi.

4. Ciclo de Re-endividamento: 20,8% dos brasileiros destinaram mais da metade dos rendimentos às dívidas em janeiro de 2025. Quando um terço da renda vai para pagar dívidas, é impossível acumular poupança ou investir. Qualquer imprevisto gera novo endividamento.

5. Discriminação Algorítmica: Os sistemas automatizados de credit score reproduzem vieses raciais históricos. Morar em determinados bairros, ter determinados nomes, frequentar determinadas escolas… tudo isso é capturado por algoritmos que penalizam pessoas negras, mesmo quando têm perfil de risco similar ao de pessoas brancas.

A Herança Escravocrata do Sistema de Crédito

Para compreender por que o sistema de crédito opera como máquina de reprodução do racismo, precisamos retornar à nossa formação histórica.

Em torno da escravidão construiu-se uma ética do trabalho degradado, uma imagem depreciativa do povo, uma indiferença moral das elites em relação às carências da maioria, e uma hierarquia social de grande rigidez vazada por enormes desigualdades.

A escravidão não terminou em 1888. Ela se metamorfoseou, adaptou-se, encontrou novas formas de perpetuação. E uma das mais eficazes é justamente o sistema financeiro que nega sistematicamente crédito à população negra ou o concede em condições predatórias.

Durante a escravidão, a justificativa ideológica era que pessoas negras eram naturalmente inferiores. Após a abolição formal, essa justificativa se tornou insustentável legalmente. Mas o sistema precisava de uma nova narrativa para legitimar a continuidade das exclusões.

Entra o sistema de crédito baseado em “risco”. Agora, a narrativa não é mais que pessoas negras são naturalmente inferiores. É que elas são “mais arriscadas”, que “não têm histórico de crédito”, que “não têm garantias suficientes”. A conclusão prática é a mesma: elas não merecem crédito ou devem pagar mais caro por ele. Ou seja, a justificativa mudou da biologia para as finanças.

Este é o golpe de mestre da ideologia: transformar uma injustiça histórica e estrutural em “avaliação técnica de risco”. Os descendentes de escravizados, sistematicamente impedidos de acumular riqueza, capital e patrimônio por séculos, são agora informados que se não conseguem crédito, é porque são de “alto risco”.

O Lucro sobre o Endividamento Negro

A dívida da população negra não é apenas um problema social. É um negócio altamente lucrativo.

O sistema financeiro brasileiro lucra espetacularmente com o endividamento da população pobre e negra através de juros estratosféricos, multas, tarifas e renovação perpétua de dívidas que nunca são quitadas completamente.

Enquanto isso, o número de brasileiros bilionários chegou a 60 em 2024, acumulando R$ 943 bilhões, um crescimento de quase 38% de suas fortunas em um ano. De janeiro a setembro de 2024, as isenções fiscais para grandes empresas chegaram a quase R$ 111 bilhões.

A equação é clara: os pobres e negros pagam juros absurdos que enriquecem bancos, enquanto os ricos recebem isenções fiscais que empobrecem o Estado. E então o Estado, sem recursos, corta gastos sociais, forçando mais pessoas ao endividamento privado para acessar serviços que deveriam ser públicos.

A Taxa Selic: Arma de Classe e Raça

O Comitê de Política Monetária do Banco Central aumentou a Taxa Selic para 15% em 2025.

Como observa Maria Lúcia Fattorelli, coordenadora da Auditoria Cidadã da Dívida, “o que adianta aprovar um pacote de cortes na casa de R$ 30 bilhões se, a cada 1% de aumento da Taxa Selic, cresce em R$ 55 bilhões os gastos com a chamada dívida pública?”

A Selic opera como mecanismo de transferência de renda dos pobres e negros para os ricos e brancos através de múltiplos canais:

Encarece o crédito popular: Quando a Selic sobe, o trabalhador negro que precisa parcelar uma geladeira paga ainda mais.

Valoriza aplicações dos ricos: Quando ela sobe, quem tem dinheiro aplicado ganha mais (sem trabalhar, sem produzir, apenas por ter capita)l.

Drena recursos públicos: O pagamento de juros consome parcela gigantesca do orçamento que poderia ir para saúde, educação, políticas de igualdade racial.

Mantém o desemprego: Juros altos desestimulam investimento produtivo. Resultado: mais desemprego, que afeta desproporcionalmente a população negra.

“A Selic é apresentada como instrumento técnico neutro. Na prática, é uma arma que transfere renda sistematicamente dos trabalhadores negros para os rentistas brancos.”

O Movimento Black Money: Construindo Autonomia Financeira Negra

Diante desse cenário devastador, em 2017, Nina Silva e Alan Soares fundaram o Movimento Black Money (MBM) com uma missão clara: desenvolver inserção e autonomia da comunidade negra na era digital, rompendo com a dependência de um sistema financeiro estruturalmente racista.

Inspirado no pan-africanismo e nas experiências de comunidades negras norte-americanas, o MBM parte de uma constatação simples mas poderosa: se a população negra representa 56% dos brasileiros e movimenta R$ 1,9 trilhão por ano, por que esse dinheiro não circula dentro da própria comunidade, gerando empregos, oportunidades e autonomia para pessoas negras?

Estudos mostram que, nas comunidades asiáticas dos EUA, um dólar circula por até 28 dias antes de sair da comunidade. Entre judeus, 19 dias. Em áreas predominantemente brancas, 17 dias. Mas na comunidade negra, o dólar vive apenas 6 horas.

O Movimento Black Money atua em múltiplas frentes para mudar essa realidade:

1. Educação e Capacitação: Afreektech

O Afreektech é o braço educacional do MBM, oferecendo bolsas de estudo gratuitas em cursos de Transformação Digital, Carreiras Tech, Marketing Digital, Inteligência Artificial, Ciência de Dados e Programação, Empreendedorismo, entre outros.

A lógica é clara: se o sistema financeiro tradicional nega crédito a empreendedores negros porque “não têm planejamento”, “não têm estrutura”, “não sabem gestão de caixa”, o MBM oferece a capacitação necessária. Mas não qualquer capacitação, mas uma que reconhece as barreiras estruturais específicas que a população negra enfrenta.

Como explica Nina Silva: “O afroempreendedor está numa questão de sobrevivência. Não tem estrutura, não tem planejamento, não tem plano de caixa, não sabe quanto vai rodar. A gente tenta tratar [este déficit] e impulsionar”.

2. Serviços Financeiros: D’Black Bank

O D’Black Bank é uma fintech 100% digital, desenvolvida por pessoas negras que vivenciam as mesmas dores do público-alvo, oferecendo serviços financeiros com taxas justas e incentivos sociais a projetos educacionais.

Enquanto empreendedores negros têm crédito negado três vezes mais em bancos tradicionais, o D’Black Bank trabalha para oferecer:

  • Maquininha de cartão “Pretinha”: Com taxas menores que as praticadas pelo mercado, já funcionando em afronegócios de diversas cidades brasileiras.
  • Cartão de crédito e conta digital: Com menores burocracias e condições mais justas, funcionando com bandeiras tradicionais.
  • Microcrédito: Projeto em desenvolvimento para oferecer crédito comumente negado a afroempreendedores, de cartões com limites mais altos a empréstimos com juros acessíveis.
  • Educação financeira: Conteúdos e formação para que a população negra desenvolva consciência e autonomia sobre suas finanças.

A proposta não é apenas criar “mais um banco”, mas um negócio social onde o lucro retorna para a própria comunidade através de investimentos em capacitações e projetos educacionais. É fazer o dinheiro trabalhar para a emancipação da população negra, não para sua exploração.



3. Networking e Conexões: Happy Hours

O MBM promove encontros regulares entre empreendedores e profissionais negros para formar networking, conectar talentos, encontrar investidores e criar uma rede de apoio mútuo.

No mercado de tecnologia, onde a ausência de diversidade é o terceiro maior desafio para o ingresso de pessoas negras, criar comunidades de aprendizagem e apoio é fundamental. Essas redes não apenas facilitam o acesso a oportunidades, mas também criam modelos de referência, algo essencial quando apenas 29,5% dos cargos gerenciais no Brasil são ocupados por pretos e pardos.

4. Marketplace e Circulação: Mercado Black Money

O Mercado Black Money é uma plataforma online que conecta empreendedores negros e consumidores antirracistas, permitindo que o capital financeiro circule por mais tempo dentro da comunidade negra.

A premissa é simples: “Se não me vejo, não compro”. Mas também o inverso: “Se me vejo, escolho intencionalmente comprar de quem me representa”.

Atualmente, o marketplace reúne cerca de 2,5 mil empreendedores

5. Inovação e Tecnologia: MBM Inovahack

O MBM Inovahack reúne empreendedores, programadores, designers, cientistas de dados e outros profissionais de tecnologia para criação de soluções colaborativas para problemas específicos da comunidade negra.

Nas últimas edições, o evento já mobilizou mais de 700 participantes, com 84% de participantes negros e 70% de mulheres. Os melhores projetos são premiados com mais de R$ 20 mil, bolsas de estudos e possíveis vagas em programas de capacitação.

É um espaço de protagonismo negro e periférico dentro do universo da inovação e tecnologia, que visa impulsionar o empreendedorismo e empregabilidade tecnológica.

6. Suporte Emergencial: Fundo de Apoio a Famílias Negras

Durante a pandemia, o MBM lançou campanha de crowdfunding para ajudar famílias que não conseguiriam manter as vendas ou o sustento. A iniciativa tem caráter emergencial e visa atender, preferencialmente, famílias negras lideradas por mães solo e afroempreendedores.

A lógica é de solidariedade prática: reconhecer que, em momentos de crise, a comunidade precisa se apoiar mutuamente, porque o Estado e o mercado tradicionalmente nos abandonam.

Por Que o Movimento Black Money Importa: Autonomia como Resistência

O Movimento Black Money não é apenas uma iniciativa de capacitação ou uma plataforma de negócios. É uma estratégia política de construção de autonomia econômica para a população negra em um país onde o sistema financeiro foi historicamente usado como ferramenta de dominação racial.

Quando Nina Silva diz que “não basta incluir trainees negros na empresa, é preciso enegrecer a lista de fornecedores”, ela está articulando uma visão profunda: a verdadeira transformação não vem de algumas pessoas negras sendo incluídas em estruturas brancas, mas de pessoas negras construindo suas próprias estruturas de poder econômico.

O MBM reconhece que a população negra não será salva por bancos tradicionais que historicamente a excluíram. Não será salva por políticas públicas que sistematicamente nos ignoram. Não será salva esperando que o sistema se torne menos racista.

A autonomia precisa ser construída, através de educação que nos qualifica para a economia digital, de serviços financeiros que servem nossas necessidades reais, de redes que nos conectam e fortalecem, de circulação intencional de dinheiro dentro da comunidade.

Como afirma Alan Soares, também fundador do MBM: “Retomar a nossa africanidade e a manifestação da nossa afro-brasilidade é trazer o nosso pensamento ao Sul e, realmente, trazer a essência das nossas raízes. Nós nascemos e somos oriundos de uma sociedade matriarcal e de uma sociedade comunitária”.

É essa ancestralidade comunitária que o Movimento Black Money resgata e atualiza para o século XXI: a compreensão de que nossa força está na união, de que prosperamos coletivamente, de que o dinheiro que circula entre nós nos fortalece a todos.

O Que Falta: Desafios e Caminhos

Apesar de seu potencial transformador, o Movimento Black Money e iniciativas similares enfrentam desafios estruturais imensos:

1. Escala: Seu impacto na área educacional é significativo, mas há mais de 9 milhões de pessoas negras desempregadas no Brasil. Como expandir o alcance sem diluir a qualidade?

2. Acesso a Capital: Até hoje, Nina e Alan são os únicos investidores do MBM. De forma proposital, querem manter controle e visão, mas é algo que limita a velocidade de crescimento.

3. Regulação Financeira: Operar serviços financeiros exige navegação complexa de regulamentações pensadas para grandes instituições, não para fintechs de impacto social.

4. Mudança Cultural: Fazer o dinheiro circular por mais tempo na comunidade negra exige transformação de hábitos de consumo arraigados por séculos de colonização.

5. Racismo Institucional: Mesmo empreendedores negros de sucesso enfrentam barreiras sistemáticas.

Mas esses desafios não diminuem a importância do trabalho. Ao contrário, a reforçam. Porque o Movimento Black Money está construindo algo que ninguém nos dará: autonomia. E autonomia não se pede — se conquista.

Alternativas Estruturais: O Que Mais Precisa Mudar

O Movimento Black Money é parte essencial da solução, mas transformação completa exige também mudanças estruturais de políticas públicas:

1. Teto para Taxas de Juros: Juros de 100% a 455% ao ano são agiotagem legalizada. Precisamos de limites máximos drasticamente mais baixos.

2. Crédito Produtivo Público com Recorte Racial: Bancos públicos oferecendo crédito para empreendedores negros com juros subsidiados e foco em geração de renda.

3. Cotas para Fornecedores Negros: Empresas públicas e privadas obrigadas a reservar percentual de suas compras para fornecedores negros.

4. Reforma Tributária Progressiva: Taxar fortunas, heranças, grandes rendas  e usar recursos para financiar renda básica e serviços universais que reduzam a necessidade de crédito privado.

5. Auditoria da Dívida Pública: Questiona a legitimidade de uma dívida que cresce via Selic e drena recursos que poderiam financiar igualdade racial.

6. Regulação contra Discriminação Algorítmica: Algoritmos de credit score que reproduzem vieses raciais precisam ser auditados e regulados.

7. Reparações Históricas: Reconhecer que a escravidão gerou dívida histórica do Estado brasileiro com a população negra  e que essa dívida precisa ser paga através de políticas robustas de reparação.

Conclusão: Dívida Tem Cor, Mas a Autonomia Também

No Brasil contemporâneo, o sistema de crédito/dívida funciona como um dos principais mecanismos de reprodução do racismo estrutural. Não apesar de como foi desenhado, mas exatamente porque foi desenhado para isso.

Para os ricos e brancos, o crédito é alavanca de acumulação. Para os pobres e negros, o crédito é armadilha de sobrevivência.

Quando 81% das famílias pobres estão endividadas, com 37% inadimplentes, quando empreendedores negros têm crédito negado três vezes mais, quando mulheres negras enfrentam desemprego duas vezes maior, não estamos diante de fracassos individuais. Estamos diante de um sistema que foi construído para produzir exatamente esses resultados.

Mas em meio a esse cenário devastador, o Movimento Black Money nos oferece algo precioso: uma visão de autonomia possível. A compreensão de que, enquanto lutamos por transformações estruturais, podemos também construir nossas próprias estruturas: de educação, de finanças, de circulação de riqueza, de apoio mútuo.

Como afirma Nina Silva, fundadora do MBM e reconhecida como a mulher mais disruptiva do Mundo: “Qual é a riqueza, o que você tem dentro de você e o que você pode fazer no seu dia a dia para enriquecer e investir na sua própria comunidade?” É isso o que o movimento coloca.

A dívida tem cor. O racismo financeiro é real. Mas a resistência também tem cor. E a autonomia que estamos construindo, passo a passo, bolsa por bolsa, empreendimento por empreendimento, negócio por negócio, é a prova de que outro futuro é possível.

Um futuro onde o crédito não seja armadilha, mas ferramenta. Onde o dinheiro circule dentro da comunidade, fortalecendo a todos. Onde pessoas negras não precisam implorar por migalhas de um sistema que nos odeia, mas construam suas próprias instituições que nos amam.

Esse futuro não virá de bancos tradicionais. Não virá de políticos que nos ignoram. Virá de nós mesmos – organizados, capacitados, conectados, fazendo nosso dinheiro trabalhar para nossa própria libertação.

O Movimento Black Money já está construindo esse futuro. E convida cada pessoa negra, cada aliado antirracista, a fazer parte dessa jornada.

Porque se a dívida tem cor, a autonomia também tem. E essa cor é preta.


Saiba mais e participe:

A autonomia financeira da população negra não é um sonho. É um projeto. E você pode fazer parte dele.


Kelvin Harrison Jr. como Basquiat no filme biográfico ‘Samo Lives’ tem primeira imagem revelada

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Foto: Jon Pack

A produtora MACRO divulgou a primeira imagem do ator Kelvin Harrison Jr. no papel do lendário artista Jean-Michel Basquiat no filme biográfico ‘Samo Lives’. O longa promete revisitar a trajetória do ícone neoexpressionista, cuja arte e visão continuam a influenciar gerações em todo o mundo.

“Tanta coisa para dizer sobre como chegamos até aqui, mas vou guardar para quando o filme estrear. Mas o que eu vou dizer é que os clichês são verdadeiros: nunca desista dos seus sonhos. Do fundo do meu coração, obrigado a todos que tornaram isso possível nos últimos cinco anos. Eu amo vocês. Amo você, Jean-Michel Basquiat”, escreveu o ator Kelvin Harrison Jr. nas redes sociais.

Dirigido e coescrito por Julius Onah, o filme é descrito pelos produtores como “um raro vislumbre do universo singular” de Basquiat. O artista transformou o cenário da arte contemporânea com sua linguagem visual potente, marcada por símbolos, críticas sociais e referências à cultura negra.

Filmado em Nova York e Nova Jersey, ‘Samo Lives’ marca a primeira vez que a história de Jean-Michel Basquiat será contada por um cineasta negro.

Além de Harrison, o elenco conta com Jeffrey Wright, que interpretou Basquiat no filme de 1996, Antony Starr, Priah Ferguson, entre outros talentos. A data de estreia ainda não foi revelada.

Museu Afro Brasil comemora 21 anos com oficina de cozinha ancestral com Tabuleiro do Alcides

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Foto: Divulgação

O Museu Afro Brasil Emanoel Araujo celebra nesta quinta-feira (23) seus 21 anos de história com uma programação especial e entrada gratuita. Entre as atividades comemorativas está a oficina “Cozinha Ancestral com o Tabuleiro do Alcides”, que acontece das 11h às 12h30, na Marquise do museu, com classificação livre e voltada para toda a família.

A atividade propõe uma experiência imersiva que une memória, ancestralidade e saberes culinários afro-brasileiros, convidando o público a refletir sobre o alimento como um elemento de resistência, espiritualidade e transmissão de conhecimento entre gerações.

Conduzida por Alcides, idealizador do projeto Tabuleiro do Alcides, a oficina promove uma vivência aberta e coletiva, que resgata o legado das quituteiras baianas e destaca a importância simbólica de pratos como o acarajé e o caruru na formação cultural e espiritual do Brasil.

SERVIÇO

“Cozinha Ancestral com o Tabuleiro do Alcides”
Quando: 23 de outubro, das 11h às 12h30
Local: Marquise do Museu Afro Brasil
Entrada gratuita durante todo o dia

Camila Pitanga vence prêmio internacional de Melhor Atriz em Telenovela por ‘Beleza Fatal’

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Foto: HBO Max

A atriz Camila Pitanga foi uma das grandes vencedoras do Premios Produ 2025, uma das premiações mais prestigiadas da indústria audiovisual latino-americana, considerada o “Emmy da América Latina”. Ela levou o troféu de Melhor Atriz Principal em Telenovela Contemporânea por sua atuação como Lola Argento, em ‘Beleza Fatal’, novela da HBO Max.

“Que alegria imensa! Esse reconhecimento é resultado de um trabalho coletivo de uma equipe talentosa e apaixonada que colocou o coração em cada cena. Obrigada ao público que acolheu a Lola com tanto carinho, e a todos que fizeram parte dessa jornada tão especial: elenco, direção, equipe técnica, HBO Max”, celebrou Camila Pitanga nas redes sociais.

Outros artistas negros também foram premiados. Roberta Rodrigues foi reconhecida como Melhor Atriz Principal em Drama Histórico, Político ou Social pela série ‘Cidade de Deus: A Luta Não Para’. E Ygor Marçal, de apenas 12 anos, conquistou o prêmio de Melhor Ator Principal em Série Infantil/Juvenil pela produção Lab de Chef, exibida no canal Futura.

A cerimônia de entrega dos prêmios acontecerá no dia 11 de novembro, em Miami (EUA), com transmissão ao vivo pela Apple TV a partir das 14h (horário de Brasília).

Lázaro Ramos é a celebridade mais influente do Brasil, aponta pesquisa

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Foto: Reprodução/Instagram

O ator, diretor e escritor Lázaro Ramos lidera o ranking dos famosos mais influentes do país, segundo a edição 2025 da pesquisa Most Influencial Celebrities, conduzida pela Ipsos. O estudo avalia quais personalidades têm maior capacidade de moldar comportamentos, opiniões e decisões de consumo no Brasil.

No levantamento, revelado nesta terça-feira (22), Lázaro é descrito como “uma personalidade multifacetada e influente no cenário cultural brasileiro”, que trabalha em diferentes vertentes das artes, abordando questões raciais e sociais, e promovendo diversidade da mídia.

Lázaro aparece em primeiro lugar na lista, seguido por Fernanda Montenegro e Astrid Fontenelle. O levantamento também destaca nomes como o da atriz e apresentadora Érika Januza, empatada com o jornalista Carlos Tramontina, em quarto lugar. “Além de sua presença nas telas, Erika utiliza sua visibilidade para abordar igualdade racial e empoderamento de mulheres negras no Brasil, sendo admirada tanto por sua atuação quanto por seu compromisso com diversidade e inclusão na mídia”, diz o levantamento.

Erika Januza (Foto: Reprodução/Instagram)

Realizado com 2.500 entrevistados entre 28 de agosto e 7 de setembro, o estudo considerou cinco fatores principais: impacto em decisões de compra, influência na opinião pública, confiança, credibilidade de marca e incentivo à experimentação de produtos.

Entre o público da geração Z (nascidos entre 1997 e 2012), Lázaro Ramos e Érika Januza também se destacam entre os cinco nomes de maior influência.

Filme ‘A Melhor Mãe do Mundo’ estreia na Netflix em novembro

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Foto: reprodução

O filme A Melhor Mãe do Mundo chega à Netflix no dia 5 de novembro de 2025, após uma trajetória premiada em festivais nacionais e internacionais.

Dirigido por Anna Muylaert, o longa conta a história de Gal, interpretada por Shirley Cruz, uma catadora de recicláveis que decide fugir de um casamento abusivo levando os dois filhos pequenos em seu carrinho de coleta pelas ruas de São Paulo. Ao longo da jornada, ela busca segurança, autonomia e liberdade, enquanto enfrenta os desafios da invisibilidade social e da sobrevivência na cidade.

A produção foi reconhecida no Festival Internacional de Cinema de Guadalajara, no México, onde recebeu os prêmios de Melhor Interpretação para Shirley Cruz e Melhor Roteiro para Anna Muylaert. No Brasil, venceu diversas categorias no CINE PE, incluindo Melhor Filme, Roteiro, Atriz, Atriz Coadjuvante e Montagem. O longa também foi premiado no Festival de Biarritz, na França, com o Prêmio Especial do Júri – Coup de Cœur, concedido à obra que mais emocionou os jurados.

Com fotografia de Barbara Alvarez e trilha sonora de André Abujamra, A Melhor Mãe do Mundo reforça a relevância das narrativas brasileiras contemporâneas que abordam questões sociais, relações familiares e desigualdade de gênero sob uma perspectiva realista.

Conheça Grace Wales Bonner, nova diretora criativa de moda masculina da Hermès

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A Hermès anunciou Grace Wales Bonner como sua nova diretora criativa de moda masculina, sucedendo Véronique Nichanian, que comandou a maison por impressionantes 37 anos. Aos 35 anos, Grace chega para abrir um novo ciclo na grife francesa, trazendo uma perspectiva multicultural, inovação e diversidade para o universo do menswear.

Nascida em Londres, Grace é filha de mãe inglesa e pai jamaicano. Formada pela Central Saint Martins em 2014, fundou sua marca homônima, Wales Bonner, focada em moda masculina que explora identidade negra e diáspora africana. Desde então, tem se destacado internacionalmente por suas coleções que dialogam com história, cultura e estética negra, questionando padrões e propondo novas narrativas para a moda contemporânea.

Sua trajetória inclui prêmios importantes, como o Designer Britânica de Moda Masculina do Ano em 2024 no The Fashion Awards, reconhecendo sua abordagem inovadora e culturalmente rica. Além disso, em 2023, Grace foi convidada a curar a exposição Spirit Movers no Museum of Modern Art (MoMA), em Nova York, reunindo obras de artistas negros da diáspora africana e reforçando seu compromisso com a pesquisa arquivística como prática estética e espiritual.

Grace Wales Bonner também já colaborou com marcas como Adidas, ampliando sua influência para além da moda de luxo e consolidando-se como uma voz contemporânea e plural no cenário global. Sua estética combina elementos da alfaiataria clássica com o vestuário esportivo, inspirada por referências culturais e literárias, como James Baldwin, Nikki Giovanni e o estilo de Haile Selassie.

A nomeação de Grace representa não apenas a renovação de uma das casas mais icônicas da moda europeia, mas também um marco histórico de diversidade, sendo a primeira mulher negra a ocupar o cargo de direção criativa de moda masculina na Hermès. Sua chegada inspira jovens criadores negros e reafirma a relevância da cultura negra na moda global, mostrando que talento, identidade e inovação caminham juntos para transformar narrativas e abrir novas possibilidades.

Miss Santa Catarina 2025, Pietra Travassos,sofre ataques racistas após sua coroação

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Pietra Travassos, de 18 anos, natural de Siderópolis, foi coroada Miss Santa Catarina 2025 na noite de 17 de outubro, em Criciúma. A jovem, que já havia sido eleita Miss Siderópolis, representou o município na disputa estadual, destacando-se entre 15 candidatas. O evento contou com a presença de ex-misses e profissionais renomados do cenário da moda e beleza, como Anelise Lalau, Miss Brasil 2009, e Fernanda Rosso, Miss Santa Catarina 2019.

Após a coroação, Pietra tornou-se alvo de ataques racistas nas redes sociais. Comentários como “aqui no posto BR tem 4 loiras melhores” e “Miss Bahia né? De Santa Catarina que não é” foram direcionados à vencedora, evidenciando a persistência de estereótipos raciais e a resistência à presença negra em espaços de destaque.

De acordo com o Censo Demográfico 2022 do IBGE, a população preta em Santa Catarina representa 4,07%, enquanto 76,3% se declara branca. Esses dados refletem a baixa representatividade negra no estado, contexto em que a participação de Pietra no concurso estadual se torna um marco simbólico de resistência e afirmação da identidade negra.

O episódio recebeu ampla cobertura da mídia nacional e regional, destacando a ocorrência de racismo em um contexto público e de visibilidade. Organizações de defesa dos direitos humanos ressaltam a importância de políticas públicas que promovam a inclusão e a valorização da diversidade, além da necessidade de educação antirracista para combater práticas discriminatórias em diversos espaços sociais.

“Não sei se está como queria”, diz Bella Campos ao revelar novo visual

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Bella Campos se despediu da personagem Maria de Fátima, de Vale Tudo, com os cabelos curtos que marcaram a novela. No último episódio exibido, a atriz já apareceu com fios longos, sinalizando o início de sua transição para um novo visual.

Nesta terça-feira (21), Bella compartilhou detalhes da mudança com os seguidores, explicando que aplicou extensões para alongar os cabelos. Sobre o resultado, a atriz comentou: “Esse vídeo é para vocês não criarem muita expectativa desse novo visual aqui, que eu estava fazendo uma cena, para fazer aquela transição assim ‘tchan, olha o meu novo cabelo’. Só que eu não sei se está dando certo, como eu queria”.

A atriz detalhou que inicialmente desejava adotar um corte com franjinha, mas desistiu por não conseguir mantê-lo no dia a dia. “Aí, botei o mega, só que eu tenho muito cabelo, então o mega ficou uma coisa rala, e o meu cabelo ficou volumoso, então eu tô parecendo… não sei o quê”, relatou.

Bella já havia divulgado fotos e vídeos mostrando a transição do cabelo curto para o novo visual, registrando o procedimento de forma transparente e compartilhando a transformação com os fãs nas redes sociais.

Mapa do Racismo na Escola: plataforma recebe denúncias de famílias em iniciativa de enfrentamento à discriminação

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Foto: Freepik

O Mapa do Racismo na Escola, um projeto inédito no Brasil, está colhendo relatos de famílias e estudantes que enfrentaram racismo no ambiente escolar. Desenvolvida pela Ser Antirracista, a plataforma pública permite visualizar, por cidade, histórias de dor, resistência e transformação, reunidas em áudios geolocalizados. A iniciativa busca dar visibilidade aos casos de racismo, impulsionar denúncias e fortalecer a cultura de enfrentamento à discriminação nas escolas.

O racismo escolar é uma realidade persistente, muitas vezes invisibilizado, silenciado ou naturalizado. Ao dar voz a vítimas e testemunhas, o Mapa pretende não só incentivar denúncias imediatas, como também, a médio prazo, gerar segurança para que famílias e estudantes se posicionem, e, a longo prazo, pressionar instituições e autoridades a implementar políticas concretas de combate ao racismo no sistema educacional.

Como funciona a plataforma

  • Famílias ou estudantes preenchem um formulário com perguntas padronizadas e um termo de autorização.
  • O relato é gravado em chamada de vídeo e convertido em áudio, podendo ser feito pelo próprio estudante ou por familiares.
  • Nome do depoente e cidade são divulgados, mas identidade da criança e da escola são preservadas para garantir anonimato e segurança.
  • Dados como raça/autodeclaração, contexto, tipo de violência, autor e consequências do caso serão públicos e organizados em mapa interativo.
  • A governança é realizada pelo Instituto Ser Quilombo e Ser Antirracista, que validam os relatos antes da publicação.

Como participar

Todas as famílias estão convidadas a dar seus depoimentos. Basta preencher o formulário neste link e agendar data e horário para gravar o relato. Como agradecimento, os participantes recebem acesso gratuito a materiais educacionais produzidos pela Ser Antirracista:

  • Curso Ser Criança Negra: fortalece a autoestima de crianças negras.
  • Curso Meu Filho Sofreu Racismo: orienta famílias sobre como responder às violências nas escolas.
  • Guia das Conversas sobre Racismo: auxilia famílias a conversar sobre racismo com crianças.

O lançamento público da plataforma será em 20 de novembro, em Itatiba (SP), cidade onde foi registrada a primeira denúncia do Mapa. A expectativa é que a iniciativa gere uma onda de visibilidade e mobilização social imediata, encoraje denúncias no médio prazo e pressione gestores e autoridades a implementar políticas efetivas contra o racismo escolar no longo prazo.

“Dar voz a quem sofre racismo na escola é um primeiro passo — mas não basta: precisamos que cada depoimento gere transformação real na vida das crianças e na cultura das instituições”, afirma Paula Batista, diretora da Ser Antirracista.

Mapa do Racismo na Escola

Redes sociais: @serantirracista

Link para dar seu depoimento: https://form.jotform.com/serantirracista/mapa-do-racismo-na-escola

Lançamento público do Mapa: 20/11/2025

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