Home Blog Page 364

Saberes quilombolas teriam espaço dentro das empresas?

0
Foto: Agência Brasil/ Gilvani Scatolin/ISA

Estratégias que começam a ser prioridade nos negócios atuais fazem parte da vida nos quilombos há séculos, como cultura organizacional e sustentabilidade

Por Priscilla Arantes* e Juliane Sousa**

No mundo corporativo contemporâneo, onde a busca por modelos de negócios sustentáveis e inclusivos passa a ser prioridade, há muito que se observar e aprender com os quilombos brasileiros e sua filosofia de vida baseada em princípios como liberdade, igualdade, diversidade, sustentabilidade, valoriza a ação da mulher, ancestralidade e aquilombamento.

Esses pilares, quando aplicados aos negócios, podem ajudar a construir um sistema econômico mais inclusivo, equitativo e regenerativo. Negócios inspirados nas tecnologias ancestrais praticadas nos quilombos têm mais chance de sobrevivência no futuro próximo.

Os quilombos foram formados por pessoas de diferentes origens. É importante lembrar que África é um continente e os africanos que se uniram nestas comunidades vinham de países e culturas distintas. Nas empresas, a diversidade é uma fonte de inovação e criatividade. Valorizar a diversidade é um caminho para alcançar uma força de trabalho mais inclusiva e representativa.

No caminho para fortalecer a diversidade, a busca pela igualdade de gênero é outro desafio que pode ter como inspiração a experiência quilombola. Nas comunidades, as mulheres desempenham papéis cruciais em todos os níveis organizacionais. Promover a igualdade de gênero é ainda uma estratégia inteligente para aproveitar todo o potencial de talentos.

Nos quilombos, as mulheres são consideradas guardiãs da cultura, do sagrado, do cuidado, da economia, das sementes e demais recursos que garantem a preservação do meio ambiente, indispensável na manutenção dos territórios. A relação com a natureza e a sustentabilidade é uma questão central na vida quilombola.

As comunidades mantêm práticas que respeitam a natureza, como a cultura extrativista. O quilombola sabe que é parte de um ecossistema e só existe plenamente se integrando a ele, de forma harmônica. As empresas podem se inspirar nesse compromisso com o meio ambiente, adotando práticas mais responsáveis, como a redução de resíduos, uso de energia renovável e promoção de cadeias de suprimentos sustentáveis.

Os quilombos representam a resistência negra e resgatam a memória de seus ancestrais. A conexão com a ancestralidade, outro pilar dos quilombos, refletido na valorização das tradições, práticas religiosas e culturais, para as empresas traz a importância de reconhecer a própria história, fundamental na criação de uma cultura organizacional autêntica e duradoura, capaz de fortalecer a identidade da empresa e a conexão dos funcionários com sua missão, visão e valores.

O aquilombamento, palavra acolhedora, é outro ensinamento, e tem suas bases na filosofia Ubuntu, que pode ser traduzida da língua bantu pela ideia de “Eu sou porque tu és”;. A cultura do aquilombamento tem o objetivo de promover a coletividade, o respeito, a entreajuda, a partilha, a comunidade, o cuidado, a confiança e a generosidade. Nos negócios, essa filosofia pode ser aplicada na promoção de um ambiente de trabalho cooperativo, onde cada indivíduo se preocupa com o bem-estar de todos. Uma pessoa com Ubuntu tem consciência de que é afetada quando seus semelhantes não estão bem.

A responsabilidade coletiva motiva ainda uma proatividade natural, que somada ao espírito inventivo, estimulado desde muito cedo, está por trás do desenvolvimento de soluções par o dia a dia. O membro da comunidade quilombola cria a partir da natureza, constrói suas próprias casas, utensílios domésticos e ferramentas de trabalho.

Na realidade quilombola, cada pessoa tem o seu papel e exerce uma função sem que ninguém fique monitorando ou cobrando, justamente porque cada um sabe a importância da sua participação. Isso é essencial nas empresas, propor uma cultura de confiança, segurança e responsabilidade onde todas as pessoas possam exercer suas tarefas com maturidade e autonomia.

No Brasil, de acordo com dados do Censo 2022, a população quilombola é de 1,32 milhão de pessoas, vivendo em mais de 6 mil quilombos. Uma quantidade superior a 3 mil é certificada pela Fundação Cultural Palmares, quase 200 são territórios titulados, mas um pouco mais de 1.500 ainda enfrentam processos para regularização de seus territórios, o que torna-os vulneráveis e em risco. Muitos quilombos vivem a ameaça de conflitos e pressão de modelos econômicos que visam somente o lucro e a exploração da natureza.

O primeiro quilombo é da segunda metade do século XVI, na Bahia. O maior quilombo da história brasileira foi o Quilombo dos Palmares, em Alagoas. Os quilombos são comunidades onde os africanos e seus descendentes conseguiram manter e resgatar traços de sua cultura, tradições, festas, práticas religiosas, danças, entre outros. Nos quilombos, prosperar sempre foi muito importante, significa liberdade, por isso, em seus territórios, o trabalho de todos consiste em produzir o necessário para a sobrevivência e vida em sociedade.

A existência dos milhares de quilombolas atesta a resiliência e a riqueza tecnológica dessas comunidades. Eles representam a resistência e a busca pela independência econômica. Os quilombos são verdadeiros tesouros de sabedoria que podem guiar as empresas rumo a um futuro melhor, onde os negócios não apenas sobrevivem, mas prosperam e geram impacto positivo no planeta.

***

*Priscilla Arantes é gerente de comunicação do Sistema B Brasil, e articuladora do Coletivo Pretas B, um projeto que apoia mulheres negras na rede do Sistema B Brasil por meio de mapeamento, mentoria, consultoria e capacitação, e fundadora do Instituto Afroella.

**Juliane Sousa é coordenadora de comunicação do Sistema B Brasil, articuladora do coletivo Pretas B e fundadora do Mídia Quilombola.

Em celebração a juventude negra LGBTQIAPN+ de BH, estreia BREEU Baile com diversos ritmos periféricos

0
Fatini Forbeck e Gleidistone Silva, idealizadores da BREEU (Foto: @100erross)

A juventude negra LGBTQIAPN+ e periférica de Belo Horizonte acaba de ganhar uma festa para curtir muito na capital mineira! No último sábado, dia 25 de novembro, estreou a BREEU Baile, festa residente do Aquilombar que convidou o público a se jogar na pista ao som de funk, pagodão, afrobeats e outros ritmos periféricos. Cerca de 400 pessoas marcaram presente na estreia, embaladas pelos mais diversos ritmos periféricos.

“A BREEU nasce desse desejo de proporcionar pra juventude negra LGBTQIAPN+, um lugar onde elas possam ser quem de fato são, sem se preocupar muito com look, close. Um espaço pra se jogar mesmo, descendo até ao chão com ritmos que são comuns pra quem tem origem ou vive nas periferias e quebradas do Brasil”, comenta Gleidistone Silva, de 29 anos, um dos idealizadores da BREEU Baile

Na programação da primeira edição, a funkeira mais ouvida de Minas Gerais, MC Mika, e um dos idealizadores da BATEKOO, o DJ Mirands (SP), apresentaram ao público presente a proposta do novo bailão de Belo Horizonte. Artistas expressivos da cidade como DJ Grabs, Namoradinha do Brazil e Amerikana também se fizeram presentes, embalados pela mestra de cerimônias, Darlene Valentim, mais conhecida como Vovó da ZN

Com a proposta de ser um evento com pouca roupa, pouca luz, e muito suor na pista, a BREEU chegou oferecendo um lugar seguro e confortável para o público se expressar livremente por meio da dança.

Foto: @100erross

A próxima edição do evento será em janeiro, mas outras ações serão anunciadas em breve, como a BREEU ESCOLA, iniciativa de formação e capacitação e a MINI BREEU, edições menores e intimistas para revelar novos DJs da cena belo-horizontina.

Aquilombar

A casa de cultura Aquilombar é um novo empreendimento de impacto sociocultural em Belo Horizonte. Abraçar a cultura negra, periférica e LGBTQIAPN+ são centrais na iniciativa que propõe a diversidade e a conexão entre artistas de vários territórios do Brasil. À frente do Aquilombar estão duas mulheres empreendedoras, que acumulam anos de experiência no mercado cultural: a influenciadora social e agitadora cultural, Fatini Forbeck e a publicitária e produtora cultural, Nathalia Trajano. Com a proposta de potencializar a cultura na cidade, a casa revive em seu conceito a tradição da região da Lagoinha, que é ser o berço do samba e pequena África de Belo Horizonte. Localizada na Rua Itapecerica, o empreendimento ocupa um espaço de 750m2 e conta com estrutura completa com palco, cozinha, bar, banheiros. 

SERVIÇO

Aquilombar

Endereço: Rua Itapecerica, 865, Lagoinha

BREEU Baile
Instagram: @breeubaile 

Vereadora Mônica Cunha prestigia comunicadores e veículos antirracistas com homenagem, no RJ

0
Foto: Divulgação

Centenas de comunicadores e veículos de comunicação antirracistas foram homenageados pela vereadora Monica Cunha (Psol) em evento realizado no auditório da Associação Brasileira de Imprensa na última segunda-feira (27).

A presidente da Comissão Especial de Combate ao Racismo (CECOR) reconheceu e prestou homenagem a mais de 160 comunicadores, produtores de conteúdo, dramaturgos, fotógrafos, cineastas e veículos de imprensa populares por seu comprometimento em produzir uma comunicação alternativa e antirracista, especialmente para as comunidades das favelas e periferias.

Monica Cunha, que atua como ativista de direitos humanos há mais de 20 anos, compartilhou sua experiência com a comunicação comunitária após se tornar mãe de uma vítima. Ela agradeceu aos comunicadores populares por mudarem a narrativa sobre as mães de vítimas de violência do Estado.

O evento, parte das celebrações do Dia da Consciência Negra, homenageou diversos portais, como Site Mundo Negro, incluindo também Cultne TV, Notícia Preta, Portal Favelas, Alma Preta, Mídia Ninja, Redes da Maré, Fala Manguinhos, entre outros. Personalidades como o ator Jonathan Azevedo, o jornalista Marcos Valentim, o dramaturgo Jonathan Raimundo, a primeira roteirista negra a fechar um contrato com a Disney, Maíra Oliveira, o jornalista e ator Adalberto Neto, também foram reconhecidos.

Dona Santinha, Maria dos Santos Soares, de 99 anos, conhecida por sua participação em manifestações no Rio de Janeiro, foi uma das homenageadas. A enfermeira aposentada tornou-se ativista político após a morte de seu irmão em 1984 e, aos 99 anos, continua a lutar por justiça e igualdade. A vereadora Monica Benício (Psol), a deputada estadual Dani Monteiro (Psol) e o deputado federal Tarcísio Motta (Psol-RJ) também estiveram presentes no evento.

“Falta de compromisso”, critica Instituto Marielle Franco sobre Lula não indicar uma mulher negra ao STF

0
Foto: Evaristo Sa/AFP

A indicação de Flávio Dino como o novo Ministro do Supremo Tribunal Federal, pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), nesta segunda-feira (27), ainda repercurte de forma negativa entre o movimento negro nas redes sociais. Hoje, o Instituto Marielle Franco compartilhou a carta aberta do movimento Mulheres Negras Decidem, destinado ao presidente Lula, e também expressou a indignação coletiva com o ocorrido.

“Durante os últimos meses, mulheres negras, ativistas, movimentos sociais e diversos outros setores da sociedade civil expressaram a necessidade de representação através da indicação de uma ministra negra no STF. Infelizmente, essa nomeação não se concretizou”, inicia o texto.

“A escolha de Flávio Dino para a vaga deixada por Rosa Weber no Supremo Tribunal Federal, como destacado pelo Mulheres Negras Decidem, em carta aberta ao presidente Lula, revela a falta de compromisso do presidente em enfrentar problemas históricos, como o racismo e o sexismo que estruturam as instituições estatais e, ao impedir o acesso de mulheres negras a espaços de poder e de tomada de decisão, impossibilita a consolidação da democracia no país”, destaca.

“Em 132 anos, o STF teve apenas 3 mulheres em 171 ministros. Nenhuma delas é uma mulher negra. Em um país com mais da metade da população composta por mulheres, e as mulheres negras representando o maior grupo demográfico (28%) do país, essa disparidade é inadmissível”, revela o Instituto Marielle Franco.

“Ao ignorar a possibilidade de indicar uma ministra negra ao STF, Lula desconsidera o papel fundamental desempenhado e liderado por mulheres negras em diversas campanhas e ações que promovem mudanças políticas significativas. A esperança por esse reconhecimento persiste há muito tempo; a nomeação teria sido um marco na promoção da igualdade de gênero e raça”, diz. E completa: “Não nos deteremos na luta por justiça, reparação e representatividade. Continuaremos firmes, buscando mudanças que verdadeiramente reflitam a diversidade do Brasil!”, finaliza a publicação.

Leia a carta aberta do movimento Mulheres Negras Decidem na íntegra:

Excelentíssimo Senhor Presidente,

Espero que esta mensagem o encontre bem. Antes de tudo, permita-nos lembrar da disposição e trabalho desempenhado pelas mulheres negras brasileiras em sua jornada rumo à Presidencia, na esperança de um Brasil mais inclusivo e diversificado.

É com um sentimento de profunda decepção que nos vemos obrigadas a escrever a respeito da recente nomeação para o Supremo Tribunal Federal. Lamentamos dizer que esta escolha reflete uma falta de compromisso no enfrentamento dos problemas históricos e urgentes do nosso país.

O STF é uma instituição crucial em nosso sistema democrático e a nomeação de uma mulher negra teria sido um marco Impar. No entanto, vemos mais uma oportunidade perdida sem esse avanço. Também nos desaponta seu descompromisso com as mulheres negras que, mesmo diante da permanente falta de acesso à direitos fundamentaís, continuam sendo agentes fundamentais para o aprimoramento da nossa democracia, tanto nas urnas ou quanto nas ruas.

Nós, mulheres negras, estamos prontas e qualificadas para ocupar espaços de tomada de decisão. Pedimos que você considere o impacto de suas escolhas no futuro do país, afinal o racismo persiste em nossa sociedade e a política institucional desempenha um papel fundamental na luta contra ele.

É hora de construir um caminho mais inclusivo, investir em políticas públicas que alcancem todas as comunidades e ouvir as bases. Não podemos ficar limitadas a posições às posições de resistência; temos de ocupar, inclusive, as mais altas esferas do poder.

Presidente Lula, sua eleição trouxe a esperança de que as bases e movimentos sociais teriam protagonismo nas decisões do governo. A nomeação de uma Ministra Negra para o STF era um passo importante nessa direção, e lamentavelmente, essa oportunidade foi desperdiçada.

Em 1770, Esperança Garcia escreveu “Ponha os olhos em mim”, o nosso chamado é para que as velhas formas de entendimento e produção do que é a Justiça enxerguem finalmente os verdadeiros desafios que precisamos enfrentar como nação. Não queremos ser apenas uma composição em uma fotografia bonita; queremos e seremos parte das decisões que moldam o futuro do nosso país.

Após Beyoncé ser acusada de ‘querer ser branca’, mãe da cantora se manifesta: “ataques racistas e sexistas”

0
Fotos: Divulgação.

A mãe de Beyoncé, Tina Knowles, utilizou seu perfil no Instagram nesta tarde de terça-feira (28) para comentar sobre os ataques que a cantora vem recebendo na internet. Nas redes sociais, usuários chegaram a acusar Beyoncé de ‘querer ser branca’ após a artista aparecer com o cabelo platinado durante a estreia da turnê ‘RENAISSANCE’.

“Me deparei com isso hoje e decidi postar depois de ver toda a estupidez e ignorância, ódio e declarações racistas”, publicou Tina. “Ela [Beyoncé] faz um filme, chamado ‘RENAISSANCE’, onde o tema todo é prata com cabelos prateados, tapete prateado e vocês decidem que ela está tentando ser uma mulher branca e está clareando a pele? .. Quão triste é ver que alguns de seu próprio povo continuam a narrativa estúpida de ódio e inveja”.

Tina revelou que uma repórter branca do TMZ chegou a entrar em contato com um amigo próximo de Beyoncé, questionando a negritude da artista. “Isso fez meu sangue ferver, que essa mulher branca se sentisse tão no direito de questionar a negritude. O que é realmente mais decepcionante é que alguns negros, sim, estão nas redes sociais mentindo e fingindo. Como se você fosse tão ignorante e não entendesse que as mulheres negras usam cabelos platinados desde os dias de Etta James“.

A empresária de 69 anos classificou os ataques direcionados à Beyoncé como racistas e sexistas. “Inveja, racismo, sexismo, vocês perpetuam essas coisas. Em vez de celebrar uma irmã ou simplesmente ignorar se você não gosta dela. Estou farta de vocês. Eu sei que ela vai ficar chateada comigo por fazer isso, mas estou farta! Essa garota cuida da própria vida. Ela ajuda as pessoas sempre que pode. Ela levanta e promove mulheres negras e oprimidas em todos os momentos”, destacou.

Unicamp aprova título de Doutor Honoris Causa aos Racionais MC’s: “intelectuais públicos”

0
Foto: Jef Delgado.

Nesta terça-feira (28), o Conselho Universitário (Consu) da Unicamp aprovou a outorga do título de Doutor Honoris Causa para o grupo Racionais MC’s. Os integrantes do grupo, Mano Brown, Ice Blue, Edi Rock e KL Jay, foram reconhecidos como intelectuais públicos que mantêm um diálogo significativo com o pensamento social brasileiro. A honraria destaca, além disso, a relevância de sua atuação política no enfrentamento do racismo e das violências sociais presentes no país, ressaltando a crítica social presente em sua produção.

“Esses são intelectuais públicos que somente existem em seu conjunto e, a partir dele, os quatro enunciam poéticas, projetos estéticos e projetos políticos desde 1988 a respeito do Brasil”, destacou Mário Medeiros, professor do Departamento de Sociologia do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais (IFCH). “Eles Dialogam e lutam com o pensamento social brasileiro, confrontam o racismo e as violências sociais que nos constituem enquanto sociedade, incitando a atitudes antirracistas e solidárias de negros e não negros, periféricos e não periféricos, visando a mudanças sociais profundas. Destarte, o título só fará sentido se concedido ao conjunto.”

O título de Doutor Honoris Causa, a distinção máxima prevista no estatuto da Unicamp, é concedido a pessoas que tenham contribuído, de maneira notável, para o progresso das ciências, das letras ou das artes e/ou que tenham beneficiado, de forma excepcional, a humanidade ou tenham prestado relevantes serviços à Universidade.

Em agosto, a Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB) também concedeu ao rapper Mano Brown o título de Doutor Honoris Causa.  Os títulos honoríficos, comuns em universidades, são uma forma de reconhecer contribuições acadêmicas, humanísticas e sociais que impactam a sociedade e a pesquisa em diversas áreas. Esse gesto de reconhecimento abrange professores, pesquisadores, estudantes, figuras nacionais e internacionais, além de entidades de destaque. 

Revitalização do parque Memorial Quilombo dos Palmares será realizada pelo TikTok em parceria com Anajô e Fundação Palmares

0
Foto: Arquivo/Agência Alagoas

O parque Memorial Quilombo dos Palmares, localizado na Serra da Barriga (AL), passará por uma série de melhorias que serão implementadas através do programa de revitalização do TikTok em parceria com o Centro de Cultura e Estudos Étnicos Anajô e a Fundação Palmares.

O TikTok irá desenvolver um novo aplicativo da Serra da Barriga, que conterá vídeos e informações mais precisas sobre o local, com o objetivo de modernizar o acesso do público à informações. Além disso, o primeiro parque da América Latina inspirado na história afrodescendente e local de resistência do Zumbi dos Palmares por quase um século, vai receber novas placas de sinalização, totens e estrutura de áudio.

Este é o terceiro ano consecutivo em que o TikTok contribui para gerar melhorias no parque: no ano passado, foi a vez do lançamento do Ozenga 360º, um marco tecnológico na história do parque, em que a plataforma arcou com o registro 3D da história da região e de Quilombo dos Palmares e a aquisição de óculos de realidade virtual. Desde então, mais de 2 mil pessoas tiveram uma experiência imersiva no complexo.

Também neste mês, o TikTok, em parceria com o Anajô, promoveu o empreendedorismo negro, quilombola e indígenas durante o evento Vamos Subir a Serra, que aconteceu entre os dias 10 e 15 de novembro. O projeto que dá nome ao evento é reconhecido como o maior afro-cultural do Norte-Nordeste e combina geração de renda, valorização da cultura negra e preservação da história do Quilombo dos Palmares.

Com bolsas de R$ 25 mil, Beyoncé abre inscrições para o programa de incentivo a empreendedores negros e indígenas

0
Foto: Julian Dakdouk.

Através da sua fundação Beygood, Beyoncé abriu nesta terça-feira (28) as inscrições para o programa de incentivo a pequenos empreendedores negros e indígenas do Brasil. A primeira rodada vai beneficiar projetos de São Paulo. As cidades de Salvador e Rio de Janeiro aparecerão em seguida, em outras rodadas, conforme anúncio oficial.

“Para celebrar pessoas e comunidades e para promover empreendedores e pequenas empresas afetadas pelas desigualdades económicas, no início deste ano Beyoncé Knowles-Carter comprometeu 1 milhão de dólares em apoio a cidades em todo o mundo. Estamos entusiasmados com a continuação do apoio às cidades do Brasil”, informou a Beygood. “A Fundação BeyGOOD tem o orgulho de anunciar o apoio aos empreendedores brasileiros por meio de Subsídios para Microempreendedores administrados pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento de Fornecedores Minoritários (NMSDC)”.

O foco do programa será atender microempreenderoes (MEI) e microempresas (ME). As empresas devem estar em operação e estabelecidas há pelo menos dois anos para serem elegíveis. Os MEIs que atuam como prestadores de serviços autônomos para empresas não se qualificam para este programa de bolsas.

As inscrições vão até o dia 6 de dezembro. LINK DA INSCRIÇÃO EM INGLÊS (CLIQUE AQUI) e LINK DA INSCRIÇÃO EM PORTUGUÊS (CLIQUE AQUI).

Estudo mostra que linhagem materna do brasileiro é predominantemente africana e indígena

0
Foto: Reprodução

Um estudo mostrou que a linhagem materna da população brasileira é formada geneticamente, em sua maioria, por DNA africano e indígena. Os dados, compartilhados pelo laboratório Genera, mostram que no país a linhagem paterna é majoritariamente europeia, o que pode ser justificado pelo histórico genocida que tirou a vida dos homens negros durante a colonização e pela violência sexual que foram submetidas as mulheres negras e indígenas nesse período.

Os dados do estudo, publicado pela Folha de S. Paulo, que analisou mais de 260 mil DNAs coletados para testes de ancestralidade realizados pelo laboratório, mostram que a linhagem paterna concentra mais de 80% de códigos genéticos comuns na Europa, enquanto África corresponde a 15% dos códigos, Américas e Ásia 3% e Ásia, enquanto de outros povos somam 0,4%.

A região Norte do Brasil possui 51% das linhagens maternas vindas das Américas e Ásia, seguidas 26% de África, e 18% provenientes da Europa.

Já a região Nordeste reúne o maior número de descendentes de linhagem materna africana, esse número chega a 40%, enquanto os descendentes de linhagens maternas de América e Ásia, somam 35%, e Europa, 21%.

Na região Centro-Oeste, 37% descendem de mulheres das Américas e Ásia, 31% de África e 27% da Europa.

Enquanto no Sudeste as linhagens maternas são predominantes de três regiões globais, sendo 35% da Europa, 31% de América e Ásia e 27% de África. O estudo concluiu que apenas 4% pertencem a outras linhagens mapeadas.

Na região Sul, as linhagens maternas provenientes da Europa aparecem com mais frequência, somando 55%, enquanto América e Ásia somam 26% e África 11%. Outras regiões correspondem a 7%.

Renan Barbosa Lemes, doutor em genética humana e de populações pela USP, contou que o DNA mitocondrial, de onde vem a linhagem materna, é mais diverso em razão da colonização, que trouxe, inicialmente, um grande número de homens da Europa: “Nessa cultura do estupro normalizada durante a colonização, homens europeus tinham filhos com mulheres negras vindas da África ou com as indígenas, que também eram escravizadas”, disse.

De acordo com Ricardo di Lazzaro Filho, doutor em genética e biologia evolutiva e fundador da Genera, as linhagens revelam a herança genética recebida de pais e mães biológicos. O primeiro através do cromossomo Y, recebido e transmitido por pessoas biologicamente identificadas como do sexo masculino e o segundo transmitido pelo DNA mitocondrial, que é transmitido pelas mães.

No Novembro Negro e além: não deixemos os nossos para trás

0
Foto: Freepik

Sankofa. Neste Novembro Negro, convém lembrar o conceito originário dos povos Akan, da África Ocidental, que significa: “Nunca é tarde para voltar e apanhar aquilo que ficou para trás”. Em uma variação da tradução, diz-se que “não é tabu voltar atrás e buscar o que esqueceu”. O símbolo de Sankofa é um pássaro que voa para a frente com a cabeça voltada para trás ou também pela forma de duas voltas justapostas, espelhadas, lembrando um coração. Os povos Akan ocupam os territórios conhecidos hoje como Costa do Marfim, Togo e Gana, e protagonizaram uma das mais longevas rebeliões de escravizados – de novembro de 1733 a agosto de 1734.

É preciso acessar à ancestralidade dos povos africanos, da palavra Sankofa ao Mês da Consciência Negra, lembrando que não, não é tarde para voltar e buscar o que ficou para trás, o que foi esquecido; que não deixamos os nossos para trás, e que, sim, podemos promover uma recomposição de nossa pirâmide social, trabalhando por um país onde pessoas negras falam em primeira pessoa e constroem juntos – negros e brancos, pretos e indígenas, ricos e pobres – uma nova sociedade. Nada disso seria possível sem os que vieram antes. Evoco aqui ao menos dois nomes da história brasileira: Zumbi dos Palmares, grande líder do Quilombo dos Palmares no século XVII e símbolo de luta do protagonismo negro na resistência contra a escravidão; e Dandara dos Palmares, guerreira e estrategista negra, esposa de Zumbi, e também um importante símbolo de resistência.

Em memória à morte de Zumbi dos Palmares, emboscado por tropas coloniais brasileiras em 1695, o Dia Nacional da Consciência Negra, (celebrado em 20 de novembro), tornou-se há algumas décadas referência para atividades e reflexões que inspiram a luta e a resistência do povo negro. Neste Novembro Negro – e felizmente cada vez mais para além de um dia ou de um mês específico do ano – assistimos a uma crescente exposição dos desafios relacionados e a reflexão de como enfrentá-los: o racismo estrutural e institucional, a discriminação, a equidade étnico-racial, a inclusão social e as oportunidades oferecidas efetivamente para todas as pessoas.

A experiência brasileira mostrou que a ampliação do acesso de negros, quilomblas e indígenas ao sistema educacional foi insuficiente para garantir a equidade étnico-racial desejada. Se é verdade que o Brasil tem mais crianças e jovens concluindo os ensinos Fundamental e Médio do que décadas atrás, também é verdade que, ao observarmos os dados de evasão e de aprendizagem, vemos que pessoas negras, quilombolas e indígenas ainda estão bem atrás. Se é verdade que adotamos a Educação como política pública universal, também é verdade que ainda estamos distantes de promover a reparação histórica. Exemplo concreto disso é a dificuldade no cumprimento da Lei Federal 10.639/2003, que estabelece a obrigatoriedade do ensino de “história e cultura afro-brasileira” dentro das disciplinas. Se é verdade que mudamos o currículo escolar em direção a uma maior visibilidade negra, também é verdade que em grande medida ainda desconsideramos os séculos de extermínio, apagamento dos povos originários e iniciativas recentes de equidade e inclusão.

A memória dos povos africanos, um dos alicerces sobre os quais se assentou a identidade brasileira, quanto de Zumbi, Dandara, Maria Quitéria, Luiz Gama e tantos outros que lutaram por respeito, dignidade e igualdade, inspiram e reforçam as evidências do muito que há por fazer. Como mostrou o estudo do Todos Pela Educação, o número de brasileiros pretos e pardos matriculados no Ensino Médio está uma década atrasado em relação ao número de alunos brancos. Ou, como revelou outra pesquisa do Todos, apenas metade das escolas públicas brasileiras têm projetos para combater o racismo – o menor percentual em dez anos. Isso, num país onde mais da metade da população é negra, de acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

No documento que publicamos sobre equidade étnico-racial na Educação, dentro da iniciativa “Educação Já”, destacamos três alavancas que identificam áreas estratégicas nas quais o potencial de transformação do atual cenário se mostraria mais acentuado: acesso e representação com proporcionalidade, respeito e dignidade; pessoas indígenas, negras e quilombolas conscientes e pessoas brancas críticas; políticas educacionais para a Educação das relações étnico-raciais e fortalecimento da identidade.

Essas alavancas permitirão elevar as vozes negras, indígenas e quilombolas por meio de maior representação em posições de liderança; elevação do nível de entendimento sobre questões étnico-raciais para que as pessoas vítimas do racismo sejam conscientes de sua identidade, ancestralidade e postura combativa ao racismo estrutural – ainda existente em nosso país – e também que pessoas brancas possam exercer seu papel na transformação dessa realidade; e, por fim, promover a implementação efetiva de políticas educacionais que valorizam as identidades negras, indígenas e quilombolas, aumentando a legitimidade desses grupos sub representados dentro do sistema educacional.

Que este Novembro Negro seja um chamado à reflexão e também à ação. Voltar e apanhar aquilo que ficou para trás, esta reparação histórica, é o norte. A Educação é o meio.

Colaboração do Jackson Almeida, Analista de Diversidade, Equidade e Inclusão do Todos Pela Educação. Formado em Administração, tem especialização em Planejamento e Gestão Organizacional.

error: Content is protected !!