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Líder Ngoni promove mudança e quebra ciclo histórico de casamentos infantis no Malawi

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Aos 64 anos, Theresa Kachindamoto, chefe da tribo Ngoni do distrito de Dedza, na região central do Malawi, promoveu uma verdadeira transformação ao pôr fim ao histórico de casamentos infantis na região. Desde que assumiu a liderança da tribo, que abrange mais de 900 mil pessoas, em 2015, Theresa já organizou o término de 1000 casamentos envolvendo crianças.

O Malawi ainda enfrenta um grande problema com o casamento infantil. Jovens com até 12 anos se casam por tradição ou pobreza. Os números locais revelam que 47% das mulheres se casam antes dos 18 anos, colocando em risco o direito à educação, pois as crianças e adolescentes são forçadas a abandonar a escola para desempenhar trabalhos domésticos.

Theresa Kachindamoto. Foto: Reprodução.

Desde que começou a promover o fim do casamento infantil no Malawi, Theresa, que também é a primeira mulher a ocupar o posto de líder, passou a desafiar séculos de tradição, mudando costumes profundamente enraizados, com o objetivo de proteger as mulheres da nova geração. Sua estratégia para acabar com o casamento infantil envolve a sensibilização para a educação das crianças, especialmente das adolescentes.

Para garantir a continuidade do processo , Theresa também mantém extensas conversas com pais que já tinham casado as suas filhas ou planeavam fazê-lo. Além disso, por meio de doações, ela realizou verificações regulares nas escolas para garantir que todas as meninas frequentavam as aulas. Por último, Theresa também destaca com frequência histórias e conquistas de mulheres Inkosi bem-sucedidas, que conquistaram sucesso pessoal e profissional graças à educação.

Evento em São Paulo vai discutir como a negritude é retratada em museus

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Foto: Arquivo da família Trindade

Durante o mês de novembro, os Museus Casa Guilherme de Almeida e Casa Mário de Andrade estão com programações especiais e gratuitas em homenagem ao Dia da Consciência Negra, celebrado em 20 de novembro. Os eventos incluem um encontro que busca discutir a produção cultural da diáspora africana, abordando como a negritude é retratada por museus, além disso, as instituições realizarão oficinas e grupos de estudos voltados para dialogar sobre a importância da igualdade racial em diferentes esferas da sociedade.

O encontro chamado “Representações da negritude em museus”, que vai refletir sobre como a negritude é retratada em museus, acontece no dia 16 de novembro, na Casa Guilherme de Almeida, e será conduzido pelo professor e artista visual Claudinei Roberto da Silva e deve abordar as formas de colecionar, contextualizar e expor a produção artística e cultural da diáspora africana.

No dia 12 de novembro, o Núcleo Ação Educativa do museu fará uma oficina voltada para a reflexão sobre a história e o significado dos balangandãs. A Tarde de confecção de Balangandãs será ministrada pela educadora Debora Paneque Nogueira, das 14h às 17h. Durante a oficina, os participantes poderão criar seu próprio balangandã de modo lúdico, que são objetos de metal em forma de figa, fruto, animal, entre outras, usados inicialmente como adorno por mulheres negras escravizadas na Bahia.  

As atividades no Museu Casa Mário de Andrade, começam nessa quarta-feira, 8, com o músico e historiador Salloma Salomão vai apresentar sua pesquisa sobre as culturas musicais afro-paulistanas estudadas por Mário de Andrade entre 1930 e 1940. A atividade está programada para começar às 19h e vai até às 20h30. 

As pesquisadoras da área de Letras/Literatura Bianca Gois, Fernanda Miranda, Ligia Fonseca e Oluwa Seyi estarão no museu nos dias 9, 16 e 23 de novembro, para discutir as relações de Mário de Andrade com a questão racial. Os encontros se desenvolvem a partir de correspondências, da rapsódia Macunaíma e da obra da escritora negra Ruth Guimarães, que teve contato com Mário e, assim como ele, usou a pesquisa folclórica como meio para a criação literária. 

Os encontros acontecem das 19h às 21h e devem abordar os seguintes temas: Correspondências inéditas do africanista Mário de Andrade: Roger Bastide e o intelectual negro Fernando Góes; O capítulo “Macumba”, de Macunaíma, e a perspectiva marioandradina acerca da religiosidade afro-ameríndia; e Pontos de contato entre Mário de Andrade e Ruth Guimarães.

Já no dia 24 de novembro, das 19h às 20h30, o público terá a oportunidade de participar da conversa Acerca de Solano Trindade, com o poeta, ator e músico Liberto Solano Trindade, filho de Solano (1908-1974). Liberto compartilhará memórias sobre a obra e vida de seu pai, que foi poeta e atuante do Movimento Negro Brasileiro. 

Serviço: 

Programação do Mês da Consciência Negra

Casa Guilherme de Almeida

TARDE DE CONFECÇÃO DE BALANGANDÃS

Com Debora Paneque Nogueira

Domingo, 12 de novembro, das 14h às 17h

Atividade realizada no museu Casa Guilherme de Almeida. Rua Macapá, 187 – Sumaré.
Inscrições até 11/11 – 10 vagas por horário.

Clique aqui para se inscrever no primeiro horário, às 14h

Clique aqui para se inscrever no segundo horário, às 15h

Clique aqui para se inscrever no terceiro horário, às 16h

REPRESENTAÇÕES DA NEGRITUDE EM MUSEUS

Com Claudinei Roberto da Silva

Quinta-feira, 16 de novembro, das 19h às 21h

Atividade realizada por meio da plataforma Zoom

Inscrição aqui – Prazo: 15/11
Vagas: 350

Casa Mário de Andrade

PERCEPÇÕES DE MÁRIO DE ANDRADE SOBRE CULTURAS MUSICAIS AFRO-PAULISTANAS ENTRE 1930 E 1940

Com Salloma Salomão

Quarta-feira, 8 de novembro, das 19h às 20h30

Atividade realizada por meio da plataforma Zoom

Inscrições aqui – Prazo: 07/11
Vagas: 300

NOVEMBRO NEGRO NA CASA MÁRIO DE ANDRADE

Com Ligia Fonseca Ferreira, Bianca Gois, Fernanda Miranda e Oluwa Seyi

Quintas-feiras, 9, 16 e 23 de novembro, das 19h às 21h

Atividades realizadas por meio da plataforma Zoom
Inscrição aqui – Prazo: 08/11
Vagas: 300 

Programa: 

09/11 – Correspondências inéditas do africanista Mário de Andrade: Roger Bastide e o intelectual negro Fernando Góes

Com Ligia Fonseca Ferreira e participação de Bianca Gois

16/11 – O capítulo “Macumba”, de Macunaíma, e a perspectiva marioandradina acerca da religiosidade afro-ameríndia

Com Oluwa Seyi Salles Bento

23/11 – Pontos de contato entre Mário de Andrade e Ruth Guimarães

Com Fernanda Miranda 

Para mais detalhes sobre a atividade, acesse o site do Museu. 

ACERCA DE SOLANO TRINDADE

Com Liberto Solano Trindade

Sexta-feira, 24 de novembro, das 19h às 20h30

A atividade será realizada por meio da plataforma Zoom

Inscrição aqui – Prazo: 23/11
Vagas: 300

Caso Miguel: Tribunal reduz pena de Sarí Corte Real, que já responde em liberdade

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Foto: Reprodução

O Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE) reduziu a pena de Sarí Gaspar Corte Real pela morte do menino Miguel Otávio Santana da Silva, de apenas 5 anos. A ex-primeira dama de Tamandaré havia sido condenada a 8 anos e 6 meses de prisão, e agora será de 7 anos em regime fechado pelo crime de abandono de incapaz com resultado morte. Entretanto, ela já responde em liberdade desde a primeira sentença em 2022.

Sarí Corte Real e a família de Miguel ainda poderão recorrer a decisão, inicialmente ao TJPE e depois Superior Tribunal de Justiça (STJ) e Supremo Tribunal Federal (STF). No julgamento de hoje, Sarí buscava a anulação da condenação, enquanto Mirtes Renata de Souza, mãe de Miguel, solicitava a pena máxima para o crime, no caso, 12 anos em regime fechado. A prisão só poderá ocorrer quando não houver mais chance de recursos.

O desembargador Cláudio Jean Nogueira Virgínio, relator do processo, foi o primeiro a votar e optou pela permanência da pena. Em seguida, a desembargadora Dayse Andrade votou pela redução da pena para 6 anos em regime semiaberto. Eudes França foi o último desembargador a votar, e optou para que a pena fosse reduzida para 7 anos de prisão em regime inicialmente fechado. Por fim, o relator fixou a pena de Eudes França.

A sessão da 3ª Câmara Criminal do TJPE foi realizada hoje, às 9h30 e finalizou às 12h. Mirtes Renata esteve presente junto com a avó de Miguel, Marta Maria, e da advogada Maria Clara D’Ávila. A família ainda luta pela reformulação da sentença para retirar trechos revitimizantes. Sarí Corte Real não compareceu e foi representada pelo advogado Pedro Avelino.

“Nós pedimos o aumento da sentença, pedindo a consideração de outras circunstâncias judiciais que não foram analisadas, e também que sejam retiradas todas as menções que são feitas à Mirtes e à avó de Miguel como uma forma de culpabilizá-las pela morte”, disse a advogada Maria Clara em entrevista à TV Globo, antes do julgamento começar.

Em entrevista para o Mundo Negro na segunda-feira, Mirtes Renata falou sobre os trechos revitimizantes, acrescentados através de uma oitiva feita de forma irregular com uma testemunha de Sarí. “Houve esse testemunho de forma irregular, a gente pediu a anulação, o juiz negou, dizendo que não havia prejuízos para o andamento do processo. Ele colocou isso dentro da sentença, tirando o foco dela, da ré, e colocando a culpa em mim e minha mãe”, relatou.

Entenda o caso

No dia 2 de junho de 2020, Miguel Otávio Santana da Silva, de apenas 5 anos, morreu ao cair do 9º andar do Condomínio de luxo Pier Maurício de Nassau, em Recife, onde morava o casal Corte Real, patrões de Mirtes e Marta.

No momento do acontecido, a mãe de Miguel tinha ido passear com a cadela da patroa, Sarí, enquanto ela estava responsável pelo menino. Sarí deixou o menino entrar no elevador do prédio e ainda apertou os botões. Miguel estava procurando a mãe quando caiu do nono andar.

Artistas negros se destacam durante prêmio Multishow; Confira os looks da noite de premiação

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Na noite da última terça-feira, 7, aconteceu no Rio de Janeiro, mais uma edição do prêmio Multishow. Durante a premiação, artistas negros se destacaram ao levar prêmios importantes nas principais categorias, como a cantora Iza, Ludmilla e o cantor Xande Pilares.

A cantora Iza foi a grande vencedora da noite. Ela levou prêmios nas três principais categorias: Artista do Ano, Capa (do álbum “Afrohits”) e Música Pop com “Fé nas Maluca”, parceria com MC Carol.

As duas comemoraram juntas no palco o prêmio. Iza agradeceu a família, amigos, sua equipe e a Mc Carol. Em tom de brincadeira, a funkeira disse que ia pedir desculpas a Papatinho porque ia gravar com ele. Carol contou que escreveu a letra de ‘Fé nas Malucas’ há três anos.

Já Ludmilla conquistou o prêmio de “Voz do Ano” e “Show” por seu projeto de sucesso “Numanice”.

O prêmio na categoria “Álbum do Ano” foi dado ao cantor Xande Pilares, por “Xande Canta Caetano”, lançado em agosto de 2023. O músico também venceu a categoria “Pagode” com a música “Muito Romântico”. 

Elza Soares recebeu o prêmio póstumo na categoria MPB pela canção “No Tempo da Intolerância”.

A artista baiana Melly ganhou como “Revelação do Ano” e Pretinho da Serrinha vou o prêmio de “Produção Musical do Ano”. Além disso, Léo Santana ganhou como “Axé e Pagodão do Ano” e o rapper Djonga, venceu na categoria “Hip Hop do Ano” pelo hit “Penumbra” ao lado de Rapaz do Dread e Sarah Guedes.

Os looks dos artistas negros também foram destaque. Confira aqui:

Banda Euterpe de Itabirana, grupo que integra a tradição negra de MG, comemora 160 anos

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Foto: Acervo Banda Euterpe Itabirana

A cidade de Itabira (MG) possui um patrimônio que conecta a música mineira à memorável luta pela igualdade racial, reconhecida na trajetória da Banda Euterpe Itabirana. O grupo construiu um repertório de hinos, músicas clássicas, sonatas e adaptações de canções da MPB que há 160 anos emociona seus ouvintes. 

Aos 50 anos, Joaquim Teodorino Olímpio, presidente da Banda Euterpe, reforça a importância do grupo para Minas Gerais: “a Euterpe contribuiu enormemente para o desenvolvimento da música mineira e para a cultura de nossa cidade. Há mais de um século estamos tocando nos mais diversos eventos sociais, como encontros cívicos, festas religiosas, comemorações de aniversário e cortejos fúnebres de figuras ilustres. Nosso grupo encanta corações não apenas de Itabira, mas de toda Minas, pois fazemos questão de levar nossa arte para outras cidades”, se orgulha o presidente. 

Para celebrar os 160 anos, a banda iniciou aos festejos em outubro e ainda contará com atividades no mês de novembro. No dia 22, data historicamente escolhida como aniversário em homenagem à padroeira dos músicos, Santa Cecília, Itabira ganhará uma exposição inédita sobre a história da Banda Euterpe Itabirana. A Casa da Banda vai receber visitantes com instrumentos históricos, fotos, partituras e documentos que compõem o acervo da “Mostra Banda Euterpe 160 Anos – Acordes Históricos”.

O projeto também vai contar com o lançamento do livro com o mesmo título, reunindo depoimentos de antigos membros, fotografias, além de textos especialmente produzidos para celebrar os 160 anos.

Grupo de pessoas tocando instrumentos musicais
Descrição gerada automaticamente
Foto:: Lu Diniz

A história por trás das notas musicais 

No ano de 1863, Emílio Soares Gouveia Horta Junior reuniu pela primeira vez a Sociedade Musical Euterpe Itabirana, que no futuro viria a ser chamada popularmente de Banda Euterpe Itabirana. Erudito e influente, professor de português, francês, latim e matemática, Emílio Soares, possuía relações com o imperador Dom. Pedro II, o que lhe deu a oportunidade de se tornar chefe da guarda municipal de Itabira.

No controle da guarda, que tradicionalmente possuía o costume de ter grupos musicais para prestar homenagens às figuras públicas, Emílio Soares deu início às atividades da banda, porém, o conjunto desde sua criação trouxe inovações para cultura de Itabira ao se tornar uma das primeiras sociedades musicais a integrar civis em sua formação. Por mais de um século, o grupo foi formado apenas por homens negros, ex-escravizados ou nascidos livres, que sedimentaram a tradição das bandas através da relação com as Irmandades de Nossa Senhora do Rosário, pois nos festejos religiosos já se realizavam apresentações musicais. A banda foi um importante instrumento de ascensão, defesa da humanidade e cidadania de pessoas negras, que conquistaram o direito ao espaço público através da arte.

Foto em preto e branco de grupo de pessoas posando para foto de uniforme
Descrição gerada automaticamente
Foto: Acervo Banda Euterpe Itabirana 

Com o passar dos anos, a Euterpe Itabirana se tornou cada vez mais a principal atração nos eventos da cidade. Velórios, aniversários, festas religiosas, do Dia da Independência à comícios eleitorais, o grupo musical ganhou fama pela grandiosidade e talento de seus músicos. A beleza da Banda Euterpe Itabirana encantou fortemente o poeta Carlos Drummond de Andrade, nascido em Itabirana, que inúmeras vezes registrou em crônicas e poesias a presença do grupo musical. A excelência não é para menos, pois até no nome a banda herda prestígio ao homenagear a deusa grega Euterpe, “a doadora dos prazeres”, uma das nove filhas de Zeus e Mnemósine, considerada a musa da poesia lírica e da música.

Tocar na Banda Euterpe Itabirana se tornou uma honra e herança de inúmeras famílias da cidade, que de geração em geração renovam o corpo de músicos do grupo. A banda conta com músicos veteranos que dedicaram anos de suas vidas à Sociedade, além dos novos integrantes que trilham os passos ancestrais de suas famílias. “A entrada de novos membros tem muita influência de algum familiar que um dia também já esteve conosco, que também já foi influenciado por outro familiar um dia e assim vai sendo passada a tradição. Temos um histórico de gerações completas que fazem parte da Euterpe”, lembra o presidente Joaquim Olímpio.

Com sede na Rua Dr. Guerra, 49, conhecida como Rua da Casa da Banda, a sociedade musical é um Patrimônio Imaterial de Itabira e faz parte da história da cidade mantendo viva uma trajetória que reúne 160 anos de tradição.

Uma disputa que inspirou Carlos Drummond de Andrade 

Sede da Banda Euterpe em 1950 (Foto: Acervo Banda Euterpe Itabirana)

A história foi recuperada durante as pesquisas do processo de tombamento da Banda Euterpe como Patrimônio Imaterial de Itabira e relata que, em meados das primeiras décadas do século XX, as bandas locais tinham o costume de criar rivalidades e competições de ego entre si. Isso não foi diferente para Emílio Soares e seus companheiros, que logo começaram a competir com a banda Henrique Dias, fundada pela família Noronha sob forte herança militar

A banda Henrique Dias era aclamada pelo povo itabirano e sempre foi convidada para tocar em enterros e festividades. Porém, com o falecimento de uma grande personalidade da cidade que tinha laços de amizade com Emílio Soares, o padre monsenhor Felicíssimo, em nome da família do falecido, convidou a banda Euterpe para se apresentar no enterro.

O repertório da Euterpe ainda era jovem e limitado, e como a partitura da música “Libera-me” pedida pela família não fazia parte dele, Emílio Soares engolindo seu orgulho pediu-a emprestada à Banda Henrique Dias, mas para sua surpresa, o seu apelo foi negado. Monsenhor Felicíssimo ofereceu sua ajuda para adquirir a partitura, mas Emílio Soares com o ego recuperado negou, e afirmou com muita certeza e segurança que a Banda Euterpe estaria presente no funeral na manhã do dia seguinte. 

No meio da noite, Emílio Soares agiu com rapidez e passou horas dentro da sede da Euterpe compondo ele mesmo a partitura. Por volta das 23h, ele chamou o carcereiro para tocar a clarineta de emergência que convocava a guarda municipal para comparecer ao local. Os guardas, que eram, na verdade, membros da banda, surgiram. Emílio então explicou para eles que não havia nenhuma emergência, pois o alarme foi soado para chamá-los para ensaiar a peça “Libera-me”, que ele havia composto às pressas. No dia seguinte, a peça composta com tempo recorde pelo fundador da Banda Euterpe foi apresentada no velório e foi aclamada. Esse acontecimento foi registrado no poema Criação de Carlos Drummond de Andrade que pode ser lido aqui.  

LIBERATUM: denúncia de racismo resulta em demissão de funcionário estrangeiro

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O Brasil é o país onde pessoas negras sofrem racismo até em eventos pensados para elas, em seu próprio território. Em celebrações de cultura negra, festivais de música nacionais ou internacionais, não é raro aparecer por meio das redes sociais, alguém expondo alguma situação, onde a cor da pele interferiu na experiência e arruinou um momento que era para ser divertido. Muito disso vem pelo fato de que a organização e curadoria ainda fica na mão de pessoas brancas, em grande maioria. 

O episódio mais recente foi o Festival Liberatum , evento que depois de passar por mais de 13 países, escolheu o Brasil e a cidade de Salvador para trazer a riqueza da sua programação como palestras, painéis, performances, exposições de arte e outras atividades culturais.  Viola Davis, Angela Bassett, Seu Jorge, Taís Araújo, Karol Conká, foram alguns dos nomes mais famosos que circularam pela cidade baiana durante os dias 3 a 5 de novembro, período do festival. 

Na noite de terça-feira (7),  a influencer Vitty, uma das convidadas do evento, narrou situações de racismo que sofreu com seus amigos, vindas de homem branco, loiro e estrangeiro, que faz parte da equipe internacional do Liberatum. 

“Eu chego no jantar, encontro meus amigos e vamos tirar foto no backdrop. Não só a gente, mas também tinha outros influenciadores e artistas pretos também esperando para tirar foto.  Aí chega um grupo de paquita e uma pessoa específica. E essa (pessoa) começa a  intervir, entrar na frente das câmeras.  A gente tirando foto e ele começa a entrar na frente das câmeras porque queria que a gente saísse pra ele branco, e as paquitas brancas tirarem foto também, nesse evento tão representativo”, detalha a influenciadora conhecida no Tiktok que disse que depois que as câmeras foram desligadas.

Vitty conta que depois do momento tenso para tirar as fotos, ela e os amigos seguem para o Jantar Preto, evento que também fez parte da programação. E mais uma vez, esse funcionário estrangeiro volta a incomodá-la, quando elas e os amigos usam suas bolsas para reservar um assento enquanto se acalmavam em uma área externa. “Queriam tirar a nossa bolsa de lá, porque não sei quem iria sentar naquele lugar. E a gente tinha que sair dali, para dar um lugar pra essa pessoa sentar”.  

Vitty e seus amigos protestaram e o funcionário foi expulso do jantar. Horas depois da denúncia, Liberatum emitiu um comunicado dizendo que a pessoa citada nos vídeos de Vitty havia sido demitida. “Após investigação interna, o mesmo foi devidamente notificado e demitido. Nós não compactuamos com nenhuma forma de discriminação ou intolerância a ninguém. É contra tudo que lutamos”, disse o comunidade escrito por Pablo, Fundador do Liberatum.

A jornalista Ashley Maia, que mediu painéis durante o evento, também relatou situações que considerou de cunho racista. “​​ Eu estava na programação do evento e tive meu trabalho desvalorizado várias vezes, sendo ignorada e quase impedida de participar das confraternizações e jantares”.  Ela e outros creators trabalharam no evento de forma voluntária.

EPISÓDIOS DE RACISMO, NÃO POUPARAM NEM O FUNDADOR DO FESTIVAL

Pablo, fundador do Liberatum, usou o comunicado oficial, em solidariedade a Vitty, para relatar que também sofreu situações de racismo durante o evento em Salvador. “Eu, Pablo, fundador da LIBERATUM, pessoa não-branca, indiana, queer, não só tive meu cargo questionado por pessoas brancas do público, como fui fisicamente empurrado por uma delas durante o festival”.

Ele continua: “Buscamos refletir a cultura de cada país pelo qual passamos, e quando decidimos escolher Salvador para sediar este evento, sabíamos da necessidade de celebrar a contribuição afro-brasileira para a construção cultural de Salvador e do Brasil, principalmente quando o país enfrenta o racismo estrutural”. 

“À nossa equipe, composta majoritariamente de pessoas pretas, dentro de todos os setores do festival, e ao nosso público que saiu deste final de semana inspirado e positivamente afetado, nosso muito obrigado por fazer parte disso. Você é a razão pela qual continuamos a fazer o que fazemos”, concluiu Pablo.

PARCERIA DE MÍDIA 

O Mundo Negro foi um dos parceiros de mídia do Festival Liberatum, e logo após as denúncias aparecerem nas redes, entrou em contato imediatamente com o perfil do do festival nas redes sociais. Como a imprensa negra, livre e independente, não podemos ignorar as dores da nossa comunidade, público que é a razão principal do nosso trabalho. 

Fomos prontamente atendidos por Pablo que nos informou sobre as providências que seriam tomadas e logo em seguida postou a nota oficial.

 

O Poder das Ervas : atividade com Mãe Celina de Xangô faz parte do Novembro Negro do Museu do Amanhã

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O Museu do Amanhã está preparando uma série de iniciativas para marcar a importância e o simbolismo do Dia da Consciência Negra. Sob o título “Novembro Negro”, a programação inclui atividades como a última edição do ano de “Encontros para o Amanhã” e uma oficina sobre o poder ancestral das ervas na Horta do Amanhã.

O seminário “Encontros para o Amanhã” vai acontecer no dia 9 de novembro e terá como tema “Ficções à Brasileira”. O momento vai contar com a participação da poeta e atriz Elisa Lucinda, da empreendedora social Sil Bahia, e será mediado pela poeta e tradutora Stephanie Borges. O ponto de partida para este encontro é a exposição “Sai-Fai: ficção científica à brasileira”, atualmente em exibição no Laboratório de Atividades do Amanhã (LAA) do Museu do Amanhã. Durante o evento, a exposição estará aberta para visitação excepcionalmente até as 19h. Para participar, é necessário obter o ingresso no site da Sympla (CLIQUE AQUI).

No dia 26 de novembro, acontece uma atividade com a Mãe Celina de Xangô, na Horta do Amanhã. Com o tema “Cuidado Ancestral: O Poder das Ervas”, a ialorixá, com três décadas de iniciação no Candomblé, irá compartilhar conhecimentos sobre as propriedades das ervas, seu uso em banhos e outras receitas. Além disso, Celina de Xangô vai proporcionar relatos de suas experiências únicas e vivências, oferecendo aos participantes uma oportunidade de vivenciar cuidados consigo mesmos, aprender e mergulhar na atmosfera de um terreiro.

Confira abaixo a programação completa de novembro no Museu do Amanhã:

Novembro Negro:

Encontros para o Amanhã – Ficções à Brasileira

Data: 9/11/2023

Local: Auditório do Museu do Amanhã

Horário: 19h

O ingresso é gratuito e deve ser retirado pelo site da Sympla.

Mãe Celina na Horta do Amanhã

Data: 26/11

Local: Horta do Amanhã  

Horário: 15h às 16h30

Ingresso: Realizar o credenciamento no mesmo dia, de 14 às 14h30 no próprio Museu

Nicho Novembro: Evento vai promover encontro de oportunidades para profissionais negros do audiovisual brasileiro

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Foto: Divulgação/Leo Orestes

Começa na próxima quinta-feira, 9, a quinta edição do festival negro de cinema Nicho Novembro, em São Paulo, que vai promover uma mostra gratuita de filmes, além de debates importantes sobre a indústria audiovisual com convidados nacionais e internacionais. O evento é realizado pelo NICHO 54, instituto que apoia a carreira de pessoas negras em posições de liderança criativa, intelectual e econômica na indústria.

Cena do filme Drylongso, dirigido por Cauleen Smith

O evento acontece em dois lugares diferentes, no Centro Cultural São Paulo (CCSP), na avenida Vergueiro, e o Instituto Moreira Salles (IMS), na avenida Paulista. Na sessão de abertura, no Centro Cultural São Paulo, o festival vai exibir o filme americano Drylongso, dirigido por Cauleen Smith, uma das principais artistas visuais da história. Além disso, Black Rio! Black Power, de Emílio Domingos, terá sua estreia em São Paulo na sessão do dia 10.

O tradicional Painel de Abertura “Conversa com o Instituto”, cerimonial com apresentação da programação geral e do Instituto, acontece no CCSP, na quinta 09/11, às 19h30 com a presença da Fernanda Lomba, cofundadora e diretora executiva do NICHO 54, e Heitor Augusto, cofundador, curador e programador-chefe da organização.

“Preparamos uma edição robusta que traduz o momento atual do instituto e seu trabalho de promoção de oportunidades e apoio à carreira de profissionais negros e negras. São dez dias de programação dedicados ao cinema negro, debates, celebração e desafios da comunidade negra que fazem sentido serem trazidos à tona a cada edição,”, celebra Fernanda Lomba.

Neste ano, a programação do festival negro de cinema está estruturada em três eixos: Mostra de Filmes, Fórum e Ambiente de Mercado. E também terá painéis com convidados nacionais e internacionaisrodadas de negóciospitching show e encerramento com apresentação de AFROJAM-SP.

Pelo segundo ano consecutivo, o Instituto NICHO 54 convida também um parceiro internacional para ser destaque na programação e reforçar a iniciativa de internacionalização do evento. A Firelight Media, organização com sede nos Estados Unidos, estará presente nas programações da Mostra de Filmes e no Ambiente de Mercado, ao lado de instituições e parceiros brasileiros que apoiam o festival.

MOSTRA DE FILMES: obras nacionais e internacionais da safra atual

Acompanhando o crescimento do NICHO 54 e sua forte atuação na internacionalização, de 09 a 17 de novembro haverá exibições diárias na Sala Circuito Spcine – Lima Barreto do CCSP de 28 filmes — 12 títulos a mais do que a primeira mostra, realizada em 2019. Como na última edição, parte da programação é realizada por uma curadoria internacional convidada, que este ano é a Firelight Media, parceira que será representada por Loira Limbal e Ximena Amescua.

“Ao propor recortes e aproximações entre obras provenientes de diferentes contextos, o Festival fomenta um espaço de celebração e perspectiva crítica às criações e às vivências negras. Tal como nas edições anteriores, colocaremos em diálogos filmes premiados no circuito de festivais nacionais e internacionais”, revela Heitor Augusto.

Para conferir a lista completa de filmes da mostra clique aqui. A retirada do ingresso gratuito deve ser feita na bilheteria de cinema no CCSP com 1h de antecedência da sessão.

FÓRUM: lançamentos e debates marcam a programação

Fórum de Debate Cinemateca Negra, acontece na Sala Circuito Spcine – Lima Barreto do Centro Cultural São Paulo (CCSP), nos dias 14, 16 e 17 de novembro, e marca o pré-lançamento digital da publicação homônima, um levantamento histórico e inédito de pesquisa e consolidação de dados que mapeou filmes (curtas, médias e longas-metragens) realizados por pessoas negras no Brasil desde 1940 até 2022.

“Tangenciando temas sensíveis à pesquisa, o Fórum terá duração de três dias e tem como objetivo promover encontros entre representantes ministeriais (MIR E SAv/MinC), universidades, agentes do setor audiovisual, representantes de instituições culturais e pesquisadores para refletir, do ponto de vista racializado, questões como os vinte anos da Lei n. 10.639/2003 e sua condução nos cursos do ensino superior no Brasil e ações afirmativas e sua aplicabilidade nos diferentes elos da cadeia audiovisual, além de apresentar à comunidade as contribuições que Cinemateca Negra trará ao campo”, conta Karen Almeida.

A primeira mesa do Fórum, com o tema “Os 20 anos da Lei 10.639/2003 e sua condução no ensino superior nos cursos de cinema e audiovisual”, traz na terça (14/11), às 10h, Marina Rebelo, Coordenadora-Geral de Ações Afirmativas na Educação (MIR), e Edileuza Penha de Souza, professora (UNB), historiadora e documentarista como debatedores. A mediação é de Thales Vieira, diretor executivo do Observatório da Branquitude.

A segunda mesa abordará o tema “Ações afirmativas: difusão, fomento e preservação cinematográfica” no dia 16/11, das 10h às 12h30, e conta com mediação de Márcia Vaz, programadora de cinema do Instituto Moreira Salles, e as debatedoras convidadas Daniela Fernandes, diretora de preservação e difusão audiovisual (SaV/MinC), e Thamires Vieira, diretora e produtora de cinema.

Encerrando o Fórum, Heitor Augusto apresenta destaques da pesquisa Cinemateca Negra na sexta-feira (17/11), também às 10h.

As inscrições para participação do Fórum podem ser feitas via Sympla até 7/11. Mais detalhes e informações podem ser obtidas no site do Festival.

MERCADO: encontro de oportunidades entre realizadores e indústria

Entre os dias 14 a 17 de novembro, o IMS Paulista recebe as atividades do Ambiente de Mercado para promover um encontro de oportunidades em uma espaço racialmente seguro e qualificado para a comunidade negra e agentes da indústria. Nas edições dos festivais passados, as atividades eram fragmentadas. Já o diferencial desta edição é a solidificação dessa proposta.

“No nosso ambiente de mercado queremos introduzir um ritmo assertivo que promova reais possibilidades de bons negócios. Os projetos que participam desta edição traduzem o melhor da safra que estará em cartaz nos próximos anos”, explica Fernanda Lomba.

Dentro do ambiente de Mercado acontece o Pitching Show, que convidou 4 projetos por meio das produtoras do programa NICHO Executiva e ofereceu a eles um treinamento prévio para o pitching, realizado em parceria com o Projeto Paradiso, representado pelos consultores Matheus Faria, Enock Carvalho, Rodrigo Sousa&Sousa e Bábara Defanti. Os projetos convidados foram Ashanti, de Rafael Aquino, Eu Ouvi O Chamado, de Myrza Muniz, House Of Hilton, de Chica Andrade, e Pega Laço, de Lilian Santiago. A audiência do Pitching Show será composta por players da indústria, como empresas produtoras, canais de streaming, fundos nacionais e internacionais e distribuidoras, que vão assistir às apresentações e selecionar os vencedores – contemplados com premiações.

Também, nos dias 14 e 16, acontecem dois painéis, com as convidadas internacionais Loira Limbal (Firelight Media, EUA) e Audrey Kamga (ARTE France, França) em que serão apresentadas experiências globais que podem inspirar e contribuir com a realidade audiovisual brasileira. Esses painéis contarão com a mediação de Laís Franklin, editora-chefe na Revista Bravo!, e foram planejados especialmente para a comunidade audiovisual, traduzindo o diálogo que o NICHO 54 tem com a cena internacional.

O IMS Paulista também será palco de dois Estudos de Caso que vão apresentar resultados e impactos positivos causados por instituições e profissionais parceiros. Os temas serão “Aceleradora Paradiso”, com Josephine Bourgois, diretora Executiva do Projeto Paradiso; e “QUANTA ESCOLA E NICHO 54: Empregabilidade”, com Ariane Breyton, sócia e Diretora de Recursos Humanos da QUANTA, Gabriel Ferreira e Gabriela Araujo, que passaram pelo processo formativo da Quanta e hoje integram a equipe da empresa.

Além dos encontros, o NICHO 54 também fará o pré-lançamento do projeto da plataforma NICHO Conecta, que aproximará empresas e profissionais negros e negras de todas as áreas de atuação.

Por fim, o ambiente de Mercado também fará Rodadas de Negócios no dia 16, com a participação de projetos de longa-metragem Documentário e Ficção em etapas de Desenvolvimento, Produção e Pós produção que foram selecionados pelo Instituto junto com os produtores Tuanny Medeiros (Reduto Filmes), Gustavo Amora (COMOVA Filmes) e Jacson Dias (Ponta de Anzol Filmes), que integram a o API (Associação das Produtoras Independentes do Audiovisual Brasileiro), também parceira do evento. Os projetos selecionados irão participar de reuniões de 10 minutos com players Lira Filmes, WIP Ventures, Coração da Selva, Gullane Entretenimento, Firelight Media e Open Television.

Os ingressos para estudos de casos e painéis podem ser obtidos via Sympla. Mais informações no site.

Mercadão de SP celebra continente africano em Festival de Gastronomia e Cultura

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Foto: Divulgação/Congolinaria

As influências do continente africano sobre o Brasil são imensas. Elas vão desde a moda, passando pelos costumes, música, e, claro, a gastronomia. Para celebrar esta rica mistura genética e cultural, a 9ª edição do Festival de Gastronomia e Cultura (FGC) do Mercado Municipal Paulistano de São Paulo, o Mercadão, vai homenagear não um país, mas um continente inteiro.

Nos próximos dias 11 e 12 de novembro, das 10h às 16h, com entrada gratuita, será possível experimentar e conhecer comidas típicas, artesanatos e muitas atrações turísticas de diversos países africanos, como Congo, Angola, Somália, Nigéria, Quênia e África do Sul.  

Na gastronomia, os destaques vão para os pratos veganos e vegetarianos da Congolinaria, os pratos da cozinha ancestral da chef Dani Pimenta, como o pudim de dendê e a moamba de galinha, o abará do Ojo bahiano, e os bolos pufpuf e a cocada da Marcia Doces. Para beber, os visitantes podem conhecer o suco de Sobolo (hibisco com abacaxi e gengibre), suco Tangawisi (gengribre, abacaxi e limão) e o Suco Bissap (flor de hibísco com manga). 

Edição passada do Festival no Mercadão de São Paulo (Foto: Divulgação)

Nas atrações artísticas, destaque para as apresentações de Capoeira e ativação gastronômica do Centro Cultural Casa de Angola, com uma demonstração de um prato típico Calulu à moda da Angola (peixe, carne seca, mufete e feijão com óleo de dendê).  

Para quem mora na capital paulista, é uma oportunidade de aproveitar o que de melhor a cidade oferece. Para quem vem de fora, é a chance de conhecer ou se reencontrar com uma das principais atrações turísticas da cidade.   

O FGC é realizado pela Mercado SP, concessionária que administra o Mercadão e o Mercado Kinjo Yamato, em parceria com a Prefeitura de São Paulo e, nesta edição, recebe apoio da Instituição Afroturismo e Centro Cultural Casa de Angola. 

SERVIÇO  

Festival de Gastronomia e Cultura – Edição África 

Mercado Municipal Paulistano – Mercadão  

Rua da Cantareira, 306 – Centro Histórico de São Paulo  

Data: 11 e 12 de novembro   

Horário: das 10 às 16h  

Entrada gratuita  

Exposição “Um Defeito de Cor” imerge no universo literário de Ana Maria Gonçalves

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FotoIgor Santos / Prefeitura Municipal de Salvador

Texto e entrevista: Luís Lisboa

Muitas mentes criativas negras articuladas para um marco importante: a reabertura do Museu Nacional da Cultura Afro-Brasileira (Muncab), em Salvador (BA). A exposição “Um Defeito de Cor” estreia na cidade para celebrar a retomada do Muncab, localizado no Centro Histórico da capital baiana, após a instituição passar por um período de três anos com as portas fechadas. A temporada da exposição segue até o dia 03 de março de 2024.

Eleita “exposição do ano”, em 2022, quando estreou no Museu de Arte do Rio (MAR), “Um Defeito de Cor” é baseada no livro homônimo de Ana Maria Gonçalves, que assina a curadoria ao lado de Marcelo Campos e Amanda Bonan. A reabertura do Muncab, na segunda-feira, 06 de novembro, integra a programação do “Novembro Salvador Capital Afro”, uma iniciativa da Prefeitura de Salvador.

Mais de 100 artistas da Bahia, Maranhão, Rio de Janeiro e países do continente africano participam com instalações, telas, fotografias, esculturas, vídeos, tecidos, textos e muitas expressões artísticas. A expografia está dividida a partir dos capítulos do livro “Um Defeito de Cor” e acolhe os visitantes em um convite a mergulhar na narrativa, dilatando a experiência literária para várias plataformas de arte.

Para marcar essa chegada, o dia de reabertura contou com uma roda de conversa com Ana Maria Gonçalves, mediada pelo pesquisador e gestor cultural Chicco Assis. O livro da mineira completa 17 anos, e teve nova edição recém-lançada com ilustrações da artista visual Rosana Paulino.

Narrado em primeira pessoa, a história acompanha a saga de Kehinde, uma mulher africana separada da sua irmã gêmea, escravizada no reino africano de Uidá e trazida para o Brasil, onde desenrola o enredo da sua vida. A história da protagonista é associada a Luísa Mahin, mãe do advogado, jornalista e abolicionista Luiz Gama.

MARCO LITERÁRIO – A autora conta para o Mundo Negro que recebeu o conselho de um amigo: “vá buscar suas coisas onde suas coisas estão”. Assim, foi possível mergulhar no universo histórico da experiência de pessoas negras trazidas à força para o Brasil, criando um enredo rico de referências históricas e subjetividades negras e femininas. “Ele se referia a criar um universo que você entenda as leis e, assim, povoá-lo com pessoas interessantes. Esse é um método que funcionou para mim. E o caminho que eu fiz para chegar até lá, mas não existe fórmula”, detalha.

Para ela, a pessoa autora tem que sumir e deixar que o livro seja uma intermediação entre ele e o leitor. “Eu peguei a voz da minha avó contando histórias durante a minha infância. O ritmo do livro lembra os causos contados por ela. Os ganchos, as iscas, são fruto desse processo”, completa.

Ana Maria viveu em Salvador e na Ilha de Itaparica durante o processo de escrita de “Um Defeito de Cor”, período que ajudou a dar mais corpo à pesquisa para construir a saga de Kehinde. “Eu andava pela cidade, pelo Pelourinho, no bairro do Santo Antônio Além do Carmo, procurando casas para os personagens. Fazia desenhos. Pensava: ‘aqui é a casa de determinado personagem’.”

Nesse processo, ela conta que não conseguia parar de pesquisar. “Minha mãe disse: ‘vem para cá. Você tem casa, comida e roupa lavada, você só precisa me deixar ler’. Aí eu pensei: pronto, é isso!”.

Toda a imersão para criar uma das obras mais importantes da literatura brasileira foi um processo de descoberta pessoal para Ana Maria Gonçalves. “Um Defeito de Cor” foi seu letramento racial. “Com ele eu entendi que sou negra, mesmo sendo mais clara. Durante a escrita, também me achei no candomblé”.

A trajetória de escrita também a fez repensar a documentação histórica sobre pessoas negras e os marcadores sociais que a compõem. “A literatura que eu faço, do ponto de vista acadêmico, é feminina, feminista, negra. Mas eu quero que seja também universal. Esses temas não podem ficar restritos à comunidade negra. Os nossos documentos somos nós. Sobre nós, por nós, para nós, mas que fure a bolha, e chegue à pessoa branca.”.

Por isso, Ana Maria compreende a ancestralidade como atualização de conhecimento. “Ancestralidade não é passado. Ancestralidade é fonte. Fonte que não para de jorrar”.

Confira as fotos da exposição “Um Defeito de Cor”

SERVIÇO

Exposição “Um Defeito de Cor”

Curadoria: Ana Maria Gonçalves, Marcelo Campos e Amanda Bonan

Onde: Museu Nacional da Cultura Afro-Brasileira (Muncab)Rua das Vassouras, nº 25 – Centro Histórico (Salvador, BA)

Quando: 06 de novembro de 2023 até 03 de março de 2024

Visitação: terça a domingo, das 10h às 17h (acesso até às 16h30)

Quanto: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia) – Obs: até o dia 12 de novembro, o acesso é gratuito

Mais informações: @muncab.oficial | museuafrobrasileiro.com.br

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