“Homem-Aranha: Além do Aranhaverso”teve sua estreia nos cinemas adiada novamente para 25 de junho de 2027. O filme estava originalmente agendado para março de 2024, e, depois, para 4 de junho de 2027. As informações são do The Hollywood Reporter.
Segundo fontes internas, a nova data foi escolhida estrategicamente para coincidir com as férias de verão nos Estados Unidos, quando mais crianças e adolescentes estão de folga da escola — o que deve impulsionar as vendas nas bilheterias. A mudança também seria mais vantajosa para o mercado internacional.
A expectativa em torno do novo filme é enorme. A trilogia do Aranhaverso é considerada uma das maiores conquistas da Sony. O primeiro filme, ‘Homem-Aranha: No Aranhaverso’ (2018), ganhou o Oscar de Melhor Animação e mudou o jogo com um estilo visual revolucionário. Já ‘Homem-Aranha: Através do Aranhaverso’ (2023) quase dobrou a arrecadação do antecessor, com mais de US$ 690 milhões no mundo todo.
Agora, ‘Além do Aranhaverso’ chega com a missão de encerrar a trilogia quatro anos depois do seu antecessor — e ainda com o gancho deixado no último filme. A direção é de Bob Persichetti e Justin K. Thompson, com roteiro assinado por Phil Lord, Chris Miller e David Callaham — o trio responsável por dar vida (e multiverso) a Miles Morales.
A atriz e cantora Zezé Motta é a protagonista da 5ª edição do Especial Mulher Negra, que será exibido no Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, em 25 de julho, às 23h, no canal E! Entertainment. A produção estará disponível também no Universal+ a partir de 1º de agosto.
O especial conta com apresentação das artistas Aline Wirley e Karol Conká, além das participações da cantora Luedji Luna, da ex-ginasta e comentarista Daiane dos Santos, do músico Miguelzinho, de Cíntia Ébano e de Safyra Motta — filha e neta de Zezé Motta, respectivamente. Também há depoimentos de Alaíde Costa, Leci Brandão, Ludmilla, Gabriela Loran, Lais Ribeiro e Lívia Sant’Anna Vaz.
Com direção e roteiro de Clara Anastácia, o programa gravado no Museu Afro Brasil Emanoel Araújo, em São Paulo, celebra a trajetória de Zezé e reuniu mulheres negras de diferentes gerações em conversas sobre temas como beleza, maternidade (com foco na adoção e na conciliação com a vida profissional), crise e legado. A proposta é refletir os desafios e contribuições das mulheres negras na sociedade brasileira.
Criado em 2020, o Especial Mulher Negra tem como objetivo dar visibilidade às mulheres negras, frequentemente invisibilizadas pelo racismo e pelo machismo, apesar de sua centralidade na história e na cultura do país.
“Apoiar Zezé Motta neste projeto é uma honra. A força de Zezé e a potência das mulheres que entram nessa conversa são essenciais para o combate ao racismo e ao machismo na nossa sociedade. E Zezé Motta é uma artista incrível, uma mulher incrível e uma voz que precisa ser ouvida”, afirmou Marcello Coltro, vice-presidente sênior da NBCUniversal Latin America.
A estreia acontece no Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, também celebrado no Brasil como o Dia Nacional de Tereza de Benguela, líder quilombola do século 18 e símbolo da resistência à escravidão.
Nos últimos dias, uma nova declaração de Antônia Fontenelle — conhecida mais por polêmicas do que por contribuições relevantes ao debate público — reacendeu uma velha ferida: o uso irresponsável das palavras para reforçar estigmas, violências e preconceitos estruturais. Desta vez, o alvo foi a deputada federal Erika Hilton, mulher negra, trans, uma das figuras mais potentes da política brasileira atual.
Mas não é apenas sobre Erika. É sobre o que esse tipo de fala representa e o quanto ela reverbera na saúde mental de pessoas negras em todo o país. Não se trata de exagero. É fato: discursos racistas, travestidos de opinião ou “sinceridade”, adoecem.
O racismo no Brasil não opera apenas por ações físicas ou explícitas. Ele está nas entrelinhas, nos tons, nas ironias e, sobretudo, na impunidade com que se perpetua no espaço público. Quando uma figura pública usa seus canais para deslegitimar, inferiorizar ou zombar da identidade de uma mulher negra, trans e eleita democraticamente, ela está não apenas atacando um indivíduo — mas reforçando a ideia de que corpos como o dela não merecem respeito, visibilidade ou saúde.
E isso tem consequências concretas. Pesquisas do Ministério da Saúde, da Fiocruz e de universidades brasileiras já apontaram a relação direta entre o racismo e os altos índices de sofrimento psíquico na população negra. Ansiedade, depressão, síndrome do pânico e até suicídio encontram solo fértil num cotidiano marcado por exclusões, desconfiança, hipervigilância e invalidação. Quando a cor da pele é tratada como um alvo, viver se torna um exercício diário de resistência.
No caso de Erika Hilton, estamos falando de interseccionalidades ainda mais violentas: ser mulher, negra e trans no Brasil é enfrentar, todos os dias, uma estrutura que tenta apagar, desumanizar e desqualificar a existência. E cada vez que alguém com alcance nacional reforça esse apagamento, legitima-se também a violência diária contra milhares de pessoas que se reconhecem nela.
É preciso dizer com todas as letras: liberdade de expressão não é liberdade para ofender, humilhar ou promover discurso de ódio. Há uma linha nítida entre opinião e racismo — e ela foi ultrapassada.
Mais do que indignação pontual, é necessário um movimento permanente de responsabilização. A sociedade brasileira não pode mais naturalizar o uso do discurso público como ferramenta de opressão. As plataformas digitais, o sistema judiciário, os meios de comunicação e cada pessoa que ocupa lugar de privilégio e visibilidade têm o dever de se posicionar.
Não se trata de censura. Trata-se de responsabilidade ética e histórica. Erika Hilton é alvo hoje, mas todos os dias milhares de pessoas negras, LGBTI+ e periféricas são silenciadas sem câmera, sem microfone, sem justiça.
O Brasil precisa decidir de que lado quer estar: do lado que adoece ou do lado que transforma.
A cantora, empresária e apresentadora Preta Gil faleceu neste domingo, 20 de julho, aos 50 anos, no Rio de Janeiro. Ela enfrentava um câncer no intestino desde janeiro de 2023. A informação foi confirmada por sua equipe.
Preta Maria Gadelha Gil Moreira nasceu em 8 de agosto de 1974, no Rio de Janeiro. Era filha do músico Gilberto Gil com Sandra Gadelha, sobrinha de Caetano Veloso e afilhada de Gal Costa. Desde a infância, cresceu cercada pela música e pela efervescência artística da geração Tropicália.
Após o diagnóstico de câncer, Preta passou por uma série de tratamentos, incluindo cirurgia e radioterapia. Em 2024, foi submetida a um procedimento complexo que envolveu a retirada do reto e parte do intestino. Também chegou a realizar tratamentos experimentais nos Estados Unidos em 2025. Apesar da luta intensa e do apoio público que recebeu, seu quadro se agravou nos últimos meses.
Ela deixa um filho, Francisco Gil, conhecido como Fran, músico e integrante do grupo Gilsons. Também era avó de Sol de Maria.
Uma trajetória marcada por arte, liberdade e ativismo
Preta Gil lançou seu primeiro álbum em 2003, “Prêt-à-Porter”, e desde então construiu uma carreira marcada pela autenticidade. Suas músicas transitavam entre o pop, o axé e a MPB, com destaque para faixas como “Sinais de Fogo”, “Meu Corpo Quer Você” e “Vá Se Benzer”. Era presença marcante em carnavais com seu tradicional Baile da Preta e em programas de televisão que celebravam a cultura popular brasileira.
Mais do que artista, Preta foi uma voz potente na luta contra o racismo, a gordofobia e a LGBTQIA+fobia. Sempre defendeu a liberdade dos corpos e o direito de cada pessoa ser quem é, sem pedir desculpas. Mulher preta e bissexual, fez da própria vida uma plataforma de visibilidade para pautas que ainda enfrentam resistência na sociedade brasileira.
Além da carreira artística, atuou como empresária no campo do marketing de influência e na gestão de talentos, contribuindo com o cenário cultural e midiático com uma visão inovadora e inclusiva.
Um legado que ultrapassa o palco
Preta sempre compartilhou suas experiências de forma honesta e comovente. Desde episódios de racismo e gordofobia até as alegrias da maternidade e da convivência familiar. Escolheu se chamar Preta Maria mesmo diante da resistência de um cartório, reforçando desde cedo sua afirmação como mulher negra em todos os espaços.
Sua morte representa uma grande perda para a cultura brasileira. Mas seu legado — de coragem, irreverência, amor próprio e arte — permanece vivo em sua música, em sua trajetória pública e no impacto que causou em gerações de fãs e admiradores.
Preta Gil foi mais que uma artista. Foi uma força transformadora que abriu caminhos e deixou sua marca com dignidade, afeto e potência.
Ir a um restaurante pode parecer simples para alguns, mas para muitas mulheres pretas, essa ainda é uma experiência inédita. No próximo dia 26 de julho, o restaurante Biyou’Z Gastronomia Africana, em São Paulo, receberá o evento “Afeto e Ancestralidade – A força do ontem que acolhe o hoje e inspira o amanhã”, uma iniciativa independente e potente idealizada por Ana Paula Evangelista, pensada para mulheres pretas periféricas que, tantas vezes, servem — mas quase nunca são servidas.
Cerca de 30 mulheres recebidas com dignidade, beleza e afeto no Biyou’Z, serão servidas em um restaurante africano, pela primeira vez, e como protagonistas de uma celebração criada especialmente para elas. O evento é mais do que um jantar, trata-se de um gesto de reparo simbólico.
Além da vivência gastronômica africana, o evento também contará com duas atrações especiais: a rapper Cris SNJ, que lança o álbum “Cultura de Preto” em performance exclusiva, e Preta Rara, artista e historiadora.
O jantar contará com a presença da Cafeteria Ancestral, de Ana Paula, com mimos deliciosos, aromas afetivos e sabores de memória. Também será realizado um grande sorteio com marcas pretas e parceiras que fortalecem a experiência: Preta Pretinha (acessórios afrocentrados), Zarah Flor (autocuidado e beleza natural), Papoula’s Joias (joalheria autoral preta), ensaio fotográfico profissional com Yunei Rosa, entre outras.
Serviço
“Afeto e Ancestralidade – A força do ontem que acolhe o hoje e inspira o amanhã”
Data: 26 de julho de 2025
Local: Restaurante Biyou’Z Gastronomia Africana – São Paulo/SP
O jeans é um verdadeiro clássico da moda, atravessando gerações e resistindo às mais diversas tendências. Mas, enquanto o tecido mantém sua popularidade, é impossível ignorar os impactos ambientais de sua produção. Consciente dessa realidade, a agência de modelos Models Black realizou um editorial que une moda, sustentabilidade e criatividade, ressignificando o uso do jeans no guarda-roupa.
Com uma abordagem inovadora, o editorial tem como objetivo mostrar que é possível transformar peças clássicas em looks contemporâneos e estilosos, sem recorrer ao consumo excessivo. Utilizando itens básicos que todo mundo tem em casa, como camisas, camisetas e baby looks, o trabalho propõe formas simples e acessíveis de dar uma nova vida às roupas. Assim, o denim deixa de ser apenas um ícone atemporal e se torna também um aliado da sustentabilidade.
A stylist Ana Paula Fernandes, que esteve à frente da produção, destacou a importância de repensar o consumo na moda. “O jeans é uma peça que todos temos no armário e o desafio aqui foi explorar sua versatilidade com consciência. Queremos inspirar as pessoas a reutilizarem e renovarem suas roupas, mostrando que estilo não precisa custar caro nem ao bolso nem ao meio ambiente”, comentou.
Lavagens antigas foram destacadas com acessórios modernos, e produções casuais ganharam um toque especial com sobreposições e amarrações. Tudo para demonstrar que reinventar o jeans é uma prática acessível a todos.
Além de chamar atenção para a versatilidade do tecido, o trabalho trouxe à tona uma questão essencial: o impacto ambiental da moda. No Brasil, produzir uma única peça de calça jeans gasta em média 5.196 mil litros de água – o equivalente ao consumo diário suficiente para atender as necessidades de 47 pessoas, segundo os cálculos da Organização das Nações Unidas (ONU). Nesse contexto, reutilizar e transformar o que já se tem é um ato de responsabilidade.
Com essa iniciativa, a Models Black reafirma seu compromisso com uma moda mais inclusiva e sustentável, mostrando que criatividade e consciência podem andar lado a lado. O jeans, peça queridinha de todos, ganha um novo propósito: ser símbolo de estilo e de cuidado com o planeta.
Ficha técnica:
Modelos: Agência de modelos Models Black Fotografia: Jorge Garcia @jorgeluizgarcia_ Make: Royce Beenson @roycebeensonbeauty Hair: Gabriely Beraldo do Urbi Afro @gabsberaldo & @biomaurbiafro Styling e direção criativa: Ana Paula @anapauladks Texto: pós produção: Felipe Melo @mwtano Produção Executiva: Maria Alice @mariaalice_le Coordenação Geral: Felipe Monteiro @lippe_monteiro
Na próxima sexta-feira, 25 de julho, às 21h, o Sesc Pompeia se transforma no palco do African Live Experience, uma celebração sensorial que une música, dança e artes visuais para contar a história vibrante e diversa do continente africano. Criado pelo produtor moçambicano Otis Selimane, o espetáculo reúne 12 músicos e 5 bailarinos vindos de Moçambique, Nigéria, Senegal, Angola, Benin e África do Sul, todos vivendo e criando no Brasil.
O show traz no repertório sucessos que marcaram gerações, como “Calm Down” (Rema), “Water” (Tyla) e “Water Get No Enemy” (Fela Kuti), agora repaginados com arranjos que misturam tradição e modernidade. A performance destaca ritmos urbanos como amapiano, kuduro, kizomba e ghetto zouk, estilos nascidos nas pistas africanas e que hoje ecoam no mundo inteiro.
Além da música ao vivo, o público vai se envolver com coreografias urbanas assinadas por Milca Hebo, Leleo, Estela D’Ouro, Kaya Dizui e Inick Sholes, enquanto projeções visuais transportam a plateia para as paisagens imaginadas de cidades como Lagos, Joanesburgo e Luanda. O resultado é uma imersão na África contemporânea, tecnológica, cosmopolita, mas sempre conectada às suas raízes ancestrais.
“Queremos que o African Live Experience seja mais que um show: uma plataforma inclusiva que valorize e amplifique a arte africana que pulsa no Brasil. Um espaço para trocar experiências, dialogar entre culturas e fortalecer as raízes que nos conectam”, afirma Otis Selimane. O projeto dá voz a artistas, músicos e bailarinos, trazendo à tona a riqueza e pluralidade da cultura africana no país, com eventos, debates e conteúdos que ampliam essas narrativas.
Tem gente que veste roupa pra impressionar. Eu visto pra conversar. Comigo mesmo, com o dia, com a cidade.
E nem sempre essa conversa é séria: às vezes é um moletom escrito Brasil!, um tênis que parece limpo mas já rodou o mundo, uma camisa de linho com cheiro de aeroporto. Outras vezes é um blazer estruturado com um sorriso desarmado. O equilíbrio entre o que eu trago da minha avó costureira e do meu pai executivo — e o que eu mesmo fui inventando no caminho.
Moda, pra mim, nunca foi sobre chamar atenção. Foi sobre deixar rastro. E isso eu aprendi cedo. Porque crescer com referências de bom gosto em casa é tipo aprender outro idioma: você fala sem nem perceber.
Essa coluna nasce disso: da vontade de dividir esse idioma com quem tá afim de sair do óbvio, mas não quer virar personagem. Porque nem todo mundo quer seguir tendência — tem gente querendo formar repertório.
E eu não tô aqui pra dar tutorial de estilo. Tô aqui pra jogar a real sobre o que a roupa diz sem precisar explicar. Sobre o que a gente absorve das avós, dos aeroportos, do guarda-roupa do pai ou do feed da filha. Sobre o que a gente comunica quando senta pra uma reunião de moletom branco — e não precisa justificar.
Ao longo dos meses, vou trazer referências, nomes, códigos, cenas do cotidiano e umas frases que talvez te façam rir, talvez te deixem pensando, talvez só te deem vontade de se vestir melhor amanhã.
Começo com uma ideia simples:
O look certo é aquele que diz tudo — e não se desculpa por isso.
Pode ser um terno. Pode ser um tênis amarelo. Pode ser você.
Se tiver dúvida, olha no espelho e responde:
Essa roupa tá falando por mim ou falando pelos outros?
Se for por você, fecha o zíper e vai.
Nos vemos mês que vem.
Felippe Guerra* é Head de Vendas e Marketing e fundador da SOMOS BRASIS. Com mais de 20 anos de experiência, atua na criação de estratégias que conectam marcas a narrativas autênticas do Brasil plural.
A mineira Cidinha Santiago é uma das grandes referências da gastronomia brasileira. Com mais de 60 anos de vivência na cozinha e 35 anos de televisão, ela atravessou o tempo como guardiã da culinária ancestral, das receitas feitas com afeto e da valorização das mulheres negras na gastronomia. Sua trajetória começou ainda na infância, e o Brasil a conheceu no programa de Ofélia, onde permaneceu por décadas como parceira de cena e de sabor.
“Eu tinha cinco anos quando fiz meu primeiro arroz no fogão a lenha. Minha mãe saiu para buscar lenha e deixou meus irmãos comigo. Quando voltou, achou que eu tinha pedido comida à vizinha, mas eu respondi: ‘Não, eu fiz o arroz’.”
Desde então, Cidinha não parou mais. Trabalhou como babá e empregada doméstica, sempre mantendo a cozinha como centro da sua vida. Ainda jovem, escreveu um livro com receitas que aprendeu nas casas onde trabalhou, e com esse livro teve sua primeira aparição na televisão. O talento chamou atenção, e sua formação seguiu paralelamente ao trabalho, sempre buscando cursos e formações técnicas, mesmo sem acesso à universidade formal. Estudou enquanto criava filhos de outras famílias, cozinhava para eventos e construía uma reputação sólida que a levou a lecionar em instituições como a Renascença, Anhembi Morumbi e Anhanguera.
Ela mesma resume com orgulho sua jornada: “Eu aceitei o título de chef porque coordenei equipes, inaugurei faculdades, levei a cozinha para a TV e fui a primeira em muitos espaços. Mas sou, com muito orgulho, uma cozinheira raiz.”
A seguir, publicamos a entrevista completa com Cidinha Santiago. Um registro histórico e afetivo para o Guia Black Chefs.
A SUA TRAJETÓRIA É UMA REFERÊNCIA PARA MUITAS MULHERES NEGRAS QUE DESEJAM ENTRAR NA COZINHA PROFISSIONAL. ENTÃO, EU GOSTARIA DE SABER COMO FOI O SEU CAMINHO ATÉ SE TORNAR UMA CHEF RECONHECIDA TANTO NA TELEVISÃO QUANTO NA GASTRONOMIA POPULAR.
Resposta: Eu comecei muito cedo, aqui em Belo Miro Braga, onde voltei a morar. Saí daqui ainda muito nova para trabalhar. Comecei a trabalhar com cinco anos. Minha mãe saiu um dia para buscar lenha — somos 12 irmãos — e me deixou com três deles, inclusive o mais novo, que ainda mamava. Como ela demorou a voltar, subi num banquinho e fiz meu primeiro arroz no fogão a lenha. Quando ela voltou, achou que eu tinha pedido comida à vizinha, mas eu disse que tinha feito o arroz. Ela provou, gostou, e no dia seguinte me ensinou a fazer o feijão, a verdura e a mistura. Desde então, nunca mais parei.
Com 10 anos comecei a trabalhar como babá, sempre com a cozinha presente. Estudei aqui mesmo, fiz o ginásio, e depois fui para Juiz de Fora, onde queria fazer enfermagem. Trabalhava como empregada doméstica e cozinheira de forno e fogão. Aos 18 anos já trabalhava como cozinheira. Nessa trajetória, resolvi escrever um livro com receitas que aprendi nas casas onde trabalhei, dando um toque mais mineiro, mais brasileiro. Lancei o livro em 1983 ou 84, no CESC, e depois em Muriaé. A filha da minha madrinha trabalhava na Globo e me indicou. Foi a primeira vez que apareci na TV. Fiz uma torta do meu livro. Isso tudo antes de ir para São Paulo, onde conheci o pessoal da Casa de Cultura Afro-Brasileira, que foi fundamental na minha vida.
COMO FOI ESSA TRANSIÇÃO PARA SÃO PAULO E PARA A TELEVISÃO?
Resposta: A menina para quem trabalhei como babá em Juiz de Fora se mudou para São Paulo e me chamou. Como já tinha feito curso de enfermagem, fui. Mas nunca parei de cozinhar. Em São Paulo, dei aula em algumas escolas e procurei me aperfeiçoar, mesmo sem faculdade. Fiz cursos com a Continental 2001, Prosdócimo… Como os meninos da casa ficavam o dia inteiro na escola, eu deixava tudo pronto e aproveitava para procurar cursos. Fiz um curso de congelados e comecei a trabalhar com isso: chegava às 7h da manhã, preparava 15 pratos etiquetados e voltava à casa depois de 15 dias ou um mês.
Depois que terminei um curso da Prosdócimo, fui apresentada ao Benjamim Abraão, referência em padaria em São Paulo. Mostrei meu livro para uma moça da Continental e ela disse que o Benjamim precisava de uma assistente. Trabalhei com ele na feira e depois ele me ofereceu um curso de pães. Nesse período, também dirigi uma creche da Casa de Cultura Afro-Brasileira com 300 crianças. Fiz uma horta comunitária, tirei 70 crianças da desnutrição com alimentação, foi um trabalho muito importante. Fiquei lá uns cinco anos.
O Benjamim me indicou para trabalhar com a Ofélia na televisão. Ele disse: “Se você tiver paciência, vai ser muito bom para você e para ela”. Fui e acabei ficando 35 anos na TV brasileira. Durante a pandemia, conseguimos fazer uma boa transição para o digital, com lives e tudo mais. Em 2017, fui reconhecida pela Federação Italiana de Gastronomia como chef honorária. Também recebi o prêmio Dólmã como embaixadora da gastronomia por São Paulo e influenciadora digital.
A SENHORA MENCIONOU QUE VOLTOU PARA MINAS. COMO TEM SIDO ESSA NOVA FASE DA SUA VIDA?
Resposta: Hoje estou com 67 anos. Quando me aposentei, decidi voltar para Minas. Ainda há muito a ser feito aqui. Quando saí de Minas, todo mundo cozinhava. Quando voltei, percebi que isso tinha mudado. Uma cidade pequena como essa, com 4 mil habitantes, já tem fast food entrando. Ao voltar, recebi o título de cidadã benemérita e inaugurei a escola do legislativo com um curso básico de culinária. Tenho um projeto de viver sem geladeira — como era quando saí daqui. Fiz minha casa com um quarto, banheiro e uma cozinha. Trouxe 30 caixas de livros de gastronomia, herdei alguns da Ofélia, ganhei outros, tenho uma biblioteca enorme. Minha cozinha serve para palestras, aulas, visitas.
Com o curso de culinária, percebi que não bastava ensinar receita. Tive que ser psicóloga, coach… As mulheres aqui estavam cabisbaixas, muitas sofrendo violência. E o curso virou um espaço de autoestima e acolhimento. Já iniciei uma horta pedagógica, tenho projetos de cinema e educação alimentar com as crianças. Viver sem geladeira também é educativo: faço compotas, geleias, licores. Compro carne na hora, ainda tem venda aqui, não supermercado. É sobre qualidade de vida.
E SOBRE A GOURMETIZAÇÃO DA CULINÁRIA BRASILEIRA, ESPECIALMENTE COM PRATOS DE ORIGEM AFRICANA E PERIFÉRICA? A SENHORA ACREDITA QUE ESSA VALORIZAÇÃO ESTÁ CHEGANDO DE FORMA JUSTA PARA QUEM CRIOU ESSES PRATOS?
Resposta: Para quem criou, não. Eu, graças a Deus, participei de eventos importantes, como um no Unique Garden, em São Paulo, no Dia Internacional das Mulheres. Foi um lugar muito requintado. Vi minhas comidinhas — salada de batata-doce, franguinho com quiabo — todas como finger food. Ficou bonito, bem apresentado. Mas a questão é que quando a cozinha virou gourmet, quem apareceu foi o chef. E geralmente o homem.
A cozinha sempre foi da mulher, especialmente da mulher preta. Desde empregadas domésticas até donas de casa, fomos nós que seguramos essa cultura. Quando a cozinha passou a dar status, muitos homens passaram a ocupar esse espaço, e muitas mulheres começaram a dizer que não gostam de cozinhar. Isso me preocupa. Falo disso no livro “Um Pé na Cozinha”, da Thaí, onde sou uma das personagens. Sempre cortamos alimentos como hoje chamam de “julienne”, “brunoise”… só não sabíamos nomear. Isso é apagamento. O que antes era natural virou técnica francesa.
A SENHORA SE IDENTIFICA MAIS COMO CHEF OU COMO COZINHEIRA? QUAL A DIFERENÇA?
Resposta: Hoje me identifico com os dois. Chef é quem chefia um grupo, e eu chefiei. Levei a cozinha para a televisão, inaugurei faculdades, dei aulas. Aprendi televisão com a Ofélia. Tenho o respeito de outros chefs, que sempre valorizaram minha experiência prática. Trabalhei com muitos que vinham da faculdade, e trocávamos muito. Por isso aceitei o título de chef, e uso com orgulho. Mas sou cozinheira raiz, sim. E me orgulho muito disso também.
ESTAMOS NO JULHO DAS PRETAS, QUE CELEBRA O LEGADO DAS MULHERES NEGRAS. COMO A SENHORA ENXERGA O PAPEL DA MULHER PRETA NA GASTRONOMIA BRASILEIRA?
Resposta: A Benê Ricardo foi a primeira. Tenho um livro dela, da DBA, autografado pouco antes de ela falecer. Mas a Benê não teve o reconhecimento que merecia. Foi ela quem ensinou a comida brasileira a muitos chefs, inclusive franceses. Ela assinava cardápios, fazia eventos em casas chiques. Foi nossa pioneira. Quando ela estudou gastronomia foi no Senac, em Águas de São Pedro. Já estive lá para homenageá-la. Em toda palestra ou evento que participo, faço questão de falar da Benê.
Agora estou montando minha própria casa de cultura. Colei meus 35 certificados na parede. Vai ser um espaço para palestras, aulas, visitas. Uma cozinha viva, com memória. Não vou esperar que façam por mim. Já estou fazendo.
PARA ENCERRAR, QUAIS SÃO OS PRATOS QUE A SENHORA MAIS AMA PREPARAR, AQUELES QUE TE CONECTAM COM SUA HISTÓRIA E ANCESTRALIDADE?
Resposta: Eu gosto de tudo, mas me conecto muito com o inhame. Fiz um bolinho de inhame para um projeto da Estella Artois com outras 10 mulheres do Brasil. Foram mil bolsas de estudo para mulheres de baixa renda. Meu bolinho ficou no cardápio da Baianeira por 15 dias. Também gosto de inhame com quiabo, tutu com lombo… Sou da comida de horta, de quintal. Faço doces, compotas, geleias, licores.
Hoje em dia todo mundo quer se especializar — confeitaria, padaria, cozinha quente, fria. Eu venho de um tempo em que a gente precisava saber fazer tudo. E isso é riqueza. Só acho que precisamos dar nome ao que é nosso. A abobrinha que minha mãe cortava sempre foi “julienne”. A cebola sempre teve corte “brunoise”. Mas a gente não nomeava. Agora, dizem que a moqueca tem que ser “brunoise”. E isso pesa. Pesa para quem? Isso é apagamento. Por isso, sigo defendendo nossa cozinha com orgulho.
Você vive espirrando, com o nariz entupido e os olhos coçando? Isso pode ser rinite alérgica — uma condição comum, mas muitas vezes negligenciada, especialmente entre pessoas negras.
O que é rinite alérgica?
Trata-se de uma reação exacerbada do sistema imunológico a substâncias como ácaros, poeira, mofo, pelos de animais e pólen, os chamados alérgenos.
O sintoma mais comum é o nariz entupido ou escorrendo. Outros sinais frequentes incluem espirros, coceira no nariz e nos olhos, sono ruim e cansaço. Há também uma forte correlação com a asma. Se você conhece alguém com asma, essa pessoa pode ter rinite alérgica e ainda não ter sido diagnosticada.
Frio e rinite: qual a relação?
No inverno, o ar frio e seco irrita a mucosa nasal e facilita a entrada de alérgenos. Além disso, passamos mais tempo em ambientes fechados, com maior acúmulo de poeira, mofo e ácaros. O ressecamento das vias respiratórias reduz a proteção natural do nariz, agravando os sintomas. Por isso, quem tem rinite costuma sofrer mais nessa época do ano.
Por que isso importa para a população negra?
Muitas pessoas negras vivem em contextos de maior exposição a alérgenos e com menos acesso a cuidados médicos especializados. Como consequência, a rinite é subestimada — mesmo quando compromete o bem-estar e a produtividade. Cuidar da saúde respiratória é também um ato de resistência e autocuidado.
O que dizem os estudos mais recentes?
O último Consenso Internacional sobre Alergia e Rinologia: Rinite Alérgica reuniu especialistas de todo o mundo para atualizar as diretrizes baseadas em evidências. O documento reforça que a rinite alérgica é uma doença crônica, com impacto direto na qualidade de vida, no sono, no desempenho diário e até na saúde mental. Também apresenta um caminho claro para diagnóstico e tratamento, com base na ciência mais atual.
Sim, rinite tem tratamento!
As recomendações incluem o uso de antialérgicos modernos, sprays nasais com corticoide e imunoterapia (vacinas de alergia). Mas o mais importante continua sendo o básico: evitar os gatilhos da rinite — ou seja, a exposição aos alérgenos.
Sabendo que nem sempre é possível eliminar todos os fatores de risco, compartilho 7 dicas práticas para reduzir crises durante o frio:
Mantenha os ambientes ventilados, mesmo no inverno. Abra as janelas por alguns minutos todos os dias.
Evite carpetes, cortinas pesadas e bichos de pelúcia, que acumulam poeira.
Use umidificadores ou coloque bacias com água nos quartos para combater o ar seco.
Lave o nariz com soro fisiológico para manter a mucosa hidratada.
Evite mudanças bruscas de temperatura. Proteja nariz e boca com um cachecol ao sair no frio.
Lave cobertores e roupas de inverno antes de usar, pois podem acumular ácaros.
Evite cheiros fortes, como perfumes e produtos de limpeza agressivos.
Respirar bem é um direito nosso. Rinite não é frescura — é uma condição médica séria, com tratamento eficaz. Procurar um especialista é um passo fundamental para viver com mais saúde, conforto e dignidade.
Dr. Lucas Diniz Costa – Coordenador do Centro de Referência da Saúde da População Negra (CR-SPN). Fellowship Cirurgia Plástica Facial na Universidade de São Paulo (USP); Humanitarian Committee of American Academy of Otolaryngology and Head-Neck Surgery (AAO-HNS); Titular da Academia Brasileira de Otorrinolaringologia (ABORL); Tenente Oficial Médico da Reserva pelo Exército Brasileiro (R/2); e Médico formado pela Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM).