São Paulo, a maior cidade do Brasil e com a maior população negra fora da África em números absolutos, ganha registro histórico em São Paulo Negra, novo livro da plataforma de afroturismo Guia Negro. Dos 11,4 milhões de habitantes da capital paulista, 43% se consideram pretos ou pardos — cerca de 4,9 milhões de pessoas —, mas a história dessa população, seus personagens e sua relação histórica, política e cultural com a cidade não é amplamente contada nas escolas ou na mídia convencional.
O livro reúne 25 referências negras da cidade, documentando lugares, personagens, cultura e movimentos que muitas vezes ficam fora da narrativa oficial. Entre os territórios percorridos, estão o quilombo Saracura, no Bixiga; a região da República, marcada pela influência de países africanos; e os sons dos blocos afro e festas negras, do samba ao funk. A obra foi escrita por 25 autores — pesquisadores, jornalistas, empreendedores e ativistas — que são referências em suas áreas, incluindo Philip Arthur, Ermi Panzo, Luciana Araujo, Lucas Velloso, Semayt Oliveira, Juca Guimarães, Tadeu Kaçula, Assis Tavares, Pai Rodney, Cinthia Gomes, Vera Eunice, Abilio Ferreira, Nabor Jr, Camila Cardoso, Adriana Barbosa, Elizandra Souza, Neon Cunha, Jairo Malta, Claudia Alexandre, Sidney Santiago, Oswaldo Faustino, Simone Nascimento, Juliana Gonçalves, Flávio Carrança e Lenny Blue.
As fotografias são de Felipe Benício e Heitor Salatiel, que também fizeram a pesquisa histórica de imagens, e o design ficou por conta de Inara Negrão e Deborah Souza, da Grida, com ilustrações de Thais da Silva Pereira.
Segundo Guilherme Soares Dias, fundador do Guia Negro e idealizador da obra, o livro é “uma contribuição para enegrecer as narrativas de uma cidade que vai se embranquecendo e negando seu passado e presente negro-indígena” e tem como objetivo que “esse conhecimento e vivência da negritude de São Paulo ganhe novas leituras e possibilidades”.
A publicação marca a estreia da editora Guia Negro e os oito anos da plataforma de afroturismo. Os primeiros 500 exemplares foram impressos com verba do edital Bora Cultura Negra, da Ambev e da Feira Preta, em 2023, e foram distribuídos para entidades culturais e educacionais ligadas ao antirracismo.
O livro já está disponível para compra neste link: São Paulo Negra.
A obra representa um movimento de resgate do protagonismo negro na cidade, destacando que ainda há muito a ser lembrado em nomes de ruas, praças, avenidas e monumentos, muitas vezes ocupados por bandeirantes e escravocratas, e projeta outras perspectivas históricas para o futuro.
Nesta semana, o ator Ygor Marçal, de 12 anos, conquistou o Prêmio PRODU 2025, considerado o “Emmy da América da Latina”, na categoria Melhor Ator Principal em Série Infantil/Juvenil por sua atuação como Tom em ‘Lab de Chef’, produção brasileira que une culinária e ciência de forma divertida e educativa.
Estreada no Canal Futura no ano passado e disponível atualmente no Globoplay, a série é uma parceria da produtora Panorâmica com o canal e traz a proposta de ensinar conceitos de ciência no ambiente acolhedor e estimulante da cozinha-laboratório. No comando da narrativa estão os pequenos cientistas-chefs Maya (Valentina Leão) e Tom (Ygor Marçal), acompanhados do carismático e temperamental robô Chicô (Ruben Gabira), que ajuda a responder perguntas curiosas sobre o dia a dia na cozinha.
Com uma linguagem acessível e visual colorido, ‘Lab de Chef’ transforma questões simples em grandes descobertas: “Por que a pipoca estoura?”, “Por que o bolo cresce?”, “Por que a beterraba solta tinta?”. A série aposta no conceito de edutainment (entretenimento educativo) para estimular a curiosidade científica e o aprendizado de forma prazerosa.
“Crianças são curiosas por princípio. Então achamos que poderia ser uma brincadeira gostosa experimentar receitas novas e aprender sobre tudo isso no processo, de uma maneira leve, que envolve cores, cheiros e texturas”, conta Mara Lobão, uma das criadoras do projeto e diretora da Panorâmica Produções, na época do lançamento ao canal Futura.
O empreendedorismo, olhado em uma afro perspectiva, e compreendido para além da lógica puramente mercadológica, revela-se como uma prática de afirmação identitária e continuidade histórica. Em contextos como o da formação Feira Preta Cria, essa perspectiva emerge de forma viva, colocando em evidência como negócios liderados por pessoas negras não são apenas unidades produtivas, mas também espaços de criação, preservação e reinvenção de saberes ancestrais.
Ao dialogar com a cozinha afro-brasileira, carrega em si o compromisso de navegar entre memórias e inovações, de maneira similar ao que ocorre no preparo de um prato que, ao mesmo tempo, resgata tradições e incorpora novas possibilidades.
Assim, cada empreendimento se torna também um ato político, que reverte o ciclo histórico de marginalização e se ancora em valores coletivos, culturais e comunitários.
As tecnologias negras, nesse contexto, não se limitam ao campo das inovações contemporâneas, mas englobam sistemas de conhecimento e prática desenvolvidos e refinados ao longo de séculos. Trata-se de um repertório que envolve desde métodos de cultivo e manejo agroecológico, até técnicas culinárias de aproveitamento integral e preservação dos alimentos, articulando sustentabilidade e sabor.
Esse caminho de empreender, lança mão de tecnologias que se atualizam em soluções criativas e unem tradição e inovação, permitindo que o negócio se torne um veículo de transmissão de saberes. Ao reconhecer que cada panela, cada receita e cada utensílio carregam marcas dessa engenharia social e cultural, compreende-se que o empreendedor negro opera, muitas vezes, como um guardião e propagador dessas tecnologias.
As estratégias negro-femininas são um eixo estruturante dessa trama, pois é majoritariamente através das mulheres negras que esses saberes e negócios se mantêm vivos. Nas feiras, mercados e cozinhas, elas tecem redes de apoio, constroem alianças e praticam a arte do mercar como uma forma de resistência econômica e cultural.
Essas estratégias combinam cuidado, perspicácia e visão de futuro, reinventando-se constantemente para driblar as desigualdades estruturais. Ao trazer para o afroempreendedorismo essa força organizadora e criativa, o trabalho das mulheres negras reafirma que não há dissociação entre gerar renda e manter vínculos comunitários, entre gerir um negócio e alimentar um território — no sentido literal e simbólico.
Gerir um negócio gastronômico dentro da lógica do afroempreendedorismo exige compreender que a dimensão cultural não exclui a necessidade de um planejamento sólido.
Uma das ferramentas mais eficazes para estruturar essa visão é o Business Model Canvas, que permite visualizar, de forma integrada, todos os elementos-chave do empreendimento: proposta de valor, segmentos de clientes, canais de distribuição, fontes de receita, recursos e parcerias essenciais, estrutura de custos e atividades principais.
Ao elaborar o Canvas, o empreendedor ou empreendedora negra consegue alinhar a identidade e os valores do negócio com estratégias objetivas de atuação, evitando decisões fragmentadas e facilitando o acesso a parceiros e investidores.
No campo da gestão financeira, a sustentabilidade do negócio depende de um controle rigoroso de receitas e despesas, de preferência utilizando ferramentas simples e acessíveis. Planilhas eletrônicas, aplicativos de fluxo de caixa e sistemas de controle de vendas podem ser aliados poderosos, muitos deles disponíveis gratuitamente.
Esse cuidado financeiro também se conecta ao princípio da autonomia: saber exatamente o custo de cada prato e a margem de lucro praticada é fundamental para não comprometer a viabilidade do empreendimento. É nessa prática que a economia afetiva encontra a economia de mercado, garantindo que o valor simbólico do trabalho seja acompanhado de um retorno financeiro justo.
A tão temida ficha técnica é outro instrumento essencial na gestão de um negócio de alimentação, pois permite padronizar receitas, controlar porções e calcular com precisão o custo de cada preparo. Além de garantir consistência e qualidade para o cliente, a ficha técnica possibilita um acompanhamento realista do impacto de variações de preço dos insumos e orienta tomadas de decisão sobre ajustes de cardápio.
Um caminho de desmistificação dessa ferramenta pode ser o de pensar nela, também, como documento de preservação cultural, registrando não apenas medidas e processos, mas também histórias, origens e significados de cada prato.
Navegar pela cozinha afro-brasileira é uma viagem que transcende o paladar e nos leva a um território de memórias, ancestralidade e resistência. Aproveitar essa travessia nos desafia a perceber como o preparo dos alimentos não é apenas uma expressão de técnicas, mas também uma forma de celebrar vidas, histórias e culturas que foram construídas a partir de cruzamentos complexos entre territórios e pessoas.
Lourence Alves (Foto: Divulgação)
O manejo estratégico das mídias sociais é hoje um pilar indispensável para qualquer negócio gastronômico, e no afroempreendedorismo ele assume ainda a função de ampliar vozes e narrativas historicamente silenciadas. Plataformas e mídias digitais oferecem recursos gratuitos para divulgação, interação e vendas, permitindo que micro e pequenos empreendedores alcancem públicos para além de seus territórios imediatos.
O conteúdo precisa ir além da promoção de produtos, contando histórias, mostrando bastidores, compartilhando saberes e evidenciando o diferencial cultural e afetivo que sustenta o negócio.
Um caminho de encantamento é o de olhar para as cozinhas brasileiras a partir dos ingredientes. É uma trilha que nos ajuda a descolonizar as referências gastronômicas hegemônicas, desfazendo mitos como o da feijoada sendo apenas um prato de restos.
Para isso, reconhecer as técnicas usadas, como o uso integral dos alimentos, que manifestam uma relação de respeito e saber profundo com a natureza, evidenciado no preparo cuidadoso dos feijões e suas variações, é fundamental.
Refletir sobre nossa alimentação e suas origens abre espaço para um entendimento mais profundo do que significa cozinhar em solo brasileiro com uma perspectiva afro-diaspórica. Ressignificar o quiabo, por exemplo, envolve valorizar seu espessamento natural, caracterizando-o como um ícone de inovação e não uma característica indesejável (baba), desvendando assim um mundo de sabores que foram amordaçados pela narrativa dominante.
Ao explorarmos a complexidade da cozinha afro-brasileira, é igualmente essencial reconhecer o papel das mulheres negras que, ao longo dos séculos, foram as protagonistas silenciosas que mantiveram vivas essas tradições. Seja nos tabuleiros ou nas feiras, suas habilidades mercantis e a arte do mercar são formas de resistência econômica e social.
A sabedoria que emanava dos quintais, aquela habilidade de cultivar e utilizar as plantas alimentícias, nos ensina que, muito antes de modismos e convenções, já existiam práticas voltadas para a sustentabilidade e o respeito ao ciclo natural das plantas. Esse é um legado de adaptação e sobrevivência que deve ser celebrado e protegido.
Portanto, o convite que esse conhecimento nos traz é ir além do prato. É um chamado para reviver memórias e reimaginar futuros através de uma conexão profunda com quem somos e de onde viemos.
Assim, fazemos da cozinha um espaço não apenas de nutrição, mas de identidade, lembrança e criação de novas narrativas que ressoam e respeitam nossas histórias coletivas e individuais. Essa jornada é, e sempre foi, sobre liberdade e identidade, consolidadas em cada refeição que partilhamos.
Ao integrar essas ferramentas — Canvas, gestão financeira, ficha técnica e mídias sociais — empreender é também construir uma base sólida que sustenta tanto a perenidade econômica quanto a coerência identitária do negócio.
Essa articulação entre técnica e cultura é o que permite que a cozinha afro-brasileira, com sua profundidade histórica e riqueza de significados, se estabeleça como força no mercado sem abrir mão de seus valores.
O resultado é um empreendimento que não apenas gera renda, mas também produz pertencimento, circulação de saberes e fortalecimento comunitário, alinhando gestão eficiente com a missão de transformar a realidade a partir da comida.
Portanto, pensar o afroempreendedorismo a partir da cozinha afro-brasileira e das experiências formativas como a Feira Preta Cria é reconhecer que se trata de uma prática de liberdade. É navegar por um oceano onde memória, identidade e inovação se encontram, criando novas rotas para a economia e para a cultura.
Cada prato preparado, cada produto vendido e cada história contada se tornam parte de uma narrativa maior, que afirma a potência das comunidades negras em construir futuros sustentáveis e autônomos.
Essa é uma travessia que nos convida a ir além do prato: a ver a cozinha, o mercado e o empreendimento como territórios de disputa e criação, onde se plantam sementes de dignidade e se colhem frutos de transformação social.
Texto: Lourence Alves [@lourencealves]. Professora na Universidade Federal da Bahia, pesquisadora, cozinheira e escritora. Filha de Iemanjá e mãe de Carolina Maria, navega entre panelas, livros e memórias, unindo a cozinha e a palavra como territórios de afeto e resistência. Doutora em Alimentação, Nutrição e Saúde, dedica-se a estudar e ensinar a gastronomia em diálogo com culturas afrocentradas, religiosidades e saberes que desafiam o colonial.
Esse conteúdo é fruto de uma parceria entre Mundo Negro e Feira Preta.
Na CASACOR Ceará 2025, a arquiteta e pesquisadora Stephanie Ribeiro apresenta a Casa Crioula, um projeto que propõe olhar para a arquitetura como um campo fértil de memória, cuidado e continuidade. Inspirada nas casas de sementes crioulas, espaços comunitários que preservam espécies tradicionais e fortalecem a agricultura familiar, a criação parte da ideia de que semear é também um gesto político e afetivo.
“A Casa Crioula nasce do desejo de celebrar a semente como origem de tudo, da vida, do saber e do sonho. Ela nos lembra que semear é também um gesto de cuidado, de continuidade e de resistência”, explica Stephanie.
O espaço, de traçado oval e estética marcada pelas curvas, traduz em arquitetura a organicidade das sementes e o movimento contínuo da vida. A estrutura é composta por tijolos sustentáveis que, ao se repetirem, criam uma paisagem viva — reforçando a lógica ancestral da multiplicação e da coletividade.
A proposta é também sensorial: cores intensas e tons terrosos homenageiam as sementes crioulas, guardiãs da biodiversidade e da memória cultural. Um mural assinado pela artista cearense Marta Brizeno representa o ato de semear como continuidade e esperança, enquanto o ambiente reúne peças de artistas e designers locais como Wilson Neto, Estúdio Sabá e Bekka Studio, em diálogo entre território, arte e ancestralidade.
Mais do que um projeto expositivo, Casa Crioula propõe uma reflexão sobre pertencimento e futuro. “Acredito que a arquitetura pode se inspirar na agricultura familiar, porque ela também é um bem cultural”, afirma a arquiteta.
O mercado corporativo brasileiro historicamente marginaliza mulheres negras. Estruturas organizacionais, racismo institucional e desigualdade de gênero criam barreiras que limitam oportunidades e invisibilizam trajetórias. Alcione Balbino é uma dessas mulheres que transformou essas limitações em ação concreta e impacto coletivo.
Formada e com carreira consolidada em empresas de grande porte, Alcione conheceu de perto a falta de representatividade e a pressão por resultados em ambientes que não a reconheciam. Experiências de burnout e mudanças pessoais significativas impulsionaram sua reinvenção profissional. Foi então que ela fundou a Preta Pardas Potentes (PPp), organização voltada a ampliar a presença de mulheres negras em cargos de liderança e promover diversidade racial em empresas brasileiras.
O trabalho da PPp vai além de capacitação: cria uma rede de apoio, visibilidade e potência para mulheres historicamente silenciadas. Alcione também atua com o Power Woman Mentory, programa que já impactou centenas de mulheres e levou suas palestras a empresas como Roche, Ford e Heineken, combinando experiência, conhecimento técnico e estratégia de inclusão.
Para Alcione, cada conquista individual reverbera coletivamente. Sua trajetória evidencia que o empreendedorismo negro feminino não é apenas sobre abrir negócios: é sobre transformar estruturas, gerar representatividade e construir legados.
Adenor Gondim. Detalhe de “Filha de Iemanjá, Filha de Nossa Senhora”, 2001
A Pinacoteca de São Paulo realiza neste sábado (25), às 11h, a visita com uma curadoria intitulada “Representação e representatividade da mulher negra no acervo”, uma imersão nas múltiplas formas como a figura da mulher negra tem sido retratada nas artes visuais ao longo do tempo.
A atividade gratuita faz parte da exposição “Pinacoteca: Acervo” e terá mediação de Lorraine Mendes, curadora da museu. Entre as obras que integram o percurso estão “Filha de Iemanjá, Filha de Nossa Senhora” (2001), de Adenor Gondim; “Baiana” (autoria não identificada); “Djamila Ribeiro” (2021), da série Vigílias, de Panmela Castro; e “Interior com a baiana” (1956), de Tereza D’Amico.
O percurso convida o público a refletir sobre os regimes de visibilidade, as projeções de si e do outro, e o papel da arte como instrumento de afirmação identitária e denúncia das desigualdades. Além de propor um olhar crítico, demonstrando tensões raciais e contextos sociais.
A visita não requer inscrição e tem duração aproximada de 40 minutos. A atividade acontece no Edifício Pina Luz.
O Globoplay divulgou nesta semana o trailer eletrizante da quarta temporada de ‘Arcanjo Renegado’, que estreia na plataforma no dia 6 de novembro. A prévia apresenta Marcello Novaes como Lincoln, novo inimigo de Mikael (Marcello Melo Jr.), e mostra que a série vai explorar cenas de ação e uma trama que cruza fronteiras entre Brasil, Paraguai e Bolívia.
No trailer, Mikael descobre uma rota internacional de tráfico de drogas e enfrenta uma escalada de violência no Rio de Janeiro, cenário que também impacta a pré-campanha para o Governo do Estado. A chegada de Lincoln promete complicar ainda mais a vida do protagonista.
Além de Novaes, a nova temporada conta com reforços no elenco como Larissa Nunes, Carol Nakamura, Gracyanne Barbosa, Thiago Hypolito, Renan Monteiro, entre outros. Eles se juntam a personagens já conhecidos pelo público, incluindo Sarah (Erika Januza), Maíra (Cris Vianna), Ronaldo (Álamo Facó) e Manuela (Rita Guedes).
A quarta temporada promete ampliar o universo da série, trazendo mais suspense, ação e confrontos que vão manter o público preso à tela.
A lendária Misty Copeland, primeira mulher negra a se tornar dançarina principal do American Ballet Theatre (ABT), fez sua última apresentação com a companhia na quarta-feira (22), encerrando uma trajetória de 25 anos marcada por talento, resistência e transformação no mundo da dança.
A apresentação marcou não apenas sua despedida do ABT, mas também seu retorno aos palcos após um hiato de cinco anos. Misty emocionou o público ao dançar um pas de deux de “Romeu e Julieta” ao lado do parceiro Calvin Royal III, além de coreografias inspiradas em clássicos de Frank Sinatra, como “That’s Life” e “My Way”.
Em junho, Copeland já havia anunciado sua aposentadoria do ABT. Há 10 anos, a bailarina se tornar a primeira dançarina negra da companhia, com 75 anos de história. Desde então, ela tem usado sua visibilidade para ampliar o diálogo sobre diversidade no balé.
“Toda a minha carreira é a prova de que, quando temos diversidade, as pessoas se unem e querem entender umas às outras, querem ser uma comunidade”, afirmou ao The New York Times.
O evento, transmitido simultaneamente para o público do Alice Tully Hall, contou com a presença de celebridades comoOprah Winfrey, Debbie Allen, Phylicia Rashad e Jim Parsons. Durante os aplausos finais, Misty foi homenageada com flores e recebeu no palco o carinho do marido e do filho, em uma despedida marcada pela emoção e pelo reconhecimento de sua trajetória transformadora.
Fotos: Mariana Vianna e Correio da Manhã/Arquivo Nacional
As gravações do longa‘Carolina – Quarto de Despejo’, título provisório da adaptação cinematográfica da clássica obra de Carolina Maria de Jesus, começam no dia 1º de novembro sob a direção de Jeferson De. O filme, que promete celebrar a força e o legado da escritora, terá Maria Gal no papel de Carolina, além de Raphael Logam, Clayton Nascimento, Alan Rocha, Thawan Lucas, Liza Del Dala, Carla Cristina, Ju Colombo, Fabio Assunção e outros talentos.
Nesta semana, elenco e equipe se reuniram para a leitura do roteiro, marcando o início dos preparativos para as filmagens. O roteiro é assinado por Maíra Oliveira e a produção é da Move Maria, Raccord Produções e Buda Filmes, com coprodução da Globo Filmes.
Leitura de roteiro com o elenco (Foto: Mariana Vianna)
Maria Gal, que também atua como produtora, dará vida à mulher negra e favelada que transformou sua vivência como catadora de lixo na favela do Canindé em literatura universal. Com apenas dois anos de educação formal, Carolina Maria de Jesus escreveu o livro ‘Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada’, publicado em 1960, no qual narra com autenticidade e força poética o cotidiano da favela do Canindé, em São Paulo. A obra vendeu mais de um milhão de exemplares, foi traduzida para 14 idiomas e tornou Carolina a primeira escritora negra brasileira a alcançar reconhecimento internacional.
O longa vai recriar a São Paulo dos anos 1950 nos estúdios Quanta Rio, que se transformará em uma grande Favela do Canindé. Além de retratar as dificuldades enfrentadas por Carolina e seus filhos, o filme busca evidenciar sua genialidade, coragem e paixão pela escrita, elementos que fizeram de sua obra um símbolo de resistência e representatividade negra na literatura brasileira.
A série de terror ‘Reencarne’, protagonizada por Taís Araujo, estreou hoje, 23 de outubro, no Globoplay e está com o primeiro episódio disponível para não assinantes. A produção escrita durante a pandemia propõe um olhar sobre a vida, a morte e a reencarnação. “Colocamos todas as nossas dúvidas, questionamentos, imaginação pós-vida”, revela Elisio Lopes Jr., em entrevista ao Mundo Negro, co-criador e co-escritor ao lado de Juan Jullian, Amanda Jordão, Igor Verde e Flávia Lacerda.
O elenco de ‘Reencarne’ também conta com outros nomes de peso como Grace Passô, Aretha Sadick, Pedro Caetano, o guineense Welket Bungué e a portuguesa Isabél Zuaa. Ao longo de nove episódios, a série que se passa no cerrado brasileiro, inicia quando um ex-policial civil, depois de passar 18 anos preso acusado de matar seu parceiro na corporação, é solto e decide tirar a própria vida. Antes que a tragédia aconteça, ele recebe a visita de uma moça que afirma ser a reencarnação de seu parceiro. Ela diz que os dois têm uma última missão: descobrir quem o assassinou em sua outra vida.
Para Elísio Lopes Jr., o processo de criação foi intenso e marcado pelas incertezas da pandemia. “Foi muito louco escrever sem saber se essa série iria mesmo ser feita, se estaríamos vivos, se alguém leria aqueles roteiros. Acho que o público pode esperar uma série que instiga, que vai além do terror, mas que não abandona o melodrama, tudo isso com protagonismo preto”, compartilha o autor.
Delegada Bárbara Lopes (Taís Araujo) em Reencarne (Foto: Estevam Avellar/Globo)
Além de ‘Reencarne’, o criador também está envolvido em outras grandes produções, como a próxima novela das seis da TV Globo, ‘A Nobreza do Amor’, a peça ‘Torto Arado – O Musical’ e o longa ‘Quando Casa Maria Helena?’. Para ele, essa multiplicidade reflete amadurecimento e propósito. “Eu sou um contador de histórias. Entender isso libertou meu olhar para todos os palcos. A tela também é um palco”, explica.
Leia a entrevista completa abaixo:
MN: ‘Reencarne’ é uma das séries brasileiras mais aguardadas do ano, um suspense que explora os dilemas entre a vida e a morte. Como foi, para você, a experiência de colaborar na escrita dessa história e o que o público pode esperar dessa trama?
R: Nós, autores de ‘Reencarne’, temos uma forma linear de criar. Nos encontramos, todos dão ideias, dividimos as cenas pelos desejos de cada um, depois juntamos, lemos e ajustamos cada capítulo. Esse modelo transforma a criação num processo ativo todo o tempo. Essa série foi escrita durante a pandemia, a vida e a morte estavam em pauta, e a gente pensando em reencarnação. Foi muito louco escrever sem saber se essa série iria mesmo ser feita, se estaríamos vivos, se alguém leria aqueles roteiros. Colocamos todas as nossas dúvidas, questionamentos, imaginação pós-vida. Acho que o público pode esperar uma série que instiga, que vai além do terror, mas que não abandona o melodrama, tudo isso com protagonismo preto.
Ex-policial Túlio (Welket Bungué) em Reencarne (Foto: Ariela Bueno)
MN: Você está à frente de quatro grandes produções neste momento — ‘A Nobreza do Amor’, ‘Reencarne’, ‘Torto Arado – O Musical’ e ‘Quando Casa Maria Helena?’. O que esse momento múltiplo diz sobre o seu amadurecimento como criador?
Eu sou um contador de histórias. Entender isso libertou meu olhar para todos os palcos. A tela também é um palco, e o desafio foi aprender a criar para cada espaço. No meu aprendizado, o segredo foi entender quem está do outro lado. Me comunicar sempre foi uma prioridade na arte. O público de teatro te escolhe, no público de TV aberta você esbarra nele sem querer, a tv está ligada e de repente começa a novela, a gente entra na casa das pessoas sem pedir, o cinema te conquista pelas paixões, e cada formato tem as suas divindades.
O teatro é a minha origem. O desafio de adaptar e dirigir o musical ‘Torto Arado’ me inquietou. Como levar ao palco um livro consagrado, que fala de tantos assuntos dolorosos e duros? Mas a fé do povo negro e do povo indígena é uma fé que dança e canta. Cultuamos através do movimento e da música, então essa era a chave para esse espetáculo. Desde que estreamos em Salvador, depois nas temporadas em São Paulo e no Rio de Janeiro, o público está lotando as plateias e dizendo que deseja conhecer mais a sua própria história.
E isso vem acontecendo também na TV e no cinema. Queremos nos ver, para além do olhar do outro. Queremos que os personagens desejados, invejados, admirados, paquerados, pareçam com a gente, com quem a gente ama e odeia. Queremos o direito a sermos vilões e mocinhos dos nossos próprios dramas. Tanto a novela ‘Nobreza do Amor’, quanto o longa ‘Quando casa Maria Helena?” são produções com protagonismo preto e que falam da nossa humanidade.
Bárbara Sut, Lilian Valeska e Larissa Luz em Torto Arado – O Musical. (Foto: Caio Lírio)
MN:Após estrear como o primeiro autor negro a assinar uma novela da Globo em ‘Amor Perfeito’, agora você assume o cargo novamente em ‘A Nobreza do Amor’. O que esse feito significa para a comunidade negra noveleira? E qual a importância de autores negros em outras produções audiovisuais e no teatro?
R: Ser o primeiro não pode bastar. Estou num movimento como criador de expandir o olhar do público. Foram muitos anos da TV, o cinema, a literatura clássica brasileira criando arquétipos e lugares onde não cabiam personagens como os que eu desejo colocar no mundo. Eu acredito que precisamos nos acostumar com a possibilidade de colocarmos nossos desejos e fragilidades no centro das histórias, sem temer que a cor da nossa pele seja mais importante do que o que sentimos. Vai ter preto falando de amor, de reencarnação, fazendo comédia, montando a cavalo e salvando o mundo.
Elísio Lopes Jr. (Foto: Caio Lirio)
MN: Entre o teatro, o cinema, o streaming e a TV aberta, qual dessas linguagens mais o desafia como roteirista e por quê?
A TV aberta por ser uma arena livre, o público é imponderável. A gente não tem como agradar a todos. Os demais formatos você tem o público que escolhe te assistir, consumir a sua história. Já na TV aberta não. Você está dentro da casa das pessoas, uma novela chega todos os dias no mesmo horário e você passa a conhecê-la, a gostar dela ou não. Essa responsabilidade de conseguir falar com tanta gente diferente é um desafio para qualquer contador de histórias. Eu acredito nas novelas. Nós gostamos de acompanhar a vida dos personagens, de ter companhia, de poder opinar e saber se errou ou acertou. Acho que é o nosso papel como criadores: termos afeto pelo público que senta todo dia na frente da TV querendo ser entretido. Desejar atingir nosso público dá sentido ao que criamos.