Familiares de Sean “Diddy” Combs compareceram ao tribunal federal em Manhattan, Nova York (EUA), nesta segunda-feira (12) para acompanhar as declarações de abertura do julgamento em que ele responde por acusações de tráfico sexual, extorsão e transporte para prostituição. Entre os presentes estavam seus filhos Justin, Christian Combs e Quincy Brown, suas filhas Chance Combs e as gêmeas D’Lila e Jessie Combs, além de sua mãe, Janice Combs.
Janice Combs, mãe de Sean Combs, chega ao tribunal federal. TIMOTHY A. CLARY / AFPFilhos mais velhas de Combs, Chance, e as gêmeas D’Lila e Jessie, chegam ao tribunal. Foto: TIMOTHY A. CLARY / AFP
Combs acenou e jogou um beijo para os familiares na galeria ao ser conduzido à sala. A família já havia acompanhado audiências anteriores do caso. As acusações, apresentadas em setembro, incluem a alegação de que o empresário organizava “surpresas” — descritas pelos promotores como “performances sexuais elaboradas e encenadas” com mulheres que teriam sido coagidas ou forçadas a participar, junto a profissionais do sexo masculinos. Combs, que nega as acusações, pode enfrentar prisão perpétua se for condenado por todos os crimes.
Entre as testemunhas potenciais está a cantora Casandra “Cassie” Ventura, citada na denúncia como vítima de agressão em um hotel de Los Angeles em 2016. Ventura moveu um processo contra Combs em 2023, encerrado um dia depois — caso que abriu caminho para dezenas de outras ações judiciais por abuso sexual contra o empresário.
Durante a seleção do júri, nomes como Kanye West, Michael B. Jordan, Mike Myers e Kid Cudi foram mencionados, mas de acordo com fontes da PEOPLE, Jordan não será chamado a depor.
A morte do guia turístico Victor Cerqueira, de 28 anos, durante uma operação policial em Caraíva (BA), no último sábado (10), revoltou moradores do distrito de Porto Seguro, que estão se mobilizando e pedindo justiça. Conhecido por seu trabalho como guia de turismo na região, Victor não tinha ligação com o crime.
De acordo com informações do jornal Correio da Bahia, testemunhas afirmam que Victor foi algemado por policiais antes de ser encontrado morto. Ele estaria a caminho de receber um grupo de turistas quando foi abordado. Um perfil chamado @justicaporvitinho foi criado no Instagram e amigos e familiares do jovem estão se mobilizando para cobrar justiça pela morte do rapaz: “Vamos transformar o luto em luta – Vitor Cerqueira não é um caso isolado, a Polícia da Bahia mata mais que exércitos de guerra. Luzia, mãe de Vitor, não celebrou o dia das mães e os agentes que cometeram essa barbarie precisam ser responsabilizados”, diz uma das publicações.
A operação, que tinha como alvo um suspeito de tráfico, deixou três mortos, incluindo Ramon Oliveira Cruz, apontado como líder de uma facção local e seu motorista. Um abaixo-assinado pedindo justiça pela morte de Victor já ultrapassou 450 assinaturas.
“Vitinho era a alegria daqui, sempre mostrando as belezas da nossa terra com orgulho”, diz o texto da petição. Nas redes, amigos postaram homenagens. “Mataram um filho, um amigo, um profissional que só queria viver em paz”, escreveu um deles.
Estamos aprendendo com muito sofrimento que a luta contra o racismo precisa ser realizada todos os dias, em todos os espaços políticos em que participamos.
Vivemos momentos ruidosos com denúncias de racismo em escolas públicas e privadas, mas há a mais completa ausência de manifestação por parte dos gestores públicos estaduais e municipais na cidade de São Paulo. É um sinal preocupante de que silenciamento sobre o tema das relações raciais e étnicas e a educação.
Na última semana foi realizado um Seminário de três dias sobre o Março Referencial de Equidade na Educação organizado pelas equipes da Secretaria Educação Continuada, de Jovens e Adultos, Diversidade e Inclusão – SECADI/MEC. Um debate necessário sobre a Equidade na Educação e muito recente no Brasil. Do ponto de vista normativo -legal, somente em 2009 o termo aparece, pela primeira vez, no capítulo da educação, por meio da Emenda Constitucional n.59/2009, e é retomado em 2020, via Emenda Constitucional 108, que trata do “novo” Fundeb.
Um dos grandes entraves para a superação do racismo é o seu não reconhecimento e a abordagem cruel e enganosa de ser visto como uma brincadeira, e não como uma violência estrutural de nossa sociedade.
As instituições têm um papel importante na formulação e implementação de políticas antirracistas, garantido pela Lei 10639 de 2003, que passados mais de vinte anos há uma luta titânica para sua implementação em todos os níveis de ensino, do fundamental ao superior.
Um ato revolucionário por parte dos governos municipais e estaduais seria respeitar e garantir a implementação da legislação federal que existe há mais vinte anos . E principalmente dialogar com o movimento negro durante todo o ano letivo não só no mês de novembro.
A meta dos gestores públicos deveria ser o estabelecimento um diálogo com professores, diretores, funcionários administrativos e gestores e principalmente com as famílias negras da cidade de São Paulo.
Neste dia 13 de maio, é fundamental que todos (brancos e negros) se posicionem contra o racismo com ações e empenho tendo a consciência de que é necessário muito mais do que discursos e palestras de letramento racial.
Todas as políticas públicas exigem um orçamento público, que infelizmente não existem nos municípios e nos governos estaduais. Ficamos nos perguntando quantas crianças negras sofrem racismo diariamente nas escolas públicas? Como os secretários de Educação trabalham o 13 de maio nas escolas? Quem acolhe nossas crianças?
Questões que vem sendo levantadas a décadas pelo movimento negro brasileiro e está na agenda política por igualdade na sociedade brasileira.
O cantor norte-americano Lionel Richie é mais um nome confirmado na programação do The Town, festival que acontece entre os dias 6 e 14 de setembro no Autódromo de Interlagos, em São Paulo. Ele se apresentará no dia 13, no palco The One, mesma data em que sobem ao palco Skyline artistas como Mariah Carey, Jessie J e Ivete Sangalo.
Esta será a terceira vez que Richie se apresenta no Brasil. O músico, conhecido por sucessos como “Hello” e “All Night Long”, esteve no país em 2010 e 2016, com shows em São Paulo, Curitiba e Rio de Janeiro.
O The Town, organizado pelos mesmos criadores do Rock in Rio, chega à sua segunda edição em 2025 com um line-up que inclui ainda Katy Perry, Backstreet Boys, J Balvin, Green Day e Iggy Pop, entre outros. O festival ocupará três palcos e ocorrerá em cinco dias de programação.
Confira os principais nomes confirmados:
7 de setembro
Green Day (Skyline)
Iggy Pop (The One)
12 de setembro
Backstreet Boys (Skyline)
13 de setembro
Mariah Carey (Skyline)
Lionel Richie (The One)
14 de setembro
Katy Perry (Skyline)
J Balvin (Skyline)
Ingressos já estão à venda no site oficial do evento.
Em entrevista para a jornalista Maju Coutinho, no Fantástico, na noite do último domingo (11), a atriz Taís Araújo relembrou as duras críticas que recebeu ao interpretar Helena, protagonista da novela Viver a Vida (2009), e como o papel marcou sua carreira. Ao lado da mãe, Mercedes Araújo, a atriz contou sobre como o papel a incentivou falar sobre sua negritude em seus trabalhos e ainda se emocionou ao falar sobre maternidade.
A atriz contou que deixou “tudo” na França, onde estudava, para voltar ao Brasil após ser convidada por Manoel Carlos para ser a primeira Helena negra. O sonho, porém, se tornou um desafio. A primeira Helena negra das novelas de Manoel Carlos foi alvo de rejeição do público. Taís contou com o apoio da mãe, Mercedes Araújo, para lidar com as críticas: “Eu vi a novela, e eu não achava que estava dando errado, eu achava que ela estava ótima, só que o público não aceitava”, disse Mercedes. “O povo odiou, e ela chorava. Eu falei: ‘Você não está fazendo nada errado, tá tudo certo, eu quero você viva, mentalmente boa. Isso é só um trabalho, vai passar’”, contou a mãe da artista. Emocionada, Taís refletiu sobre o momento: “Hoje eu sou mãe, ver um filho seu muito triste não é o que a gente quer na vida, né? Helena não foi só um trabalho, foi o trabalho”.
Apesar das críticas iniciais, a personagem se tornou um marco de representatividade. “Depois de Xica da Silva, a Helena foi a personagem que ampliou meu olhar artístico. Lembro que falei para um amigo: ‘Preciso botar minha negritude para fora em todos os meus personagens’. Tanto que minha carreira é uma antes e outra depois [da Helena]”, afirmou.
Taís também destacou as barreiras enfrentadas na publicidade. “Passei por muita coisa. ‘Ah, já temos uma negra na capa esse ano’. A gente não cansava, Maju, a gente batia na porta”, concluiu.
Ao final da entrevista, a filha mais nova de Taís Araujo e Lázaro Ramos, Maria Antônia, se juntou à mãe e à avó para homenagear Taís, dizendo: “Ela é uma pessoa muito especial para mim e merece muito estar onde está hoje”, disse. Ao falar sobre maternidade, Taís contou: “Esse Dia das Mães, eu acho que é um dos dias, assim, que mais me emocionam. Porque o exercício da maternidade é lindo.. Ele é muito transformador, assim. A minha vida depois dos meus filhos é completamente outra. Eu sou uma mulher, eu acho, muito melhor. Eu sou uma atriz melhor. Os meus filhos fizeram de mim tudo melhor…. Isso é muito lindo”.
Na segunda temporada de‘Sobrevivendo em Grande Estilo’, um dos momentos em especial marca a série em relação aos homens negros: quando o Khalil, interpretado por Tone Bell, aceita o convite para fazer terapia. “É algo que não deveria parecer inovador, mas não vemos isso o suficiente”, reflete Danielle Sanchez-Witzel, cocriadora da produção ao lado da atriz Michelle Buteau, em entrevista ao Tudum.
A sequência, como elas explicam, é um convite para que homens negros também se reconheçam no autocuidado e na busca por saúde mental.
De volta com novos episódios na Netflix, a série continua acompanhando a estilista Mavis Beaumont ( Michelle Buteau) em sua jornada de amor-próprio, relacionamentos e recomeços profissionais. Mas não é só Mavis que cresce — personagens como Khalil e Marley (Tasha Smith) também ganham camadas emocionais mais profundas, em uma temporada que aposta na vulnerabilidade como ato de coragem.
“Você pode escrever um post para o Instagram e dizer: ‘Faça terapia e #saudementalnegra’. Ou você pode colocar isso em uma cena e deixar viver. Acho que essa é a beleza da televisão e do cinema”, destaca Buteau.
“Tínhamos vários homens negros na nossa sala de roteiristas, todos com perspectivas diferentes, obviamente. Todos os roteiristas têm alguma relação com a terapia”, disse Sanchez-Witzel, sobre os bastidores de ‘Sobrevivendo em Grande Estilo’, que teve todos os episódios dirigidos por mulheres.
Buteau relembra que a Marley também fazia terapia na primeira temporada. “Teve uma cena de terapia que viralizou nas redes sociais da Netflix, acho que porque é uma janela para uma conversa que não conseguimos ver. O fato de termos conseguido fazer isso com Khalil é muito importante.”
Além da pouca retratação da terapia para homens negros na televisão, ‘Sobrevivendo em Grande Estilo’ ainda mostrou na trama como esse assunto ainda é um tabu entre eles ao buscar ajuda, e destaca a importância de procurar por profissionais negros para lidar com as questões raciais que interferem na saúde mental.
Por muito tempo, o mercado tentou nos convencer de que sucesso e maternidade não podiam andar juntos. Afinal, o tabu de ser mãe sempre foi visto como um obstáculo, algo que compromete a eficiência, o foco e até mesmo a ambição de uma mulher. Mas quem definiu essas métricas? E, mais importante: quem disse que elas estão corretas?
Eu, mãe de dois filhos e executiva, posso afirmar que a maternidade não “atrapalha” o caminho profissional — ela redesenha esse caminho. Ela desafia as estruturas lineares do mercado e nos convida a pensar além da dualidade “casa ou carreira”.
Por outro lado, precisamos reconhecer que para as mães negras, a questão é ainda mais complexa. A elas é imposta uma dupla jornada de enfrentamento: primeiro, precisam romper com os estigmas que todas as mães enfrentam no mercado; e, depois, lidar com o racismo estrutural que ainda permeia a vida profissional. A maternidade nos confere um olhar ainda mais sensível e estratégico, mas essa potência é invisibilizada por um sistema que as enxerga de forma estereotipada e que muitas vezes as relega a postos subalternos.
Por que o mercado trata a maternidade como algo que diminui uma mulher? E, mais importante: por que insiste em delimitar ainda mais o espaço de mães negras em importantes posições de liderança? Por que o tempo que passamos cuidando, educando e moldando seres humanos é visto como uma pausa na carreira e não como uma extensão das nossas competências?
A verdade é que todas as mães — e, especialmente, as mães negras — são penalizadas por trazer para o mercado algo que ele mais precisa: humanidade. Nas mãos destas mulheres, o trabalho evolui para algo maior, mais coletivo, mais inclusivo.
Infelizmente, enquanto você lê esse texto, uma mãe negra está enfrentando não apenas barreiras invisíveis e violências silenciosas ligadas à maternidade, mas também os desafios de ser vista e ouvida em um espaço onde o privilégio branco determina as barreiras de entrada. Sendo questionada sobre sua “dedicação” e tendo que provar que não só pode desempenhar múltiplos papéis com excelência, mas que esses papéis são válidos.
E, enquanto o mercado não reconhece a capacidade única das mães nas suas habilidades inatas de adaptação, resolução de problemas e inteligência emocional, a maternidade segue sendo uma fortaleza. Ela treina todas as mulheres, e em particular as mães negras, para enfrentar negociações complexas, gestão de crises e planejamento estratégico, num nível que nenhum treinamento corporativo poderia simular.
Do lado de cá, eu sigo lutando para que o cenário corporativo, ao invés de se “preocupar” em como uma mãe vai conseguir equilibrar maternidade e trabalho, se conscientize em como reestruturar suas bases para que o sucesso não seja medido pela exclusão de quem somos — principalmente nós, mulheres negras, periféricas e mães.
Afinal, o verdadeiro obstáculo nunca foi a maternidade, mas um mercado que insiste em exigir que as mulheres deixem partes fundamentais de si para serem consideradas inteiras.
Durante a adolescência, eu não compreendia o porquê do excesso de preocupação que a minha mãe tinha comigo. Bastavam os meus amigos me convidarem para batermos uma bola, ou irmos ao baile e samba de roda, ou dar volta pelo bairro, entre outras coisas, que o desassossego de Dona Lourdes se apresentava. A triste verdade é que a paz das pessoas negras nunca é duradoura.
Antes que eu saísse de casa com os amigos, a minha mãe verbalizava a lista de recomendações: não corra, não arrume confusão, peça desculpas sempre que necessário, não volte tarde, não esqueça de levar os documentos (mesmo que fosse para ir à esquina), evite usar boné e touca, etc.
Porém, apesar da lista, dificilmente eu cumpria todos os itens. Tanto que, retornar para casa de madrugada, nos finais de semana, era bem comum. Nessas ocasiões, eu chegava de mansinho para não acordar a Dona Lourdes (quem disse que ela dormia?). Com as luzes apagadas de toda a casa, a minha mãe já estava me esperando na sala: “Já falei que tem muita gente ruim. Não gostam de pessoas negras; pare de andar por aí até tarde, é perigoso!”, eu ouvia caladinho. No geral, a força das palavras, que soavam tão ásperas, também deixava nítido o sentimento de alívio por não ocorrer nenhuma violência comigo.
A situação piorou muito quando dois dos meus amigos, num curto espaço de tempo, foram assassinados; um pela polícia, o outro não sabemos quem o assassinou. Lembro que a minha mãe ficou muito mal. Ela acreditava que o meu destino seria o mesmo “roteiro trágico” dos meninos. Era somente questão de tempo. Agora me responda, como nutrir outro pensamento, diante de um mar de lágrimas escoando dos lares das famílias negras? Violências em cima de violências; assassinatos, prisões e dependência química comumente presentes na vida dessas pessoas. Permanecer otimista e equilibrado emocionalmente é quase heroico. Em reportagem, a Agência Brasil (2025) apontou que os negros são 3,7 vezes mais vítimas em intervenções letais da polícia paulista. Moramos na periferia de São Paulo; acho que essa informação e os dados da reportagem ajudam você a compreender — ainda mais — o meu ponto.
Lá se foram mais de quarenta anos. Mas o temor da minha mãe não acaba, e com razão. Ela sabe que o racismo no Brasil não descansa um só momento. Nas ocasiões em que vou visitá-la, Dona Lourdes comenta sobre as violências racistas que viu nos noticiários da TV, e aproveita para reforçar a preocupação que tem comigo. Eu só escuto. Diferente do passado, entendo não haver como tranquilizar-se sabendo que neste país o seu filho é um potencial cadáver.
Aos 44 anos, a atriz Mariana Nunes vive um momento de realização pessoal: a gravidez de gêmeos. Em entrevista para o Mundo Negro, ela compartilhou sua trajetória rumo à maternidade solo, um caminho que incluiu diagnósticos equivocados, a descoberta da menopausa precoce e a superação através da reprodução assistida: “Eu não escolhi a maternidade independente, foi ela quem me escolheu. As coisas foram acontecendo e minha história foi se dando do jeitinho que tinha que ser”, destacou.
A atriz revela que sempre sonhou em ser mãe, mas imaginava uma família tradicional. Esse planejamento foi revisto quando, aos 42 anos, entrou na perimenopausa sem sequer perceber. “Foi muito triste me reconhecer e ter que aceitar já estar nessa fase da vida ainda nessa idade. Ninguém sabia ao certo o que estava acontecendo comigo e os profissionais que encontrei foram muito limitados. Eles não associavam meus sintomas a uma possível perimenopausa, acredito que, principalmente, por conta da minha idade”, lembrou. Mariana conta que só depois de um ano uma endocrinologista a diagnosticou corretamente.
“Uma vez sabendo já estar na menopausa só me restava aceitar que, se eu realmente quisesse engravidar, teria que ser através da ovodoação [doação de óvulos] e como nesse momento eu não estava dividindo esse planejamento com ninguém, parti para essa jornada por minha própria conta”, lembra a artista, que conta também ter encontrado apoio espiritual para viver essa jornada.
Mariana buscou na rede privada profissionais e clínicas para ter acesso ao tratamento para engravidar, mas ela alerta que os custos dos procedimentos são bem altos. Para mulheres em situação semelhante que não podem arcar com esses custos, existe a opção pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Desde 2012, uma portaria do Ministério da Saúde garante acesso a procedimentos como fertilização in vitro em centros credenciados. O primeiro passo é procurar a Unidade Básica de Saúde (UBS) mais próxima para avaliação e encaminhamento.
Desafios e preconceitos de profissionais
Nunes não esconde as dificuldades enfrentadas: “São raros os olhares mais atentos para a mulher ou para o corpo de uma mulher que está em busca de garantir sua maternidade, independente da configuração em que isso venha a acontecer. É muito diferente a recepção que você recebe quando chega a um consultório acompanhada de um parceiro ou parceira de quando você chega sozinha. A impressão que tenho é que eles custam a entender a maternidade solo como uma possibilidade normal. Talvez por lidarem pouco com essa realidade?”, questiona. Ela destaca, porém, o apoio fundamental que recebeu de médicos como a Dra. Camila Ramos, que a encorajou.
Diante do comportamento desses profissionais, a atriz aconselha: “Para as mulheres que tem o desejo de se tornarem mães mesmo depois dos 40 ou até mesmo depois da menopausa, eu diria que, com paciência e disposição, procurem especialistas no assunto. Hoje em dia a oferta de clínicas que trabalham com reprodução assistida é enorme, mas nem todos vão lidar com você com paciência e afeto. A busca é árdua e pode ser muito demorada, mas há de haver uma clínica com profissionais que melhor se encaixem no seu perfil”, diz.
“Desde já me sinto grata e feliz”
Vivendo o segundo trimestre de gestação, Mariana Nunes fala sobre a mistura de sentimentos que enfrentou no início. “Eu não tinha noção que o primeiro trimestre poderia ser tão sofrido. Já tinha ouvido falar dos enjoos e do sono, mas não sabia que podia ser tão desafiador na parte emocional. Para além de dores de cabeça fortes e constantes, tive rinite gestacional (nem sabia que isso existia) e uma tristeza tão profunda, que precisei de ajuda profissional. Uma irritabilidade muito aflorada, uma intolerância social bem maior que a que já enfrento normalmente”. De alguma forma, seu corpo entende que está se transformando e que você já não será mais a mesma pessoa e essa transformação acontece em diferentes camadas do seu ser”, revela.
Após os desafios do primeiro trimestre, a atriz celebra o momento de “lua de mel” da gravidez. “Estou no momento que chamam de lua de mel da gravidez. Me sinto bonita, as pessoas na rua me veem grávida e sorriem. O peso da barriga tá aumentando e me sinto bem cansada, mas já é bem mais concreto! Vejo meus bebês nas ultras e bate uma alegria!”, comemora.
Solidão e exemplo para outras mulheres
A artista conta que mesmo vivendo esse momento feliz na gestação, “as emoções coexistem”. “Ainda me sinto muito sozinha e acho importante falar disso. Sozinha não porque sou uma mãe solo, mas porque o processo da gravidez é bem sozinho mesmo. São sensações únicas que só o seu corpo está vivendo e como nenhuma gravidez é igual a outra, se torna uma experiência individual. Tem toda a beleza e tem os desconfortos também. Não é sempre que você conta com a gentileza e delicadeza das pessoas. Muitas perguntas indiscretas, até mesmo dentro da própria família, sobre o seu peso, opiniões sobre o tamanho da sua barriga, se tá grande, se tá pequena… muitas mãos indesejadas te tocando. São muitas as sensações. Uma experiência muito única e difícil de explicar. Algo impossível de definir”, relata.
Ela acredita que sua história pode ser exemplo para outras mulheres que têm o desejo de se tornar mães. “Meu desejo é de que a minha experiência possa ajudar a normalizar todo e qualquer tipo de maternidade e formato de família. Acho que a sociedade não está acostumada a ver pessoas falando sobre esse tema de forma naturalizada”, destaca. “Quando iniciei minhas pesquisas, todo e qualquer relato de maternidade a partir da ovodoação renovava meu propósito e me enchia de coragem, me mostrando que não estava sozinha. Quando vejo os exemplos de maternidade solo, então, é como se renovasse toda a minha coragem e disposição. Nunca ninguém me disse que seria fácil. Mas desde já me sinto grata e feliz”, finaliza.
O samba nasceu do corpo negro. Nasceu das dores e da reinvenção dos afetos de um povo que foi escravizado, perseguido e silenciado. Cada batida do tambor, cada cadência do surdo, cada lamento que virou melodia é herança de resistência. O samba é reza. Mas há quem insista em transformar essa herança em apenas entretenimento — esvaziada, embranquecida, despolitizada.
Nos últimos anos, observamos o crescimento de rodas de samba e grupos de pagode frequentados majoritariamente por pessoas brancas, em especial nas grandes cidades brasileiras. A princípio, pode parecer positivo ver o samba e o pagode atravessando fronteiras raciais e ganhando espaço. Mas há uma fronteira que não deveria ser cruzada com desrespeito: o esquecimento da origem.
Quando pessoas brancas consomem o samba como se fosse apenas “música boa para dançar e beber”, sem reconhecer a ancestralidade negra que pulsa em cada acorde, praticam um tipo de apropriação cultural que não é ingênua — é política. É o mesmo mecanismo colonial que esvaziou o axé de seu sentido espiritual, que transformou o jongo em atração turística, que tenta pasteurizar o funk para torná-lo palatável às elites.
Pior: muitas vezes, nesses espaços, pessoas negras não se sentem acolhidas. São vistas como intrusas naquilo que ajudaram a construir. O racismo, aqui, opera com sutileza cruel — não é o da exclusão direta, mas o da expropriação simbólica.
Isso não é sobre impedir pessoas brancas de cantarem ou celebrarem o samba. É sobre o compromisso com a memória, o respeito à origem, a valorização de quem historicamente construiu esse território musical como lugar de afirmação cultural, religiosa, política e afetiva. O samba é resistência. O pagode é afeto preto. E não existe afeto verdadeiro quando há apagamento.
Cantar samba exige escuta. Dançar pagode exige reverência. Participar desses espaços demanda consciência de que eles foram — e ainda são — territórios de luta negra.
Se queremos um Brasil onde a cultura una, ela precisa, antes, reconhecer as raízes de onde veio. E o samba, meus amigos, não nasceu em Ipanema.