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A importância da legalização dos negócios por empreendedores que iniciam na Gastronomia

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Breno Cruz (Foto: Divulgação)

A convite do Instituto Feira Preta e do Instituto Assaí participei do Feira Preta Cria – Gastronomia para construirmos junto com uma turma de 20 empreendedoras na cidade de Cachoeira o significado da importância de legalização dos negócios por pessoas que estão comercializando alimentos e bebidas. Trouxe minha trajetória à frente da curadoria do Festival Gastronomia Preta, que acontece no Rio de Janeiro, para ampliarmos a visão em relação aos benefícios de ser MEI – Micro Empreendedor Individual. Não é meu objetivo neste artigo de opinião problematizar as disfunções sociais desta categoria.

A frente da feira gastronômica que ocorre no Festival Gastronomia Preta desde 2023, tive a possibilidade de aprender na prática especificidades do setor de eventos que adiante tratarei neste texto. O mais importante agora é compreender que o MEI possui benefícios que muitas vezes são desconhecidos, como, por exemplo, aqueles relativos à previdência. Você sabia, por exemplo, que ao ser MEI e cumprir com suas obrigações mensais (pagar os impostos) é possível ter auxílio doença ou salário maternidade? Além destes e outros benefícios, aquele mais importante que tem relação com as vendas é a possibilidade de emissão de nota fiscal.

Por vezes ouvi queixas de empreendedores que deixaram de fechar uma boa venda em função de não terem a possibilidade de emitir uma nota fiscal; ou, que a nota fiscal que poderiam emitir não tinha relação com a atividade de alimentos e bebidas. Logo, a primeira coisa a saber é que não basta ter CNPJ e poder emitir nota fiscal – é necessário que a atividade registrada contemple a produção e comercialização de alimentos e bebidas. O CNAE (Classificação Nacional de Atividades Econômicas) do MEI ou de uma empresa que queira comercializar alimentos deve ser para fornecimento de alimentos e bebidas. Por exemplo, uma empresa de tecnologia com CNAE desta área não pode emitir nota fiscal para comercialização de alimentos.

Breno Cruz (Foto: Divulgação)

Legalizar sua atuação como empreendedor(a) no ramo da gastronomia pode ter impactos positivos na aceleração da sua trajetória profissional. Só é possível vender para empresas quando se tem o CNPJ. Isso acontece porque cada empresa deve prestar contas à Receita Federal sobre as transações que ela faz (compra e venda) no decorrer de cada ano. Ou seja, não há jeitinho brasileiro para essa questão: ou se tem ou não tem CNPJ para emitir nota fiscal para aquele serviço prestado. De acordo com o Governo Federal, no mês de Maio de 2025, o valor mensal a se pagar de impostos é de R$ 75,90 relativo ao MEI mais R$ 5,00 de ISS e mais R$ 1,00 de ICMS.

Em um primeiro momento, este valor pode parecer alto para quem está começando; todavia, os benefícios atrelados a este valor (principalmente os previdenciários – aposentadoria por idade ou invalidez, pensão por morte e auxílio doença) parecem trazer segurança ao micro empreendedor individual em algum caso de impossibilidade de realizar seu trabalho.

A partir do momento que você possui o CNPJ e pode emitir nota fiscal, você também pode participar de eventos – como a Feira Preta e o Festival Gastronomia Preta. Os eventos são fonte de renda que ajudam no aumento de vendas dos empreendedores. Mas eles são específicos para cada cidade ou estado no que diz respeito à documentação. Especificamente no Rio de Janeiro, qualquer empreendedor de alimentos e bebidas terá que ter a Licença Sanitária de Atividades Transitórias e Autorização de Funcionamento Provisório.

  • LSAT – Licença Sanitária de Atividades Transitórias: concedida com prazo máximo de 180 dias, à pessoa física ou jurídica, para cada atividade sujeita à vigilância sanitária exercida em eventos realizados em área pública ou privada; ao organizador do evento; a ambulantes
  • Autorização de Funcionamento Provisório (SEFAZ): para fazer o requerimento do alvará é preciso entrar em contato com a prefeitura da cidade (geralmente a Secretaria de Fazenda) e realizar o preenchimento de todas as informações obrigatórias. 

Eu sempre sugiro aos expositores do Festival Gastronomia Preta que busquem uma consultoria de um despachante – que é um profissional que tem o conhecimento da documentação necessária para regularizar a sua atividade em um evento. Adicionalmente, eu sugiro realizar gratuitamente o Treinamento Noções básicas de higiene na manipulação de alimentos da Prefeitura do Rio de Janeiro. Não é obrigatório, mas qualifica ainda mais sua experiência como empreendedor(a) no ramo da Gastronomia. Neste treinamento você aprende noções básicas de manipulação que pode ajudar a evitar ter problemas com a Vigilância Sanitária.

Zelando pela imagem do Festival Gastronomia Preta, exigimos que todo expositor apresente o certificado deste treinamento. Afinal, primeiro eles se protegem quanto ao atendimento das normas e regras de higiene; e, consequentemente, nos protege de alguma intervenção que pode prejudicar a imagem do evento.

Por fim, legalizar sua atuação no ramo da Gastronomia é o primeiro passo para acelerar suas vendas – e esse não é um olhar romantizado (não sou consultor do Sistema S). Fazer sua formalização pode te abrir portas para você acessar espaços de comercialização para seus produtos ou serviços.


Texto: Breno Cruz [@pretogourmet]. Professor efetivo do Departamento de Gastronomia da UFRJ; Doutor em Administração e Pós-doutor em Comunicação; especialista em Responsabilidade Social Corporativa; autor de 12 livros e mais de 180 resumos e artigos completos em congressos e revistas acadêmicas nacionais e internacionais; jurado da Forbes Under 30 na área de Gastronomia e do reality show Vida de Merendeira; criador do Prêmio Gastronomia Preta, do Pretonomia – um curso de extensão da UFRJ que qualifica pessoas pretas e pardas em vulnerabilidades na região metropolitana do Rio de Janeiro e também criou o Festival Gastronomia Preta. Nas redes sociais é conhecido como Preto Gourmet e é colunista do Notícia Preta e da Revista Bares e Restaurantes da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes.

Esse conteúdo é fruto de uma parceria entre Mundo Negro e Feira Preta.

Museu Afro Brasil contesta manifesto sobre demissão de diretor artístico e conselho majoritariamente branco: “equipe qualificada e diversa”

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Foto: Divulgação/Museu Afro Brasil

Cerca de um mês após a demissão do diretor artístico Hélio Menezes e a renúncia dos conselheiros Wellington Souza e Rosana Paulino no Museu Afro Brasil Emanoel Araujo, em São Paulo, cerca de 800 artistas e intelectuais assinaram um manifesto em defesa do curador, famoso no cenário artístico global, e que também esteve à frente da última Bienal de São Paulo.

“É de se causar estranheza, portanto, como uma pessoa de tamanha qualidade profissional e que em pouco tempo tem conseguido trazer o museu novamente para o cenário nacional como um espaço de importância para a cultura brasileira tenha sido dispensado sem um amplo diálogo com a comunidade artística”, diz o documento assinado por Grada Kilomba, Camila Pitanga, Conceição Evaristo, Ailton Krenak, entre outras grandes personalidades. 

“Ainda, é preocupante saber que o conselho administrativo e a assembleia constituinte deste museu são formados, majoritariamente, por pessoas brancas e de pouca relevância na área cultural e artística”, denuncia o manifesto.

Diante da repercussão do manifesto, o Museu Afro Brasil divulgou uma nota pública para a imprensa, nesta quinta-feira (24), para explicar a demissão do diretor artístico e as críticas ligadas à poucas pessoas negras que representam a instituição. 

Diferente do que afirma o ex-diretor artístico Hélio Menezes, os ex-conselheiros e o texto do manifesto, a instituição afirma que “a maioria dos membros dos Conselhos de Administração e Fiscal é composta por pessoas negras, incluindo a Presidência e a Vice-Presidência. Toda a diretoria da Associação é formada por pessoas negras, assim como a maioria do corpo gerencial, evidenciando o compromisso da AMAB com uma liderança representativa, coerente com a missão do Museu.”

Para a associação, o gesto de renúncia dos conselheiros em solidariedade à Hélio Menezes foi registrado com respeito, mas nega que a decisão foi tomada “com base em critérios técnicos, jurídicos e administrativos, orientada pela estabilidade institucional e pelo interesse público”.

Em nota, o ex-diretor artístico havia acusado o Museu Afro Brasil de práticas de pessoalismo e pouca transparência. No entanto, a Associação Museu Afro Brasil Emanoel Araujo (AMAB) “refuta veementemente qualquer insinuação de que a decisão adotada decorra de motivações pessoais ou de práticas não transparentes. O processo seguiu rigorosamente os princípios da legalidade, da transparência e da responsabilidade institucional, que norteiam todas as ações desta Associação.”

O Museu Afro Brasil afirma que entre os motivos para o desligamento de Hélio Menezes está ligada a exigências como “reajustes salariais automáticos e garantias financeiras pré-fixadas, incompatíveis com os princípios da legalidade, economicidade e interesse público que regem as Organizações Sociais.”

“Mesmo sem contrato definitivo assinado”, a instituição afirma que a AMAB cumpriu integralmente todas as obrigações acordadas com o então diretor, porém “ao final do processo, foi também proposta a possibilidade de readequação da função, na forma de contrato de prestação de serviços como curador autônomo — proposta que não foi aceita”.

“A AMAB lamenta profundamente que uma divergência contratual, de natureza institucional e administrativa, tenha sido exposta de forma parcial e descontextualizada, sem a observância dos canais formais de interlocução”, afirma em nota. 

Leia a nota completa do Museu Afro Brasil:

O Museu Afro Brasil Emanoel Araujo, prestes a completar 21 anos de existência, reafirma seu compromisso inabalável com a valorização da história, da arte e da cultura afro-brasileira. Sustentado por um projeto coletivo e de caráter público, o Museu foi construído ao longo de décadas por centenas de profissionais, artistas, curadores, educadores e gestores profundamente comprometidos com sua missão institucional.

Fundado por Emanoel Araujo, artista, curador e intelectual de importância ímpar para o país, o Museu preserva e projeta seu legado desde seu falecimento em 2022. A continuidade da programação cultural, a preservação de seu valioso acervo e a regularidade de suas atividades demonstram a solidez da governança e o comprometimento de sua equipe técnica, curatorial, administrativa e educativa.

Importa lembrar que o Museu não é apenas um espaço expositivo: sua atuação envolve educação, pesquisa, preservação da memória, publicação de livros e catálogos e formação de público, em diálogo constante com escolas, universidades, territórios periféricos e instituições culturais de todo o país.

Diante das manifestações públicas relacionadas à saída de um ex-diretor artístico, a Associação Museu Afro Brasil Emanoel Araujo (AMAB), entidade gestora da instituição, vem a público esclarecer:

A destituição do referido diretor foi deliberada pelo Conselho de Administração da AMAB em 2 de junho de 2025 e ratificada pela Assembleia Geral em 16 de junho, em conformidade com os ritos estatutários vigentes. A decisão foi precedida de mais de 13 meses de negociações, acompanhadas por assessorias jurídicas independentes, voltadas à formalização de um contrato de trabalho que se mostrasse juridicamente viável e compatível com os parâmetros legais e orçamentários definidos pelo Contrato de Gestão firmado com o Governo do Estado de São Paulo.

Entre os principais impasses, estiveram exigências como reajustes salariais automáticos e garantias financeiras pré-fixadas, incompatíveis com os princípios da legalidade, economicidade e interesse público que regem as Organizações Sociais. Os recursos geridos pelo Museu são públicos e vinculados a metas pactuadas, estando sob fiscalização permanente da Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas do Estado de São Paulo, do Tribunal de Contas do Estado e do Ministério Público, o que impõe rigor e transparência em todas as instâncias de gestão.

Contratações, demissões e destituições são prerrogativas legais das instituições, desde que amparadas por seus estatutos e pela legislação vigente — como ocorreu neste caso, com base em deliberação colegiada e devidamente registrada.

Durante o período de vínculo, mesmo sem contrato definitivo assinado, a AMAB cumpriu integralmente todas as obrigações acordadas com o então diretor: remuneração, encargos legais, férias e benefícios foram assegurados com regularidade e boa-fé. Ao final do processo, foi também proposta a possibilidade de readequação da função, na forma de contrato de prestação de serviços como curador autônomo — proposta que não foi aceita. Todas as tratativas com o ex-diretor artístico foram devidamente documentadas e contaram com o acompanhamento de dois escritórios de advocacia independentes, especializados na gestão de organizações sociais.

A AMAB lamenta profundamente que uma divergência contratual, de natureza institucional e administrativa, tenha sido exposta de forma parcial e descontextualizada, sem a observância dos canais formais de interlocução. Divergências são naturais em ambientes colegiados e democráticos; entretanto, a forma como esta foi trazida à esfera pública contraria os princípios das boas práticas de governança e o respeito à ética institucional.

Quanto à renúncia de dois conselheiros, em solidariedade ao ex-diretor, o gesto foi registrado com respeito. A AMAB reafirma que a pluralidade de visões é bem-vinda nos processos institucionais, mas reitera que a decisão de destituição foi tomada com base em critérios técnicos, jurídicos e administrativos, orientada pela estabilidade institucional e pelo interesse público.

O processo de transição está em curso, com a criação de um conselho curatorial e a continuidade de uma agenda institucional comprometida com a excelência artística, a representatividade e o compromisso com o público.

O Museu é conduzido por uma equipe qualificada e diversa. A maioria dos membros dos Conselhos de Administração e Fiscal é composta por pessoas negras, incluindo a Presidência e a Vice-Presidência. Toda a diretoria da Associação é formada por pessoas negras, assim como a maioria do corpo gerencial, evidenciando o compromisso da AMAB com uma liderança representativa, coerente com a missão do Museu.

A AMAB refuta veementemente qualquer insinuação de que a decisão adotada decorra de motivações pessoais ou de práticas não transparentes. O processo seguiu rigorosamente os princípios da legalidade, da transparência e da responsabilidade institucional, que norteiam todas as ações desta Associação.

É fundamental reconhecer que uma instituição pública, com mais de duas décadas de trajetória, não pode ser reduzida à história individual de nenhum de seus integrantes. Seria injusto com os artistas, técnicos, curadores, educadores, conselheiros, gestores e com o público que, diariamente, constroem e sustentam um projeto de relevância nacional e internacional.

A Associação Museu Afro Brasil Emanoel Araujo segue firme em seu compromisso com a ética pública, com o legado de Emanoel Araujo e com a valorização da cultura negra brasileira.

Seguiremos adiante com serenidade, responsabilidade e compromisso público, cientes de que preservar e projetar o legado de Emanoel Araujo é uma tarefa coletiva, inadiável e profundamente necessária.

Cremação do corpo de Preta Gil levanta debate entre os adeptos do candomblé; entenda o caso

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Foto: Reprodução/Instagram

A família de Preta Gil anunciou, na quarta-feira (23), que o corpo da cantora será cremado, atendendo a um de seus desejos. Por não ser uma prática comum entre os adeptos do candomblé, a decisão surpreendeu muitas pessoas.

Existe uma simbologia de que o corpo é o início de tudo. Em entrevista ao Mundo Negro, o babalorixá Rodney William contou que existe uma história em que a orixá “Nanã deu a Oxalá o barro para moldar nossos corpos. Eles teriam feito um acordo de que no momento da morte esse corpo seria devolvido à sua origem, ou seja, à Terra. Por isso, muitos defendem que nós do candomblé não podemos ser cremados.”

No entanto, apenas no candomblé, há diferentes nações e tradições, e de acordo com o próprio babalorixá, “não existe nenhuma proibição formal”, sobre a cremação dos corpos, e “cabe à família decidir o que fazer”. 

A morte não existe para as religiões de matriz africana. Em uma entrevista recente à revista Quem, o babalorixá de Preta Gil, conhecido como Pai Celinho, falou sobre a espiritualidade da cantora e os preparativos para a volta ao Orum – um lugar sagrado, onde o espírito se junta aos seus ancestrais e aos Orixás para uma vida eterna. 

“Preta foi cuidada espiritualmente. A primeira casa que ela fez alguma obrigação foi no Gantois, em Salvador, mais ou menos com 15 anos. Também faço parte do Gantois [terreiro em Salvador] e nos foi acordado, por Mãe Carmem, que ela seria cuidada por mim, pelo Ilé Ase Obalúwáiyé Jagun”, explicou.

Preta Gil era filha de Oxum, e embora não tenha sido iniciada – seguindo uma tradição do candomblé para os filhos de santo, Pai Celinho explica que isso não significa que ela foi menos abençoada.

“Uma pessoa que teve todo esse processo, essa pessoa está evoluindo. O espírito dessa pessoa está evoluindo. Ela entra num processo de evolução muito rápido, principalmente por ter sido uma doença terminal. Então, ela está muito bem neste momento”, afirmou.

O Mundo Negro tentou entrar em contato com o Pai Celinho, mas não teve retorno até o fechamento da matéria. 

Hoje ninguém mais quer ser branco. A pergunta é: quando vão deixar de ser racista?

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Foto: Divulgação

Por Etiene Martins

Hoje, ninguém mais quer ser branco. Pelo menos, não publicamente. Em eventos que celebram a produção intelectual e artística negra, como o festival LEAD no Museu do Amanhã e o curso ministrado por Conceição Evaristo na Fundação Casa Rui Barbosa, o que eu tenho visto são mulheres brancas, ocupando cargos de poder, tentando reconfigurar sua identidade racial.  

No dia 14 de junho, fui ouvir Chimamanda Ngozi Adichie. Cheguei cedo, me achando linda vestindo Naya Violeta, uma estilista negra de Goiânia, e me sentei na primeira fileira pra ficar bem pertinho da minha romancista africana preferida. Vai que eu consigo tirar uma fotinho com ela? A expectativa era ouvir tudo que a grandiosa escritora nigeriana tinha a dizer. O painel foi mediado por duas mulheres negras incríveis: Ana Paula Xongani na apresentação e Aline Medlej fazendo as perguntas.

Mas antes do início do painel, a fala institucional de Bia Lima, supervisora de inclusão da Fundação Roberto Marinho, que se auto descreveu como “negra”, gerou espanto. Trata-se de uma mulher visivelmente branca de traços finos, pele clara, cabelos lisos, sendo tratada socialmente como branca. Ouvi aquilo e quase duvidei da minha sanidade. Confirmei com quem estava por perto: todos ouviram o mesmo. Fiz um story indignada e segui. Afinal, não seria a branquitude que me tiraria a alegria de ouvir Chimamanda.

O episódio ficou sem resposta. O perfil da Fundação Roberto Marinho visualizou, mas não se posicionou. Como já era o esperado.

Uma mês depois, outra escritora negra de renome: Conceição Evaristo. A primeira aula de seu curso, transmitida online, reuniu milhares de pessoas. A anfitriã, Andreia Terra, chefe de gabinete da Fundação Casa Rui Barbosa, iniciou a transmissão se descrevendo como:  “eu sou uma mulher de pele marrom e de cabelo meio marrom também”. Pausei o vídeo, voltei, ouvi de novo. Era uma mulher branca tentando se apresentar como não-branca.

A reação foi imediata no chat: questionamentos, indignações, chamadas de atenção. No intervalo, Silvany Euclênio pediu generosidade ao público. Disse que Andreia havia feito uma autocrítica. De fato, ao retornar, ela afirmou: “No inicio da noite de hoje na minha auto descrição eu disse: eu sou uma mulher marrom, para me descrever. Eu falei essas palavras. Eu recebi críticas por isso  e críticas que eu compreendo e acolho. Falando agora sobre a minha autodeclaração eu sou uma mulher parda, filha da minha mãe preta e do meu pai branco.  A minha pele clara sempre gerou dúvidas e confusões em mim e em toda a minha família sobre como me identificar racialmente. As críticas que recebi  me provocaram a reflexão com mais profundidade sobre minhas origens, o meu lugar e minhas responsabilidades ao me nomear. Espero que a minha confusão não seja incômodo. Agradeço as criticas, levarei as reflexão para a vida inteira. Por isso eu só posso sinceramente agradecer.” 

Foi possível ouvir os aplausos da plateia ao não pedido de desculpas da Andreia Terra. Mas fiquei me perguntando cadê a criticidade desse povo? Bater palmas para uma mulher  sem nenhum letramento racial que se sentiu à vontade de compartilhar o palco com uma escritora que ela nitidamente não está qualificada para tal. Quantas jovens negras que estão capacitadas para ali estarem e terem em seus currículos essa experiência com essa grandiosa intelectual teve a oportunidade negada para que a Andreia Terra ali estivesse? Muitas, eu garanto.  

Mas há  uma camada mais funda nessa história. Mulheres negras são sistematicamente excluídas dos espaços de decisão e protagonismo, mesmo com qualificação e formação impecáveis. O chamado “pacto narcísico da branquitude”, como bem definiu Cida Bento, mantém o racismo institucional como regra. E é isso que faz com quê não haja mulheres negras no alto escalão dessa instituições. 

Todo mundo sabe, ou deveria saber, que raça é um marcador social, não genético. Ser negro no Brasil não tem a ver com linhagem, mas com aparência, com o modo como o corpo é lido socialmente.  Como bem disse a Conceição Evaristo na aula  que a nossa carteira de identidade é o nosso corpo. No nosso caso um corpo que é lido por sua negrura. Ninguém apanha ou é assassinado pela polícia por ter um avô preto. Apanha e é morto por ser visto como preto pelo racista. É essa leitura social que define a experiência racial, e é exatamente essa experiência que essas mulheres brancas definitivamente não têm.

O que está acontecendo é um fenômeno preocupante: mulheres brancas que usufruem dos privilégios da branquitude tentam negar sua posição de poder e se redesenhar racialmente quando se encontram em espaços em que o protagonismo são de mulheres negras. É como se ser branco tivesse se tornado desconfortável mas sem, claro, abrir mão dos privilégios que essa corporeidade lhes confere em todos os outros contextos.

Ser negro não é uma fantasia que você veste e tira quando lhe convém, nem um ato voluntário. É um lugar social marcado pela exclusão, pela violência, pela resistência. Mas sejamos honestas: será que essas mulheres que hoje se dizem “negras” ou “marrons”, vivendo no Rio de Janeiro, assumiriam com a mesma firmeza uma identidade negra se isso significasse que seus filhos seriam lido como e poderiam ser alvejados com 111 tiros, como aconteceu com tantos outros jovens negros? Será que o desejo de se “tornar” negra resistiria ao medo real de ser tratado como tal? Hoje mais cedo uma seguidora me fez uma pergunta que continua pulsando, mais viva do que nunca e compartilho com você: Quando, afinal, deixarão de ser racistas?

Com maquiagem artística, projeto conecta jovens de escolas públicas à cultura e à profissionalização

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Foto: Divulgação

A maquiagem artística como forma de expressão, empoderamento e ferramenta de mudança. Foi com esse propósito que a 3ª edição do projeto maquie&crie impactou cerca de 300 pessoas, entre estudantes e educadores, nas cidades de Varginha (MG) e São José dos Pinhais (PR).

Realizado pela Muda Cultural com patrocínio do Grupo Boticário, jovens de escolas públicas mergulharam no universo da maquiagem artística e cênica, ampliando seus horizontes culturais e vislumbrando novas possibilidades de futuro profissional. A formação, que aconteceu de abril a julho deste ano, foi coordenada pela maquiadora Tiça Camargo e contou com oficinas práticas, palestras, saídas culturais e bolsa-auxílio para participantes.

O projeto ainda rompeu estigmas de gênero ao incentivar a participação de meninos e promover um ambiente onde a originalidade e a diversidade foram protagonistas. Além da conexão com equipamentos públicos em momentos marcantes, como a saída pedagógica ao Teatro Caítórlio, em Varginha. Uma ação de democratização do acesso à cultura e ao direito às cidades.

A proposta vai além do espelho: a maquiagem foi apresentada como linguagem, arte e profissão. Ao abordar temas como gestão de carreira, os jovens passaram a enxergar a maquiagem não apenas como estética, mas como possibilidade real de geração de renda e autonomia. No evento makeday, por exemplo, os próprios participantes maquiaram artistas e familiares, encerrando a edição com afeto, criatividade e conexão com a comunidade. Mais de 500 pessoas participaram da celebração, que também teve distribuição de brindes do Grupo Boticário.

“O maquie&crie possibilita que os participantes desenvolvam habilidades que vão muito além da técnica, ajudando a construir uma visão mais ampla sobre possibilidades futuras. A maquiagem torna-se, assim, um meio de expressão, empoderamento e crescimento, conectando os jovens a referências artísticas e culturais que os impactarão para sempre”, afirmou Ítalo Azevedo, sócio-fundador da Muda Cultural.

Com metodologia afetiva, olhar social e respeito à diversidade, o projeto reafirma o poder da arte como caminho de transformação e protagonismo juvenil. 

Para saber mais ou levar essa transformação para sua cidade, acesse: https://maquiecrie.com.br/contato

Esse conteúdo é fruto de uma parceria entre Mundo Negro e a Muda Cultural.

Venus Williams faz história e se torna a jogadora mais velha a vencer na WTA desde 2004

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Foto: Getty Images/Scott Taetsch

Venus Williams acabou de voltar às quadras e já segue fazendo história. Aos 45 anos, a lenda norte-americana venceu, na última terça-feira (22), a compatriota Peyton Stearns por 6/3 e 6/4, na estreia do Washington Open, e se tornou a jogadora mais velha a vencer uma partida de simples na WTA desde 2004.

O feito marca o retorno de Venus em competições individuais, após 16 meses afastada. Sua última vitória havia sido em Cincinnati, em 2023. Com o resultado, se tornou a atleta com idade mais avançada a vencer uma partida de simples no circuito feminino desde Martina Navratilova, que venceu em Wimbledon aos 47 anos, há duas décadas.

“Eu ataquei o tempo todo. É uma questão de encontrar o equilíbrio certo entre forçar demais e não o suficiente. É o que eu sempre fiz, mas antes era uma necessidade. Hoje, não preciso mais fazer isso, mas ainda tenho a mesma vontade de vencer”, disse Venus após a vitória.

Dona de sete títulos de Grand Slam em simples, Venus admitiu estar em processo de readaptação: “Antes, tudo era natural. Agora, nem tanto, mas espero voltar a sentir isso”.

Na próxima fase do torneio, ela enfrenta a polonesa Magdalena Frech, quinta cabeça de chave.

Curso gratuito da B3 leva educação financeira a empreendedores da periferia

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A B3, uma das maiores bolsas de valores do mundo e principal infraestrutura do mercado financeiro no Brasil, está promovendo a capacitação de pequenos empreendedores de comunidades da periferia e do interior de São Paulo com o curso “Educação Financeira pra Empreendedores”. A iniciativa é realizada em parceria com a Boogie Naipe e a Planejar, e teve sua primeira turma formada na sede da B3, com a formatura ocorrida na última segunda-feira (21).

Ao todo, 28 empreendedores, sendo 6 homens e 22 mulheres, de setores diversos como moda, alimentação, serviços, cosméticos e beleza participaram das aulas online gratuitas. O objetivo foi aprimorar a gestão financeira dos negócios locais para fortalecer a sustentabilidade e o crescimento dessas iniciativas.

“A educação financeira é fundamental para o desenvolvimento de toda a sociedade. Ao capacitar pequenos empreendedores, a B3 contribui para a sustentabilidade de seus negócios e os transforma em multiplicadores que compartilham o conhecimento adquirido com suas redes de relacionamento. Assim, promovemos a inclusão e o fortalecimento econômico”, afirma Marina Naime, gerente de educação da B3.

Durante o curso, os participantes tiveram acesso a conteúdos sobre planejamento financeiro, controle de gastos, formação de preços, financiamentos, gestão de dívidas, comportamento financeiro e planejamento para o futuro. Além disso, cada empreendedor contou com acompanhamento individual de profissionais certificados CFP®, o que permitiu um suporte personalizado.

“Este olhar personalizado tem o potencial de transformar não apenas os números, mas o comportamento das pessoas. Neste projeto, os planejadores financeiros CFP® atuaram de forma voluntária para ampliar o alcance deste atendimento de excelência e gerar impacto”, comenta Thais Pessoa, coordenadora de conscientização financeira da Planejar.

Diante do sucesso da primeira edição, B3, Boogie Naipe e Planejar já planejam abrir uma segunda turma para empreendedores da periferia em setembro de 2025, desta vez ampliando o alcance para profissionais do estado do Rio de Janeiro.

“Os empreendedores aprendem a organizar melhor seus negócios, entender indicadores financeiros e planejar o crescimento. Educação financeira é essencial para um desenvolvimento econômico mais sustentável, precisamos falar e saber movimentar o dinheiro. Dinheiro é energia e movimento”, conclui Rachell Brasil, curadora da trilha de empreendedorismo da Boogie Naipe.

Sabores do Recôncavo: a cozinha de afeto da Chef Mannu Bombom na Feira de São Joaquim

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Após anos dedicados a levar sua culinária afetiva para eventos, a Chef Mannu Bombom finalmente inaugura um espaço fixo para receber o público na Feira de São Joaquim, em Salvador, Bahia. Durante muito tempo, ela sentiu a necessidade de um local onde pudesse receber as pessoas com calma e afeto, longe da correria dos eventos, e a oportunidade surgiu no Espaço GAM, um anexo da tradicional feira.

Mannu conta que muitos clientes sempre perguntavam onde poderiam provar sua comida quando não era possível contratar seus serviços para eventos. “As pessoas queriam um lugar para sentir o sabor da minha cozinha com mais tranquilidade”, explica. O espaço na Feira de São Joaquim permitiu que ela concretizasse esse desejo, unindo o amor pela culinária preta do Recôncavo Baiano com a vivência do mercado onde compra seus ingredientes.

O cardápio do “Sabores do Recôncavo” é construído com base em pratos do dia que remetem às tradições gastronômicas das cidades de Cachoeira, São Félix e São Tomé de Paripe. Entre as opções, estão o cozido, arrumadinho de fuleiro, e a famosa sexta-feira do dendê, que celebra os sabores baianos com caruru, vatapá e feijão fradinho. A coxinha de vatapá, petisco premiado e marca registrada da chef, está sempre presente para abrir o apetite dos visitantes.

Mais do que um espaço simples, o local oferece um acolhimento cheio de memória, afeto e dendê, resgatando a atmosfera e o aconchego do Recôncavo dentro da feira. Mannu destaca que o contato com os clientes e o retorno positivo tem sido uma fonte de motivação e reafirmação da importância de abrir esse espaço para a comunidade.

O funcionamento do “Sabores do Recôncavo” é de quinta a domingo, das 10h às 14h30, com possibilidade de abertura para grupos especiais de segunda a quarta, mediante agendamento. A chef também oferece sobremesas tradicionais, como a bala baiana e o bolo de aipim, que são muito apreciados pelos frequentadores do espaço.

Com essa iniciativa, a Chef Mannu Bombom não só amplia sua atuação, mas fortalece a valorização da culinária preta e das tradições do Recôncavo Baiano, proporcionando uma experiência gastronômica que une sabor, história e cultura no coração de Salvador.

Nem o distintivo protege: o corpo negro como alvo permanente

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Foto: Reprodução/CNN

Por Luciano Ramos

No dia 11 de julho de 2025, o policial civil Rafael Moura da Silva, um homem negro, foi executado com três tiros por um policial da ROTA durante uma operação na Zona Sul de São Paulo. As imagens que circularam são chocantes: Rafael não estava armado, não estava em fuga, e tinha o distintivo funcional visível no pescoço. Ainda assim, foi tratado como ameaça e alvejado — sem qualquer ordem de rendição, sem abordagem, sem palavra.

Esse caso escancara uma ferida profunda e conhecida: o corpo negro no Brasil é sempre um corpo sob suspeita. Um corpo que, mesmo quando ocupa um lugar institucional de autoridade, segue sendo lido como perigo, como alvo, como algo a ser abatido.

Não se trata de erro. Trata-se de um funcionamento previsível de um sistema baseado na eliminação seletiva. Um sistema em que o racismo estrutural puxa o gatilho antes mesmo que se veja o distintivo.

O racismo como protocolo não escrito

O policial da ROTA não viu um colega. Não viu um investigador da Polícia Civil. Viu um homem negro, em um beco, em uma favela. E isso bastou.

Nesse sistema, não é necessário comportamento suspeito. Basta a combinação de cor da pele, território e contexto. O resultado é quase sempre o mesmo: morte sem perguntas.

A política de segurança pública não pode continuar operando com esse tipo de “reflexo automático” — onde o que se enxerga primeiro é a cor da pele, e não a pessoa.

Quando nem o Estado reconhece seus próprios

Rafael Moura era policial. Estava em serviço. Tinha o distintivo exposto. E ainda assim, não foi reconhecido como parte do próprio Estado. Isso diz muito sobre o lugar que os corpos negros ocupam nas estruturas de poder: não basta estar dentro. O racismo estrutura até quem é reconhecido como legítimo.

A morte de Rafael não foi uma falha de comunicação. Foi o resultado de um sistema que opera cotidianamente sob a lógica da eliminação seletiva de pessoas negras, mesmo que essas pessoas estejam servindo ao próprio aparato de segurança pública.

Silêncio oficial, conivência política

Até agora, nenhuma medida efetiva foi tomada contra o PM que atirou. Não houve afastamento imediato. Não houve nota pública da Secretaria de Segurança. O governador Tarcísio de Freitas, a quem a ROTA responde, segue em silêncio.

A ausência de respostas não é surpresa. É padrão. Quando a vítima é um homem negro, mesmo com crachá do Estado pendurado no pescoço, o silêncio institucional se instala.

Mas esse silêncio grita. E o que ele grita é perigoso: que vidas negras continuam sendo tratadas como descartáveis — inclusive dentro das instituições públicas.

Conclusão: o que mais precisa acontecer?

A morte de Rafael Moura é um marco cruel. Ela desmonta, de forma incontestável, a ideia de que ocupar espaços institucionais basta para garantir dignidade, segurança ou reconhecimento para pessoas negras.

Se um policial negro, com distintivo exposto, pode ser morto sem chance de defesa, que chance têm os jovens negros sem farda, sem cargo, sem proteção estatal?

É hora de dizer com clareza: nenhum protocolo de segurança pode ser legítimo se continua matando os corpos que deveria proteger.

E nenhuma estrutura estatal é democrática enquanto naturaliza o racismo como método operacional.

Rafael era policial. Era homem negro. Era servidor do Estado. E foi executado por causa da cor da sua pele. Esse fato não pode ser ignorado. Tem que ser enfrentado. Com indignação, responsabilização e mudança.

“Homem-Aranha: Além do Aranhaverso” teve sua estreia nos cinemas adiada novamente

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Crédito: Divulgação

“Homem-Aranha: Além do Aranhaverso” teve sua estreia nos cinemas adiada novamente para 25 de junho de 2027. O filme estava originalmente agendado para março de 2024, e, depois, para 4 de junho de 2027. As informações são do The Hollywood Reporter.

Segundo fontes internas, a nova data foi escolhida estrategicamente para coincidir com as férias de verão nos Estados Unidos, quando mais crianças e adolescentes estão de folga da escola — o que deve impulsionar as vendas nas bilheterias. A mudança também seria mais vantajosa para o mercado internacional.

A expectativa em torno do novo filme é enorme. A trilogia do Aranhaverso é considerada uma das maiores conquistas da Sony. O primeiro filme, ‘Homem-Aranha: No Aranhaverso’ (2018), ganhou o Oscar de Melhor Animação e mudou o jogo com um estilo visual revolucionário. Já ‘Homem-Aranha: Através do Aranhaverso’ (2023) quase dobrou a arrecadação do antecessor, com mais de US$ 690 milhões no mundo todo.

Agora, ‘Além do Aranhaverso’ chega com a missão de encerrar a trilogia quatro anos depois do seu antecessor — e ainda com o gancho deixado no último filme. A direção é de Bob Persichetti e Justin K. Thompson, com roteiro assinado por Phil Lord, Chris Miller e David Callaham — o trio responsável por dar vida (e multiverso) a Miles Morales.

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