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Dia Nacional do Livro Infantil: 9 obras para ler com crianças negras

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Ilustração: Ana Maria Sena/Livro: Sinto o que sinto e a incrível história de Asta e Jaser

Hoje, 18 de abril, é o Dia Nacional do Livro Infantil. Para celebra esse dia, o Mundo Negro selecionou 9 livros escritos por autores negros para ler com as crianças negras ou presenteá-las.

Os livros com representatividades negras e histórias sobre a cultura do povo negro na diáspora ou no continente africano, fortalecem a autoestima das crianças e ajudam no combate ao racismo. As obras escolhidas tratam de temas como ciência, culinária, ancestralidade, identidade, sentimentos, entre outros.

Confira a lista completa abaixo:

As incríveis aventuras de Nirobe na terra do Não

O livro da escritora Janine Rodrigues fala sobre Nirobe, um garoto esperto e atrevido, que convive com todos os sentimentos: Felicidade, Medo, Tristeza, Coragem, Respeito, Inteligência, mas o Não ainda era incompreendido. Curioso e afoito, ele tenta driblar o Não e assim fazer tudo o que quer, mas acaba descobrindo que o Não nem sempre é o que lhe parece.

Cozinheirinhos da Diáspora: saberes e sabores de nossa culinária ancestral e afetiva

O primeiro livro infantil impresso da Chef Aline Chermoula, inspirado na Culinária da Diáspora Africana pelas Américas, destaca receitas com alimentos originários do continente africano como forma de resgate de ancestralidade. A obra é ilustrada, interativa e traz receitas de pratos inspirados na cultura culinária afro-ameríndia.

Da cor que eu sou

Primeiro livro lançado pela influenciadora digital Andressa Reis, conta a história da criança Maria. Ela sempre soube que as pessoas existem no mundo em diversos tamanhos, formas e cores. Por isso estranhou quando sua melhor amiga, Júlia, lhe presenteou com um desenho um tanto quanto estranho. A obra entra no universo da diversidade e destaca a beleza que existe nas nossas diferenças.

Diálogos feministas e antirracistas (e nada fáceis) com as crianças

O primeiro livro infantil escrito pela mestra em educação Bianca Santana, trata de temas que geralmente são evitados pelas famílias e reforça ser possível dialogar sobre os espinhos que existem na sociedade sem macular qualquer inocência. Segurança, sistema prisional, política, saúde e outras pautas sociais como machismo e racismo são tratados de um jeito fácil de compreender sem perder a profundidade necessária.

E Foi Assim Que Eu E A Escuridão Ficamos Amigas

O segundo livro escrito pelo rapper Emicida, fala em versos, sobre como é precisa coragem e determinação para superar o medo que por vezes podem nos paralisar. Uma menina tem medo da Escuridão. Quando chega a noite, vem a preocupação e a ansiedade: afinal, o que o escuro pode esconder? O que ela nem imagina é que, do outro lado, a Escuridão também é uma menina — cujo maior medo é a claridade, e todo tipo de coisa que se revela quando nasce o sol.

Luanda no mundo da ciência

Obra assinada pela professora Ana Lúcia Nunes de Sousa, professora do Instituto Nutes de Educação em Ciências e Saúde (Nutes), da UFRJ, acompanha a pequena Luanda, que precisa escrever uma redação com o tema “O que você quer ser quando crescer?”. Com a ajuda da sua prima mais velha, ela descobre a trajetória de cientistas negras do Rio de Janeiro que a inspiram. O livro aborda a vida dessas mulheres de forma lúdica, a partir do olhar infantil da personagem.

Meu crespo é de rainha

Esse clássico publicado pela escritora bell hooks em 1999, apresenta diferentes penteados e cortes de cabelo crespo às meninas negras para valorização e autoestima do cabelo natural, em forma de poesia.

O Menino e Sua Árvore

O novo livro infantil recém-lançado por Rodrigo França, narra a encantadora jornada de Sol, um menino feliz cuja bisavó é uma árvore centenária. A obra explora a importância de fortalecer as raízes afetivas para um crescimento saudável, a sabedoria dos mais velhos, o acolhimento da família e o amor que fomenta a conexão com as origens.

Sinto o que sinto e a incrível história de Asta e Jaser

Lázaro Ramos, que além de escritor é ator e diretor, neste livro fala sobre os sentimentos e que é normal senti-los. Dan, protagonista da história e um personagem do Mundo Bita, passa por situações que não entende e vai em busca de resposta com seu avô, que conta a história de seus antepassados.

Ncuti Gatwa diz que negros são pressionados a ser excelentes o tempo todo: “Somos treinados assim”

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Foto: Divulgação / BBC.

Astro da série ‘Sex Education’, o ator Ncuti Gatwa ganhou destaque na nova edição da revista Attitude. Em entrevista para o veículo, ele declarou que se sente pressionado a entregar ‘excelência negra’ a todo momento para conseguir amor ou atenção. O astro relata que é como se ele não pudesse ser imperfeito ou cometer erros.

Foto: Divulgação

“Acho que estou aprendendo agora, ‘Oh, você pode ser amado.’ Você não precisa ser excelente ou aspirar ao termo ‘excelência negra’. Que diabos? Há tanta mediocridade branca que é celebrada, e, negros, temos que ser absolutamente perfeitos para conseguir metade disso de qualquer maneira“, disparou Gatwa. “Precisamos sair disso. Então, estou lentamente me treinando para sair disso e pensando: ‘Não brinca. Você merece amor apenas por existir’. E isso me ensinou a ser muito mais amoroso também, de uma forma estranha”.

Foto: Netflix.

O ator diz que sente desde a infância que foi treinado para ser perfeito, caso contrário não seria amado ou aceito. “Não sei se isso vem da minha educação africana, daquela educação rígida: tirar notas, entrar numa boa universidade, ser médico, ser advogado. Mas comecei a superar. Era como se você tivesse que provar porque é adorável. Somos treinados para pensar assim: ‘Se eu não for excepcional, não serei amado’“, destacou ele.

Cintia Mello pede demissão do Programa do Ratinho após piada racista: “Tenho muito orgulho de ser uma mulher negra”

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Foto: Reprodução/SBT

Cintia Mello, bailarina do Programa do Ratinho, no SBT, pediu demissão após piada racista sobre o seu cabelo crespo, no estilo black power, por parte do apresentador. No início do mês, durante a exibição do programa na televisão, Ratinho sugeriu que a dançarina estivesse usando peruca, mas com a negativa da moça, ele afirmou que viu um piolho e ainda pediu para que a assistente de palco, Milene Pavorô, tocasse no cabelo dela para confirmar se era natural. Cintia trabalhou no programa durante nove anos.

Desde que ocorreu o constrangimento no dia 1º de abril, Cintia disse que preferiu ficar em silêncio e aguardou nas últimas duas semanas por uma emissão de comunicado do Programa do Ratinho ou do SBT ou por um pedido de desculpas a ela, mas nada aconteceu.

Em vídeo publicado no Instagram, nesta quinta-feira (18), a bailarina afirmou que foi hostilizada por colegas após cobrar uma posição da equipe. “Eu fui orientada a me pronunciar apenas quando estivesse firme nas minhas convicções. Decidi me desligar do Programa do Ratinho. Alguns dias atrás fui tragada por uma situação que eu não escolhi passar, e quero deixar claro aqui que eu tenho muito orgulho de ser uma mulher negra”, disse.

“Fui pega de surpresa por uma brincadeira inoportuna. E, para mim, contraditória, porque foi feita por uma pessoa que sempre elogiou o meu cabelo natural. Por ter liberdade, afinal, são nove anos de convivência, eu resolvi buscar uma conversa”, contou. 

“Tentei explicar quais são os estigmas por trás de uma brincadeira como aquela, como acaba impactando a vida de pessoas negras, meu cotidiano, minha vida, minha saúde mental e trabalho, até porque eu trabalho com a minha imagem na rede social. Eu tinha esperança de que algo acontecesse. Uma conversa pessoalmente, uma nota, um esclarecimento público… Porque meu constrangimento foi público. Mas nada aconteceu. E pior: recebi olhares hostis de algumas pessoas, como se eu tivesse culpa de tudo aquilo que estava acontecendo”, lamentou a dançarina.

“Ali eu percebi que ninguém se importava e que não era mais o meu lugar. Tive que distinguir muito bem gratidão de submissão. Sigo de cabeça erguida e consciência limpa, porque tentei fazer o que eu achava ser correto”, concluiu.

Relembre o caso

Durante um momento do Programa do Ratinho, transmitido no dia 1º de abril, o apresentador conversava com as bailarinas quando se voltou para a bailarina: “Cintia, essa peruca sua é a mais bonita”. Imediatamente, a moça negou a afirmação de Ratinho: “Mas não é peruca, é meu cabelo. Hoje realmente é o meu”, afirmou.

O apresentador do SBT continuou questionando se o cabelo da bailarina era natural e ainda disse que tinha visto um piolho. “Não é seu cabelo… Mas eu vi um ‘piolhinho’”. Em seguida, com uma nova negativa de Cintia, Ratinho pediu que sua assistente de palco, Milene Pavorô, puxasse o cabelo da bailarina: “Não… Puxa o cabelo dela, Milene!”. A assistente puxou o cabelo da moça e confirmou que era natural.

Atletas acusam Joel Jota de falsificação de currículo após o palestrante ser anunciado como mentor da seleção nas Olímpiadas

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Foto: Divulgação

O palestrante e empresário Joel Jota foi anunciado pelo Comitê Olímpico do Brasil (COB) como mentor das Olímpiadas de Paris. Acontece que a novidade não foi bem recebida por grandes nomes do esporte brasileiro, que acusam Joel de falsificar o próprio currículo, realizando uma série de propagandas enganosas sobre si mesmo.

Através de seu site oficial, Joel diz que é um ex-nadador e que integrou a seleção brasileira de natação. Segundo o próprio, ele “dedicou-se à natação por 20 anos e conquistou mais de 30 medalhas”. Contudo, de acordo com a coluna Olhar Olímpico, Jota nunca fez parte da Seleção Brasileira de Natação nem venceu uma prova de campeonato brasileiro.

Até quarta-feira, dia 16, constava também no site do empresário um trecho em que ele dizia ter sido “considerado um dos nadadores mais rápidos do mundo”. A afirmação foi removida nesta quinta (17). Sabe-se que Joel Jota já participou de competições mundiais de natação. Ele chegou a disputar a Copa do Mundo de Natação em 2005.

Joanna Maranhão, ex-nadadora, que venceu oito medalhas nos Jogos Pan-Americanos, diz que Joel ‘vende o que não é’. “Nem eu quando fui finalista olímpica tinha essa auto estima“, declarou ela. “Entrei na seleção brasileira absoluta em 2002 e parei de nadar em 2017. Joel nunca esteve na equipe principal“.

Bruno Fratus, medalhista olímpico de bronze em Tóquio 2020, também criticou Joel. “Jamais, e eu repito, jamais se venda em troca de likes e engajamento. Tudo tem limite, inclusive marketing”, publicou ele.

Até o momento de publicação dessa matéria, Joel Jota não se manifestou sobre o assunto.

Gilmar Pereira da Silva vence consulta prévia e será primeiro reitor negro da Universidade Federal do Pará

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Foto: Reprodução

Na noite desta quarta-feira, dia 17 de abril, foi anunciado o desfecho da Consulta Prévia à Comunidade da Universidade Federal do Pará (UFPA), determinando a vitória da chapa 2, liderada pelo atual vice-reitor Gilmar Pereira da Silva. Com isso, Pereira, natural de Governador Archer, no Maranhão, será o primeiro reitor negro em 66 anos de história da instituição.

A chapa liderada por Pereira e sua vice, Loiane Prado Verbicaro, recebeu a maioria dos votos, totalizando 9.340, de um total de 14.913 de votos válidos. O resultado da prévia na UFPA representa um marco histórico na gestão da universidade, que terá oficialmente seu primeiro reitor negro depois que a lista tríplice com os nomes de Gilmar Pereira e de sua vice forem encaminhados para o presidente Lula, que nomeará os professores para a função.

Criado em uma família de agricultores, Gilmar Pereira da Silva enfrentou desafios desde cedo, caminhando 10 quilômetros diários para frequentar a escola mais próxima. Concluiu o Ensino Médio por meio de supletivo aos 18 anos, trabalhou como operário na indústria civil e ingressou no Ensino Superior via interiorização, na década de 80. Formado em Pedagogia pela própria UFPA, seguiu para o Mestrado e Doutorado na mesma instituição.

A Comissão Organizadora da Consulta Prévia (COC) divulgou os detalhes do processo eleitoral, destacando a ampla participação da comunidade universitária, com um total de 15.032 eleitores registrando seus votos. Apesar de uma breve instabilidade no sistema de votação durante a manhã, devido ao elevado número de acessos, a votação seguiu normalmente até o seu encerramento às 21 horas.

A partir do resultado divulgado no site oficial da consulta, os próximos passos incluem a composição de uma lista tríplice com os nomes de Gilmar Pereira da Silva e Loiane Prado Verbicaro, que será encaminhada ao presidente Lula para nomeação. A posse está prevista para ocorrer em outubro, momento em que Pereira substituirá o atual reitor, Emmanuel Tourinho, que está há oito anos no cargo.

Tyler Perry renova contrato com o BET Media Group, assegurando continuidade de 10 séries e lançamento de uma nova produção

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Foto: Reprodução

Na terça-feira, 16, Tyler Perry assinou um novo contrato com o BET Media Group. Depois de meses de negociação, sem sucesso, para comprar o grupo de mídia, Perry garantiu a renovação de todas as suas 10 séries atuais transmitidas pela BET – incluindo “Sistas”, “The Oval”, “Assisted Living”, “House Of Payne”, “ZATIMA”, “Ruthless”, “All The Queen’s Men”, “BRUH”, “Perimeter” e “The Michael Blackson Show”, que tiveram novas temporadas oficialmente confirmadas.

Em um comunicado emitido para a imprensa norte-americana, Perry afirmou estar animado com a parceria: “Scott Mills e sua equipe na BET têm nos apoiado incrivelmente durante nosso tempo trabalhando juntos e estou animado para continuar trazendo essas histórias para a tela. Sou grato ao nosso público fiel por assistir semana após semana e envolver essas histórias.”

Além das renovações, Tyler Perry também firmou contrato para um novo projeto, um drama policial intitulado “Route 187”, que está programado para estrear em 2025. Como de costume, todos os programas serão produzidos com a marca registrada de Perry, com ele assumindo a produção executiva, direção e roteiro.

O novo contrato firmado entre Tyler Perry e o BET Media Group substitui o acordo anterior que acabaria este ano. Inicialmente, em 2017, Perry fez parceria com a antecessora da Paramount, Viacom, para produzir 90 episódios anualmente para programas de drama e comédia para a BET e outras redes da Viacom. Desde então, suas colaborações renderam mais de 700 episódios para BET e BET+.

Apenas 18% dos negros têm níveis satisfatórios de conectividade, em contraste com 32% dos brancos, revela estudo

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Foto: Alex Nemo Hanse

Um estudo inédito lançado pelo Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br), na última terça-feira, 16, apresenta um panorama sobre a conectividade no Brasil, revelando disparidades significativas na qualidade da conectividade entre negros e brancos. Além disso, os dados apontam que apenas 22% dos brasileiros com mais de 10 anos de idade desfrutam de condições satisfatórias de conectividade.

O estudo, intitulado “Conectividade Significativa: propostas para medição e o retrato da população no Brasil”, analisou variáveis como custo da conexão, diversidade de dispositivos, tipo e velocidade de conexão e frequência de uso da internet. Os resultados revelam que as condições de acesso são particularmente desfavoráveis para grupos historicamente minorizados, como pretos e pardos, que de acordo com o IBGE formam o grupo de negros, o recorte de gênero também mostrou condições desfavoráveis para mulheres, além de indivíduos das classes sociais mais baixas e residentes das regiões Norte e Nordeste.

Enquanto 32% dos brancos estão na faixa mais alta de conectividade significativa, apenas 18% dos pretos e pardos compartilham dessa condição. Da mesma forma, as desigualdades se refletem nas classes sociais, com 83% da classe A desfrutando da melhor faixa de pontuação, em contraste com apenas 1% das classes D e E.

Quando se trata de disparidades regionais, o Norte e Nordeste apresentam as piores condições de conectividade. Apenas 11% dos habitantes do Norte e 10% do Nordeste estão na faixa mais alta de pontuação, em comparação com 27% e 31% nas regiões Sul e Sudeste, respectivamente.

O estudo também destaca a importância de considerar a interseccionalidade das desigualdades, como gênero e faixa etária. Embora a prevalência de usuários de internet no Brasil não mostre grandes diferenças entre homens e mulheres, a análise combinada de indicadores revela condições de conectividade mais precárias para as mulheres. Além disso, os idosos são particularmente vulneráveis à exclusão digital, com 61% dos brasileiros com 60 anos ou mais apresentando os scores mais baixos de conectividade significativa.

Apesar de alguns avanços na redução das disparidades ao longo dos anos, o estudo ressalta que o progresso ainda é insuficiente para atender às necessidades da população. Para Graziela Castello, coordenadora de estudos setoriais no Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação, políticas públicas devem ser orientadas para garantir um acesso equitativo à internet, levando em conta as diversas realidades sociais, econômicas e territoriais do país.

Fonte: Agência Brasil

Letramento racial não pode ser ferramenta de “redução de danos” a imagem de BBBs racistas 

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Foto: Alexandre Pio

O BBB 24 acabou, mas as atitudes de Wanessa Camargo continuam a gerar debates nas redes. A última, foi o anúncio do seu processo de “afrobetização” e o lançamento de sua nova música “Caça likes“. As duas coisas foram anunciadas conjuntamente em uma postagem no perfil da cantora.

Analisando com a boa fé, de alguém que acredita no processo de transformação da ex-BBB, não consegui ver a relação entre ambos os assuntos. Mas olhando com os olhos cansados para uma situação tão repetitiva como um um episódio do Chaves, fui tomado pela preguiça. Acho bom deixar escuro que acho muito bom que uma pessoa branca queira aprender mais sobre questões raciais e sobre o lugar dela nesta dinâmica. Porém, não é o que vemos na nova publicação de Wanessa Camargo.

A princípio, achei que a letra da música falaria sobre seu processo de letramento racial, mas não. A música é mais do mesmo, de péssimo gosto, e coloca a cantora como vítima de toda situação. Na música, ela se vitimiza dizendo que foi tão inocente a ponto de acreditar que teria sido a vilã do programa, e que todas as críticas feitas a ela vieram de haters.

O enredo da música segue com Camargo apresentada como injustiçada. Este é um típico comportamento enquadrado no conceito de atitude racial. Pessoas brancas que ao serem repreendidas por atitudes e falas racistas colocam a culpa no racismo estrutural. Neste sentido, o racismo estrutural aparece como um “monstro sem rosto e coração” que vitimou mais uma pessoa branca “inocente”.

A forma como a cantora anuncia seu processo de “afrobetização” é problemática, pois parece dizer “gente estou fazendo aulas de letramento racial, vocês já podem me descancelar e ouvir minha nova música onde relato o quanto fui injustiçada no programa”.

Wanessa contraria aquilo que acredito sobre letramento racial, que é um exercício diário e contínuo. Um exercício que não precisa ser anunciado com o intuito de limpar a imagem. As pessoas não precisam ver que você está estudando, aprendendo. Elas precisam notar a mudança nas suas ações do dia a dia, pois antirracismo é ação. Se não for assim, cai na velha frase de Florestan Fernandes de que o “brasileiro tem preconceito de ter preconceito”.

Não me considero um hater de Wanessa Camargo, pois para isso eu precisaria conhecer o trabalho da filha de Zezé e Zilu. Mas quero propor uma reflexão a partir de um trecho de sua nova música que diz “Nem todo hater, mas sempre um hater” e lembrar que  “Nem todo o branco, mas sempre um branco”. 

Ashanti anuncia que está grávida de seu primeiro filho, fruto do relacionamento com o rapper Nelly

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Foto: Reprodução.

A cantora Ashanti anunciou nesta quarta-feira (17) que está grávida de seu primeiro filho, fruto do relacionamento com Nelly.

O rapper já é pai dos filhos adultos, Chanelle, 29, e Cornell Haynes III, 24, frutos de um relacionamento anterior. Nelly também adotou os filhos de sua irmã, Jackie Donahue – Shawn e Sydney Thomas – depois que ela morreu de leucemia em 2005.

Os rumores da gravidez de Ashanti começaram em dezembro do ano passado. O casal namorou de 2003 a 2013 e passaram quase dez anos separados. Os artistas reataram em setembro de 2023, quando apareceram juntos no Video Music Awards. “Estamos bem de novo”, disse Nelly. “Acho que surpreendeu a nós dois”, acrescentou. “Não foi nada planejado”.

Davi deu aula magna de estratégias de enfrentamento contra o racismo

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Foto: João Cotta / TV Globo.

Texto: Shenia Karlsson

Finalmente chegou o dia e acabou a agonia, Davi Brito consagrou-se campeão do BBB24 numa vitória épica, histórica, belíssima e encheu o coração dos brasileiros de felicidade diante da luta intensa travada por ele, uma luta que os cidadãos comuns conhecem bem no cotidiano. Lavamos a alma! Nos emocionamos, choramos, nos revoltamos diante das violências por ele sofridas, levamos a discussão para a internet, defendemos, lutamos aqui fora cada um de sua maneira, e ele lá dentro, resoluto.

Eu passei a acompanhar a trajetória do Davi e absolutamente tudo sobre ele me encantava, sua história, seu jeito de ser, sua espontaneidade, sua generosidade mas havia outros aspetos que muito me interessavam, suas estratégias, a gestão das emoções, sua inteligência, sua perspicácia, sua sabedoria, sua autodeterminação, sua segurança e sua autoestima e foram esses últimos o motivo de ter angariado tantos dissabores na casa mais vigiada do Brasil. 

Em psicanálise o Davi seria a personificação do retorno do recalcado. 

Calma Calabreso!

Numa clínica voltada para a comunidade negra e racializada, durante todos esses anos de atuação acabei por acolher pessoas que adoecem por conta do racismo. As maiores dificuldades é saber como atuar e se comportar nos espaços hostis para nossos corpos e isso tem sido o maior desafio. É bem verdade que o BBB é um caso extremo e que impõe desafios extremamente complexos, entretanto pode sim servir de objeto de análise e assim se pensar em diferentes maneiras de se preservar em meios violentos. Na universidade, no trabalho, com amigos, em eventos sociais, com famílias … todo lugar é um potencial espaço de violência.

Eu como psicóloga, entendi que apesar da vitória o custo foi alto e a saúde mental do Davi corria perigo. Nosso campeão sofreu e muito. O jovem negro é o grupo social que mais esteve nas estatísticas de suicídio nos últimos anos, sem contar com o genocídio insistente neste país. Contudo, alguns aspectos do comportamento do Davi assim como características de sua personalidade ajudaram bastante para que esse enfrentamento fosse muito bem feito e eu vou citar alguns:

1- Quebra de estereótipos

Ao contrário do conjunto de estigmas aferidos aos jovens negros tais como sujo, desorganizado, fedido, irresponsável, mal educado, imprestável, preguiçoso, violento, perigoso, lascivo, burro dentre outros adjetivos que costumam colar no corpo de pessoas negras, Davi demonstrou totalmente o contrário não somente através de palavras mas principalmente por sua conduta, seu comportamento consistente do começo ao fim. Sim, ele fez questão de deixar escuro: Olha, me respeita, não sou o que você pensa de mim, tá?! Isso gerou um enorme desconforto porque a representação do corpo não condiz com a realidade, o que deixa a branquitude confusa, angustiada, sem nenhum depositário de suas faltas e desvios e consequentemente atacam a fim de confirmar tudo aquilo que é insuportável não ver em si próprios, e neste caso, as tais virtudes. Subverter a lógica racista é indispensável e revelador em qualquer espaço que estejamos.

2- Autodeterminação e Autoestima

Davi com apenas 21 anos  possui uma consciência racial bem construída, identidade racial saudável, usa bem sua origem como sua maior potência. Por ter muito bem determinado o seu lugar de origem e consequentemente seu lugar social, Davi tinha ciência de suas potencialidades e mostrou tudo sem o menor constrangimento, ele sabia que poderia ser uma única chance e que alguém poderia reconhecer.  Embora tenha discorrido muitas vezes sobre sua trajetória de faltas, ele sabia que as limitações que encontrou em sua vida eram oriundas das contingências de ser um rapaz negro e pobre no Brasil e nunca por incapacidade. Ele demonstrou estar confortável com seu corpo, com sua personalidade e com suas potências. O Autoconhecimento é uma arma poderosa, portanto Davi nos ensina a não permitir ser determinado por ninguém a não ser por nós mesmos. 

3- Comunicabilidade e Voz

Com um repertório bem sofisticado, mas  diferente do letramento racial dos ativistas, intelectuais e militantes que abusam muitas vezes do excesso de conceitos, 

 Davi comunica tudo através de uma linguagem palatável, democrática e condizente com a realidade da maioria da comunidade negra brasileira. É um comunicador nato. Ele falou sobre todos os conceitos através de exemplos pessoais, histórias, casos…um storytelling de prender a atenção inclusive daqueles que não se identificavam com ele. Rapaz falante, ele em nenhum momento deixou de comunicar o que pensava, sentia e achava mesmo diante inúmeras práticas de silenciamento ao longo do experimento. Tentaram calar ele mas não funcionou pois inteligentíssimo como é, lançou de várias formas de comunicação e parecia que até em situações de embate ele achava a medida certa. Calavam ele de uma forma, ele achava outra forma de falar. Vale ressaltar que muitas vezes nos sentimos exaustos por não sermos ouvidos, já o Davi falava por ele, porque sentia necessidade e não necessariamente para alguém ouvir ou concordar com ele. E o Brasil ouviu, e muito bem. Ao estilhaçar a mordaça que colocam em nossas bocas estamos treinando o exercício de se colocar diante de situações importantes.

4-  Afetividade assertiva e Objetividade 

Existe um aspecto muito importante que eu observo em pessoas negras que sofrem não só em ambientes de trabalho mas em muitos outros espaços : a preocupação em ser aceito. Num país em que o corpo negro foi destituído de qualquer  investimento afetivo positivado, é comum – por questões profundas e inconscientes – uma pessoa negra esperar aceitação principalmente de pessoas brancas no intuito de integrar-se ao espaço e interagir humanamente com as pessoas que ali estão. O problema é que nem sempre esse espaço nos acolhe, ou quase nunca. Um exemplo foi o cuidado que o Davi tinha de cozinhar para todos, e sabemos que este é um ato de afeto, afeto este rapidamente rejeitado pela maioria. O que Davi fez? Seguiu. Entendeu rápido que o afeto é valioso e que iria oferecer de forma verdadeira para quem o merecia, e foi o que ele fez. Sua atenção estava concentrada em como ele iria ganhar o prêmio. Notem que as alianças e amizades nunca foram sua prioridade e sim eliminar um por um e vencer a competição. Ele aliançou com as pessoas possíveis e nunca se lamentou por alianças que não aconteceram, Davi não foi lá fazer amigos. Pessoas negras e racializadas nunca devem esquecer o principal objetivo de qualquer plano em suas vidas. Se for para a universidade, seu objetivo será qual? o diploma? se for para o trabalho o objetivo é qual? O salário? Uma promoção? Então, foco no objetivo. Tudo a mais será apenas bónus.

Esta receita em que os componentes quebra de estereótipo, autodeterminação e autoestima, comunicabilidade e voz, afetividade assertiva e objetividade foi a mistura perfeita para que Davi mantivesse vantagem diante dos outros participantes apesar de inúmeros movimentos de marginalização, demonização e difamação por parte dos insatisfeitos. O Brasil identificou-se com ele, o país assistiu tudo e escolheu seu campeão, embora não seja a norma a escolha de jovens negros como a representação da maioria. É que Davi quando entrou já havia se escolhido. Que lição! Dessa vez algo nos uniu, a dor, a injustiça mas também a esperança por um país livre, com pessoas livres, sonhadoras e felizes. 

Obrigada Davi!

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