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Taís Araujo leva sonhos, poesia e referência de mulher negra para televisão brasileira

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Por Ivair Augusto Alves dos Santos

Na teledramaturgia brasileira, a novela Vale Tudo tem lugar de destaque por ser uma das de maior audiência na televisão e por trazer discussões sobre a alma do ser brasileiro.

As mulheres interpretam as cenas mais brilhantes, pois tocam em assuntos sensíveis e delicados de relações amorosas, autonomia e independência, relações homoafetivas, relações inter-geracionais, o papel da mulher negra, relações inter-raciais e a sedução pelo poder e a riqueza.

Em uma novela com tantas situações complexas, a figura de Taís Araujo, como Raquel, e Bella Campos, como Maria de Fátima, representam um elenco de situações que são exemplos de opções para encararmos a vida em busca do sucesso. As duas têm uma qualidade: sabem manter o foco.

Com estratégias diferentes, ambas trabalham diariamente e estão concentradas em apenas uma única coisa, cada uma com uma visão. A personagem de Taís Araujo é exemplo de milhões de brasileiras que acreditam em seus talentos de cozinheiras. Já Maria de Fátima, de Bella Campos, exemplo de sedução da beleza que acredita que um casamento com um bilionário a levará ao sucesso.

O que é necessário destacar é como cada uma delas tem se construído sequencialmente. Uma única coisa por vez. Não estou mencionando nenhum aspecto de moral ou de ética. Cada uma dessas duas mulheres acredita que está fazendo o certo para atingir os seus objetivos.

Bella Campos, no papel de Maria de Fátima, age, se articula e pensa como um diretor de uma corporação de forma amoral; segue à risca as regras no mundo competitivo das grandes corporações e das famílias que enriqueceram no Brasil. Não há tempo a ser desperdiçado, e age de forma maquiavélica com um único objetivo que é preciso ser buscado incansavelmente: casar com um bilionário.

A protagonista Raquel aprendeu a viver e a acreditar nas virtudes do trabalho duro, honestidade, no seu talento de cozinhar, na solidariedade dos amigos, no amor sincero, na disposição infinita de ter esperança na superação das dificuldades do livro quotidiano, como um empresário a vencer os atropelos da vida. Nada a abala. Ela sempre sonha e trabalha, trabalha muito para o dia seguinte. Ela pensa numa coisa. Persegue essa coisa que escolheu.

As duas mulheres negras são exemplos de vida, de forma exagerada que o drama de uma novela nos leva a nos tornar admiradores e apaixonados.

A trama tem belos diálogos, interpretações majestosas e nos leva a ver com um olhar mais crítico a dura a realidade de uma sociedade tão desigual.

Como é gostoso ver as vitórias de Raquel no trabalho, ver a sua resiliência em relação à vida. Cada vitória e descoberta da verdade tornam a nossa vida mais alegre, para sonhar e dizer para nossos filhos e netos: “Acreditem no trabalho, vejam, é possível! Mantenham o foco”.

Do outro lado está a liberdade da sedução de uma mulher negra linda, talentosa, determinada. Maria de Fátima não é o modelo de filha, mas é uma batalhadora amoral, com habilidade política e uma inteligência emocional surpreendente.

Viva a teledramaturgia brasileira, que nos faz fantasiar e ser mais críticos e sonhadores em relação à vida.

Benê Ricardo, a primeira mulher a ser chef de cozinha profissional no Brasil

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Você conhece a trajetória da querida chef Benê Ricardo? Se ainda não, vale descobrir a história dessa mulher inspiradora que abriu caminhos na gastronomia brasileira. Benedita Ricardo de Oliveira nasceu em 1944, no povoado de São José do Mato Dentro, em Ouro Fino, Minas Gerais. Ainda menina, aprendeu com sua avó, que era quituteira, o poder da comida preparada com afeto. Órfã desde criança, começou a trabalhar como doméstica e passou 18 anos na casa de uma família alemã em São Paulo, onde aprimorou seus conhecimentos culinários.

A virada em sua vida começou quando ela venceu um concurso da Revista Cláudia com sua receita de Torta de Temperos, enquanto ainda trabalhava em casa de família. O prêmio lhe garantiu um convite para atuar na cozinha experimental da publicação. Depois, teve a oportunidade de preparar um jantar alemão para convidados importantes, como o então presidente Ernesto Geisel e o presidente da Federação do Comércio. Impressionados com a qualidade da refeição, os dois garantiram a ela uma bolsa no curso de Cozinheiro Profissional no Senac Águas de São Pedro.

Em 1981, aos 38 anos, Benê se formou como a primeira mulher diplomada chef de cozinha no Brasil. Foi também a única mulher em sua turma, enfrentando barreiras de machismo e racismo que a acompanhariam por toda a carreira. Certa vez, quando um chefe duvidou de sua capacidade de preparar pratos alemães, ela respondeu em alemão: “Eu faço. E faço muito bem.” Em outra ocasião, durante uma entrevista de emprego, não aceitou limpar a cozinha e declarou que não queria mais ser faxineira, reafirmando com coragem seu lugar como chef.

Ao longo dos anos, Benê atuou como professora, consultora e avaliadora de restaurantes. Ministrou cursos no próprio Senac, chefiou cozinhas de restaurantes em São Paulo e se tornou conhecida por sua exigência e perfeccionismo. Lançou o livro Culinária da Benê, reunindo receitas práticas e afetivas que marcaram gerações. Sua presença firme, seu olhar atento e seu amor pelo ofício transformaram a gastronomia em um território de respeito e pertencimento.

Benê faleceu em 31 de março de 2018, aos 74 anos, vítima de câncer de pâncreas. Seu legado, no entanto, permanece vivo na memória de quem aprendeu com seu exemplo. Ela abriu portas para mulheres negras nas cozinhas profissionais, mostrou que talento não tem cor nem classe social e segue inspirando chefs e cozinheiras que hoje ocupam espaços que um dia lhe foram negados. A Benê, nossa gratidão eterna pela força da sua trajetória, pelo sabor do seu afeto e pela luz que acendeu na cozinha brasileira.

Michael B. Jordan, Tupac e Damson Idris integram lista dos homens mais atraentes de todos os tempos segundo a Bazaar

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Foto: Reprodução

Quem você incluiria na lista dos homens mais atraentes de todos os tempos? Nesta semana, a Harpers Bazaar divulgou uma lista com 50 nomes, incluindo Tupac Shakur, Denzel Washington, Tyson Beckford e Damson Idris. Na matéria, a revista destacou: “De ícones da velha Hollywood a galãs contemporâneos, a sensualidade é um traço marcante de algumas das celebridades masculinas mais famosas que já agraciaram nossas telas”.

Segundo a revista, os artistas foram escolhidos considerando “a forma como eles se portam — sua confiança, suas habilidades e seu carisma”. Ente os artistas negros nomeados como mais atraentes que integram a lista, o rapper Tupac Shakur ocupa o segundo lugar, seguido do cantor Lenny Kravitz.

Veja quais são eles:

Tupac Shakur (2º) 


O lendário rapper e ator foi lembrado não apenas por sua música revolucionária, mas por sua intensidade poética — capaz de citar James Baldwin com a mesma naturalidade com que compunha versos afiados.

Lenny Kravitz (3º) 


Ícone do rock e do estilo despojado desde os anos 1990, Kravitz entrou na lista por sua aura cool e seus memoráveis registros sem camisa — em capas de disco, ensaios fotográficos e performances. 

Damson Idris (18º)

O ator britânico de “Snowfall” está em cartaz nos cinemas no filme F1, ao lado de Brad Pitt, onde interpreta um piloto vivendo os desafios do início da carreira.

Jesse Williams (21º)

Ator de “Grey’s Anatomy”, viveu um momento icônico ao fazer uma declaração de amor no casamento de April na série.

Denzel Washington (26º) 


Duas vezes premiado com o Oscar, o ator foi celebrado tanto por sua atuação poderosa quanto por seu físico impressionante em The Hurricane (1999), filme no qual interpretou o boxeador Rubin Carter. 

Shemar Moore (31º)

O astro de Criminal Minds fez a cabeça dos espectadores ao “traçar perfis de assassinos em série” com seu personagem.

Idris Elba (38º) 


O ator britânico foi lembrado pela versatilidade, ele também foi DJ e até boxeador. Elba foi incluído por seu estilo impecável e papéis marcantes, como o detetive Luther na TV e o comandante Krall em Star Trek Beyond. 

Tyson Beckford (40º)


O supermodelo que se tornou símbolo da Ralph Lauren nos anos 1990 continua a arrancar suspiros pelo charme e beleza atemporais.

Michael B. Jordan (42º) 


O astro de Creed e Pantera Negra conquistou seu lugar na lista graças a seu físico e à presença marcante que trouxe aos personagens Adonis Creed e Erik Killmonger. 

Mahershala Ali (44º)


Primeiro muçulmano a vencer o Oscar, por Moonlight, o ator possui uma presença marcante e é lembrado pelo discurso emocionante sobre aceitação feito durante o SAG Awards em 2017.

A$AP Rocky (50º)


Rapper e ícone de moda, o marido de Rihanna foi um dos anfitriões do MET Gala deste ano, consolidando seu lugar de destaque e criatividade no universo fashion.

BOs registrados em 2023 poderia gerar R$ 94 milhões em indenizações para vítimas de violência racial

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Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil

Texto: Hédio Silva Jr.

Dados publicados pela Ouvidoria de Polícia de São Paulo indicam que boletins de crimes raciais cresceram 970%, isto é, quase 1.000% entre 2020 e 2023. Em 2023 foram exatamente 4.700 registros. Já em 2024 o Tribunal de Justiça de São Paulo fixou uma indenização no valor de 20 mil reais para um indivíduo negro obrigado a usar a entrada de serviço de um condomínio de luxo.

Ocorre que segundo o Código Civil, a responsabilidade civil independe da criminal, sendo que a vítima pode priorizar a ação civil deixando a intervenção criminal para um momento seguinte. Isto é possível porque não existe diferença essencial entre ilícito racial civil e ilícito racial penal. Ambos ofendem o bem jurídico igualdade racial. O ilícito racial/religioso civil é disciplinado em tratados internacionais em vigor ao passo que o crime racial/religioso é previsto em uma série de leis. Aliás, os tribunais compreendem que basta o crime racial ofender o direito de igualdade, não se exigindo consequências mais graves, digamos assim.

Justamente por isso a Convenção Interamericana Contra o Racismo prevê que “Os Estados partes comprometem-se a garantir às vítimas do racismo, discriminação racial e formas correlatas de intolerância um tratamento equitativo e não discriminatório, acesso igualitário ao sistema de justiça, processos ágeis e eficazes e reparação justa nos âmbitos civil e criminal, conforme pertinente. (art. 10).

O emprego da conjunção aditiva “e” entre reparação civil e criminal bem como a evidente primazia conferida à primeira deve servir de alerta para que vítimas e advogados(as), sobretudo estes últimos, se deem conta de que “registrar BO” não é tudo o que pode ser feito diante de uma violação de direitos motivada por ilícito racial ou religioso. 

E tem mais. Há duas diferenças absolutamente vantajosas para as vítimas quando comparamos as esferas cível e criminal: 

•1ª vantagem para a vítima: o sistema probatório na justiça criminal é muito mais rigoroso comparado à justiça cível, havendo casos em que mesmo existindo prova do crime ela é considerada insuficiente para a condenação. Já na esfera cível, a vítima não precisa sequer provar a intenção preconceituosa, a intenção de discriminar; estamos falando da denominada responsabilidade civil objetiva por discriminação racial/religiosa;

• a segunda vantagem da responsabilização civil é que ela pode ser proposta no Juizado Especial Cível (caso a indenização seja estimada em até 60 mil reais) sendo que no 1º Grau não há custas ou risco de condenação em honorários de advogado.

A título de provocação, se consideramos que os aludidos 4.700 BOs poderiam ter sido transformados em ações indenizatórias por ilícito racial (lembrando os 20 mil fixados pelo TJSP em 2024) chegaríamos à cifra de R$ 94 milhões, sendo que R$ 19 milhões seriam destinados a honorários advocatícios.

Uma vez que o crime racial é imprescritível, resolvida a questão na esfera civil, cujo prazo para a ação expira em três anos, parte-se então para a esfera penal. 

O nome disso é racionalização dos litígios raciais e religiosos com maiores chances de êxito para as vítimas, geração de renda para a população negra e fortalecimento da advocacia.

Este tema da responsabilidade civil por discriminação racial mereceu especial atenção da Resolução CNJ 598, de 2024, que instituiu o “Protocolo para Julgamento com Perspectiva Racial”, adotado pelo Conselho Nacional de Justiça em novembro passado.

Trata-se de inovadora ferramenta interpretativa e instrumental técnico a ser observado pelos juízes e juízas brasileiros e que promete avanços significativos na forma pela qual o Judiciário compreende a problemática racial em nosso país.

Atenta à relevância desse assunto, no próximo dia 1º de setembro a OAB Federal, em parceria com o Jusracial, irá lançar um primeiro curso nacional destinado aos mais de um milhão e meio de advogados(as) brasileiros(as) subsidiando-os para a utilização adequada e eficiente do “Protocolo para Julgamento com Perspectiva Racial”.

Um alento para vítimas, para a advocacia e para a cidadania.

Hédio Silva Jr., Advogado, Mestre e Doutor em Direito pela PUC-SP, fundador do Jusracial @drhediosilva

Grupo HEINEKEN abre inscrições para programa de estágio com vagas 100% remotas e afirmativas

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Foto: Nappy

Se você sonha com a oportunidade de atuar na sua área de estudo em modelo home office, esta pode ser a sua chance. O Grupo Heineken está com inscrições abertas para seu Programa de Estágio, com vagas afirmativas para pessoas pretas e pardas, 100% remotas e disponíveis para todo o Brasil. As inscrições vão até o dia 15 de julho.

A iniciativa busca promover inclusão, desenvolvimento e oportunidades para quem está começando a carreira profissional e deseja trilhar um caminho com propósito.

As oportunidades também garantes diversos benefícios para impulsionar talentos negros com acolhimento: assistência médica e odontológica, telemedicina, suporte psicológico, vale-refeição, cursos de idiomas, acesso a academias, desconto em produtos do Grupo Heineken e seguro de vida.

Um programa completo, que segundo a empresa, tem o objetivo de oferecer um ambiente seguro, diverso e comprometido com os novos profissionais.

Clique aqui para se inscrever!

Projeto reúne vozes negras para celebrar a obra de Djavan em álbum especial

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Fotos: Som Livre; ErnnaCost; Ian Rassi; e Renan Oliveira

Celebrando o encontro de gerações e a força da música preta brasileira, o mestre Djavan foi homenageado no álbum “Canto Djavan”, interpretado por artistas super talentosos: Jonathan Ferr, Jota.pê, Bruna Black, Luccas Carlos, Melly e Hodari. O selo slap, da Som Livre, lançou o projeto nesta quinta-feira (10).

O álbum nasceu de uma imersão artística intensa na serra do Rio de Janeiro, no Estúdio Rocinante, em Araras — um espaço que honra a cultura analógica e a beleza de cada etapa do processo criativo. Ali, cada artista reinterpretou duas músicas do repertório de Djavan, trazendo suas próprias vivências, estéticas e sonoridades para clássicos e faixas menos conhecidas do cantor alagoano.

A produção musical ficou por conta de Uiliam Pimenta, Julio Raposo e Pepê Santos, com direção artística de Max Viana. A parte audiovisual foi conduzida pela Now You Know, sob a direção de Matheus Francisco do Nascimento e fotografia de Arthur Staneck.

Foto: Divulgação

Para os artistas envolvidos, esse foi mais do que um projeto musical, foi uma experiência de conexão, respeito e troca com a obra de alguém que abriu caminhos. “Regravar algo da obra do Djavan é, com certeza, uma das coisas mais lindas e assustadoras que eu já fiz na vida. Existem alguns artistas que me ajudaram a entender que tipo de artista eu queria ser e, antes disso, me fizeram querer ser artista, e o Djavan é isso pra mim. Poder gravar algo que ele tenha feito me deixa muito feliz e, ao mesmo tempo, ansioso para saber se é algo que ele iria gostar. Eu espero que sim!”, compartilhou Jota.pê.

Jonathan Ferr também falou da importância do momento: “Participar do projeto ‘Canto Djavan’ foi uma honra. Sua música influencia minha arte, minha poesia e a forma como penso minha carreira. Djavan se reinventa a cada disco, explorando novas formas de cantar e de falar sobre amor, vida e filosofia, sem perder suas raízes. Cantar sua obra é, para mim, um exercício de entrega e evolução. Também é muito forte fazer parte do movimento que o slap tem criado na música preta brasileira. O selo reúne artistas de diferentes lugares e sonoridades, cada um com uma identidade única, mas juntos formando um coletivo potente e contemporâneo. Estamos vivendo um momento de visibilidade e construção de um movimento importante, com muito ainda por vir”.

Bruna Black destacou o impacto da experiência: “Uma equipe nova, conhecer melhor as pessoas, ter acesso àquele estúdio maravilhoso, onde a gente gravou no meio da natureza, em um formato bem legal. Conhecer novos musicistas, ser surpreendida pelos arranjos… Eu amei muito participar. Estou muito feliz de estar nesse projeto e, enfim, sou apaixonada pelo Djavan”.

Hodari trouxe um depoimento profundo: “Estar neste projeto foi a realização de um sonho. Djavan sempre foi sagrado pra mim, sua música me cura, me guia e é um norte na minha carreira. Cantar suas canções foi um mergulho espiritual, uma experiência transcendental e de muita responsabilidade. Cada um trouxe sua essência pra homenagear esse ícone, fortalecendo nossa música e nossas trajetórias. Foi uma honra imensa, a realização de um sonho, algo inesquecível e de muito respeito ao nosso mestre da música brasileira”, disse.

A cantora Melly relembrou a trilha sonora da infância: “Lembro das viagens de carro que fazia com minha família e a trilha sonora sempre passeava por toda discografia de Djavan. Eu ainda não sabia, mas dali aprendi muito. Revisitar a obra de um mestre como ele é mergulhar em um repertório que atravessa gerações e se mantém vivo na memória afetiva do nosso povo. Foi um desafio gostoso e uma experiência muito rica musicalmente. Espero que ele goste de ouvir essa nossa perspectiva”, complementou.

E Luccas Carlos finalizou com gratidão: “Pra mim foi uma satisfação poder fazer parte desse projeto. Acho que todo mundo sabe que eu sou muito fã do Djavan. Nunca pensei que um dia eu poderia fazer parte de algo assim. Por ser chamado para regravar músicas dele. Então pra mim é motivo de muita honra e por muita gratidão também. E logo quando eu recebi o convite só perguntei onde ia ser e a hora. Porque era muito certo que eu ia fazer parte disso. Fiquei muito feliz em fazer parte disso”.

Mais do que releituras, “Canto Djavan” é um tributo coletivo, sensível e contemporâneo, onde vozes pretas se unem para celebrar a genialidade de um mestre que segue inspirando o presente e abrindo caminhos para o futuro.

Tracklist 

  1.⁠ ⁠Açaí – Jota.pê

 2.⁠ ⁠Tenha Calma – Melly

 3.⁠ ⁠Aridez – Luccas Carlos

 4.⁠ ⁠Ventos do Norte – Bruna Black

 5.⁠ ⁠Cigano – Hodari

 6.⁠ ⁠Adorava me ver como seu – Jonathan Ferr

 7.⁠ ⁠Nem um dia – Melly

 8.⁠ ⁠ Amor Puro – Bruna Black 

 9.⁠ Seduzir – Jota.pê

 10.⁠ ⁠ Azul – Luccas Carlos

 11.⁠ ⁠Samurai – Hodari

 12.⁠ ⁠Pétala – Jonathan Ferr

Zé Ketti: o samba que resistiu ao esquecimento

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Foto: Caio Cezar

Texto: Rodrigo França

O Brasil, com sua memória seletiva, tem o estranho hábito de deixar seus maiores nomes, principalmente de negros e negras, em segundo plano. É como se o tempo, aliado a uma lógica de mercado e de poder, decretasse quem merece ser lembrado e quem será empurrado para o rodapé da história. Quando se trata de Zé Ketti, o apagamento não é apenas uma negligência. É quase um projeto.

Zé Ketti não foi apenas um compositor de sambas. Foi cronista do povo, griô suburbano, voz que ressoava dos morros para os salões, das vielas para o mundo. Suas composições traduziam o Brasil real, aquele que muitos insistem em não ver. Em suas letras, morava o protesto, mas também o lirismo; havia denúncia, mas também celebração. Poucos artistas conseguiram traduzir com tanta delicadeza e precisão o cotidiano de uma gente que, tantas vezes, teve sua existência negada.

“Opinião”, uma de suas músicas mais emblemáticas, não é só uma canção. É um manifesto. Um grito de quem sobrevive apesar das dores. De quem canta para não silenciar. De quem ousa existir. Zé Ketti desafiou a lógica da submissão estética e política. E, por isso, não raro, foi silenciado. Talvez por isso seja tão urgente revisitá-lo, honrá-lo e inscrevê-lo no lugar que é seu por direito: o de um dos maiores nomes da música popular brasileira.

Foto: Caio Cezar

Neste sentido, a montagem em cartaz no Teatro Ziembinski, no Rio de Janeiro, não é apenas um espetáculo. É um gesto de justiça. Uma reparação simbólica e cultural. E não se trata de um movimento nostálgico. Trata-se de afirmar, em cena, que a história da música brasileira não pode ser contada sem Zé Ketti.

A escolha de Leandro Santana para interpretá-lo é um dos pontos altos dessa homenagem. Leandro não representa Zé Ketti apenas pela semelhança física ou pela boa afinação. Ele o incorpora com uma elegância cênica rara. Há em sua atuação uma entrega sincera, um respeito que se percebe nos detalhes. Sua presença em cena é de quem entende a dimensão política e espiritual da tarefa. Leandro não interpreta Zé Ketti. Ele o convoca. E, juntos, constroem uma ponte entre passado e presente.

Esse encontro entre gerações – o sambista e o ator – é simbólico. Porque Leandro, ao dar corpo e voz ao mestre, afirma que a cultura popular segue viva. E que, mesmo diante de um país que esquece fácil, há quem se dedique a lembrar. A montagem, assim, ganha força não pelo ineditismo da forma, mas pela potência do gesto. O que se vê ali é uma reverência. E reverenciar é um ato político. É a recusa em permitir que Zé Ketti seja mais um nome citado apenas em rodinhas de samba ou em páginas de dicionários musicais. É dizer, alto e bom som, que ele foi, e ainda é, fundamental.

Foto: Caio Cezar

Que esse espetáculo, portanto, sirva como ponto de partida para novas homenagens. Que inspire outras produções, outros artistas, outras gerações. Que as escolas ensinem sobre Zé Ketti. Que os teatros o acolham. Que os meios de comunicação o lembrem não apenas nas efemérides. E que a sua obra, viva e atual, continue a nos atravessar.

Zé Ketti, com sua poesia crua e generosa, segue cantando. E enquanto houver vozes como a de Leandro Santana, Marcelo Viégas, Clarissa Waldeck, Fernanda Sabot, Negawal, Gustavo Maya e Otavio Cassian para ecoá-lo, ele não será esquecido. Porque o samba, como dizia ele mesmo, não se aprende no colégio. Se aprende na vida. E Zé Ketti foi mestre da vida. Do Brasil. Da gente que resiste.

* Este texto não é uma crítica teatral, mas sim uma indicação cultural que celebra a importância de Zé Ketti.

Musical “Zé Ketti, Eu Quero Matar a Saudade!”

Horário: Terças e quartas – sempre às 20h – Todas as quartas com intérprete de libras

Local: Teatro Ziembinski

Ingressos: R$ 40 (inteira) / R$ 20 (meia)

Classificação Indicativa: 14 anos

Curta temporada

FICHA TÉCNICA

Elenco: Leandro Santanna, Marcelo Viégas, Clarissa Waldeck, Fernanda Sabot, Negawal, Gustavo Maya e Otavio Cassiano

Autor: Cadu Caetano

Diretor: Márcio Vieira

Diretora Musical: Beá Ayòóla

Arranjador Musical: Pedro Paulo Jr

Preparação e Arranjo Vocal: Pedro Lima

Coreógrafa, Diretora de Movimento, e Oficineira: Valéria Monã

Figurinista: Wanderley Gomes

Cenógrafa: Cris de Lamare

Iluminador: Pedro Carneiro

Visagistas: Diego Nardes e Nata Di Paula

Assistente de Visagismo: Elaine Martins

Palestrante e Assessoria vida e obra de Zé Ketti: Geisa Ketti

Músicos: Claudia Flauta – Flauta Transversa / Pablo Carvalho – Percussão / Vinicius do Vale – Violão 7 cordas.

Aderecista e assistente de Cenografia: Sillas Pinto

Estagiária de Direção de Movimento e Coreografia: Manuela Brito

Assistente de Direção e Produção: João Felix

Profissional especializado em sensibilização e acessibilidade: Vanessa Andrezza

Designer Gráfico: Emanuel Antunes

Videomaker e Fotógrafo: Caio Cezar

Intérprete de libras: Claudia Chelque

Assessoria de Imprensa: Alessandra Costa

Técnica de Luz: Tâmara Campos

Técnico de Som: Leandro Mattos

Idealizador e Produção Executiva: Leandro Santanna

Coordenação Geral e Financeira: Marcelo Viégas

Ana Maria Gonçalves é a primeira mulher negra eleita para a Academia Brasileira de Letras

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Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

Em um marco histórico para a literatura e para a representatividade no Brasil, Ana Maria Gonçalves foi eleita nesta quinta-feira (10), como a primeira mulher negra a integrar a Academia Brasileira de Letras (ABL), a mais tradicional instituição literária do país, fundada há 128 anos.

A escritora mineira, reconhecida nacional e internacionalmente, conquistou a cadeira que pertencia ao renomado linguista Evanildo Bechara. Autora do aclamado romance Um Defeito de Cor, obra que retrata a história da escravidão e resistência no Brasil por meio da trajetória da personagem Kehinde, Ana Maria Gonçalves tem se destacado por sua contribuição significativa para a valorização da literatura negra e a luta antirracista no cenário cultural brasileiro.

A eleição de Ana Maria Gonçalves representa mais do que uma conquista individual: é um sinal de avanço e inclusão em uma instituição historicamente dominada por vozes brancas e masculinas. A presença de uma mulher negra na ABL abre espaço para que outras narrativas e experiências, muitas vezes silenciadas, ganhem visibilidade e reconhecimento.

Diversas autoras, pesquisadoras e intelectuais brasileiras celebraram a escolha, ressaltando a importância de ampliar o espaço para a diversidade na cultura e nas letras. Entre elas, nomes como Eliana Alves Cruz, Cidinha da Silva e Mel Duarte destacaram a eleição como um momento de transformação e inspiração para as gerações futuras.

Ana Maria Gonçalves é formada em Comunicação Social e tem uma trajetória marcada pelo compromisso com temas relacionados à negritude, identidade e memória. Sua obra é referência para estudiosos e leitores interessados em compreender a complexidade da história brasileira sob a ótica negra.

Com essa eleição, a Academia Brasileira de Letras dá um passo fundamental para se tornar mais plural e representativa da diversidade do país, enquanto Ana Maria Gonçalves se firma como uma voz indispensável na construção da literatura contemporânea brasileira.

Universidade nos EUA cria curso sobre Kendrick Lamar e seu impacto cultural na experiência negra

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Foto: Getty Images

Kendrick Lamar, um dos nomes mais influentes do hip-hop na atualidade, será tema de um novo curso oferecido pela Temple University, na Filadélfia. A disciplina irá explorar o impacto cultural do artista e sua relação com a experiência negra nos Estados Unidos.

Com o título ‘Kendrick Lamar and the Moral of M.A.A.D. City’ (Kendrick Lamar e a Moral da Cidade de Maad), o curso será ministrado por Timothy Welbeck, professor do Departamento de Africologia e Estudos Afro-Americanos e diretor do Centro Antirracista da universidade. Welbeck leciona na instituição há 14 anos e é conhecido por incorporar o hip-hop e a cultura afro-americana em sua abordagem acadêmica. Ele já conduziu disciplinas sobre Tupac Shakur, política negra urbana e a interseção entre rap e identidade racial.

Segundo o professor, a proposta vinha sendo elaborada há mais de um ano, e músicas de Kendrick já vinham sendo usadas como material de apoio em outras aulas. “Kendrick Lamar é uma das vozes definidoras de sua geração e, de muitas maneiras, tanto sua arte quanto sua vida refletem a experiência negra de muitas maneiras reveladoras”, disse à emissora local NBC10.

“Poder discutir sua arte no ambiente que o ajuda a se tornar o homem que ele é, de muitas maneiras, pode falar sobre ele como indivíduo, mas também pode falar sobre a jornada rumo à autorrealização, particularmente no que se refere à experiência negra”, completou o professor.

A disciplina pretende examinar como o rapper e o gênero musical contribuem para a construção de narrativas sobre identidade, resistência e transformação social. A Temple já ofereceu cursos centrados em outras figuras negras da música, como Beyoncé e Jay-Z, refletindo o interesse da universidade em incorporar o hip-hop como objeto legítimo de análise acadêmica.

Kai Cenat é eleito um dos criadores digitais mais influentes do mundo segundo a revista TIME

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Foto: Matt Winkelmeyer

A revista TIME lançou nesta quarta-feira (9) a lista TIME100 Creators, destacando o crescente poder dos criadores de conteúdo digitais na moldagem da cultura contemporânea. O ranking é encabeçado pelo streamer norte-americano Kai Cenat, 23, que com 18 milhões de seguidores na Twitch transformou transmissões caseiras em um império multimilionário.

“Estamos mostrando às pessoas que, se você for você mesmo, as pessoas vão te seguir”, disse Cenat à publicação. “Como streamer, você não está preso a uma caixa. Pode falar como quiser.” Sua abordagem descontraída – misturando games, role-playing e discussões sobre cultura pop – exemplifica como uma nova geração de criadores está redefinindo o entretenimento e o consumo.

A lista surge como reconhecimento ao impacto desses influenciadores, que hoje rivalizam com veículos tradicionais na capacidade de ditar tendências. Segundo a TIME, eles estão mudando radicalmente “o que assistimos, como passamos nosso tempo, o que compramos e até como votamos”.

Entre os selecionados, predominam nomes que viralizaram em plataformas como TikTok, YouTube e Instagram. A publicação ressalta que esses criadores construíram negócios lucrativos a partir de suas comunidades online, muitas vezes sem intermediários corporativos.

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