Home Blog Page 19

Mundo Negro é finalista do prêmio +Admirados Jornalistas Negros e Negras da Imprensa Brasileira

0
Silvia Nascimento, CEO do Mundo Negro. (Foto: Divulgação)

Mundo Negro, o primeiro portal com conteúdos exclusivos sobre a comunidade negra no Brasil, é finalista da categoria “Veículo Liderado por Jornalistas Negros” na terceira edição do prêmio +Admirados Jornalistas Negros e Negras da Imprensa Brasileira. No ar desde 2001, o site tem a redação liderada pela CEO e fundadora Silvia Nascimento. A votação segue aberta até o dia 30 de setembro.

“O Mundo Negro ser um dos veículos finalistas dessa premiação sem termos feito campanha de votos já é uma vitória. É raro ver veículos independentes que resistem e permanecem relevantes durante tantos anos. Já passamos da casa das duas décadas e é o reconhecimento do público que nos mantém ainda como o site de notícias para comunidade negra mais lido do país e que sempre teve um time só de profissionais negros”, celebra a jornalista Silvia Nascimento, que ficou em sétimo lugar no TOP 10+Admirados do Ano, na primeira edição.

Para votar no Mundo Negro, basta acessar este link, preencher um rápido cadastro e escolher, do 1º ao 5º colocado entre os finalistas da categoria “Veículo Liderado por Jornalistas Negros”. 

Cada posição renderá uma pontuação, seguindo a ordem de 100 pontos para o 1º colocado, 80 para o 2º, 65 para o 3º, 55 para o 4º e 50 para o 5º. O resultado final será obtido da soma dessas pontuações.

A cerimônia de premiação ocorrerá no dia 10 de novembro, na Câmara dos Vereadores de São Paulo, com a entrega dos troféus aos veículos liderados por jornalistas negros vencedores, além de outras categorias. 

A iniciativa é organizada por Jornalistas&Cia, em parceria com os sites Neo Mondo e 1 Papo Reto e com a Rede JP – Jornalistas Pretos.

A cultura africana como alicerce da cozinha baiana

0
Jorge Washington (Foto: Divulgação)

Por: Afrochefe Jorge Washington 

Com a chegada forçada de milhões de africanos escravizados ao Brasil, especialmente à Bahia, práticas alimentares de diferentes etnias foram recriadas com os ingredientes disponíveis no novo território. O dendê, o leite de coco, o quiabo, a pimenta, o inhame e outros alimentos de origem africana passaram a ser combinados com produtos locais e europeus, criando uma culinária única e profundamente simbólica, que é também marca de resistência.

Os pratos afro-baianos são expressões vivas da cosmovisão africana. Acarajé, vatapá, caruru, abará e moqueca não são apenas alimentos, mas manifestações da religiosidade afro-brasileira, especialmente do Candomblé e de como a sabedoria africana se tornou um conhecimento vivo que atravessa gerações. Muitos deles são oferecidos aos orixás, cada qual com seus significados, cores e ingredientes específicos.

Culinária como Patrimônio e Resistência

A gastronomia afro-baiana é um patrimônio cultural imaterial, reconhecido pela sua importância histórica e simbólica. O ofício das baianas de acarajé, por exemplo, foi registrado pelo IPHAN como patrimônio cultural do Brasil. Essas mulheres são guardiãs de um saber ancestral que ultrapassa a cozinha — são também figuras centrais na preservação das tradições afro-religiosas, no fortalecimento da identidade negra e na economia informal que antes, nas mãos das quituteiras, garantiu a sobrevivência e liberdade de muitos. 

Em um contexto de opressão histórica, a culinária foi (e ainda é) uma forma de resistência. Cozinhar com dendê e rezar para os orixás era, durante muito tempo, uma forma de manter a fé viva, mesmo sob perseguição. Ao preparar a comida nós e nossos ancestrais mantivemos nossas raízes culturais, transformando a cozinha em um espaço de liberdade e ancestralidade.

Religiosidade e Sagrado nos Sabores

Na culinária afro-baiana, a comida é também sagrada. Cada prato tem uma ligação com os rituais do Candomblé. O acarajé, por exemplo, é oferecido a Iansã, orixá dos ventos e das tempestades. O amalá é prato de Xangô, feito com quiabo e carne. Mais do que alimento, esses pratos são oferendas, pontes entre o mundo terreno e o espiritual.

Essa dimensão simbólica transforma a cozinha em um terreiro — um espaço onde se celebra a vida, a fé e a ancestralidade. Comer um prato afro-baiano é, muitas vezes, participar de um rito, mesmo que inconscientemente.

Saberes e Sabores que Moldam a Identidade Baiana

A presença da cultura africana na Bahia é marcante em todos os aspectos da vida cotidiana, e a gastronomia é uma das formas mais potentes dessa expressão. Aqui em Salvador e no Recôncavo Baiano, os sabores da África estão em cada esquina, em feiras, mercados e tabuleiros. É por meio desses alimentos que reafirmamos nossa identidade cultural e transmitimos, de geração em geração, os saberes da cozinha de terreiro e da oralidade ancestral.

A culinária afro-baiana é o reflexo de uma herança africana que resistiu à escravidão, à marginalização e ao preconceito. Ela é uma celebração da cultura negra, um canal de memória, espiritualidade e pertencimento. Ao valorizar a gastronomia afro-baiana, reconhecemos o poder da cultura na construção dos sabores que definem não apenas um território, mas também a alma de um povo.


Texto: Jorge Washington [@jorgewashingtonr]. Um talentoso profissional que atua em duas áreas diferentes: como Afrochefe e como Ator. Sua paixão pela culinária é evidente em seu trabalho como Afrochefe, onde ele incorpora ingredientes como ancestralidade e  afetividade em suas criações. Desde jovem, Jorge Washington ajudava sua mãe Georgina nas compras da feira, cortando temperos, tratando carnes e aprendendo as  melhores formas e estratégias para deixar cada preparo saboroso. Ele é conhecido por  pratos como bacalhau martelo, galinha ao molho pardo, moqueca de feijão, xinxim de  bofe, moqueca de miraguaia, além de suas próprias criações e adaptações, como  maxixada de carne seca, moqueca de carne seca com mamão verde, fígado com  maxixe, entre outros. Jorge Washington, ou como ele prefere ser chamado, o Afrochefe, traz consigo sua herança africana e promove a culinária baiana através do  Projeto Culinária Musical, buscando promover reflexão, intercâmbio, conhecimento e estímulo à arte gastronômica. 

Esse conteúdo é fruto de uma parceria entre Mundo Negro e Feira Preta.

“Iemanjá em Mares Verdes”: livro explora a história de mais de 50 anos da Festa de Iemanjá em Fortaleza

0
Fotos: Divulgação

O novo livro “Iemanjá em Mares Verdes”, da geógrafa e pesquisadora Ilaina Damasceno, mergulha na história de mais de 50 anos da Festa de Iemanjá em Fortaleza, analisando como o evento se tornou patrimônio imaterial da cidade e um ato de resistência para as religiões de matriz africana. (Baixe aqui gratuitamente)

Fruto de seu doutorado na Universidade Federal Fluminense (UFF), a obra mostra como a festa realizada na Praia de Iracema vai além do campo religioso, transformando-se em um ato de visibilidade e de luta por direitos. Entre 2011 e 2019, Damasceno realizou pesquisa de campo, documentando a performance dos participantes — com músicas, gestos e indumentárias — como uma forma de “fazer política com o corpo”.

“A presença do corpo afro-brasileiro em rituais públicos é uma experiência estético-política que reinventa narrativas e territórios”, destaca a autora.

O livro também explora a relação entre a tradição nordestina e a ancestralidade afro-brasileira, reforçando identidades negras e indígenas no Ceará. Para Ilaina, escrever “Iemanjá em Mares Verdes” foi um reencontro com sua própria trajetória.

Natural de Quixadá, no sertão cearense, ela cresceu entre práticas católicas e referências à Jurema Sagrada, mas foi no Rio de Janeiro que se aproximou da umbanda e do candomblé, tornando-se cambone em um terreiro.

Baixe o livro no site da editora Pedro e João Editores.

Escola Àbámodá leva moda e identidade afro-indígena ao Fancy África em Moçambique

0
Foto: Casmurro

A Escola Àbámodá, de Cachoeira, no Recôncavo Baiano, marca presença de 22 a 25 de setembro no Fancy África, evento de moda e economia criativa realizado em Maputo, Moçambique, com o tema “Ubuntu – Eu sou porque nós somos”. A participação da escola será conduzida por sua diretora e idealizadora, Luísa Mahin, que integra a programação do evento com atividades formativas e apresenta a primeira coleção autoral do projeto.

Com apenas um ano de atuação, a Àbámodá vem se destacando na Bahia por sua metodologia que conecta moda, cultura, educação, empreendedorismo e identidade étnico-territorial. À frente do projeto, Mahin soma mais de 22 anos de experiência em gestão de projetos sociais, culturais e de moda, representando a escola em um intercâmbio internacional de visibilidade e protagonismo negro.

No Fancy África, Luísa Mahin ministra a masterclass “Moda e Transformação Social” e a Oficina Criativa “Diversidade, inovação e empreendedorismo na moda”, além de participar da mesa-redonda “A Moda como Embaixadora da Identidade: Qual o Papel da Cultura Local na Economia Criativa?”. A participação da escola se encerra com o desfile da coleção “Cabaça do Mundo”, manifesto coletivo que explora o sagrado feminino e o empoderamento da mulher.

Luísa Mahin (Foto: Janderson Meneses)

O intercâmbio entre a Àbámodá e o Fancy África começou em julho deste ano, quando a escola recebeu o estilista King Levi para apresentar a coleção “XIGUBO – A Força Estética da Resistência Afro”, por meio do projeto África 360º e do Fancy África Brasil.

“Cachoeira está entre as 9 cidades do país em que a maioria da população se autodeclara negra, ou seja, somos um território predominantemente negro, afrodescendente, que está atravessando o Atlântico numa conexão que une moda, tecnologias ancestrais e transformação social”, destaca Luísa Mahin.

Coleção Cabaça do Mundo (Foto: Casmurro)

Ancestralidade e impacto social

Com uma proposta pedagógica centrada na ancestralidade afro-indígena e na transversalidade entre moda, arte, cultura e economia criativa, a Àbámodá foca no público feminino negro e LGBTQIAPN+, oferecendo formação continuada em costura, design de joias, estamparia e atividades manuais. As aulas resultam em peças autorais com forte vínculo identitário e territorial.

“Pesquisamos produtos naturais do território para usar nos tingimentos; pensamentos nos elementos, iconografias e grafismos indígenas e africanos, procuramos entender como a cultura local pode estar presente em cada peça. Queremos acessar nossas memórias e histórias, para criar produtos que falam disso”, explica Mahin.

Além da formação, a Àbámodá se consolida como espaço de articulação entre cultura e economia criativa, contribuindo para o desenvolvimento social do Recôncavo Baiano. O projeto valoriza saberes ancestrais e práticas culturais locais, promovendo protagonismo da comunidade, enquanto oferece formação empreendedora e estratégias de gestão, estimulando a criação de iniciativas sustentáveis capazes de gerar renda e oportunidades.

SERVIÇO:

22 a 25 de setembro de 2025
Escola Àbámodá no Fancy África
Local: Maputo – Moçambique

Participação da Àbámodá com Luisa Mahin:

  • 22/09 – Master Class: Moda e Transformação Social
  • 23/09 – Mesa Redonda: A Moda como Embaixadora da Identidade
  • 24/09 – Oficina Criativa: Diversidade, inovação e empreendedorismo na moda
  • 25/09 – Desfile com a coleção-manifesto Cabaça do Mundo

Exposição “OBIRIN OMI – Mulheres Água” celebra a trajetória de mães de santo brasileiras no Instituto Pretos Novos

0
Foto: divulgação

O Instituto Pretos Novos inaugura nesta sexta-feira (12), às 17h, a exposição “OBIRIN OMI – Mulheres Água”, da artista visual goianiense Raquel Rocha, que homenageia grandes mães de santo brasileiras, como Mãe Gilda de Ogum e Mãe Susu, pilares na preservação e expansão do Candomblé no Brasil.

Com curadoria de Mariana Maia e produção artística de Rona Neves, a mostra apresenta obras da série “As Matriarcas”, produzidas em acrílica sobre peneiras bordadas com 16 búzios e acompanhadas de uma quartinha com água, símbolo de vida e ancestralidade. Cada obra resgata a memória e o protagonismo dessas mulheres, reconhecendo sua força histórica e cultural.

A pré-abertura contará com a performance “Omi Eró”, em parceria com o artista Marcelo Marques, que recria o preparo ritual de um banho de ervas, criando uma experiência sensorial de cura e reconexão espiritual afrocentrada.

Raquel Rocha reforça que a exposição é também um posicionamento político: “O terreiro tem raiz preta, e não será arrancada dele. Minha exposição valoriza a centralidade das mulheres negras na manutenção da cultura afro-brasileira”, afirma a artista.

Realizada no Instituto Pretos Novos, espaço de memória sobre o antigo Cemitério dos Pretos Novos, a mostra se torna também uma reflexão sobre resistência, ancestralidade e preservação da história afro-brasileira.

Serviço

  • Exposição: OBIRIN OMI – Mulheres Água
  • Artista: Raquel Rocha
  • Curadoria: Mariana Maia
  • Produção artística: Rona Neves
  • Local: Instituto Pretos Novos – Galeria Pretos Novos de Arte Contemporânea, Gamboa, Rio de Janeiro
  • Abertura oficial: Sexta-feira, 12 de setembro, às 17h (com roda de samba do grupo Velhos Malandros)
  • Período de exibição: 12 de setembro a 11 de outubro
  • Entrada: Gratuita

D4vd: O que se sabe sobre a morte da adolescente encontrada no carro do rapper americano

0
Foto: twnty three

O corpo de Celeste Rivas, adolescente de 15 anos, foi encontrado no porta-malas de um Tesla registrado em nome do rapper D4vd, 20 anos, nome verdadeiro David Anthony Burke. A descoberta ocorreu em 8 de setembro de 2025, meses após o desaparecimento da jovem em Lake Elsinore, Califórnia. Ela havia sido vista pela última vez em sua residência, e a família registrou boletim de desaparecimento junto às autoridades.

O legista confirmou que Celeste estava morta dentro do veículo há algum tempo. A causa da morte ainda está sendo investigada, mas o caso é tratado como homicídio.

Evidências indicam que D4vd e Celeste provavelmente se conheciam. Ambos possuíam tatuagem idêntica no dedo indicador direito, com a inscrição “Shhh…” em letra cursiva — uma marca relativamente comum, popularizada por celebridades como Rihanna. A mãe da jovem afirmou que sua filha tinha um namorado chamado David, reforçando as suspeitas sobre o vínculo com o artista.

Uma faixa inédita de D4vd, intitulada “Celeste”, vazou em 2023 e contém referências à jovem, incluindo seu nome e tatuagem, sugerindo um vínculo próximo. Trechos da música mostram obsessão do rapper:

“Oh, Celeste / A garota com meu nome tatuado no peito / Sinto o cheiro dela nas minhas roupas como cigarro / Ouço a voz dela toda vez que respiro / Estou obcecado.”

Fotos recentes mostram D4vd em Lake Elsinore, próximo à residência de Celeste, e imagens antigas indicam que ele e a jovem apareceram juntos em streams. Até o momento, não há confirmação sobre quem dirigiu o Tesla pela última vez.

A residência de D4vd em Los Angeles foi investigada pela polícia, que apreendeu itens digitais, incluindo o computador pessoal do artista, para análise. Em resposta às investigações, D4vd cancelou apresentações e adiou o lançamento de seu álbum “Withered”.

Entre as colaborações musicais do rapper, destaca-se a faixa “Crashing”, lançada em fevereiro de 2025 em parceria com a cantora internacional Kali Uchis. Após a descoberta do corpo de Celeste, Kali anunciou que a música será retirada das plataformas de streaming, reforçando seu distanciamento do artista:

“Não sou amiga dele. Fiz uma música com ele que está sendo retirada devido às notícias perturbadoras de hoje.”

O caso gerou grande repercussão nas redes sociais, com a hashtag #JusticeForCeleste viralizando, e a imprensa internacional acompanha cada novo desenvolvimento. Até o momento, D4vd não foi formalmente acusado, e as investigações continuam em andamento.

Ne-Yo será atração em camarote de Salvador no Carnaval 2026

0
Foto: reprodução

O ícone do R&B Ne-Yo retorna ao Brasil e será a principal atração do Camarote Salvador 2026, comandando o Palco Praia na segunda-feira de Carnaval, 16 de fevereiro. Após o sucesso estrondoso de sua turnê pelo país em 2024 e de sua apresentação marcante no Rock in Rio, o cantor norte-americano promete mergulhar na energia contagiante da folia baiana.

Ne-Yo já é conhecido do público brasileiro: em 2013, levantou os foliões com sucessos como So Sick, Sexy Love, Closer e Miss Independent, mostrando não apenas sua voz, mas também seu gingado. No Carnaval de 2026, ele chega novamente para proporcionar uma experiência musical intensa, conectando o R&B internacional à alegria e à tradição de Salvador.

O line-up do Camarote Salvador 2026 também conta com outros grandes nomes da música nacional. Léo Santana abre a folia na sexta-feira (13), garantindo três dias de apresentações diversificadas e de alto impacto para os foliões.

STF se alinha ao Estatuto da Igualdade Racial e confirma que critério para cotas raciais é ‘preto ou pardo’

0
Foto: Dorivan Marinho/SCO/STF

O Supremo Tribunal Federal (STF) reafirmou que o critério para acesso às cotas raciais em concursos públicos e universidades é a autoidentificação como preto ou pardo, e não como “negro”.

A decisão atende a um pedido do Instituto de Defesa dos Direitos das Religiões Afro-Brasileiras (Idafro) e foi publicada em acórdão nesta quinta-feira (19). O caso teve origem em um recurso contra decisão da Justiça do Ceará, que havia anulado o ato de uma comissão de heteroidentificação em um concurso público do Tribunal de Justiça do estado.

Em julgamento anterior, o STF reconheceu a possibilidade de controle judicial das decisões dessas comissões, mas utilizou a expressão “negros ou pardos” para se referir aos candidatos beneficiários. Após o pedido de reconsideração do Idafro, a Corte ajustou a redação para se alinhar ao Estatuto da Igualdade Racial, que adota “pretos e pardos” como referência para as políticas de ação afirmativa.

O novo entendimento reforça que a avaliação das comissões deve se basear em parâmetros objetivos, como cor da pele e traços fenotípicos, oferecendo mais segurança jurídica para quem concorre às vagas.

Para o jurista Hédio Silva Jr., fundador do Idafro e da Jusracial, a decisão representa uma vitória histórica. “Essa diferença impacta a autodeclaração e a heterodeclaração, com reflexos diretos em concursos públicos e no funcionamento das comissões de heteroidentificação, especialmente no contexto das políticas de cotas raciais. Apontamos esse erro e ficamos orgulhosos por ser corrigido há tempo.”

“Minha trajetória na cozinha é um chamado ancestral”, afirma a baiana de acarajé Mãe Juci D’Oyá

0
Foto: Divulgação

Em Belém (PA), na Ilha de Cotijuba, vive e trabalha Jucilene de Souza Carvalho, mais conhecida como Mãe Juci D’Oyá, yalorixá, baiana de acarajé e guardiã da memória ancestral do povo preto, ribeirinho e indígena da região.

Nascida em Portel, no Marajó, Mãe Juci cresceu vendo mãe, avós e tias transformarem ingredientes em comida, afeto e cura. “Minha trajetória na cozinha é um chamado ancestral”, conta em entrevista ao Mundo Negro e Guia Black Chefs.  

Em 2017, ao ser iniciada no Candomblé Ketu para a Orixá Oyá, ela recebeu a determinação de se tornar baiana de acarajé. “Na nossa tradição, todas as mulheres iniciadas para essa Orixá são orientadas a fazer o acarajé como forma de manutenção da ancestralidade e também para auxiliar nos custos. Foi nesse momento que compreendi que cada receita é também uma forma de manter viva a nossa cultura e espiritualidade.”

Foto: Divulgação

“O prato que mais me representa é o acarajé, alimento sagrado que conecta o Pará à África e reafirma a presença da mulher preta como guardiã da ancestralidade”, afirma a fundadora do Acarajé da Juci D’Oyá, negócio que carrega seu nome e identidade.

O empreendimento Acarajé da Juci D’Oyá é um negócio familiar. Hoje, a empresa é gerida pelos seus filhos e também conta com o apoio de sua mãe, tias e amigos próximos. Juntos, aceitam encomendas dos clientes e participam de feiras e eventos na região, fortalecendo a tradição e criando um espaço de encontro e acolhimento. “Ainda não tenho um espaço fixo de restaurante, mas meu tabuleiro é meu altar”, explica. 

Racismo Gastronômico

O caminho, no entanto, não foi fácil. “Ser uma mulher preta, lésbica, ribeirinha e da tradição do axé é carregar muitas camadas de resistência”, ressalta. 

Em 2019, Mãe Juci relata que junto a outros trabalhadores negros, foi impedida de trabalhar na Praça da República, em Belém, durante a chamada “faxina ética” promovida pela gestão municipal da época, de extrema direita, que ela também classifica como racismo gastronômico. “Com a justificativa de que Acarajé não é um alimento paraense e eu não poderia estar ali”.

Mas segundo a Mãe Juci, a praça é um território de memória, com um cemitério arqueológico de pessoas escravizadas. “Ser retirada daquele espaço foi doloroso, mas reforçou o meu compromisso com a luta. A gastronomia negra não é só alimento — é memória, território e dignidade”, afirma.

Cozinha como ato luta e resistência

Para Mãe Juci, cozinhar é mais do que um ofício: é um manifesto. “Cada Prato que preparo é também uma afirmação da resistência negra, indígena e ribeirinha no Brasil. Minha identidade racial não está separada da minha história: ela é a base de tudo. Carrego no ofício a memória da diáspora africana e daqueles que já habitavam aqui, a luta das mulheres pretas e Indígenas e a sabedoria dos povos de terreiro.”

O próximo passo é expandir o alcance do Acarajé da Juci D’Oyá para outros estados e até outros países. Mãe Juci sonha em abrir um espaço fixo que seja também um ponto de cultura e resistência, além de seguir fortalecendo a presença das Baianas de Acarajé na Amazônia.

Mãe Juci é Yalorixá do Ilê Omo Oyá Odé Axé Omi Dáa Ofùurufu e sacerdotisa do Terreiro de Umbanda Casa de Mãe Herondina. Além da cozinha, também atua como benzedeira e parteira. “Minha vida é dedicada a cuidar de pessoas, seja pelo alimento, pelo axé ou pelo acolhimento. Minha maior missão é honrar os ancestrais e abrir caminhos para que outras mulheres pretas também ocupem seus lugares de dignidade e protagonismo.”

Eles riem na cara dos negros. Não podemos fazer o mesmo!

0
Foto: Gabriela Biló

“No Brasil os negros vão deixar de ter a posição que têm hoje, pois ainda sorriem, e vão começar a ranger os dentes.”Milton Santos 

Depois da aprovação da “PEC da Blindagem” na Câmara dos Deputados e da urgência do projeto de anistia aos envolvidos no 8 de janeiro, o meu parente questionou no grupo da família: “dá pra levar a sério os políticos?”. As respostas que seguiram foram carregadas de memes, satirizando a situação. Isso me incomodou bastante. Não era exclusivo daquela bolha de que faço parte. Os comportamentos se repetem em todos os lugares. Nas conversas nas lanchonetes, nos transportes, entre estudantes, etc. 

Mas, eu penso que precisamos rever essas visões que temos em relação às pessoas que estão nos espaços de poder. Não é possível levarmos tudo na brincadeira. É inaceitável a ideia de que “o brasileiro é assim mesmo”, como contraponto à minha crítica. 

Os brancos não brincam em serviço. Mesmo com sorriso no rosto, agem ferozmente na defesa dos próprios interesses, alargando imensamente os próprios privilégios e destruindo os sonhos e direitos das classes desfavorecidas. 

Nesses mais de quinhentos anos de Brasil, nada mudou, os brancos seguem fortes e poderosos, enquanto pobres, pretos e indígenas sofrem diariamente as agruras do cotidiano. Mal conseguimos nos unir para a divisão de um prato de comida, de tão pouco que recebemos pela nossa força de trabalho. 

A palavra democracia foi banalizada de tal maneira que o sentido está quase subvertido. Quando os políticos falam em democracia para a justificativa do que fazem, nós compreendemos como “políticas para ricos”. Nada mais. 

Nós, o povo brasileiro, devemos levar as coisas de maneira rígida para enfrentarmos essa camada da sociedade. Numericamente, somos superiores e os principais prejudicados, portanto, a organização em torno de nossos interesses precisa ser a meta inegociável. Fortaleçamos as instituições da sociedade civil. A participação popular é fundamental na elaboração de estratégias de combate e exigências das políticas públicas voltadas para a população marginalizada. 

Antecipemos ao ranger dos dentes e saiamos desse lugar lúdico para a construção de um mundo sem desigualdade. 

error: Content is protected !!