Na próxima sexta-feira, 25 de julho, às 21h, o Sesc Pompeia se transforma no palco do African Live Experience, uma celebração sensorial que une música, dança e artes visuais para contar a história vibrante e diversa do continente africano. Criado pelo produtor moçambicano Otis Selimane, o espetáculo reúne 12 músicos e 5 bailarinos vindos de Moçambique, Nigéria, Senegal, Angola, Benin e África do Sul, todos vivendo e criando no Brasil.
O show traz no repertório sucessos que marcaram gerações, como “Calm Down” (Rema), “Water” (Tyla) e “Water Get No Enemy” (Fela Kuti), agora repaginados com arranjos que misturam tradição e modernidade. A performance destaca ritmos urbanos como amapiano, kuduro, kizomba e ghetto zouk, estilos nascidos nas pistas africanas e que hoje ecoam no mundo inteiro.
Além da música ao vivo, o público vai se envolver com coreografias urbanas assinadas por Milca Hebo, Leleo, Estela D’Ouro, Kaya Dizui e Inick Sholes, enquanto projeções visuais transportam a plateia para as paisagens imaginadas de cidades como Lagos, Joanesburgo e Luanda. O resultado é uma imersão na África contemporânea, tecnológica, cosmopolita, mas sempre conectada às suas raízes ancestrais.
“Queremos que o African Live Experience seja mais que um show: uma plataforma inclusiva que valorize e amplifique a arte africana que pulsa no Brasil. Um espaço para trocar experiências, dialogar entre culturas e fortalecer as raízes que nos conectam”, afirma Otis Selimane. O projeto dá voz a artistas, músicos e bailarinos, trazendo à tona a riqueza e pluralidade da cultura africana no país, com eventos, debates e conteúdos que ampliam essas narrativas.
Tem gente que veste roupa pra impressionar. Eu visto pra conversar. Comigo mesmo, com o dia, com a cidade.
E nem sempre essa conversa é séria: às vezes é um moletom escrito Brasil!, um tênis que parece limpo mas já rodou o mundo, uma camisa de linho com cheiro de aeroporto. Outras vezes é um blazer estruturado com um sorriso desarmado. O equilíbrio entre o que eu trago da minha avó costureira e do meu pai executivo — e o que eu mesmo fui inventando no caminho.
Moda, pra mim, nunca foi sobre chamar atenção. Foi sobre deixar rastro. E isso eu aprendi cedo. Porque crescer com referências de bom gosto em casa é tipo aprender outro idioma: você fala sem nem perceber.
Essa coluna nasce disso: da vontade de dividir esse idioma com quem tá afim de sair do óbvio, mas não quer virar personagem. Porque nem todo mundo quer seguir tendência — tem gente querendo formar repertório.
E eu não tô aqui pra dar tutorial de estilo. Tô aqui pra jogar a real sobre o que a roupa diz sem precisar explicar. Sobre o que a gente absorve das avós, dos aeroportos, do guarda-roupa do pai ou do feed da filha. Sobre o que a gente comunica quando senta pra uma reunião de moletom branco — e não precisa justificar.
Ao longo dos meses, vou trazer referências, nomes, códigos, cenas do cotidiano e umas frases que talvez te façam rir, talvez te deixem pensando, talvez só te deem vontade de se vestir melhor amanhã.
Começo com uma ideia simples:
O look certo é aquele que diz tudo — e não se desculpa por isso.
Pode ser um terno. Pode ser um tênis amarelo. Pode ser você.
Se tiver dúvida, olha no espelho e responde:
Essa roupa tá falando por mim ou falando pelos outros?
Se for por você, fecha o zíper e vai.
Nos vemos mês que vem.
Felippe Guerra* é Head de Vendas e Marketing e fundador da SOMOS BRASIS. Com mais de 20 anos de experiência, atua na criação de estratégias que conectam marcas a narrativas autênticas do Brasil plural.
A mineira Cidinha Santiago é uma das grandes referências da gastronomia brasileira. Com mais de 60 anos de vivência na cozinha e 35 anos de televisão, ela atravessou o tempo como guardiã da culinária ancestral, das receitas feitas com afeto e da valorização das mulheres negras na gastronomia. Sua trajetória começou ainda na infância, e o Brasil a conheceu no programa de Ofélia, onde permaneceu por décadas como parceira de cena e de sabor.
“Eu tinha cinco anos quando fiz meu primeiro arroz no fogão a lenha. Minha mãe saiu para buscar lenha e deixou meus irmãos comigo. Quando voltou, achou que eu tinha pedido comida à vizinha, mas eu respondi: ‘Não, eu fiz o arroz’.”
Desde então, Cidinha não parou mais. Trabalhou como babá e empregada doméstica, sempre mantendo a cozinha como centro da sua vida. Ainda jovem, escreveu um livro com receitas que aprendeu nas casas onde trabalhou, e com esse livro teve sua primeira aparição na televisão. O talento chamou atenção, e sua formação seguiu paralelamente ao trabalho, sempre buscando cursos e formações técnicas, mesmo sem acesso à universidade formal. Estudou enquanto criava filhos de outras famílias, cozinhava para eventos e construía uma reputação sólida que a levou a lecionar em instituições como a Renascença, Anhembi Morumbi e Anhanguera.
Ela mesma resume com orgulho sua jornada: “Eu aceitei o título de chef porque coordenei equipes, inaugurei faculdades, levei a cozinha para a TV e fui a primeira em muitos espaços. Mas sou, com muito orgulho, uma cozinheira raiz.”
A seguir, publicamos a entrevista completa com Cidinha Santiago. Um registro histórico e afetivo para o Guia Black Chefs.
A SUA TRAJETÓRIA É UMA REFERÊNCIA PARA MUITAS MULHERES NEGRAS QUE DESEJAM ENTRAR NA COZINHA PROFISSIONAL. ENTÃO, EU GOSTARIA DE SABER COMO FOI O SEU CAMINHO ATÉ SE TORNAR UMA CHEF RECONHECIDA TANTO NA TELEVISÃO QUANTO NA GASTRONOMIA POPULAR.
Resposta: Eu comecei muito cedo, aqui em Belo Miro Braga, onde voltei a morar. Saí daqui ainda muito nova para trabalhar. Comecei a trabalhar com cinco anos. Minha mãe saiu um dia para buscar lenha — somos 12 irmãos — e me deixou com três deles, inclusive o mais novo, que ainda mamava. Como ela demorou a voltar, subi num banquinho e fiz meu primeiro arroz no fogão a lenha. Quando ela voltou, achou que eu tinha pedido comida à vizinha, mas eu disse que tinha feito o arroz. Ela provou, gostou, e no dia seguinte me ensinou a fazer o feijão, a verdura e a mistura. Desde então, nunca mais parei.
Com 10 anos comecei a trabalhar como babá, sempre com a cozinha presente. Estudei aqui mesmo, fiz o ginásio, e depois fui para Juiz de Fora, onde queria fazer enfermagem. Trabalhava como empregada doméstica e cozinheira de forno e fogão. Aos 18 anos já trabalhava como cozinheira. Nessa trajetória, resolvi escrever um livro com receitas que aprendi nas casas onde trabalhei, dando um toque mais mineiro, mais brasileiro. Lancei o livro em 1983 ou 84, no CESC, e depois em Muriaé. A filha da minha madrinha trabalhava na Globo e me indicou. Foi a primeira vez que apareci na TV. Fiz uma torta do meu livro. Isso tudo antes de ir para São Paulo, onde conheci o pessoal da Casa de Cultura Afro-Brasileira, que foi fundamental na minha vida.
COMO FOI ESSA TRANSIÇÃO PARA SÃO PAULO E PARA A TELEVISÃO?
Resposta: A menina para quem trabalhei como babá em Juiz de Fora se mudou para São Paulo e me chamou. Como já tinha feito curso de enfermagem, fui. Mas nunca parei de cozinhar. Em São Paulo, dei aula em algumas escolas e procurei me aperfeiçoar, mesmo sem faculdade. Fiz cursos com a Continental 2001, Prosdócimo… Como os meninos da casa ficavam o dia inteiro na escola, eu deixava tudo pronto e aproveitava para procurar cursos. Fiz um curso de congelados e comecei a trabalhar com isso: chegava às 7h da manhã, preparava 15 pratos etiquetados e voltava à casa depois de 15 dias ou um mês.
Depois que terminei um curso da Prosdócimo, fui apresentada ao Benjamim Abraão, referência em padaria em São Paulo. Mostrei meu livro para uma moça da Continental e ela disse que o Benjamim precisava de uma assistente. Trabalhei com ele na feira e depois ele me ofereceu um curso de pães. Nesse período, também dirigi uma creche da Casa de Cultura Afro-Brasileira com 300 crianças. Fiz uma horta comunitária, tirei 70 crianças da desnutrição com alimentação, foi um trabalho muito importante. Fiquei lá uns cinco anos.
O Benjamim me indicou para trabalhar com a Ofélia na televisão. Ele disse: “Se você tiver paciência, vai ser muito bom para você e para ela”. Fui e acabei ficando 35 anos na TV brasileira. Durante a pandemia, conseguimos fazer uma boa transição para o digital, com lives e tudo mais. Em 2017, fui reconhecida pela Federação Italiana de Gastronomia como chef honorária. Também recebi o prêmio Dólmã como embaixadora da gastronomia por São Paulo e influenciadora digital.
A SENHORA MENCIONOU QUE VOLTOU PARA MINAS. COMO TEM SIDO ESSA NOVA FASE DA SUA VIDA?
Resposta: Hoje estou com 67 anos. Quando me aposentei, decidi voltar para Minas. Ainda há muito a ser feito aqui. Quando saí de Minas, todo mundo cozinhava. Quando voltei, percebi que isso tinha mudado. Uma cidade pequena como essa, com 4 mil habitantes, já tem fast food entrando. Ao voltar, recebi o título de cidadã benemérita e inaugurei a escola do legislativo com um curso básico de culinária. Tenho um projeto de viver sem geladeira — como era quando saí daqui. Fiz minha casa com um quarto, banheiro e uma cozinha. Trouxe 30 caixas de livros de gastronomia, herdei alguns da Ofélia, ganhei outros, tenho uma biblioteca enorme. Minha cozinha serve para palestras, aulas, visitas.
Com o curso de culinária, percebi que não bastava ensinar receita. Tive que ser psicóloga, coach… As mulheres aqui estavam cabisbaixas, muitas sofrendo violência. E o curso virou um espaço de autoestima e acolhimento. Já iniciei uma horta pedagógica, tenho projetos de cinema e educação alimentar com as crianças. Viver sem geladeira também é educativo: faço compotas, geleias, licores. Compro carne na hora, ainda tem venda aqui, não supermercado. É sobre qualidade de vida.
E SOBRE A GOURMETIZAÇÃO DA CULINÁRIA BRASILEIRA, ESPECIALMENTE COM PRATOS DE ORIGEM AFRICANA E PERIFÉRICA? A SENHORA ACREDITA QUE ESSA VALORIZAÇÃO ESTÁ CHEGANDO DE FORMA JUSTA PARA QUEM CRIOU ESSES PRATOS?
Resposta: Para quem criou, não. Eu, graças a Deus, participei de eventos importantes, como um no Unique Garden, em São Paulo, no Dia Internacional das Mulheres. Foi um lugar muito requintado. Vi minhas comidinhas — salada de batata-doce, franguinho com quiabo — todas como finger food. Ficou bonito, bem apresentado. Mas a questão é que quando a cozinha virou gourmet, quem apareceu foi o chef. E geralmente o homem.
A cozinha sempre foi da mulher, especialmente da mulher preta. Desde empregadas domésticas até donas de casa, fomos nós que seguramos essa cultura. Quando a cozinha passou a dar status, muitos homens passaram a ocupar esse espaço, e muitas mulheres começaram a dizer que não gostam de cozinhar. Isso me preocupa. Falo disso no livro “Um Pé na Cozinha”, da Thaí, onde sou uma das personagens. Sempre cortamos alimentos como hoje chamam de “julienne”, “brunoise”… só não sabíamos nomear. Isso é apagamento. O que antes era natural virou técnica francesa.
A SENHORA SE IDENTIFICA MAIS COMO CHEF OU COMO COZINHEIRA? QUAL A DIFERENÇA?
Resposta: Hoje me identifico com os dois. Chef é quem chefia um grupo, e eu chefiei. Levei a cozinha para a televisão, inaugurei faculdades, dei aulas. Aprendi televisão com a Ofélia. Tenho o respeito de outros chefs, que sempre valorizaram minha experiência prática. Trabalhei com muitos que vinham da faculdade, e trocávamos muito. Por isso aceitei o título de chef, e uso com orgulho. Mas sou cozinheira raiz, sim. E me orgulho muito disso também.
ESTAMOS NO JULHO DAS PRETAS, QUE CELEBRA O LEGADO DAS MULHERES NEGRAS. COMO A SENHORA ENXERGA O PAPEL DA MULHER PRETA NA GASTRONOMIA BRASILEIRA?
Resposta: A Benê Ricardo foi a primeira. Tenho um livro dela, da DBA, autografado pouco antes de ela falecer. Mas a Benê não teve o reconhecimento que merecia. Foi ela quem ensinou a comida brasileira a muitos chefs, inclusive franceses. Ela assinava cardápios, fazia eventos em casas chiques. Foi nossa pioneira. Quando ela estudou gastronomia foi no Senac, em Águas de São Pedro. Já estive lá para homenageá-la. Em toda palestra ou evento que participo, faço questão de falar da Benê.
Agora estou montando minha própria casa de cultura. Colei meus 35 certificados na parede. Vai ser um espaço para palestras, aulas, visitas. Uma cozinha viva, com memória. Não vou esperar que façam por mim. Já estou fazendo.
PARA ENCERRAR, QUAIS SÃO OS PRATOS QUE A SENHORA MAIS AMA PREPARAR, AQUELES QUE TE CONECTAM COM SUA HISTÓRIA E ANCESTRALIDADE?
Resposta: Eu gosto de tudo, mas me conecto muito com o inhame. Fiz um bolinho de inhame para um projeto da Estella Artois com outras 10 mulheres do Brasil. Foram mil bolsas de estudo para mulheres de baixa renda. Meu bolinho ficou no cardápio da Baianeira por 15 dias. Também gosto de inhame com quiabo, tutu com lombo… Sou da comida de horta, de quintal. Faço doces, compotas, geleias, licores.
Hoje em dia todo mundo quer se especializar — confeitaria, padaria, cozinha quente, fria. Eu venho de um tempo em que a gente precisava saber fazer tudo. E isso é riqueza. Só acho que precisamos dar nome ao que é nosso. A abobrinha que minha mãe cortava sempre foi “julienne”. A cebola sempre teve corte “brunoise”. Mas a gente não nomeava. Agora, dizem que a moqueca tem que ser “brunoise”. E isso pesa. Pesa para quem? Isso é apagamento. Por isso, sigo defendendo nossa cozinha com orgulho.
Você vive espirrando, com o nariz entupido e os olhos coçando? Isso pode ser rinite alérgica — uma condição comum, mas muitas vezes negligenciada, especialmente entre pessoas negras.
O que é rinite alérgica?
Trata-se de uma reação exacerbada do sistema imunológico a substâncias como ácaros, poeira, mofo, pelos de animais e pólen, os chamados alérgenos.
O sintoma mais comum é o nariz entupido ou escorrendo. Outros sinais frequentes incluem espirros, coceira no nariz e nos olhos, sono ruim e cansaço. Há também uma forte correlação com a asma. Se você conhece alguém com asma, essa pessoa pode ter rinite alérgica e ainda não ter sido diagnosticada.
Frio e rinite: qual a relação?
No inverno, o ar frio e seco irrita a mucosa nasal e facilita a entrada de alérgenos. Além disso, passamos mais tempo em ambientes fechados, com maior acúmulo de poeira, mofo e ácaros. O ressecamento das vias respiratórias reduz a proteção natural do nariz, agravando os sintomas. Por isso, quem tem rinite costuma sofrer mais nessa época do ano.
Por que isso importa para a população negra?
Muitas pessoas negras vivem em contextos de maior exposição a alérgenos e com menos acesso a cuidados médicos especializados. Como consequência, a rinite é subestimada — mesmo quando compromete o bem-estar e a produtividade. Cuidar da saúde respiratória é também um ato de resistência e autocuidado.
O que dizem os estudos mais recentes?
O último Consenso Internacional sobre Alergia e Rinologia: Rinite Alérgica reuniu especialistas de todo o mundo para atualizar as diretrizes baseadas em evidências. O documento reforça que a rinite alérgica é uma doença crônica, com impacto direto na qualidade de vida, no sono, no desempenho diário e até na saúde mental. Também apresenta um caminho claro para diagnóstico e tratamento, com base na ciência mais atual.
Sim, rinite tem tratamento!
As recomendações incluem o uso de antialérgicos modernos, sprays nasais com corticoide e imunoterapia (vacinas de alergia). Mas o mais importante continua sendo o básico: evitar os gatilhos da rinite — ou seja, a exposição aos alérgenos.
Sabendo que nem sempre é possível eliminar todos os fatores de risco, compartilho 7 dicas práticas para reduzir crises durante o frio:
Mantenha os ambientes ventilados, mesmo no inverno. Abra as janelas por alguns minutos todos os dias.
Evite carpetes, cortinas pesadas e bichos de pelúcia, que acumulam poeira.
Use umidificadores ou coloque bacias com água nos quartos para combater o ar seco.
Lave o nariz com soro fisiológico para manter a mucosa hidratada.
Evite mudanças bruscas de temperatura. Proteja nariz e boca com um cachecol ao sair no frio.
Lave cobertores e roupas de inverno antes de usar, pois podem acumular ácaros.
Evite cheiros fortes, como perfumes e produtos de limpeza agressivos.
Respirar bem é um direito nosso. Rinite não é frescura — é uma condição médica séria, com tratamento eficaz. Procurar um especialista é um passo fundamental para viver com mais saúde, conforto e dignidade.
Dr. Lucas Diniz Costa – Coordenador do Centro de Referência da Saúde da População Negra (CR-SPN). Fellowship Cirurgia Plástica Facial na Universidade de São Paulo (USP); Humanitarian Committee of American Academy of Otolaryngology and Head-Neck Surgery (AAO-HNS); Titular da Academia Brasileira de Otorrinolaringologia (ABORL); Tenente Oficial Médico da Reserva pelo Exército Brasileiro (R/2); e Médico formado pela Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM).
O Festival Latinidades chega à sua 18ª edição reafirmando sua origem, essência e potência a partir de Brasília, território de criação contínua e força ancestral. Após circular por cidades como Salvador, São Paulo, Rio de Janeiro, Goiás e até Londres, o festival concentra neste ano suas ações no Distrito Federal, ampliando sua presença no centro político do país.
Mais que um festival, Latinidades é uma construção coletiva liderada por mulheres negras, que há quase duas décadas tensiona as estruturas da arte, da política e da cultura com uma perspectiva afrocentrada.
A programação ativa diversos espaços públicos com arte, reflexão e reexistência. Entre os destaques está a Mostra Cine Afrolatinas, que ocupa o histórico Cine Brasília, com mais de 50 anos de existência, nos dias 30 e 31 de julho. Com curadoria de Edileuza Penha e Ceiça Ferreira, a mostra exibe curtas, longas e promove debates com diretoras negras do Brasil e da diáspora. A seleção inclui títulos como Bam Bam: The Sister Nancy Story, Um Dia com Jerusa, Nzinga – Rainha de Angola e Eu, Minha Mãe e Wallace, todos centrados em narrativas protagonizadas por mulheres negras.
A exibição de Bam Bam: The Sister Nancy Story marca a estreia nacional do documentário sobre a primeira mulher do dancehall jamaicano a alcançar projeção internacional. A tradução do filme para o português foi realizada pelo Instituto Afrolatinas, e a obra tem se destacado mundialmente por resgatar a trajetória de uma das figuras mais influentes da música global.
Além da exibição dos filmes, o festival também articula a presença de estudantes da rede pública e coletivos culturais nas sessões, reforçando seu compromisso com o acesso e a democratização do cinema. Para saber como participar dessas ações e se envolver nos chamamentos do Latinidades, acesse latinidades.com.br/chamamentos.
Nas artes visuais, duas exposições integram o festival. De 23 de julho a 23 de agosto, a mostra Alumbramento ocupa a Galeria 3 do Museu Nacional da República com obras de 25 artistas negros, indígenas e dissidentes. A proposta curatorial de Nathalia Grilo é guiada pelo cosmograma bantu, convidando o público a percorrer caminhos de espiritualidade e memória.
Na Estação Ceilândia Centro do Metrô-DF, a exposição Chão Ancestral transforma o espaço urbano em galeria pública de 25 de julho a 25 de setembro. As fotografias de Walisson Braga, Luiz Alves e Webert da Cruz celebram os 279 anos do Quilombo Mesquita e conectam mobilidade, ancestralidade e território.
No dia 26 de julho, o Museu Nacional será tomado por projeções visuais ao ar livre, reforçando a presença estética e simbólica do Latinidades na cidade.
Se arte é território de disputa, este é um convite: venha ver, ouvir, sentir e mover com a gente!
Confira alguns destaques da programação:
Exposição Alumbramento 23 de julho a 23 de agosto Museu Nacional da República Curadoria: Nathalia Grilo
Exposição Chão Ancestral 25 de julho a 25 de setembro Estação Ceilândia Centro (Metrô-DF) Fotografias de Walisson Braga, Luiz Alves e Webert da Cruz
Mostra Cine Afrolatinas 30 e 31 de julho Cine Brasília Filmes dirigidos por mulheres negras do Brasil e da diáspora Curadoria: Edileuza Penha e Ceiça Ferreira
Estreia do documentário “Bam Bam: The Sister Nancy Story” Homenagem à pioneira do dancehall jamaicano Tradução: Instituto Afrolatinas
Lançamento do livro Empoderadas (versão em espanhol) 31 de julho | Cine Brasília Com Renata Martins e Juliana Vicente
Projeções visuais noturnas 26 de julho Museu Nacional da República
O cantor e empresário Akon afirmou que sua cidade futurista, conhecida como a “Wakanda da vida real”, avaliada em US$ 6 bilhões e planejada para ser construída no Senegal, negou rumores de que o empreendimento teria sido cancelado e afirma que ela está sendo alvo de ataques.
“O projeto Akon City está sob ataque. O impacto que vai causar para a África abalou um monte de agendas. Então você vai ver muita desinformação na Internet”, disse o artista, em entrevista recente ao TMZ.
Apresentada em 2018, a “Akon City” foi anunciada com promessas de hospital, universidade e estruturas movidas a energia solar, em um terreno de 136 acres na cidade de Mbodiène, no Senegal. Até agora, apenas um campo de basquete e um centro de informação foram construídos.
Akon garante que a iniciativa segue em andamento e que não foi abandonada. “É impossível. É o meu propósito desenvolver a África, e esse projeto faz parte desse desenvolvimento”, declarou.
Para ele, os ataques ao projeto fazem parte de uma tentativa deliberada de desacreditar sua proposta. “Quando se está a fazer algo tão grande em África, especificamente com todas estas agendas ligadas a isso, eles têm de tentar desacreditá-lo para que isso não aconteça”, concluiu.
Imagine morar em um país onde a política de governo não oferece abertura de negociação para todos que não pertencem a determinada raça, e ainda responde a qualquer tentativa através do uso da força. Pois era esse o contexto em que emergiu a liderança política de Nelson Mandela, cuja celebração da memória ocorre no dia18 de julho (Dia Internacional Nelson Mandela), mesma data de seu nascimento.
Nascido na aldeia de Mvezo no Transkei, África do Sul, em 1918, Nelson Mandela teve uma trajetória impactante e inspiradora, caracterizada pela coragem, resiliência e perseverança. O Partido Purificado alcançou o poder do país em 1948, e naquele momento iniciou as políticas de segregação racial, conhecidas como Apartheid. Os negros e brancos deveriam conviver separados, independentemente dos lugares em que estivessem. Escolas, banheiros públicos, assentos nos transportes, nas praças públicas, bebedouros, todos deveriam ser separados. Os casamentos inter-raciais eram proibidos. A circulação da população negra estava submetida a controle, tanto no perímetro quanto horário, entre outras medidas. Embora o prejuízo era somente da população negra, os brancos continuavam gozando de um elenco de privilégios.
Paralelo a essas situações, Mandela se tornava uma importante liderança política no meio dos estudantes e ativistas políticos. Ele era estudante de Direito na Universidade de Fort Hare, e participava de organizações que se articulavam para enfrentar a segregação racial. Mas quando ingressou no Conselho Nacional Africano (CNA) se projetou e tornou-se conhecido nacionalmente. O CNA passou de instituição de caráter burocrático, emissão de petições, e assumiu a luta armada contra o governo. Nelson Mandela e seus companheiros passaram a atuar na clandestinidade. O governo do Apartheid não permitia diálogo, era tudo a base da truculência, tanto que teve o trágico episódio conhecido como Massacre de Shaperville. Os policiais sul-africanos assassinaram dezenas de pessoas negras durante um protesto pelo direito de ir e vir sem restrição.
Convulsões explodiram pelo país, e mesmo assim o governo não parava com a violência. Mandela foi encarcerado e condenado à prisão perpétua pelo crime de terrorismo. Ainda assim, a sua esperança se manteve inabalável em meio a todas essas adversidades. Um governo racista e uma pena que teria que cumprir para o resto da sua vida. Do lado de fora do presídio, a população ao redor do mundo se mobilizava exigindo que o governo libertasse o famoso preso. Era inaceitável aquele regime de segregação e a prisão de alguém que se opunha àquela política.
Para os pessimistas, o improvável aconteceu. Muitas negociações ocorreram. Em 1990, após vinte e sete anos encarcerado, Nelson Mandela foi solto. Aboliram o Apartheid e o herói sul-africano se tornou presidente da África do Sul. Obviamente, acabou sendo agraciado com o prêmio Nobel da Paz. Portanto, a lição para nós, vítimas sistemáticas do racismo brasileiro, é que não podemos em hipótese alguma perder as esperanças. Lembremos sempre da história de Nelson Mandela.
Para falar de comida e ancestralidade para um público de afroempreendedores, não poderia deixar de voltar alguns anos na história do Brasil, onde as raízes desse nicho específico de empreendedorismo residem. Anos? Não, séculos. Precisamos falar das “escravas de ganho”, as “ganhadeiras” ou “negras de tabuleiro” dos séculos XVIII e XIX. Mulheres escravizadas, algumas libertas, que saíam às ruas do Rio de Janeiro, Salvador, São Luís do Maranhão e outras cidades com seus cestos, balaios e tabuleiros vendendo toda sorte de quitutes. Para as que ainda não tinham sido alforriadas, parte do ganho de suas vendas era destinado aos seus senhores, que podiam viver do ócio graças à desenvoltura de suas serviçais. Já as libertas eram donas de seus ganhos e, com isso, garantiam o sustento de suas famílias, a compra de alforrias e de bens como joias e, futuramente, imóveis.
É praticamente impossível citar todos os seus nomes, mas uma delas é notável: Tia Ciata, Hilária Batista de Almeida. Uma mulher baiana que, perseguida por policiais, teve que se mudar para o Rio de Janeiro, onde, com seus quitutes, exerceu forte influência na sociedade negra, comprou um imóvel que era ponto de encontro do movimento político, porto seguro para encontros musicais e onde foi gravado o primeiro samba brasileiro. Você imaginava que vender manjares, cocadas, bolos e acarajés nas ruas, no período colonial, poderia gerar tamanha revolução num sistema escravista?
Essas histórias estão registradas em alguns livros e também podemos conhecer parte dessas mulheres no acervo permanente do Museu Afro Brasil Emanoel Araújo, localizado em São Paulo. Essa visita é obrigatória e fundamental para todos nós. Se hoje milhares de mulheres empreendem na área da alimentação, é porque somos herança direta dessa fonte. Trago esse fato histórico para que a gente não se esqueça e para que sintamos orgulho do que nos constitui e nos faz empresárias, confeiteiras, cozinheiras, chefs de cozinha, assistentes, merendeiras, padeiras, quituteiras…
Outra informação que não pode ser deixada de lado é a existência brilhante de Benê Ricardo, que, nos anos 1980, foi a primeira mulher (você leu bem: mulher, e não mulher negra) a se formar numa graduação em gastronomia e a primeira a chefiar uma cozinha profissional de hotel cinco estrelas. Ela foi pioneira de verdade e deixou para nós um legado sem precedentes!
Lá nos Estados Unidos, também temos dois exemplos importantes: Lena Richard, autora de livros de cozinha e chef que apresentou um programa de televisão em Nova Orleans nos idos de 1940. Sabe a famosa cozinheira Julia Child? Ela estreou seu programa vinte anos depois de Lena Richard. E o primeiro chef de cozinha norte-americano foi James Hemings, um negro nascido escravo em 1765 e que foi chef do terceiro presidente dos Estados Unidos, Thomas Jefferson.
Dito isso, a ancestralidade é uma riqueza e nós precisamos beber nessa fonte. Mas, para mim, ela não é algo que ficou preso lá no passado; é algo que nos permeia, que corre muito viva em nossas veias a todo momento. A nossa ancestralidade pulsa, como querendo dizer: estou aqui com você. Olha para mim, me reconhece, lembra de mim, deixa eu ir junto com você nesse caminho do empreendedorismo gastronômico.
Sabemos que os caminhos nem sempre são fáceis, muitas vezes são tortuosos. Mas a capacitação é ferramenta fundamental para que as pedras do caminho sejam retiradas uma a uma, para que a tal da luz surja no tal do fim do túnel e que nosso jeito único de empreender seja finalmente encontrado. Tem quem faz assim, tem quem faz assado e tem quem não faz. Então, se você segue trabalhando, acreditando nos seus sonhos, estudando, aprendendo novas tecnologias, aprimorando o seu negócio, você está de parabéns e tem o nosso apoio.
A comida brasileira é afroindígena e muito do que comemos hoje é herança direta dos nossos antepassados. Para te inspirar, te conto que alimentos como o quiabo, o feijão fradinho, a melancia, o café, o inhame, o dendê, a pimenta malagueta e outros são de origem africana e vieram para estas terras durante as rotas transatlânticas. A fermentação de grãos e frutas é uma descoberta egípcia e, se o mundo todo come pão, bebe cerveja e vinho, é graças aos nossos antepassados mais distantes.
Eu sou pesquisadora de culturas alimentares e encontrei um jeito todo meu de fazer da casa e dos hábitos das mesas brasileiras o meu delicioso objeto de estudo. Uso a comida como desculpa para falar de tantos outros assuntos. Porque comer é um ato biológico, mas a comida é muito mais. Ela é ferramenta de comunicação, ato político e instrumento de transformação social. Eu vejo essa transformação acontecendo a todo momento. E te convido a enxergar a revolução que a comida também fez, faz e fará na sua vida. Então, recupera o caderno de receitas da sua família, tira o pilão do fundo do armário, respira bem fundo, enche o seu peito de ar e de autoestima e mãos à obra. Tem muita gente lá fora querendo comprar a sua comida e os seus serviços, vende bem o seu peixe! Ou a sua moqueca, bolo ou geleia. Estamos aqui para te aplaudir.
Texto: Patty Durães [@patty.duraes]. Pesquisadora de culturas alimentares, especializada na influência das heranças afrodiaspóricas na culinária brasileira. Com experiência em instituições como SESC, MASP e SENAC e Sebrae, ela é autora do curso “Muito Além da Boca” na plataforma EAD da Fundação Itaú, foi curadora da primeira edição do Menu Cultural em 2024. TEDX speaker e professora convidada na Dillard University, em New Orleans, também em 2024. Patty pesquisa projetos editoriais para a Cia das Letras e assina a pesquisa de personagens da série Coisas Daqui, para a Globo Minas e GNT. É professora de Festas Tradicionais Populares, Hospitalidade e Turismo gastronômico na pós-graduação em comida brasileira da faculdade de gastronomia do SENAC Santo Amaro e no Instagram, compartilha suas experiências e pesquisas.
Esse conteúdo é fruto de uma parceria entre Mundo Negro e Feira Preta.
Flora Cruz, filha do cantor e compositor Arlindo Cruz, se manifestou nas redes sociais nesta quarta-feira (16) para rebater informações falsas sobre o estado de saúde do pai, que está internado no Centro de Terapia Intensiva (CTI) do Hospital Barra D’Or, na zona oeste do Rio de Janeiro, desde o dia 29 de abril.
O sambista, que enfrenta sequelas de um AVC sofrido em 2017, foi hospitalizado com um quadro grave de pneumonia e, segundo a família, desenvolveu recentemente uma infecção por bactéria resistente. Apesar da gravidade, o quadro clínico é considerado estável.
Flora criticou a disseminação de conteúdos antigos e descontextualizados, muitos deles baseados em trechos da biografia. “Em nome de todos os familiares, amigos e principalmente em meu nome, como filha do Arlindo Cruz, gostaria de pedir respeito perante o momento que todos nós estamos vivendo. Meu pai segue internado, estável, sendo bem atendido e cuidado por toda equipe médica. Arlindo segue VIVO! Quanto a matérias com inverdades proferidas, muitas falas são baseadas em trechos que dizem respeito de momentos passados, que estão contidos na sua biografia, ‘O Sambista Perfeito’”, escreveu ela no Instagram.
A influenciadora também afirmou que entrevistas concedidas por sua mãe, Babi Cruz, esposa do cantor, vêm sendo compartilhadas como se fossem atuais. Segundo ela, as falas fazem parte de relatos antigos publicados no livro biográfico de Arlindo.
Flora disse ainda que as redes sociais serão o canal oficial de comunicação da família para futuras atualizações sobre o quadro de saúde do artista. “Qualquer atualização, será realizada por aqui e pelas redes do meu pai. No mais, gostaria apenas de reiterar e implorar por respeito”, concluiu.
A aprovação do novo marco do Licenciamento Ambiental pela Câmara dos Deputados representa um dos maiores retrocessos socioambientais da década — e seus impactos não serão distribuídos de forma igualitária. Esse projeto de lei, travestido de modernização, abre brechas graves para a dispensa de avaliação de impacto ambiental em empreendimentos de alto risco. Em um país marcado por desigualdades estruturais, é urgente nomear: trata-se também da oficialização do racismo ambiental como política de Estado.
Racismo ambiental é quando populações negras, indígenas e periféricas são as mais afetadas pelas decisões que destroem o meio ambiente, mas as menos ouvidas nos processos de decisão. É quando o desenvolvimento é autorizado em territórios onde o Estado historicamente só chega com abandono, ausência de serviços públicos ou repressão. É quando a floresta cai, o rio seca e a conta recai, mais uma vez, sobre quem tem menos recursos para se proteger.
O novo texto aprovado flexibiliza o licenciamento a ponto de permitir que empresas façam autodeclarações em vez de estudos técnicos. Dispensa audiências públicas em determinados casos. E classifica como “baixo impacto” atividades que, na prática, podem causar desmatamentos, poluição e expulsão de comunidades inteiras de seus territórios.
Não é só sobre burocracia. É sobre justiça.
Quando o Estado abre mão de sua responsabilidade de fiscalizar, quem perde não são os grandes empreendedores — são os animais silvestres, que perdem seu habitat, são os povos tradicionais, empurrados à margem, e são as periferias urbanas, que verão os efeitos da degradação ambiental no preço dos alimentos, na escassez de água potável, no aumento das zoonoses e da insegurança climática.
Não há como defender os animais sem defender os territórios onde eles vivem. E não há como falar em defesa ambiental sem enfrentar o racismo estrutural que orienta as prioridades políticas e econômicas do país.
A aprovação desse projeto revela também a urgência de mais diversidade e representatividade nos espaços de decisão. Onde estavam as vozes negras e indígenas quando se decidiu o futuro das florestas e dos rios? Quando a política ignora quem mais sofre os impactos de suas decisões, ela se torna cúmplice da injustiça.
Mas este não é um ponto final. É um chamado.
Precisamos fortalecer as redes de mobilização, ocupar espaços de poder, articular movimentos e transformar indignação em ação política. Porque proteger o meio ambiente também é lutar contra o racismo. Porque defender os animais também é defender os povos e comunidades tradicionais e seu modo de vida. E porque a vida, em todas as suas formas, precisa estar no centro das decisões.
Priscilla Arantes é jornalista, especialista em comunicação de impacto, colunista do site Mundo Negro e coordenadora de projetos de advocacy voltados para justiça racial, ambiental e direitos humanos. Natalia Figueiredo é gerente de políticas públicas da Proteção Animal Mundial Brasil. Atua com advocacy socioambiental, políticas públicas para o bem-estar animal e integração entre justiça climática e direitos das comunidades tradicionais.