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No texto sobre as normas do site, o Mercado Livre não se responsabiliza pelo teor do anúncios, mas tem o registro dos anunciantes.
NEGRO DRAMA “Entre o sucesso, e a lama, Dinheiro, problemas, “Inveja, luxo, fama…” Racionais Mc’s – Negro Drama
Por Carol Machado
O cineasta afro-brasileiro Jéferson De, acabou há alguns anos dirigindo a excelente atriz Zezé Motta no filme Carolina. Tenho praticamente certeza que 90% das pessoas que estão lendo este texto, não tiveram acesso à obra e, portanto nem sabem de quem o roteiro deve estar falando. É sobre Carolina Maria de Jesus, escritora do livro autobiográfico “Quarto de Despejo” – traduzido em 13 idiomas. Apesar da fama, ela morreu na mesma pobreza que narrava.
A história de Carolina de Jesus começa lá no interior do estado de Minas Gerais. Especificamente no dia 14 de março de 1914, na cidade de Sacramento. Neta de escravos, sobre o pai apenas se refere como um tocador de violão, mas que não gostava de trabalhar. A mãe, uma lavadeira criou a família e ganhou sua admiração.
Devido os préstimos de sua mãe, Carolina conseguiu estudar no Colégio Alan Kardec, em Sacramento, com bolsa cedida por Maria Leite Monteiro de Barros – uma das freguesas de sua genitora. Mas pode apenas fazer a primeira e segunda série do Ensino Fundamental.
Atrás de oportunidade de emprego, a família mudou-se para Lageado, município próximo a Uberaba, mas quatro anos depois retornam para Sacramento. Em 1930, a família de Carolina vem para o estado de São Paulo, se instalando na cidade de Franca, forte na produção de café e sapatos.
Em 1937, aos 23 anos, Carolina, perde a mãe e também o único vinculo que a mantinha em Franca e parte para capital do estado, atrás de melhores chances de emprego. Chega à terra da garoa, no dia 31 de janeiro.
Entre empregos informais e trabalhos domésticos, a futura escritora, começa a sonhar com o mundo das letras. Num ato de coragem, vai sozinha, a redação do jornal “A Folha”, na Rua do Carmo. No dia 24 de fevereiro de 1941, tem sua foto junto com um poema em louvor a Getulio Vargas é publicado.
Enviando regularmente poemas para o jornal, Carolina é apelidada de poetisa negra, com admiração dos leitores, pela qualidade do texto.
Mas sua grande chance acontece somente em 1958, quase que por acaso. O repórter do jornal Folha da Noite, Adálio Dantas é designado para fazer uma matéria sobre a favela do Canindé. Entre as casas visitadas, o jornalista se depara com a intelectualidade de Carolina, no meio daquela miséria, e ela mostra seus textos a ele. É seu diário, que viria a ser chamado no futuro em publicação de “Quarto de Despejo”. O jovem repórter fica maravilhado com a leitura. No dia 19 de maio, o jornal publica parte do texto, sendo elogiado.
Em 1959, a grande revista da época – O Cruzeiro, também se interessa pelos textos e publicas trechos, mas somente em 1960, com uma tiragem inicial de 10 mil exemplares é publicada a obra: “Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada”.
Somente na noite de autógrafos, Carolina consegue vender 600 exemplares e no fim do ano atinge a cifra de 100 mil cópias. Ela atinge o apogeu, com sua foto estampada na Revista “Negro”, do Circulo Negro. A Academia Paulista de Letras e a Academia de Letras da Faculdade de Direito Largo São Francisco, lhe prestam homenagens.
Com base no sucesso do livro “Quarto de Despejo” ela ainda viaja pelas cidades de Pelotas, Porto Alegre, Rio de Janeiro, Caruaru e Recife. Até uma peça de teatro, baseada no livro é encenada no Teatro bela Vista, em São Paulo, adaptada por Amir Hadad.
Movido por esse sucesso, Carolina publica no ano seguinte o livro “Casa de Alvenaria: Diário de uma Ex-Favelada”, com prefácio escrito pelo jornalista que a descobriu: Adálio Dantas, pela Editora Paulo de Azevedo. Sua agenda de lançamento editorial a leva a excursionar pela Argentina e Uruguai.
Ainda em 1961, ela participa da Feira do Livro do Rio de Janeiro, como uma das estrelas, despertando o ciúme de um dos maiores escritores do país: Jorge Amado.
Já 3 anos após seu lançamento, Quarto de Despejo é traduzido para o inglês, sendo publicado nos Estados Unidos, sob o titulo “Child Of the Dark: The Diary of Carolina Maria de Jesus. Também em 62, sai a versão em alemão com o titulo Tagebuch der Armut:Aufzeichnunger einer Brasilianischn Negerin.
Ela lança ainda Pedaços de Fome, pela Editora Áquila, apresentado pelo escritor Eduardo de Oliveira. E Quarto de Despejo é reeditado nos Estados Unidos. Ela ainda consegue publicar o livro Provérbios, em 1965, no mesmo ano tem sua obra traduzida em Cuba.
Apesar de ter um livro como verdadeiro best seller, envolvida em contratos estranhos, Carolina de Jesus não se beneficiou do sucesso, financeiramente, apenas as editoras. Não demorou muito a voltar à condição de miserabilidade, sendo inclusive, em 1964, sendo fotografada pela imprensa como simples catadora de papeis nas ruas de São Paulo.
No mesmo tempo que sua obra é reeditada na Alemanha, muda-se para Parelheiros, então periferia de São Paulo, seno inclusive em 1975, objeto de um documentário para a TV daquele país – intrigado por sua obra, intitulado “Despertar de um Sonho”.
Em 1976, a Edioro compra os direitos da obra Quarto de despejo e novamente a escritora, novamente favelada, não vê a cor do dinheiro. Um ano depois, no dia 13 de fevereiro, ela morre, sendo enterrada sem cerimônia ou pompa. Aos 62 anos de idade, rodeada basicamente pelos três filhos, seu corpo é depositado no Cemitério da Vila Cipó, mais de 40 quilômetros do centro da cidade.
Sua obra, pouco divulgada e estudada, faz o que o Rap com suas letras conseguem hoje – traduzir o olhar da população negra e pobre sobre a realidade. Sem o linguajar intelectual e alienado de escritores que apenas visitam a miséria, sem conhecê-la perfeitamente.
É como canta Mano Brown – Racionais Mcs na letra Negro Drama “Eu Não Li, Eu Não Assisti. Eu Vivo O Negro Drama, Eu Sou O Negro Drama. Eu Sou O Fruto do Negro Drama” Carolina é a Negra Drama, vivenciado a situação e narrando, não copiando ou fingindo o que acontece.
Não é a toa que na Trilha Sonora do Filme sobre ela, que Jéferson De colocou a musica. Até parece que o rapper leu o livro, antes de escrever suas letras. A perversidade que a elite intelectual tratou sua maior obra, que chega a insinuar que Quarto de Despejo é na verdade escrita por Adálio Dantas.
Ela deixou três filhos: João José de Jesus, José Carlos de Jesus e Vera Eunice de Jesus Lima. Não teve um companheiro fixo, mas vários amores. Ela afirmava que era difícil um homem suportar uma mulher que dorme com um lápis e papel nas mãos e a qualquer momento, quer escrever. Para se sustentar foi desde a infância empregada domestica, trabalhando em diversas residências e por fim terminou seus dias como catadora de papel. Só em 1983 a TV brasileira, através da Rede Globo fez um resgate de sua historia na série “Caso Verdade”.
Uma dos fatos que mais incomodavam Carolina no final de vida é compreender como pode ter alcançado o sucesso e tão rápida ser esquecida.
Em 1986 foi publica sua obra póstuma – Diário de Bitita, pela Editora Nova Fronteira, mas que absurdamente foi publicado em primeiro na França, só depois no Brasil.
O cineasta George Lucas (69) e sua esposa, a empresária Mellody Robson (44) apareceram pela primeira vez em público com sua filha de quatro meses, Everest. A pequena é a primeira filha biológica do cineasta que adotou 3 crianças que hoje têm entre 20 e 30 anos de idade.
O trio foi fotografado durante um passeio em ST. Bars, no primeiro dia do ano.
Lucas e Mellody se casaram em junho do ano passado.
Já que importamos o Papai Noel branquinho de olhos azuis, a neve, entres outros símbolos que não tem nada a ver com a cultura brasileira, que tal variar e trazer um pouco da cultura africana e afro-americana para suas celebrações de final de ano? A festa tem origem americana, mas está começando a ser celebrada também fora dos EUA, como no Canadá e na região do Caribe. Mas afinal, o que é o Kwanzaa?
Com o objetivo de fortalecer
Foto: Purestock/Thinkstock.
os valores de comunidade e união familiar depois da violenta rebelião de Watts (causada por abuso policial contra um jovem negro em 1966) o professor Dr. Maulana Karenga, presidente de um centro de estudos negros na California State University e ativista dos direitos civis nos anos 60, criou para uma celebração para unir os afro-americanos com base em costumes do continente africano. Assim nasceu o Kwanzaa nome derivado da frase “matunda ya kwanza”, que significa “primeiros frutos” em suaíli (língua de origem queniana).
Cada família celebra Kwanzaa da sua própria maneira, mas as celebrações geralmente incluem canções e danças ,batucada com tambores africanos, leitura de histórias e poesias e uma grande refeição tradicional. A celebração dura sete dias, iniciando no dia 26 de dezembro e encerrando no dia 1º de janeiro.
Em cada uma das sete noites, a família se reúne ao redor das luzes uma das velas no Kinara (castiçal) onde os princípios da Kwanzaa são discutidos. Esses princípios, chamados de Saba Nguzo (sete princípios em suaíli) são valores da cultura africana que contribuem para a construção e reforço comunidade entre afrodescendentes.
A cada dia uma vela de cor diferente deve ser acesa num altar onde são colocadas frutas frescas e uma espiga de milho correspondente ao número de crianças que houver na casa. Depois de acesa a vela ( a vela preta deve ser acesa na primeira noite) , todos bebem de uma taça comum em reverência aos antepassados, e saúdam com a exclamação “Harambee”, que tanto significa “reúnam todas as coisas” como “vamos fazer juntos”. A grande festa é a de 1 de janeiro, quando há muita comida, muita alegria e onde cada criança deve ganhar três presentes que devem ser modestos: um livro, um objeto simbólico de referência africana e um brinquedo.
Sete Princípios
Os sete princípios, ou Nguzo Saba são um conjunto de ideais criados pelo Dr. Maulana Karenga. Cada dia de Kwanzaa enfatiza um princípio diferente.
Unidade: Umoja (oo-MO-jah)
Esforçar-se para e manter a unidade na família, comunidade, nação e raça.
Autodeterminação: Kujichagulia (koo-gee-cha-goo-LEE-yah)
Para definir a nós mesmos, o nome de nós mesmos, criamos para nós mesmos e falar para nós mesmos.
Trabalho coletivo e responsabilidade: Ujima (oo-GEE-mah)
Para construir e manter a nossa comunidade e resolver o problemas desta juntos.
Cooperativa de Economia: Ujamaa (oo-JAH-mah)
Para construir e manter nossas lojas próprias, lojas e outros negócios e para lucrar junto com eles.
Objetivo: Nia (nee-YAH)
Para tornar a nossa vocação coletiva a construção e desenvolvimento da nossa comunidade, a fim de restaurar nossos povos a sua grandeza tradicional.
Criatividade: Kuumba (koo-OOM-bah)
Para fazer sempre tanto quanto pudermos, da maneira que pudermos, a fim de deixar nossa comunidade mais bela e benéfica do que herdou.
Fé: Imani (ee-MAH-nee)
Acreditar com todo nosso coração em nosso povo, nossos pais, nossos professores, nossos líderes, na justiça e vitórias das nossas lutas.
Os sete símbolos do Kwanzaa
Sete símbolos são exibidos durante a cerimônia do Kwanzaa para representar os sete princípios da cultura e da comunidade africana.
Mkeka (M-kay-cah): é a esteira (geralmente feita de palha, e que também pode ser feita de tecido ou papel) sobre a qual todos os outros símbolos do Kwanzaa são colocados. A esteira representa a base das tradições africanas e da história .
Mazao (Maah-zow): as safras, frutas e vegetais representam as celebrações da colheita africanas e mostram respeito pelas pessoas que trabalharam no cultivo.
Kinara (Kee-nah-rah): o candelabro representa a base original da qual todos os ancestrais africanos vieram e contém sete velas.
Mishumaa (Mee-shoo-maah): nas sete velas, cada uma representa um dos sete princípios. As velas são vermelhas, verdes e pretas, cores que simbolizam o povo africano e sua luta.
Muhindi (Moo-heen-dee): o milho representa as crianças africanas e a promessa de futuro para elas. Um sabugo de milho é colocado para cada criança da família. Em um família sem crianças, um sabugo de milho é colocado simbolicamente para representar as crianças da comunidade.
Kikombe cha Umoja (Kee-com-bay chah-oo-moe-jah): a Taça da União simboliza o primeiro princípio do Kwanzaa, ou seja, a união da família e do povo africano. A taça é usada para derramar a libação (água, suco ou vinho) para a família e os amigos.
Zawadi (Sah-wah-dee): os presentes representam o trabalho dos pais e a recompensa para seus filhos. Os presentes são dados para educar e enriquecer as crianças, e podem ser um livro, uma obra de arte ou um brinquedo educativo. Pelo menos um dos presentes é um símbolo da herança africana.
As velas
Sete velas são colocadas dentro do Kinara:
no centro há uma vela preta representando o primeiro princípio: união (Umoja);
à esquerda da vela preta estão três velas vermelhas, representando os princípios de auto-determinação (Kujichagulia), economia cooperativa (Ujamaa) e criatividade (Kuumba);
à direita da vela preta estão três velas verdes, representando os princípios de trabalho coletivo e responsabilide (Ujima), próposito (Nia) e fé (Imani).
Natal tá quase aí, que tal comprar hoje mesmo, pela Internet alguns presentes com temática afro. Veja o que o Mundo Negro preparou para você. Muitas opções para dar ou pedir de presente.
Agenda 2014 – Centenário Carolina de Jesus
Preço: R$ 30
Local de venda:
Nossa Banca, Rua Senador Correia,66(esquina com a rua Paissandu) de segunda a sexta, de 11 as 18h. Informações: poligualidaderacial@yahoo.com.br
Projeto Mulher Negra Mostra a sua Cara, lança agenda em homenagem à Carolina de Jesus que completaria 100 anos em 2014 se estivesse viva
De forma independente e sem nenhum tipo de patrocínio, o Projeto Mulher Negra Mostra a Sua Cara, do Rio de Janeiro, realiza diversas ações para dar visibilidade à ações que têm a mulher negra como protagonistas.
Hoje será lançada a agenda “2014 Centenário de Carolina Maria de Jesus”, no Centro Cultural Afro-Carioca de Cinema – Rua Joaquim Silva, 40 – Lapa, as 18:30h.
Na programação, a exibição do filme O papel e o mar, de Luiz Antônio Pillar, que narra a história de um encontro imaginário entre João Cândido e Carolina de Jesus, com Zózimo Bulbul no elenco.
A hair stylist e proprietária da Cia das Tranças, Chris Oliveira
Quem for participar da Feira Preta neste domingo,15, não pode deixar de visitar a Cia das Tranças, um dos espaços mais disputados do evento. A empresa, comandada pela badalada hair stylist Chris é um hoje um dos maiores referencias em penteados afro no mundo da moda, tendo participação em mais de cinco edições do São Paulo Fashion Week – SPFW, criando penteados para desfiles de Alexandre Herchcovitch, Cavalera, Érika Ekezili, André Lima, Ronaldo Fraga, Animale e Fábia Bersek.
A hair stylist e proprietária da Cia das Tranças, Chris Oliveira
Durante a feira haverá um coquetel para apresentação das tendências do verão, comemoração dos 12 anos da empresa e apresentação do novo site. A cantora e compositora Roberta Gomes fará um pocket show durante o evento que ainda conta com a presença da modelo internacional Gabriela Gomes,
Será um momento imperdível para quem curte tranças e penteados étnicos e quer estar por dentro das tendências da próxima estação.
Cia das Tranças – Feira Preta
Domingo – Dia 15 de Dezembro – Anhembi – Palácio das Convenções
Av. Olavo Fontoura, 1209 – Santana – São Paulo, SP
No dia 08 de dezembro, noticiaram que habitantes de Florianópolis protestavam contra a presença de moradores de rua na região. Para os que reclamavam, as pessoas em situação de rua levavam “sujeira, drogas, desentendimentos e homicídios”e, por isso, a tentativa era de “limpar a praia para a chegada dos turistas”. Esses e outros termos desumanos usados pelos manifestantes são trazidos pela reportagem publicada no portal da Revista Fórum.
Imagens - Google Images
Por Higor Faria – Curiosamente, no dia seguinte, o G1 noticiou que o “mendigo gato de Curitiba” voltou para a clínica de reabilitação para receber alta definitiva e anunciou seu casamento. Fico feliz, parabenizo sua recuperação e desejo muitas felicidades ao lado de sua futura esposa. O que trato nesse texto não tem a ver com a pessoa, Rafael Nunes, mas com sua condição. Tem a ver com todos nós que definimos a quem nossas lágrimas e esforços serão dirigidos, a quem as oportunidades serão ofertadas e a que tipo de outros seres queremos que saiam do estado de vulnerabilidade e alcancem o de heroísmo.
Nas matérias sobre os protestos de Florianópolis, todas as imagens mostravam como moradores de rua pessoas negras. Não duvido que a maioria das vítimas dos protestos sejam negras — 67% (Pesquisa Nacional sobre a população em situação de rua). No Brasil, somos a maioria quando se fala em espaços de vulnerabilidade.
A situação de rua tem cor pré-estabelecida: é preta.
É isso que diferencia o “mendigo gato de Curitiba” do resto dos mendigos no país. Ele é branco. E, por ser branco, é tratado de forma humana, ao passo que pessoas negras em situação de rua não recebem nem esse tipo de tratamento básico. O racismo opera assim.
Na maioria das matérias, o “mendigo gato de Curitiba” é também tratado pelo nome — ele se chama Rafael Nunes. Ser chamado pelo nome é a mesma coisa que reconhecer que o outro, independente da sua situação, é gente: que tem identidade, história e trajetória. Os pretos moradores de rua de Florianópolis de certo não têm nome. Parecido com os “lotes” de africanos escravizados que recebiam o mesmo nome quando chegavam ao Brasil — um lote de Francisco, outro de João, outro de Maria etc. Parecido também com aquele seu único amigo negro é sempre tratado por um apelido genérico — o neguinho, o negão, o pretinho. Essa histórica forma de invisibilização não é coincidência.
Ao mendigo de Curitiba é dado o status de gato porque seu fenótipo reproduz o padrão europeu endeusado por décadas. Além disso, na nossa configuração racista, a pele os olhos claros dele o colocam numa situação de não pertencimento às ruas. Afinal, naturalizou-se que negros devem ocupar esse espaço e não brancos. Em decorrência também disso, o “mendigo gato” teve o apoio e indignação nas redes sociais e nos veículos de comunicação de todo o Brasil. Dessa comoção nacional, surgiram oportunidades: ele ganhou um emprego em uma agência de modelo, pagaram clínica de reabilitação, terminou e segundo grau e até arrumou alguém para dividir os momentos difíceis na jornada para abandonar as drogas.
Os outros não têm nem nome. Alcançar um título da beleza restrito a quem nasce branco é impensável. “Ora, estão sujando a cidade, deixando-a mais feia”. A história de preto sujo e feio já é velha, mas vinga no imaginário de muitos até hoje. Não tem comoção nacional, mas racismo, preconceito, descaso e estigmatização sobram. Dessa intolerância, resultaram protestos contra esses moradores de rua. Em Florianópolis os manifestantes admitiram isso. Ao invés de lutarem por condições mais dignas para àqueles que estão em situação de vulnerabilidade (como lutaram pelo “mendigo gato”), eles pediam por higienização das ruas, pela exportação ou por qualquer outra medida — leia-se extermínio — com a finalidade de limpar as praias de Canasvieiras. Para as pessoas em situação de rua, não houve o mínimo de tratamento humano, pois eles não são como o “mendigo gato”. Eles não são brancos.
E a seletividade não para por aí. O “mendigo gato” virou “exemplo de superação”, um herói: saiu das ruas, das drogas, arrumou emprego, está terminando os estudos e vai se casar. Já os mendigos de Florianópolis não receberam metade da ajuda ou das oportunidades e são denominados vagabundos, estorvo, lixos que merecem ser varrido das praias. Tudo isso por causa do nosso olhar que é diferente para as diferentes etnias.
Quando falo que a cor da pele define quais os tipos de oportunidades serão dadas ou quais obstáculos serão impostos ao indivíduo ou a um certo grupo é de casos como o do “mendigo gato de Curitiba” e dos protestos contra os de Florianópolis que me refiro.
E há quem ainda acredite que a questão é meramente de classe social.
O rock explodiu na década de 50 nos Estados Unidos, porém sua ascendência traz elementos da cultura africana e europeia. Sua origem encontra-se no blues, gospel, jazz, folk e country. Curiosamente, os primeiros nomes que chegaram ao mainstream do rock eram predominantemente negros, como por exemplo, Fast Domino, Chuck Berry e Little Richard.
Rubens Giaquinto – Nesta fase do rock as letras retratavam o amor romântico, sexo, eram dançantes e a bateria constituía-se num elemento forte que predominava nas músicas. Na segunda geração do rock houve um certo branqueamento. Predominou Elvis Presley, Jerry Lee Lewis e Buddy Holly. Era um rock menos estridente, em comparação com o dos roqueiros da primeira geração. Ganhou um status mais comercial. Elvis era um galã que encantava as meninas da época.
Na década de 60 surgiram os meninos de Liverpool. Traziam o rock clássico, com elementos pops, mas apresentando uma música mais comportada. Os Stones trouxeram a rebeldia. Jagger era um tipo mais transgressor.
Em meio a tudo isso, nasce a soul music, trazendo a negritude para o rock, novamente. A gravadora Motown lançou diversos artistas negros, dentre eles, Marvin Gaye, The Temptations e The Miracles. Michael Jackson, mais tarde, pertenceu a esta gravadora.
Num terceiro momento, importante na história do rock, foi o que até hoje virou mito: A GUITARRA. Surgiram dois grandes mitos da guitarra, Eric Clapton e Jimi Hendrix. Com a valorização da guitarra surgiram o rock progressivo, com seu maior expoente comercial, o Led Zeppelin, apresentando um som arrogante mas, bem trabalhado.
Na década de 70 o público do rock havia envelhecido e buscava novos ares. Neste momento apareceram no cenário artistas mais pop, que misturavam ao rock o piano e o violão, como os trabalhos de Elton John, Paul Simon e Neil Young. Nesta geração a tecnologia também era um elemento muito forte e, as letras preconizavam o amor romântico.
No final dos anos 70 surgiu o punk rock na Inglaterra, numa reação ao pop dos anos 70. Vestindo roupas rasgadas, apresentando uma música crua e com poucos acordes. Ofendendo a rainha e o capitalismo, surgiram os Sex Pistols e o The Clash. O que era para ser uma música anticomercial, foi ‘fagocitada’ pelo capitalismo e ganhou o show business mundial.
Falando um pouco sobre o rock ‘Brazuca’, nossa história tem um pouco a ver com o punk rock inglês, principalmente o rock de Brasília. As bandas Aborto Elétrico (primórdios da Legião Urbana), Plebe Rude, Capital Inicial e Paralamas, beberam na fonte do punk inglês. Mas, nosso rock tem certas particularidades, como por exemplo, é branco, machista, classe média e universitário. Principalmente no mainstream, a presença de negros e mulheres sempre foi muito raro. Apesar destas características, o rock nacional sempre foi de alta qualidade. Todavia, é fato que as grandes bandas sempre sairão dos lugares mais abastados do Brasil, como os meninos da zona sul. Estou dizendo que, principalmente no mainstream, porque há diversas bandas na periferia e nos espaços ditos alternativos. Dois expoentes que levaram a negritude para o rock são as bandas Os Inocentes e Devotos do Ódio. Mas, infelizmente, apesar do excelente trabalho, não são bandas conhecidas do grande público. Na primeira fase, o rock nacional explodiu em Brasília, Rio de janeiro e São Paulo. Em seguida, veio o sul do país. Só na década de 90 Minas Gerais entra no cenário do rock nacional.
Atualmente o rock perdeu sua veia contestatória. Acredito que bateria, guitarra e baixo, ainda constituem um trio poderoso na disputa hegemônica por uma sociedade mais justa, igualitária, sem racismo e com mais terra para o povo do campo. Infelizmente, as bandas que representam, de forma satisfatória estas questões, muitas vezes não tem espaço nem para ensaiar. Porque são filhos da classe trabalhadora. Fica uma pergunta: Porque que as bandas de rock da classe trabalhadora sempre ficam no meio do caminho? Está tudo meio fora do eixo. Só para deixar claro, existe um produção imensa de rock nas periferias brasileiras de grandíssima qualidade de arranjos e letras.
E preciso um grande pacto com os movimentos sociais, sindicais, artistas populares e com os intelectuais progressistas, para rompermos com a lógica do capital excludente. Só assim será possível vislumbrarmos festivais, gravadoras e artistas populares engajados em amar e mudar as coisas . Porque, do contrário, virão outros Lobão!
*Rubens Giaquinto vocal e guitarra (Banda João Andante)