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Negro, com quem você se parece?

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Por Fernando Sagatiba

Quando eu era criança, era comparado a Michael Jackson menino e Cirillo, de Carrossel (versão original).

Quando eu raspava a cabeça, era chamado de Cesar Sampaio e Juan, entre outros.
Quando estive com meu poderoso black, fui chamado de Thalles Roberto e Dante.
Agora, estou de nagô e sou Snoopy Dog, Xande de Pilares e Stevie Wonder (sem contar o clichê sem imaginação “predador”).
Já fui comparado a muitos outros artistas, esportistas e personagens. A ironia é que um colega, com quem conversei sobre o assunto, também já ouviu algumas dessas mesmas associações, sendo que não somos parecidos entre nós, muito menos todas as personalidades entre si. Aí, teve o lance da nova mulata  dançarina negra Globeleza, Nayara Justino, associada ao personagem Zé Pequeno (Leandro Firmino da Hora) e estou respondendo até hoje nos comentários de lá a pessoas que acham natural a comparação.
Não é, é racismo naturalizado, é o que faz com que o descaso pelo ser humano preto permita a um entrevistador a “mera falta de atenção” de confundir Samuel L. Jackson com Laurence Fishburne, já sendo prevenido, pelo próprio Jackson, de que nem adianta comparar também a Morgan Freeman, pois são negros e famosos atores, mas não são iguais. Não foi distração, é o racismo que escorre nojento por essas brechas morais. Eles poderiam ter resolvido tudo com um monte de gargalhadas, mas pra nós, isso não é tão simples.
Não que vejamos racismo em tudo, como o mais sonso pode tentar meter (UIA!) na conversa pra desestabilizar a pauta, é porque não somos personagens, não somos estereótipos exóticos. Não é porque somos negros que somos parecidos, não é porque uma pessoa é branca que se vai chegar e comparar a todos daquele tipo. Quantas vezes você já viu uma pessoa branca de cabelos longos e lisos loiros ou pretos ser comparada a outra que não tem nada a ver, mas também possui esses traços? Nunca, não é? Quem diz que Xuxa e Adriane Galisteu são a cara de Carolina Dieckmann e quase gêmeas de Fernanda Lima e Eliana? Repare bem as comparações acima, são apenas um ou dois traços semelhantes, geralmente, cabelos e a cor da pele, mas você não vê isso fora dos grupos estigmatizados.
O negro precisa aturar isso e ficar quieto? Cabelos crespos, pele preta e – ZAZ! – todos iguais? Vai rolar aquela piada batida de ‘caminhão de japonês’, como se fossem também todos iguais por características próprias da etnia? Não, caras, não que não seja possível um negro se parecer com outro, lógico, mas é preciso analisar também esse lado, de que essas comparações quase sempre são baseadas apenas na cor da pele, formato de narizes e textura de cabelos. Não somos bonecos.
Recentemente, um rapaz, trabalhador, negro e de cabelo black foi preso sem chance de defesa, sem flagrante ou mandado. Apenas porque a vítima dizia ter sido assaltada por um homem negro, de cabelo black, bermuda e camiseta. Ele é filho de um militar reformado, o que já mata aquela lenda mentirosa de que o racismo acaba quando a condição socioeconômica é alta, está sem visitas ou defesa e nem estava vestido como a vítima descreveu. É isso que faz Nayara Justino ser a ‘feia’ que se parece com Zé Pequeno, é isso que faz qualquer babaca cantarolar o tema do carnaval global ao se deparar com uma mulher negra, é o que faz todo homem negro ser um bandido sujo e a mulher uma iguaria sexual da sociedade.
Vinícius Romão, ator que esteve em Lado a Lado e está sendo vítima de uma prisão ilegal, apenas porque os
policiais que o abordaram acharam que ele era suspeito, por ser negro e usar cabelo black, como a tal vítima
descrevera. Agora, me diga, quantos brancos vão presos no lugar dos verdadeiros criminosos assim?
Somos tratados como estrangeiros e só somos lembrados enquanto brasileiros quando denunciamos isso, pois, vem aquela outra lenda de que ninguém pode se dizer negro se não nasceu na África (é, tem gente que acha mesmo que negro não é uma situação ideológica também, além da genética não precisar ser pura, como dificilmente tem no mundo todo).
Todo camburão tem um pouco de navio negreiro.
De geração em geração, todos no bairro já conhecem essa lição.
Fernando Sagatiba é músico e jornalista. Este texto foi publicado originalmente em seu blog: http://garciarama.blogspot.com.br/

Ciência negra: uma proposta para a descolonização do conhecimento

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Essa história iniciada há mais de 500 anos, inclui a escravidão, um número incontável de mortes por opressão e negligência, a migração forçada, a apropriação de terras, a institucionalização do racismo e a destruição de culturas. Ela transformou a vida de milhões de africanos, árabes, asiáticos e europeus e configurou, efetivamente, a estrutura de poder mundial durante todo o século 20 e até hoje.     ( Vron Ware)

 

 

Carlos Eduardo Dias Machado*

Ao tratar da importância do conhecimento científico para a população brasileira devemos levar em consideração que os esforços a serem empreendidos para a ampliação do acesso dos negros aos ambientes de produção científica, hoje ocupado majoritariamente por brancos e amarelos, vão além da simples preparação para o atendimento das demandas materiais desse segmento no contexto da atual sociedade tecnológica.

Mais do que isso, atuação nesse campo do conhecimento impacta significativamente no imaginário e na autoimagem da população negra, na medida em que possibilita a seus membros identificarem-se e serem identificados  como pessoas criativas, capazes de produzir conhecimentos considerados relevantes para a humanidade.

Para melhor compreensão do que estamos falando temos que trazer à tona o fato de que a exploração da escravidão da população originária da América e dos africanos, iniciada no século 15 pelos cristãos, construiu um sistema de privilégio aos homens e mulheres brancas no Brasil e no mundo. As bases do capitalismo ocidental utilizou o hard power o poder militar e o soft power, o poder de influenciar outros reinos e países por meios culturais e ideológicos, para a sua riqueza e supremacia mundial. A posição de poder dos brancos (material e simbólico) em nosso país tem este legado que é transmitido e ampliado através das gerações.

O imaginário sobre os asiáticos e o europeus são positivos e isto impacta em como eles se vêem e são vistos. A associação entre tais aspectos implícitos e inconscientes com conhecimento científico, tem uma relação direta com o fato de que o prestígio social adquirido pela ciência colocou as pessoas com “melhor desempenho” nessas áreas em uma condição social também privilegiada (meritocracia e networking), uma vez que o domínio da racionalidade científica em nossa sociedade ainda é sinônimo de superioridade intelectual, a despeito dos recentes avanços trazidos pela psicologia com o conceito das inteligências múltiplas, apresentado por Howard Gardner.

Não podemos deixar de mencionar a histórica participação da própria ciência ocidental na construção de estereótipos negativos em relação aos povos africanos e indígenas. As identidades e expectativas pessoais dos brancos foram moldadas por relações assimétricas de poder. Esta ideologia vinda da Europa (que então dominava o planeta) e Estados Unidos (então império emergente) no século XIX, municiou a elite intelectual branca brasileira com várias teses que defendiam a inferioridade física, moral e intelectual dos negros e indígenas, ampliando com isso, a hierarquia racial e a orientação de políticas governamentais como o incentivo à imigração de brancos de toda a Europa com objetivo de promover o branqueamento da população ─ a essa altura, a população negra e indígena do Brasil (maioria) foi considerada uma barreira ao ideal de progresso e civilização, pautado pelos parâmetros eurocêntricos seguidos pela classe dominante.

O racismo branco apesar das inúmeras desqualificações sofridas, ainda hoje, influencia o imaginário social, e é praticado mesmo em ambientes em que se espera a predominância da racionalidade e a descrença em mitos como na escola e universidade. Desta forma, vale lembrar as declarações do então coordenador do curso de Medicina da Universidade Federal da Bahia, Antônio Dantas em 2008:

O baixo QI dos baianos é hereditário e pode ser verificado por quem convive com pessoas nascidas na Bahia. (…) o berimbau é o tipo de instrumento do indivíduo quem tem poucos neurônios (…) Só sai aquele barulho, pu pu pu pu pu pu. Isso por acaso indica qualidade intelectual muito elevada? Não.

Sua fala tenta justificar o baixo rendimento do curso de medicina nas avaliações do Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes – ENADE do Ministério da Educação. Essa atitude discriminatória tem precedentes na própria história da Faculdade de Medicina, a qual no século 19, quando sediada no Terreiro de Jesus, Pelourinho, foi uma das grandes difusoras das teses pseudocientíficas que atentavam contra a imagem social dos negros e indígenas brasileiros. Raimundo Nina Rodrigues afirmava:

A Raça Negra no Brasil, por maiores que tenham sido os seus incontestáveis serviços à nossa civilização, por mais justificadas que sejam as simpatias de que a cercou o revoltante abuso da escravidão, por maiores que se revelem os generosos exageros dos seus turiferários, há de constituir sempre um dos fatores da nossa inferioridade como povo. Na trilogia do clima intertropical inóspito aos Brancos, que flagela grande extensão do país; do Negro que quase não se civiliza: do Português rotineiro e improgressista, duas circunstâncias conferem a segundo saliente preeminência: a mão forte contra o Branco, que lhe empresta o clima tropical, as vastas proporções do mestiçamento que, entregando o país aos Mestiços, acabará privando-o, por largo prazo pelo menos, da direção suprema da Raça Branca. E esta foi a garantia da civilização nos Estados Unidos.

O que pensar das declarações do prêmio Nobel de medicina e um dos pais da genética, James Watson, no Jornal The Sunday Times, em outubro de 2007:

Todas as nossas políticas sociais são baseadas no fato de que a inteligência deles [dos negros] é igual à nossa, apesar de todos os testes dizerem que não. Pessoas que já lidaram com empregados negros não acreditam que isso [a igualdade de inteligência] seja verdade.

Esse retrospecto nos faz pensar também, como é complexo para as jovens estudantes negras e negros brasileiros terem bom desempenho nas escolas públicas e privadas onde impera a descrença em seu potencial e a expectativa do fracasso pesa como permanente suspeição contra eles. Local onde o ensino de ciências é extremamente eurocêntrico e cuja  pseudoneutralidade da práxis pedagógica não contempla a análise crítica sobre a hegemonia branca da ciência, nem o papel da ciência ocidental na negação da racionalidade dos povos colonizados.

No entanto, nesses espaços, ao invés dessas reflexões, predomina um ensino mecanicista, que privilegia a mera resolução de exercícios, e que é entremeado por histórias triunfalistas das conquistas branca e masculina no campo da ciência. Com efeito, um estudante branco nunca tem vergonha de sua ascendência europeia quando ouvi a história apologética dos europeus, promovendo os avanços da ciência. Entretanto, para as estudantes negras e negros, índios e índias e mesmo as mulheres brancas, fica a seguinte pergunta: por que eles e não nós?

Essas questões emergem nas políticas educacionais desde a sua gênese em nosso país, devido à frequente “assepsia” feita no contar da história da ciência ocidental, que a torna “imune” em relação ao racismo branco e ao sexismo e que omite sua vinculação as propostas expansionistas do imperialismo europeu, o qual com seu caráter exclusivista condicionou à existência da genialidade de referências como Galileu e Newton a não existência de congêneres (Imothep, George Washington Carver e André Rebouças) entre as populações nativas e escravizadas, afetadas pelo colonialismo. Paulus Gerdes, por exemplo, considera que “as ‘histórias’ dominantes da matemática sugerem que (quase) não houve matemática fora da Europa, ‘esquecendo’ de que a colonização contribuiu para a omissão, estagnação e eliminação de tradições científicas nas Américas, África, Ásia e Oceania”.

Todo o conhecimento que recebemos nas escolas e universidades nos é ensinado que tem base greco-romana, como se antes de Grécia e Roma não tivessem existido outras civilizações. O método científico é considerado como a base da ciência moderna, utilizando os princípios da observação e da experimentação. Existe um engano ao afirmar e ensinar que a moderna ciência têm suas raízes na Grécia e Roma, como também é incorreto afirmar que o método científico iniciou-se na Europa com Roger Bacon (1219-1292), o filósofo inglês do século 13, Nicolau Copérnico (1473-1543) o astrônomo teuto-polonês do século 16, com o físico e matemático italiano Galileo Galilei (1564-1642) ou com o filósofo inglês Francis Bacon (1561-1626), Descartes (1596-1650) ou Isaac Newton (1643-1727).

Todas as culturas que desenvolveram grandes construções ou monumentos, domesticaram as plantas, forjaram metais de qualquer composição, desenvolveram diversos tipos de tintas ou corantes, construíram barcos ou navios, compreenderam a astronomia, criaram formas de se tratar doenças, etc., todas estas culturas usaram o método científico.

Nenhum povo ou cultura criou o método científico, isto é uma atribuição humana. Defender que existe somente um método de desenvolvimento científico é deseducador.

Antes de considerar as Grandes Pirâmides do Egito (a única das sete maravilhas do mundo antigo de pé), Sungbo Eredo (a maior construção do mundo) na Nigéria, a grande Muralha da China, a Matemática e os Calendários Maia e Asteca, os templos da Índia, a astronomia dos babilônios, as construções olmecas, como honestamente podemos dizer que apenas os europeus desenvolveram o método científico? Vamos lembrar que a primeira civilização que se tem notícia é a dos Sumérios de c. 3.500 anos a. C., posteriormente temos o Egito (c. 3200 a. C) o Vale do Indo (c. 2500 a.C.) e a Grécia Micênica surge a cerca de 1300 anos antes de Cristo.

O argumento da separação da ciência do mito e do cosmos espiritual surgiu na Grécia e continuou-se a desenvolver na Europa. Este argumento cultural da visão de mundo europeia é de pouca espiritualidade conectada com o universo de outras culturas.

Este argumento é baseado racialmente, já que outras culturas produziram grandes avanços para a ciência. O método científico é a via de acesso ao método humano de desenvolver tecnologia? O cérebro humano foi e sempre será capaz de atingir o processo científico. Nós não teríamos construído a civilização, as artes e as ciências, sem o processo científico. É bom lembrar que os europeus estavam atrasados em comparação com outras civilizações do mundo antigo em relação ao seu desenvolvimento.

O historiador Teophile Obenga traduziu o papiro de Ahmes (ou Rhind) que continha cálculos matemáticos, descobriu que o método científico é de 1650 a. C. Ahmes detalha a solução de 85 problemas de aritmética, frações, cálculo de áreas, volumes, progressões, repartições proporcionais, regra de três simples, equações lineares, trigonometria básica e geometria. Em outras palavras os africanos tiveram a compreensão do método científico e documentaram suas experiências neste papiro, demonstrando que utilizavam o método científico mais de 1000 anos antes dos gregos irem para o Vale do Nilo, aprenderem o conhecimento científico egípcio e 3500 anos antes de Francis Bacon nascer.

A evidência mais antiga do mundo de antiguidade da matemática vem da caverna de Blombos, na África do Sul e possui 100 mil anos de idade, demonstrando que o homo sapiens que evoluiu na África tinha pensamento complexo e abstrato. Os outros artefatos matemáticos mais antigos também tem origem africana. Pelas evidências materiais, ciência e espiritualidade não contradiz uma a outra. Foi através dos missionários e viajantes no século 18 e 19 explorando e conhecendo o interior do continente africano com motivações comerciais, militares, religiosas, geográficas e científicas, que tiveram contatos com a diversidade científica africana, mas por motivos racistas e geopolíticos de dominação, desqualificaram e ocultaram o quanto puderam estes conhecimentos.

Como uma das consequências desse predomínio do eurocentrismo no ensino da ciência temos a falta de identificação dos estudantes negros com as áreas de ciência e tecnologia. Os estudantes negros brasileiros tendem a não escolher cursos ligados à ciência e tecnologia por pelo menos dois motivos: primeiro,  reconhecem de forma pragmática as fragilidades de sua principal fonte de educação formal, a escola pública, cujo ensino de ciências não é satisfatório e, segundo, a falta de um ambiente familiar e social com tradição acadêmica, somado a uma ausência de políticas de popularização da ciência voltadas à conquista desse público, torna as carreiras científicas um objetivo distante para esses estudantes, os quais não conseguem se perceber como futuros cientistas a contribuir para o avanço da sociedade.  Para muitos deles, a conquista do ensino fundamental e médio já é um triunfo suficiente.

Por fim, avalio que a reversão desse quadro de exclusão perpassa pela luta do aumento de qualidade da educação básica e a adoção de políticas afirmativas que, por exemplo, concebam projetos de popularização da ciência que levem em consideração as especificidades do público afrodescendente, maioria da população. Em tais projetos, caberia, por exemplo, a exposição da matriz civilizatória dos povos africanos e afrodescendentes para a ciência e tecnologia, ao invés de privilegiar uma “história única” que coloca a ciência em geral como um atributo essencialmente branco, desconsiderando o fato de que, assim como a humanidade, as primeiras civilizações, os primeiros passos da ciência, foram dados no continente africano, ou seja, no Egito e não na Grécia, conforme atestou o próprio “pai da História”, o grego Heródoto, que ao visitar o Egito antigo nos legou duas informações que contrariam os eurocêntricos: os egípcios tiveram a primazia da ciência e eles eram negros. Nesse sentido cito o grande historiador burkinabe, Joseph Ki-Zerbo, “não vejo por que razão os primeiros humanos que inventaram a posição ereta, a palavra, a arte, a religião, o fogo, os primeiros utensílios, os primeiros habitat, as primeiras culturas, deviam ficar fora da história!”

Saliento que, o que está posto não é a dúvida quanto ao papel estratégico ou o valor das contribuições da ciência e tecnologia, mas sim, os danos sociais do emprego do privilégio branco e do sexismo, enquanto instrumentos de interdição à ampliação do número de pessoas a atuarem nessas áreas. Para países como o Brasil 6ª economia mundial que pleiteia se constituir em uma nação competitiva em termos de produção científica e tecnológica, não cabe o desperdício de talentos das mulheres e homens negros em função da manutenção de uma quase que exclusividade de brancos e amarelos na gestão e produção da ciência e tecnologia brasileira.

*Mestre em História pela Universidade de São Paulo; Alumni do Programa Internacional de Bolsas de Pós-Graduação da Fundação Ford, Professor de cursos de formação de docentes, Professor da Secretaria Municipal de Educação de São Paulo e escritor do livro Negras e Negros Inventores, Cientistas e Nobéis (no prelo).

Referências

ALMEIDA, Manoel de Campos. A MAIS ANTIGA MANIFESTAÇÃO DE ATIVIDADE MATEMÁTICA. In: Revista Educação em Movimento. Vol. IV, nº 11, Maio-Agosto 2005. Curitiba, Champagnat, 2005.

file:///C:/Users/pc/Downloads/A%20MAIS%20ANTIGA%20MANIFESTA%C3%87%C3%83O%20DE%20ATIVIDADE%20MATEM%C3%81TICA.pdf

 

FOLHA DE SÃO PAULO.

http://www1.folha.uol.com.br/folha/ciencia/ult306u337682.shtml

e http://www1.folha.uol.com.br/folha/ciencia/ult306u337682.shtml Acessado em 30/5/2013.

 

GERDES, Paulus. Sobre o despertar do pensamento geométrico. Curitiba: Editora da UFPR, 1992.

 

HERODOTO. História. 2. ed. São Paulo: Ediouro, 2001.

 

KI-ZERBO Joseph. Para quando a África? Entrevista com René Holenstein. Rio de Janeiro: PALLAS, 2006.

 

MACHADO. Carlos. Negras e negros inventores, cientistas e nobéis. (no prelo) 2013.

 

OBENGA, Théophile. L’Egypte Pharaonique Tutrice de la Grece de Thales a Aristote, Ethiopiques nº 52, 1er semestre 1989- vol. 6 n° 1

http://www.egyptologie.be/L_Egypte_Tutrice_de_la_Grece.htm Acesso em 10/10/2005.

 

PASSONI, Irma Rossetto. Cidadania em C&T: uma mudança de paradigma. Revista Parcerias Estratégicas, n. 20 (Seminários Temáticos para a 3a Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação), Centro de Gestão e Estudos Estratégicos, Brasília, junho de 2005.

 

RODRIGUES, Raimundo Nina. Africanos no Brasil. (1932) São Paulo: Madras, 2008.

 

WARE, Vron. (org.) Branquidade: identidade branca e multiculturalismo. Rio de Janeiro: Garamond, 2004.

 


*Mestre em História pela Universidade de São Paulo; Alumni do Programa Internacional de Bolsas de Pós-Graduação da Fundação Ford, Professor de cursos de formação de docentes, Professor da Secretaria Municipal de Educação de São Paulo e escritor do livro Negras e Negros Inventores, Cientistas e Nobéis (no prelo).

O novo jeito de usar jeans

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Jeans é sempre o clássico de todas as temporadas com diversas lavagens, cortes e texturas que deixa mais moderna e democrática e faz combinar com qualquer peça das mias básicas até as sofisticadas agradando todos os estilos.

 

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Violência em São Paulo: trânsito mata mais brancos e negros são os que mais morrem por homicídio

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pesquisa “Mortes violentas na cidade de São Paulo em 2011” apresenta um panorama das causas e perfil das vítimas de agressões, acidentes de trânsito, intervenções policiais e eventos de intenção não determinada.

Entre os dados observados, chama atenção que o homicídio é a principal causa de morte não natural de negros, enquanto os acidentes de trânsito provocam a maioria das mortes não naturais entre a população branca.

O estudo é baseado nas informações mais recentes divulgadas pela Secretaria Municipal de Saúde.

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As informações são do instituto Sou da Paz.

 

Ritos de passagem: resgate ao imaginário africano

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Cansado da ausência das lendas africanas na literatura, jovem autor negro cria uma mitologia fictícia para falar sobre os grandes desafios da vida (clique nas fotos abaixo para ampliar).

“Este livro não é mais um épico fantasioso com Orixás”, esclarece Fábio Kabral ator e dublador que cursou Letras na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP. Ele decidiu aprofundar o seu conhecimento sobre lendas africanas e criar sua própria mitologia, no entanto, o aspecto lendário é apenas  um pano de fundo que dá cores e texturas aos dilemas causados e sofridos pelo ser  humano quando ele passa para fase adulta.  Resultado de muito estudo e pesquisa, o livro tem uma leve influência da vasta e rica coleção de lendas do continente africano, mas não só de lá .  O primeiro personagem do livro foi escrito em 2003, mas só agora em 2014 o livro foi lançado oficialmente, num grande evento realizando na cidade de São Paulo

Mundo Negro –  Você estudou profundamente a cultura africana antes de escrever. O seu livro é uma obra ficcional?

Fábio Kabral – Meu livro é ficcional. É um universo sem nome cujos povos e sociedades foram inspirados principalmente nas antigas lendas e histórias dos grupos lunda e tchokwe, de Angola com umas pitadas aqui e ali de outros povos do continente. Além de outras influências.

Apesar da questão das mitologia e lendas africanas, a obra não tem a ver com religião, sobre tudo o Candomblé.

A grande verdade, é que o ambiente, a mitologia não passam de pano de fundo, de passam de mero detalhe. O núcleo da história são os dramas individuais dos personagens, suas fúrias e ojerizas internas, suas dificuldades de lidar consigo próprios e com o ambiente hostil ao seu redor.

O que te levou a escrever a obra?
Sempre gostei de gibis, games, RPGs e literatura fantástica. E até hoje nunca vi representação pertinente dos povos do continente, nunca vi histórias fantásticas cujas sociedades e costumes sejam inspirados nos imaginários de África. Isso sempre me incomodou e me incomoda até hoje. Além disso, sempre gostei de criar mundos e escrever histórias, sempre fui fascinado na criação de novas realidades; assim, uni essas duas questões que me são mais pertinentes e dei início aos livros.

httpv://www.youtube.com/watch?v=Xl22ELzKwQw

 Eu via uma foto sua, acredito que tirada durante as passeatas de novembro, mês da consciência negra, onde você carregava um pôster que falava sobre os brancos se apropriarem da estética e religião afro. Branco não tem legitimidade para falar sobre religiões de matriz africana?

O problema não é a pessoa branca na nossa religião, usando dreads e etc. O problema é a apropriação das culturas africanas e indígenas ou quaisquer outras culturas tradicionais, com as quais lucram como se fosse criação deles, sem o devido crédito e respeito. Nas religiões de matriz africana temos sacerdotes de todas as etnias, que são muito respeitados e que tratam a ancestralidade africana com todo o respeito que ela merece.

 Afinal, sobre o que é o “Ritos de Passagem”? Quanto tempo você levou para escrevê-lo?

Ritos de Passagem é só o início dos trabalhos. Ritos de Passagem é sobre a jornada de superação em meio a um turbilhão de cobranças, expectativas e normas de conduta. Ritos de Passagem é sobre o desafio de encarar a si próprio e se tornar uma pessoa adulta – de uma forma ou de outra. Ritos de Passagem é uma história de ficção fantástica inspirada nas antigas lendas de África. A primeira personagem da história eu criei por volta de 2003; desde então, venho desenvolvendo os personagem e elaborando as primeiras partes dos conjuntos de histórias desse universo sem nome.

Você contou com a ajuda de outras pessoas?
Recebo ajuda de várias pessoas, no que diz respeito aos aspectos mais práticos de publicação e divulgação; a elaboração dos personagens, das histórias e do universo sem nome é por minha conta mesmo.

Quem quiser adquirir o livro, o que tem que fazer?
 Por enquanto, quem quiser adquirir o livro Ritos de Passagem, deve contatar diretamente a GIOSTRI EDITORA, por meio de seu site (http://www.giostrieditora.com.br/), página no facebook (https://www.facebook.com/giostrieditora), e-mail e telefone.

Outras opções:

http://www.livrariaultimainstancia.com.br/produto/176773/Ritos+De+Passagem

http://www.livrariacultura.com.br/scripts/resenha/resenha.asp?nitem=42197207

http://www.martinsfontespaulista.com.br/ch/prod/460824/RITOS-DE-PASSAGEM.aspx

http://www.livrus.com/produto/176773/Ritos+De+Passagem

http://www.livrariaoperamundi.com.br/produto/176773/Ritos+De+Passagem

Serviço:
RITOS DE PASSAGEM
AUTOR: FÁBIO KABRALISB
EDITORA: GIOSTRI
PREÇO:  R$ 42,00

Praticantes de candomblé e evangélicos se unem contra intolerância religiosa

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Pela primeira vez nos últimos 14 anos, líderes do candomblé, da umbanda e da Igreja Evangélica Neopentecostal se reúnem em um mesmo evento. Organizado pela Comissão de Combate à Intolerância Religiosa (CCIR), o show Cantando a Gente se Entende trará bandas de várias religiões para celebrar a convivência entre os credos e a liberdade religiosa.

O evento marca as comemorações do Dia Nacional da Liberdade Religiosa, celebrado hoje (21) e criado em homenagem à sacerdotisa do candomblé Gildásia dos Santos. Ela foi vítima de perseguição por uma igreja neopentecostal e enfartou ao ser acusada de charlatanismo, em 2000.

Nos últimos anos, o interlocutor da CCIR babalawo Ivanir dos Santos avalia que fiéis de religiões diferentes se tornaram mais tolerantes, mas que, institucionalmente, igrejas ainda são hostis a segmentos religiosos de matriz africana, principalmente. “Satanizam nossas crianças na escola, demonizam nossa cultura religiosa e popular como o samba e a capoeira e nossos rituais”, disse.

Instalada no Brasil há 12 anos, a Igreja Evangélica Voz de Deus, da corrente neopentecostal, será a primeira a se juntar ao evento da comissão. O pastor presidente Ayo Balogun, de origem nigeriana, avalia que é preciso vencer as barreiras do preconceito no Brasil. “As igrejas tem que unir os seres humanos e não deixar de amar pessoas que não praticam a mesma fé que a nossa”, declarou.

Para Ivanir dos Santos, a adesão da igreja de Ayo Balogun à comemoração é o primeiro passo para sensibilizar outras igrejas a se juntar contra a intolerância religiosa. “O gesto desse pastor é uma semente que tende a crescer porque muitos evangélicos não têm postura preconceituosa”, disse.

O evento Cantando a Gente se Entende, começa na sexta-feira (24), a partir das 18h, em frente ao Teatro Municipal do Rio de Janeiro, na Cinelândia, no centro da cidade. Estão confirmadas a presença do ogan Tião Casemiro, ogan Taina, padre Omar e banda Afro Gospel. O arcebispo da cidade do Rio, Dom Orani Tempesta, nomeado cardeal na semana passada, foi convidado, mas ainda não confirmou presença.

Hoje sacerdotes de várias religiões integrantes da CCIR  participam de um culto ecumênico no Templo Religião de Deus, em Campo Grande, na zona oeste. Além de candomblecistas, umbandista e neopentecostais, são esperados espíritas, muçulmanos, budistas, ciganos, praticantes de wicca e seguidores da Fé Bahá’i e hare krishnas.

As informações são da Agência Brasil.

10 fatos interessantes sobre Martin Luther King

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Na terceira segunda-feira do mês de janeiro, os EUA comemoram o dia de Martin Luther King. A data é próxima ao seu aniversário, 15 de janeiro.

Abaixo 10 fatos que você talvez não saiba sobre essa personalidade histórica.

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1)      Apesar de ter sido assassinado com 39 anos, a autopsia revelou que Martin Luther King, tinha um coração tão desgastado por conta do stress que era similar ao de uma pessoa de 60 anos.

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2)      O nome original de King era Michael King Jr. Em 1931. Seu pai se tornou batista e adotou o nome de Martin Luther King Sr.  Quando King fez 6 anos, seu pai mudou seu nome na certidão de nascimento para Martin Luther King Jr.

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3)      A inteligência de MLK fez com que ele entrasse na  Faculdade Morehouse com apenas 15 anos de idade.

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4)      Ele se formou em sociologia e teologia. Em 1955  King concluiu seu doutorado na Universidade de Boston.

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5)      Quando MLK se casou com sua noiva Coretta, o casal foi rejeitado por um hotel só permitido para brancos. Os dois decidiram então, passar a noite em uma casa funerária que permitidas para negros

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6)      Há aproximadamente 900 ruas com o nome de Martin Luther King. 40 estados americanos tem pelo menos uma rua com seu nome.

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7)      De 1957 até sua morte em 1968, King proferiu mais de 2500 discursos, escreve 5 livros e inúmeros artigos para revistas e jornais.

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8)      Com apenas 35 anos King foi a pessoa mais jovem a ganhar o Prêmio Nobel.

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9)      De acordo com o instituto de pesquisa Gallup, King é a segunda pessoa mais admirada do século XX, perdendo apenas para Madre Teresa.

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10)   King é um dos 10 mártires mundiais do século 20 que estão retratados em estátuas em tamanho natural  na entrada da   Abadia de Westminster, em Londres.

Este texto foi originalmente publicado no site americano Atlanta Black Star

“Além de preto, é viado”

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Kaique Augusto Batista dos Santos, 16 anos
No sábado, 11 de janeiro, Kaíque (16 anos) foi encontrado morto, sem os dentes, com uma barra de ferro na perna e com outros sinais de tortura.

Por Higor Faria

Kaíque era negro, gay e provavelmente não pertencia às classes com maior poder aquisitivo. Na nossa sociedade branca heteronormativa, Kaíque fazia parte de três minorias e acumulava três tipos de preconceito: o de raça, o de sexualidade e o de classe social. Talvez essa situação fosse “amenizada” nos ambientes homossexuais e ele “só” sofresse racismo. E nos ambientes negros, “só” de homofobia.

Mesmo assim, não deve ter sido nada fácil encontrar um lugar que fosse acolhido plenamente e se sentisse protegido — se é que encontrou. Como tantos outros em nosso país, ele fazia parte de um grupo que é triplamente estigmatizado, invisibilizado e colocado em posição vulnerável. Não é a primeira vez que contam a história de Kaíque, mas a gente nunca deu a mínima. O Estado também não. Afinal, a vida de quem é preto vale menos — negros são 70% das vítimas de homicídio. A vida de quem é gay vale tão pouco quanto — os casos de assassinatos contra homossexuais triplicaram de 2007 a 2012. E a vida de quem é pobre segue na mesma cotação. Se a pessoa é preta, gay e pobre, o que não valia quase nada é dividido por três. Nem lágrima cai dos nossos olhos, que dirá uma comoção nacional.

E a regra é clara: se não tem valor, é deixado de lado. Invisibilizado. Não se considera nem nas estatísticas: não há recorte racial nos assassinatos registrados como motivados por homofobia, bem como não há recortes de sexualidade nos assassinatos registrados como de crime racial. E isso é uma coisa séria! Não tendo esses números, não se sabe e não se olha pra onde negros homossexuais estão sendo mais assassinados, não se reconhece os preconceitos da nossa sociedade, não se enxerga a dimensão do problema social e não há movimentação para resolvê-lo.

O resultado é esse aí registrado como suicídio. Como disse uma amiga minha “dizer que foi suicídio é como dizer que ele pediu por isso”. Muita gente acredita que por ser preto e gay ele pediu. Mas ele não pediu. Kaíque e tantos outros não pediram pra nascer numa sociedade que estigmatiza o preto, o gay e o pobre. E isso tudo é culpa do descaso do Estado e do meu, do seu e do preconceito dessa pessoa que tá aí ao seu lado. O Estado não criminalizou a homofobia, não aplica efetivamente as leis anti racismo, não educa contra o preconceito. Eu, você e a pessoa aí do lado não pressionamos o governo, os legisladores e as instituições, não denunciamos e ainda negamos quando algum oprimido acusa uma opressão. (In)Diretamente, todos somos torturadores dos jovens negros gay assassinados nesse país.


Higor Faria é preto, publicitário, estuda masculinidade negra e escreve no https://medium.com/@higorfaria

Mulatólogo não é profissão, é machismo

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Por Charô Nunes

É com tristeza que fiquei sabendo sobre a profissão de “mulatólogo”. O termos foi criado por Julio César, homem negro que se dedica a agenciar e classificar mulheres pretas. Sua especialidade é basicamente a de alimentar o gueto midiático a que somos confinadas, nos “preparando” para trabalhar durante o carnaval e em shows de “brasilidade”. E como tudo que é ruim pode piorar, é com revolta que recebo a notícia que ele pretende processar por racismo (!!!) uma mulher negra (!!!) que se manifestou contra o termo em seu blog. Nesse caso, apesar de a ameaça nos querer fazer crer que se trata de uma questão de raça, estamos falando de gênero.

A profissão de mulatólogo torna inviável qualquer ressignificação do termo mulata, que apesar de todos os esforços das passistas não consegue escapar de sua origem. É como se fosse possível falar de um sommelier ou especialista de mulas e ao mesmo tempo nos querer fazer crer que isso não é ofensivo. E não adianta mudar o nome da coisa, o passistólogo vai continuar rotulando, classificando e agenciando mulheres pretas de acordo com sua idade e tipo de corpo. Continuará a nos transformar em produto de exportação, hiperssexualizadas, prontas para sermos consumidas aqui ou no estrangeiro. Estamos falando de machismo.

O mulatólogo colocando em risco um de nossos principais compromissos éticos que é o de não tratar gente como coisa. Se aproxima dos anúncios publicitários machistas que recorrem ao artifício de comparar mulher a produtos para demonstrar a ideia de que existiriam melhores ofertas. Essa estratégia, apesar de banal, é gravíssima: algumas mulheres seriam melhores que outras assim como alguns produtos. Isso se dá por meio da padronização daquilo que seria uma mulata, feito a partir de critérios machistas desse homem que se dispõe a selecioná-las a partir de critérios que não serão estabelecidos pelas passistas. Para isso existe o especialista.

Nós mulheres negras estamos acostumadas com isso. Esse ardil não é muito diferente de vender pessoas como peça, seja durante os 350 anos de escravidão. Estamos falando de transformar crianças, mulheres e homens negros em objetos, passíveis de serem comercializados, classificados e dispensados como lixo. Produtos que podem ser submetidos ao desejo de outrem não importa quando e com que finalidade. Estamos falando de deixar de ser gente e virar coisa, sem direito à voz e vontade. Pronto para ser classificado e rotulado. Como homem negro, esperamos que o mulatólogo entenda sobre qual dor estamos falando. Porque ela dóinem nossa carne e dói na dele também.

É por isso que, para que a profissão de especialista em mulatas exista, nós mulheres negras temos de abdicar de nossa humanidade ou em última instância nos calar diante da prática machista de classificar mulheres para este ou aquele fim de acordo com a cor da pele, idade e tipo de corpo. É por isso que, como mulher negra e em concordância com muitas outras, considero antiético que exista uma mulatologia, mulatólogo enfim. Sobretudo agora que uma comentarista está sendo ameaçada de processo por manifestar sua opinião contra esse acinte.

Como feminista, considero a transformação da mulata em produto exótico de época, submetido a classificações a análises, como problemática. Nós temos voz, vontade, livre árbítrio. Somos muito mais que uma área de conhecimento, somos gente. E justamente por isso não aceitamos que nossos corpos sejam avaliados, que sejamos hipessexualizadas ou que nos seja dito quando e onde podemos manifestar nossas opiniões contra aquilo que é publica e notoriamente machismo. Isso é defesa, isso é sobrevivência. Ela se dá nas ruas mas também sna definição de conceitos e termos que versam sobre nós.

O mulatólogo, diante de tanto rebuliço, comunicou em seu facebook que pretende se reunir com representantes do movimento negro para discutir o termo. Isso é alguma coisa. Esperamos que comece por retirar a ameaça de processo e ler com mais apuro as críticas dos seus comentaristas e de todas nós que estamos nos manifestando. Porque a mulher que deu sua opinião também merece ser ouvida tanto quanto qualquer outro militante. Tanto quanto outros comentaristas homens que disseram o mesmo. Por mais que isso pareça estranho aos olhos de alguns, ela também é movimento negro. Todas somos, dentro e fora da rede, nas pequenas ações, nas conversas com amigos, dentro e fora do carnaval, na escrita, na leitura e nos comentários de blogs.

E a mensagem é inequívoca e simples e todas nós entendemos muito bem: mulatólogo não é profissão, é machismo. Silenciar criticas que discordam de seu ponto de vista de maneira intimidatória também.

Charô Nunes escreve nos blgos Blogueiras Negras e  Indigestivos Oneirophanta.

Mulatólogo não é profissão, é machismo

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Por Charô Nunes

É com tristeza que fiquei sabendo sobre a profissão de “mulatólogo”. O termos foi criado por Julio César, homem negro que se dedica a agenciar e classificar mulheres pretas. Sua especialidade é basicamente a de alimentar o gueto midiático a que somos confinadas, nos “preparando” para trabalhar durante o carnaval e em shows de “brasilidade”. E como tudo que é ruim pode piorar, é com revolta que recebo a notícia que ele pretende processar por racismo (!!!) uma mulher negra (!!!) que se manifestou contra o termo em seu blog. Nesse caso, apesar de a ameaça nos querer fazer crer que se trata de uma questão de raça, estamos falando de gênero.

A profissão de mulatólogo torna inviável qualquer ressignificação do termo mulata, que apesar de todos os esforços das passistas não consegue escapar de sua origem. É como se fosse possível falar de um sommelier ou especialista de mulas e ao mesmo tempo nos querer fazer crer que isso não é ofensivo. E não adianta mudar o nome da coisa, o passistólogo vai continuar rotulando, classificando e agenciando mulheres pretas de acordo com sua idade e tipo de corpo. Continuará a nos transformar em produto de exportação, hiperssexualizadas, prontas para sermos consumidas aqui ou no estrangeiro. Estamos falando de machismo.

O mulatólogo colocando em risco um de nossos principais compromissos éticos que é o de não tratar gente como coisa. Se aproxima dos anúncios publicitários machistas que recorrem ao artifício de comparar mulher a produtos para demonstrar a ideia de que existiriam melhores ofertas. Essa estratégia, apesar de banal, é gravíssima: algumas mulheres seriam melhores que outras assim como alguns produtos. Isso se dá por meio da padronização daquilo que seria uma mulata, feito a partir de critérios machistas desse homem que se dispõe a selecioná-las a partir de critérios que não serão estabelecidos pelas passistas. Para isso existe o especialista.

Nós mulheres negras estamos acostumadas com isso. Esse ardil não é muito diferente de vender pessoas como peça, seja durante os 350 anos de escravidão. Estamos falando de transformar crianças, mulheres e homens negros em objetos, passíveis de serem comercializados, classificados e dispensados como lixo. Produtos que podem ser submetidos ao desejo de outrem não importa quando e com que finalidade. Estamos falando de deixar de ser gente e virar coisa, sem direito à voz e vontade. Pronto para ser classificado e rotulado. Como homem negro, esperamos que o mulatólogo entenda sobre qual dor estamos falando. Porque ela dóinem nossa carne e dói na dele também.

É por isso que, para que a profissão de especialista em mulatas exista, nós mulheres negras temos de abdicar de nossa humanidade ou em última instância nos calar diante da prática machista de classificar mulheres para este ou aquele fim de acordo com a cor da pele, idade e tipo de corpo. É por isso que, como mulher negra e em concordância com muitas outras, considero antiético que exista uma mulatologia, mulatólogo enfim. Sobretudo agora que uma comentarista está sendo ameaçada de processo por manifestar sua opinião contra esse acinte.

Como feminista, considero a transformação da mulata em produto exótico de época, submetido a classificações a análises, como problemática. Nós temos voz, vontade, livre árbítrio. Somos muito mais que uma área de conhecimento, somos gente. E justamente por isso não aceitamos que nossos corpos sejam avaliados, que sejamos hipessexualizadas ou que nos seja dito quando e onde podemos manifestar nossas opiniões contra aquilo que é publica e notoriamente machismo. Isso é defesa, isso é sobrevivência. Ela se dá nas ruas mas também sna definição de conceitos e termos que versam sobre nós.

O mulatólogo, diante de tanto rebuliço, comunicou em seu facebook que pretende se reunir com representantes do movimento negro para discutir o termo. Isso é alguma coisa. Esperamos que comece por retirar a ameaça de processo e ler com mais apuro as críticas dos seus comentaristas e de todas nós que estamos nos manifestando. Porque a mulher que deu sua opinião também merece ser ouvida tanto quanto qualquer outro militante. Tanto quanto outros comentaristas homens que disseram o mesmo. Por mais que isso pareça estranho aos olhos de alguns, ela também é movimento negro. Todas somos, dentro e fora da rede, nas pequenas ações, nas conversas com amigos, dentro e fora do carnaval, na escrita, na leitura e nos comentários de blogs.

E a mensagem é inequívoca e simples e todas nós entendemos muito bem: mulatólogo não é profissão, é machismo. Silenciar criticas que discordam de seu ponto de vista de maneira intimidatória também.

Charô Nunes escreve nos blgos Blogueiras Negras e  Indigestivos Oneirophanta.

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