Recentemente, o influenciador Adalberto Neto recebeu uma notificação judicial por ter divulgado um caso de fraude no sistema de cotas raciais do serviço público. O advogado da exposta, além de  exigir a exclusão dos vídeos, justificou a “negritude” de sua cliente usando um sistema de medição de melanina  chamado “escala de Fitzpatrick”. Este recurso é, para mim, novo no repertório dos fraudadores de cotas raciais. 

Em resumo, a escala de Fitzpatrick diz sobre a capacidade das tonalidades de pele assumirem outros tons quando em contato com a luz solar. No concurso, em que foi empossada, a mulher alegou ser “parda”, mas como foi mostrado por Neto, através de fotos, o fenótipo da moça é correspondente ao que grande parte da sociedade leria como branco. Não é novidade que pessoas lidas socialmente como brancas se classifiquem como pardas para se beneficiarem de políticas de reparação racial,vide o caso ACM Neto. Assim, estas pessoas estariam, também, autoclassificadando-se como “negras pardas”, desde que se entende que o conjunto dos negros, no Brasil, é formado por pretos + pardos. Eis que surge a necessidade de discutirmos o limite entre o “branco” e o “pardo”, e assim discutirmos, por consequência, a categoria “pardo”. 

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A categoria “parda”, no Brasil, sempre foi controversa, sendo vista por alguns estudiosos do tema como “saco de gatos”. Em suma, se classificaria como “pardo” o que não se sabe ao certo o que é. Porém, já há algum tempo, há um consenso entre estudiosos da questão racial de que “pardos” representam a parcela da população que embora tenham a pele mais clara em comparação aos pretos, possuem descendência africana visível no fenótipo. Seria por esta marca da descendência africana que os autodeclarados “pardos” sofrem discrminação racial. Como há um entendimento, questionável, de que o pardo é alguém que está entre o “branco e o preto” muitos brancos utilizam da categoria para obter vantagens em concursos e universidades públicas. A justificativa é de que eles não seriam tão alvos como brancos europeus. Porém, devemos lembrar que raça é uma conformação histórica fazendo com que as leituras de branco e negro sejam definidas pelo contexto histórico do país. 

No Brasil, país com uma constituição histórica racial diferente de países europeus e norte-americanos, a leitura do que seria o branco dispensa a necessidade  de uma pele muito alva. Pois como nos lembra o professor, e agora ministro, Silvio Almeida, o branco no Brasil foi inventado com a ajuda da miscigenação e das políticas de branqueamento. Logo, uma pessoa para ser lida socialmente como branca não precisaria ter necessariamente a pele alva, pois ela reúne características que o conjunto da sociedade entende que  a aproximam mais do branco do que do negro. Ademais, devemos lembrar que existem distinções entre as tonalidades de pele consideradas brancas no Brasil. O branco é uma construção social, e se por um lado a miscigenação produziu sujeitos de pele não retinta lidos como negros, por outro ela também criou pessoas de pele não alva entendidos como brancas. 

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