A BATEKOO, plataforma de entretenimento, cultura e educação voltada para as comunidades negra e LGBTQIAPN+ no Brasil, anunciou o adiamento de seu festival anual devido à falta de patrocínio. Na decisão, a equipe expõe o racismo estrutural que ainda guia o mercado publicitário, revelando nuances do real compromisso com a diversidade e a inclusão.
Inicialmente marcado para 23 de novembro, o evento, em sua terceira edição, não acontecerá após um esforço que envolveu a elaboração de cases impactantes e uma intensa prospecção comercial, buscando apoio junto a mais de 100 marcas e plataformas nacionais. A ausência de patrocinadores tornou a realização do festival inviável para 2024.
Notícias Relacionadas
Racionais MC's comemora 35 anos com exposição inédita e gratuita no Museu das Favelas
Brasil reduz pobreza em 2023, mas desigualdade racial ainda é alarmante
A equipe lamenta a decisão e destaca o impacto da falta de apoio financeiro para a marca que, ao longo de uma década, tem promovido a cultura negra e o empreendedorismo periférico em mais de dez estados brasileiros. Em carta aberta, agradeceu à comunidade e aos parceiros fiéis, incluindo marcas como NIVEA, Adidas e Shotgun, que têm apoiado o projeto ao longo dos anos.
Maurício Sacramento, fundador e CEO da BATEKOO, se pronunciou sobre o tema. “É muito bom falar de vitórias, mas também é muito importante falar sobre derrotas. O Festival da BATEKOO foi adiado por falta de patrocínio e tem sido frustrante trabalhar com cultura no Brasil. Sobretudo, se você é uma liderança negra. Se entregamos o mesmo (ou mais) em relevância, números e alcance, por que os festivais propostos por e para a comunidade negra do Brasil ainda estão sendo esquecidos nas decisões de grandes empresas em onde investir?”, questiona.
“Estamos em 2024 comemorando 10 anos de existência e de transformação em um movimento genuíno, diverso e que muda a vida de muita gente, e ainda assim, a gente se vê inseguro com o futuro constantemente. A construção de um festival é um trabalho árduo de um ano que se materializa em 1 dia, e ver essa comemoração sendo adiada é desmotivador, mas, a única certeza que temos é que não paramos por aqui. Contamos com a troca genuína que temos com nossa comunidade para passar por esse momento difícil”, afirma.
Artur Santoro, curador e sócio da BATEKOO, amplia a discussão sobre o apagamento de iniciativas pretas que frequentemente são ignoradas em favor de projetos que não refletem a verdadeira diversidade do nosso país. “O mais difícil é saber que, ainda hoje, existem marcas no Brasil que não cumprem nem 10% de pessoas negras em sua equipe, muito menos nas agências contratadas. […] 90% dos contratos de marcas que a BATEKOO fechou foram encabeçados pelas poucas (e às vezes únicas) pessoas negras existentes na empresa”, relata.
Artur ressalta que, em muitos casos, a ausência dessa representatividade afeta diretamente a distribuição de verbas para projetos culturais voltados para a comunidade negra e LGBTQIAPN+. “O pacto narcisístico da branquitude – mesmo que silencioso – pode até levantar a bandeira antirracista, mas não se reflete na hora de desenhar as verbas milionárias anuais. É importante dizer que neste ano a nossa régua de logos diminuiu lá pelos 70%. A pauta é nossa, mas também coletiva. Quando foi que os projetos negros perderam a relevância cultural a ponto de não conseguirem nenhum apoio, muito menos um patrocínio?”.
Apesar dos desafios frequentes e inúmeros, a BATEKOO garante que não encerra sua jornada aqui e afirma que o festival retornará em 2025. Aos que já adquiriram ingressos para o evento de 2024, a equipe irá informar os procedimentos para reembolso ou reaproveitamento.
Notícias Recentes
Projeto Paradiso e Empoderadas anunciam residência para roteiristas negras na Espanha
Médico recém-formado é condenado a pagar R$ 550 mil por fraude em cotas raciais na UFAL