O livro infantil “Amoras“, escrito pelo rapper Emicida, foi alvo de vandalismo e racismo religioso pela mãe de um aluno, em Salvador. As páginas foram riscadas com versículos da bíblia e manifestação de ódio contra os orixás. Na noite desta terça-feira (7), o Emicida se pronunciou sobre o caso. “Não é a primeira vez que isso acontece”, diz no vídeo publicado no Instagram.

“Eu confesso pra vocês, que as minhas reações com relação a isso já foram várias. No começo, um pouco mais imaturo, fiquei com raiva, levei pro pessoal. Mas era maior que uma questão pessoal, então depois eu fiquei triste. Porque é de entristecer viver entre radicais, que se propõe a proibir e vandalizar livros infantis. Livros. Sobretudo um tão inofensivo como esse: Amoras. Quer dizer, inofensivos pros não-racistas”, conta o rapper, que relata sentir tristeza neste momento.

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“A tristeza que eu sinto é por essas pessoas, que querem que a sua religião, no caso a cristã, protestante, conhecidos como evangélicos, seja respeitada. E deve ser respeitada. Mas não se predispõe nem por um segundo, a respeitar outras formas de viver, de existir, de manifestar sua fé”, critica a intolerância por parte de outros religiosos.

Foto: Arquivo pessoal

Apesar do crime, Emicida celebra a vitória do livro. “Não só por se tornar um best-seller comercial nos últimos tempos. Ele figurou durante alguns anos como o livro infantil mais vendido no país. Ele é uma vitória porque joga luz num assunto crucrial, que graças a muito gente foda, vem sendo cada vez mais discutido e fazendo com que os pequenos passos de criança das ‘Amoras’ vai fazendo que o mundo melhore”.

O músico aproveitou para agradecer cada pessoa que comprou o livro e o professor que usa a obra com seus alunos. “Eu sei da luta que vocês enfrentam. Das pessoas de todas as cores e de todas as fés, que decidiram afirmar através desse gesto que o país é imenso, e nós enquanto brasileiros, por consequência, precisa ser. Vocês são gigantes e as nossas crianças, graças às posturas de vocês, também serão. Deixamos essa pequenez sórdida, aqueles que são barulhentos, mas são vazios”, afirma. 

Para encerrar, Emicida questiona os seguidores evangélicos para uma reflexão. “Se Deus é amor em sua crença e eu não duvido disso, por que tantas manifestações de ódio encontram abrigo e segurança entre os seus? […] Vocês são capazes de criar um ambiente que respeite a fé alheia? Viva o Candomblé! Viva a Umbanda! Viva as religiões de matriz africana e indígena”.

Foto: Arquivo pessoal

Entenda o caso

O livro “Amoras” foi encontrado vandalizado na segunda-feira (6), pela escola particular Clubinho das Letras. A obra é usada nas práticas de ensino, indicada com sugestão para o projeto Ciranda Literária. Em entrevista ao g1, a direção assegurou que a obra será reposta para que os alunos continuem tendo acesso ao conteúdo e a família será convocada para uma reunião.

O portal também encontrou em contato a mulher que vandalizou o livro. Ela não quis ser identificada, mas diz que não considera o caso como intolerância religiosa, pois escreveu no livro que ela mesma comprou e não se negou a levá-lo à escola. Ela também afirma que só comprou o livro sugerido por achar que seriam abordadas apenas questões raciais. 

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