“Disseram que negros deveriam andar”: estudante nigeriana caminhou por 20 horas para sair da Ucrânia

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“Disseram que negros deveriam andar”: estudante  nigeriana caminhou por 20 horas para sair da Ucrânia
A estudante de medicina nigeriana Jessica Orakpo - Foto: Reprodução Instagram

O mundo declarou apoio a Ucrânia desde que o país europeu foi atacado pelo Rússia na semana passada, porém, graças às redes sociais, outro alerta tem sido feito: o racismo de autoridades ucranianas em relação aos imigrantes negros que tentam sair do país.

Durante o primeiro final de semana desde a invasão do exército russo dentro do território ucraniano, começaram a circular imagens de africanos residentes na Ucrânia, muito estudantes e até mulheres com crianças no colo sendo impedidos de ter acesso aos trens que levavam passageiros a fronteira do país atacado. Um registro em vídeo mostrou um oficial ordenando que uma jovem negra saísse da escada de acesso a um trem para que uma branca ocupasse seu lugar.

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Estima-se que quase 1 milhão de civis ucranianos e estrangeiros fugiram em busca de asilo em países vizinhos. Quem tinha a pele escura, teve que lidar com a negação típica de comunidades xenofóbicas e racistas.

A estudante de medicina nigeriana Jessica Orakpo contou à BBC os momentos de terror que ela viveu tentando escapar do país sob ataque militar.  Ela, parte de um grupo de 4 mil estudantes nigerianos no país, tinha como objetivo chegar até a Polônia que faz fronteira com a Ucrânia e conseguiu um taxi, porém por conta de muitos carros abandonados nas principais estradas, não foi possível continuar o trajeto de carro. “Pelo Google Maps dizia que seria uma hora andando, o que não achei muito. Porém quando a gente começou a andar o tempo foi aumentando. Eu andei por 12 horas e o termo andar se tornou traumatizante para mim”, relata Jessica.

Quando ela finalmente chegou ao local onde teria acesso ao ônibus que a levaria a fronteira da Polônia com a Ucrânia os oficiais a proibiram de entrar no veículo. Ela chegou a mentir e dizer que estava grávida, na tentativa de sensibilizar as autoridades.

“Eu estava suplicando e o oficial ucraniano me disse em sua língua ‘somente ucranianos e isso é tudo. Se você é negro você deve ir andando’, detalhou a Jessica que teve que andar mais 8 horas. E mesmo quando ela finalmente chegou na fronteira sua cor falou mais alto do que o seu direito a ter acesso ao país vizinho. “O problema nem era a Polônia e sim o lado ucraniano da fronteira. Eles só permitiam que os ucranianos fossem para o outro lado. Eles vão te empurrar, vão te bater e quem conseguiu, conseguiu, que não conseguiu ficou na Ucrânia”, contou a nigeriana que disse que agora, depois de uma soneca em um local seguro, ela ainda teve a sensação de estar andando para cruzar a fronteira.

Jessica teve que pagar sua passagem da Polônia até a Hungria, onde ela esta desde a manhã do dia 28 de fevereiro e já planeja seu retorno a Nigéria. “E quem não tinha dinheiro? O que eles poderiam fazer? Eu não pude ajudar ninguém porque eu estava lutando pela minha vida. Esse lugar não é seguro e se você tem a pele escura, você está em desvantagem”, finalizou.

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