Metade das mulheres brasileiras já sofreram algum tipo de violência doméstica ao longo de suas vidas, mas parte delas ainda não se reconhece exatamente como vítima. O dado faz parte da primeira atualização do Mapa Nacional da Violência de Gênero, projeto de parceria entre o Observatório da Mulher Contra a Violência (OMV) e o DataSenado, ambos do Senado Federal, o Instituto Avon e a Gênero e Número.

Durante o lançamento internacional, promovido pela Pacto Global da ONU, nesta quinta-feira (14), a Beatriz Accioly, Coordenadora de Parcerias, Políticas Públicas e Relações Institucionais, Instituto Avon, abordou a importância de combater a violência doméstica, mas pontuou uma preocupação em relação às políticas de transferência de renda para as vítimas, com base em outros dados levantados.

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“Muitas situações de transferência de renda, como o caso do Bolsa Família no início, aumentam a violência doméstica. Você dá um dinheiro na mão da mulher e ela vive uma situação violenta porque ele retira o dinheiro dela a partir da violência. Aconteceu a mesma coisa com o Auxílio Emergencial durante a pandemia”, explicou, durante a 68ª Sessão da Comissão da ONU sobre a Situação das Mulheres (CSW), em Nova York.

“A gente precisa reconhecer que a violência contra a mulher acontece por uma série de questões relacionadas à desigualdade. E aí a gente fala para as mulheres: ‘está sofrendo violência? Vai trabalhar’. Aí ela vai trabalhar e ela vai para uma situação onde ela reconhece que sofreu algum tipo de assédio moral ou sexual. Então ela sai de uma violência para outra. A gente já escutou de várias mulheres com quem a gente trabalha: ‘eu prefiro sofrer violência em casa de uma pessoa que eu gosto, do que uma violência na rua de uma pessoa que eu não conheço’”, lamentou a coordenadora.

De acordo com o levantamento inédito, 48% das brasileiras ouvidas já passaram por alguma situação de violência doméstica e familiar. Do total das mais de 20 mil mulheres brasileiras entrevistadas, 30% reconheceram a violência vivida e a nomearam como tal. No entanto, 18% ainda não se identificam espontaneamente como vítimas, porém, quando foram apresentadas a situações específicas de violência doméstica, admitiram ter passado por elas – dado que indica que o número de brasileiras que sofrem violações é muito maior do que os registros oficiais.

Apesar da incidência de violência doméstica ocorrer de maneira relativamente uniforme em todo o território nacional, a pesquisa também identificou que estados da região Norte do Brasil, como Amazonas (57%), Amapá (56%), Rondônia (55%) e Acre (54%), atingem patamares ainda maiores do que os índices nacionais. A região Sudeste também chama atenção com Rio de Janeiro e Minas Gerais, ambos com 53%,

Na ocasião, Beatriz Accioly ainda aproveitou para defender a importância de levantamento de dados como esse. “O mapa hoje é um exemplo do que a gente consegue fazer enquanto empresa e enquanto setor público para contribuir com a Agenda de Acesso aos Direitos do Brasil, que inclusive é a missão do Pacto Global. A gente acredita que o mapa é uma ferramenta nessa direção, é um meio para a gente alcançar a cidadania, uma gestão pública de qualidade, transparência, de uma alocação de recursos eficiente. E ele é um meio para democracia”.

Lançado em novembro de 2023, o Mapa Nacional da Violência de Gênero é uma plataforma interativa que reúne os principais dados nacionais públicos e indicadores de violência contra as mulheres do Brasil, incluindo a Pesquisa Nacional de Violência contra as Mulheres – a mais longa série de estudos sobre o tema no país. Dos dias 21 de agosto a 25 de setembro de 2023, 21.787 mulheres de 16 anos ou mais foram entrevistadas por telefone, em amostra representativa da opinião da população feminina brasileira.

Esta é a primeira vez, desde 2005, que a Pesquisa Nacional de Violência contra a Mulher apresenta recortes estaduais, possibilitando uma análise mais aprofundada do cenário de diferentes territórios do país.

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