Por aqui não conheço nenhum caso de alguém que tenha perdido o emprego por usar cabelo liso ou que tenha sofrido bullying pelos fios serem muito retos e soltos. Alguém aí já ouviu alguma história de associação de cabelo liso com falta de higiene? Esse foram algumas das razões pelas quais a nova campanha da Salon Line me deixou um pouco confusa.
Com o slogan “O Cabelo é liso e o papo reto”, a marca muito popular entre crespas e cacheadas faz uma defesa legitima ao respeito do cabelo alheio, mas errou ao sugerir que cabelo liso sofra algum tipo de preconceito também. “Fios diferentes, uma só voz, respeite todas as minas, olha para nós”, diz a rima da campanha.
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Não tenho propriedade para falar das dores das mulheres de cabelo liso, mas tenho para falar sobre opressão por conta do cabelo crespo.
Ao longo desses 20 anos do Mundo Negro escrevi inúmeras histórias de pessoas (homens e mulheres) que sofreram racismo por conta do aspecto crespo dos fios. De humilhação na escola, faculdade e nas redes sociais à demissão no emprego, nosso visual natural ainda gera violências.
O cabelo crespo, muito mais que o cacheado e mil vezes mais que o liso é o que tem a textura que se tornou o motivo de dores de muitas mulheres negras. Foi nosso tipo de cabelo que fez com que o João do BBB21 tivesse seus fios associados ao de um homem pré-histórico pelo pelo Rodolffo. São nossas madeixas crespas que encolhem por serem aneladas que fizeram com que a jovem Nicole ficasse arrasada por ter seu black lindo e cheiroso sendo definido por pessoas no Tik Tok como desleixado.
É muito importante que uma marca gigante como a Salon Line defenda a beleza plural de todo mundo, crespos, cacheados, lisos ondulados. Porém essa defesa não pode ser feita usando nossos símbolos, como nossa música (rap) e nossos discursos. Cabelo liso é padrão, que inclusive foi imposto a nós crespas há anos e finalmente nos livramos. Respeitem a nossa identidade.
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