Por Stefan Costa

O país que mais mata pessoas trans no mundo também é o país que alcançou 279 candidaturas trans na última eleição em 2018. Ao passo que atingimos um crescimento de 275% no número de candidaturas, desde a última eleição, de acordo com a Antra, também perdemos 175 travestis e demais pessoas trans que foram assassinadas em 2020. O que explica essa contradição é o fator histórico, quando por anos nos foram negados o direito à voz e opinião; contudo, ocuparmos esses espaços é o primeiro passo para ver essa mudança.

Notícias Relacionadas


Hoje, já possuímos referências políticas trans como Alexya Salvador, Érica Malunguinho, Duda Salabert e Jaqueline Gomes que provam que ao termos pessoas no parlamento que nos representam e, principalmente, representam nossos corpos, levaremos pautas e discussões essenciais para a sobrevivência da população trans no Brasil. Esta presença na política não leva apenas o tema que nos identifica, mas também amplia debates sobre políticas públicas LGBTQIAPN+, no geral, trazendo também uma visão sobre outros temas como racismo, violência e genocídio contra a população negra e indígena, ambientalismo e tantos outros.

Foto: Pablo Valadares/Câmara dos Deputados.

Foram 30 pessoas trans eleitas na última eleição e acredito que, neste ano,  podemos bater um novo recorde. Mesmo diante de um cenário político com diversos retrocessos no governo Bolsonaro, o impacto da representatividade alcançada em 2018 atesta que a nossa comunidade está agindo como um coletivo e se organizando no espaço público.

Mesmo que o congresso seja ocupado em sua maioria por homens brancos cis héteros conservadores, as candidaturas LGBTQIAPN+ estão sendo vistas e serão lembradas na história como a transformação da política. Dentre as 30 pessoas trans vitoriosas na eleição de 2020, 53% foram de partidos de esquerda. Também tivemos uma maior presença feminina, sendo 28 travestis eleitas e 2 homens trans eleitos. Quando fazemos o recorte de raça, 57% são pessoas brancas e 43% são pessoas negras, de acordo com dados analisados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Contudo, dentro do Brasil, onde pessoas diariamente violentam e objetificam corpos trans, ocupar o poder legislativo não é nada fácil para nós. Na verdade, o Dossiê de violências contra pessoas trans brasileiras da Antra, analisado em 2020, aponta que 80% das pessoas trans eleitas não se sentiram seguras para o pleno exercício dos seus cargos e que ataques transfóbicos se tornaram mais frequentes, após a ascensão do governo vigente.

Portanto, é importante ocuparmos esse lugar para que, de alguma forma, nossas vozes sejam ouvidas e que políticas públicas sejam revistas. Devemos lembrar que a sociedade é moldada conforme seu governo, por quem ocupa as bancadas e por quem rege as leis. Estar neste lugar pode, de certa forma, desmistificar um padrão social de que pessoas trans e travestis só servem como um corpo objetificado.

*Stefan Costa é influenciador digital de empoderamento Trans Negro e Embaixadorie Z1, banco digital da Geração Z.

Notícias Recentes

Participe de nosso grupo no Telegram

Receba notícias quentinhas do site pelo nosso Telegram, clique no
botão abaixo para acessar as novidades.

Comments