A estudante Mirella Archangelo, 16, voltou aos noticiários por conta de um momento especial que ela e  seus três irmãos compartilharam com a jornalista Glória Maria, que faleceu no dia 2 de fevereiro. A jovem viu sua conta no Instagram saltar de menos de 10 mil seguidores, para 60 mil, por conta do seu carisma, dicção impecável, além da curiosidade do público em acompanhar o amadurecimento de uma jovem com tanto potencial e talento.

Residente em Ribeirão Preto, a família de jovens que sonham grande, se depara com a realidade da maioria das famílias negras brasileiras que querem investir na educação dos filhos: a dificuldade financeira. Somado aos fatores de educação há questões sérias de saúde na família.  Mirella é cardiopata e seu pai, Júlio César Archangelo (43) sofre de uma doença autoimune. 

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Amanda Najara de Sales Santos, 36, mãe de Mirella explica que, como na maioria das cidades do interior, as pessoas fantasiam sobre a realidade da sua família. “Complicado é que com a visibilidade, as pessoas acabam achando que a Mirella está ganhando dinheiro”, explica Amanda dizendo que tem até quem peça dinheiro emprestado.

Conversamos com ela para conhecer melhor a família Archangelo, seus sonhos e dificuldades. Além de Mirella, Amanda e Júlio são pais de Peterson Sales Archangelo (13), Pablo Sales Archangelo (13) e Marjory Sofia Sales Archangelo (11). 

 1) COMO ERA A ROTINA DE VOCÊS ANTES DE DEPOIS QUE MIRELLA E OS IRMÃO FICARAM CONHECIDOS?

A nossa rotina antes da Mirella e os irmãos ficarem conhecidos era bem tranquila. Eles estudavam todos na mesma escola (Municipal em Ribeirão Preto). Mirella estudava no período da manhã e Peterson, Pablo e Marjory a tarde.  Eu e o Júlio trabalhávamos no estúdio que foi aberto em 2011. Conseguimos manter bem a rotina da casa. O dinheiro que ganhamos com o estúdio dava para viver bem.

Depois que o vídeo viralizou em dezembro de 2017 foi uma loucura. Nos meses seguintes, até meados de julho, se falava bastante.  As crianças foram convidadas a participar de várias coisas.  Chegamos a fazer algumas parcerias, mas com o passar dos dias, e desencontros com pautas e assuntos que queriam que eles tratassem, decidimos que era melhor parar. Tinha dias que eles  não queriam sair para gravar, queriam brincar em casa ou na rua, aí se tornava chato para eles. Sem contar que os valores que às vezes (quando tinha pagamento) eram apenas para o transporte, mal sobrava para um sorvete.  Afinal eram 4 crianças.  Então eu e o pai decidimos que era melhor deixar eles aproveitar a infância.

COMO É LIDAR COM ESSA POPULARIDADE EM UMA CIDADE PEQUENA?

Em questão de popularidade, no nosso bairro é bem tranquilo. Dificilmente eles são parados por alguém, e quando são, é apenas para receber os parabéns.  O complicado é que com a visibilidade, as pessoas acabam achando que a Mirella está ganhando dinheiro, então tem sempre aquele comentário chato, aquela mensagem pedindo ajuda, acham que estamos cheios de grana. Acham que porque ela está no Fantástico ou na TV local fazendo uma reportagem ela está sendo remunerada. Então fica aquela sensação de que estamos “bem financeiramente “, mas a realidade não é esta.

AS CRIANÇAS JÁ VIVERAM SITUAÇÕES DE RACISMO? Há ALGUMA QUE TENHA TE MARCADO MAIS COMO MÃE?

Viver uma situação de racismo escancarada, não . Sempre deixei claro para eles que estas situações existem e na medida do possível, ensino como eles podem reagir. O que mais acontece e nos chama à atenção, é que sempre que chegamos em alguns lugares, principalmente se for restaurantes ou lojas, somos sempre olhados da cabeça aos pés.  

Supermercados sempre temos a companhia de seguranças. Por ser uma família muito grande, de pretos retintos, sempre somos vigiados de perto. Procuro sempre manter a calma e digo a eles que a sociedade não está preparada para nossa beleza.  Tento sempre manter este momento com descontração e tem dado certo.

SUA FAMÍLIA É GRANDE E O BRASIL TEM VIVIDO UM MOMENTO DE RECESSÃO NOS ÚLTIMOS 4 ANOS, COMO FOI PARA VOCÊS FINANCEIRAMENTE? A VISIBILIDADE DA MIRELLA TROUXE ALGUMA RENDA PARA FAMÍLIA?

Com a recessão nos últimos 4 anos, a pandemia fez nossa família ficar com um maior desconforto financeiro.  O Júlio também possui uma doença autoimune que foi reativada em dezembro de 2019, onde ele teve que ficar afastado do estúdio ( ele é tatuador)  por 4 meses.  Foi um momento complicado que está se perpetuando ainda. Durante a pandemia tivemos que fechar as portas mesmo, pois a Mirella é cardiopata e o Júlio tem a doença dele. Nos fechamos em uma bolha, literalmente e quase toda reserva financeira que tínhamos, foi indo para os gastos da casa e família.  A visibilidade da Mirella trouxe um pouco de ajuda em 2018, após isso não mais.

Nós temos o estúdio de tatuagem há 12 anos. O Júlio é tatuador e eu ajudo na parte da administração, agendamentos e organização do local. Desde que eles nasceram não voltei a trabalhar fora, encontramos no estúdio uma forma de trazer o sustento e ficar sempre por perto deles.  Levar na escola, participar das reuniões e festas escolares sempre foi muito importante para nós pais. No último ano de 2022, entendemos que com as dificuldades financeiras seria melhor eu procurar outro trabalho fora para ajudar financeiramente, mas com a minha pouca experiência tem se tornado um pouco complicado. No momento estou fazendo parte de um processo seletivo para entrar em uma empresa e trabalhar na área da logística.  Estou no aguardo e o Júlio continuaria com o estúdio .

Foto: Arquivo pessoal

A MIRELA QUER FAZER JORNALISMO. SE ELA ENTRASSE HOJE NA FACULDADE, VOCÊS CONSEGUIRIAM MANTÊ-LA?

O sonho da Mirella é cursar jornalismo. Se ela hoje entrasse em uma faculdade que gerasse um custo maior do que temos com ela no Colégio, infelizmente ela teria que trabalhar ou não poderia fazer o curso. Ela e a Marjory são bolsistas 100% de mensalidade em um excelente colégio em Ribeirão Preto, mas os custos com materiais didáticos (que aliás ainda nem comprei), materiais de uso pessoal, tablets, transporte, alimentação, uniforme são custeados por nós então gera um gasto médio mensal. 

Se o gasto dela na faculdade for maior que este, sinceramente não acredito que teríamos condições se não estivermos empregados em outros lugares.

A nossa maior dificuldade financeira hoje é ter o dinheiro para estes extras, que cada vez estão mais caros. O que ganhamos no dia é gasto no dia. Os meninos não estudam com elas, pois não temos condições de manter estes gastos diários.  Eles estudam ainda no Colégio Municipal. Desde 2020 não conseguimos mais fazer uma reserva financeira. 

E OS OUTROS FILHOS QUEREM SE O QUE QUANDO FICAREM MAIS VELHOS?
Os irmãos da Mirella querem fazer outras coisas. Pablo quer fazer algo que envolva robótica, games , jogos. Peterson ama fotografia, recentemente ganhou uma máquina antiga de fotos e vive fotografando, mas disse que fará educação física porque gosta muito de esportes. A Marjory está pensando em fisioterapia, ou algo relacionado a ciências ou saúde.

Quem quiser contribuir com a família Archangelo pode fazer uma doação por meio do pix:

PIX:
Amanda Najara de Sales Santos
amandajara_@hotmail.com

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