Apagamento cultural na gastronomia: O cajuzinho ancestral, não tem leite condensado

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Apagamento cultural na gastronomia: O cajuzinho ancestral, não tem leite condensado
Imagem: Vitor Corrêa

Quem já se deliciou com o cajuzinho em festas infantis dos tempos antigos?

O doce é o campeão quando falamos de comida afetiva de festas infantis, traz boas lembranças de tempos remotos, quando ele era o sucesso das festas.

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Pouco a pouco o cajuzinho foi saindo de cena a medida que os brigadeiros gourmets invadiram as mesas de festas, cada vez com mais destaque.

Mas por que será que o cajuzinho foi esquecido?
Pesquisas mostram que a receita original do cajuzinho era composta por: polpa de caju, farinha de mandioca, castanha de caju e mel.

Era um doce das regiões Norte e Nordeste. Com a emigração, o doce chegou ao Sul e Sudeste. A partir daí sua composição foi alterada – a polpa e castanha de caju deram lugar ao amendoim, o mel substituído pelo chocolate em pó e a farinha de mandioca pelo leite condensado, sendo mantido apenas o tradicional formato de caju.

Todas essas mudanças descaracterizaram totalmente o docinho que caiu em esquecimento.

Precisamos destacar que essas mudanças radicais nos ingredientes que compõem uma receita provocam o que chamamos apagamento cultural (invisibilidade e silenciamento da cultura de um povo).

Há indícios de que este doce teria como seu ancestral o canjirão, um doce nordestino feito de mandioca, polpa e castanha de caju e mel, que com o tempo teve a mandioca substituída pela farinha de mandioca e que a facilidade no preparo tenha permitido o doce se popularizar pelo País.

Entendendo a cultura como um conjunto de manifestações vivas, que trazem elementos que representam um povo, ela também se modifica, se transforma, então são totalmente legítimas as mudanças de ingredientes nas receitas, seja por substituições por gosto ou adequações ao meio, porém devemos preservar a memória no que tange a história de cada comida e assim garantir a perpetuação dos saberes que representam o povo do qual se originou aquela receita.

É importante destacar que ao resgatarmos e promovermos nossas receitas e comidas ancestrais e suas histórias, estamos permitindo aos mais jovens que reconheçam
A importância da tradição em nossa própria cultura culinária quanto povo brasileiro, e esta representatividade empodera esse jovens e fortalece sua auto estima.

Receita do Cajuzinho original (ancestral)
1 xícara de polpa de caju fresco (pode usar conserva).
1 xícara de castanha de caju natural
10 colheres de sopa de farinha de mandioca fina
4 colheres de sopa de mel ou melado de cana.

Para finalizar:
castanhas de caju
açúcar refinado ou cristal

Como fazer Cajuzinho de antigamente:

Primeiramente processe ou triture a castanha de caju no processador ou liquidificador até ficar em pedacinhos, como uma farinha grossa.

No próprio processador ou em uma tigela misture essa farinha de castanha com os restantes ingredientes: o mel ou melado de cana e a farinha de mandioca. Deixe descansar por uns 30 minutos (de preferência na geladeira), para que o doce fique mais firme.

Depois desse tempo, confira a consistência: o doce deverá estar firme o suficiente para modelar no formatinho de cajuzinho de festa tradicional com as mãos. Se ainda estiver mole, adicione um pouco mais de farinha de mandioca e volte a misturar; se estiver seco e quebrando, adicione um pouco mais de mel ou melado.

Modele em formato de caju. Adicione uma castanha em cada cajuzinho e, se quiser, envolva no açúcar. Está pronto seu cajuzinho de antigamente, um cajuzinho da vovó feito sem leite condensado e sem ir no fogo! Experimente e nos diga. O que você achou?

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