O Candomblé, religião de matriz africana, destaca-se por uma relação direta entre espiritualidade e natureza, considerando os elementos naturais como manifestações dos Orixás, divindades sagradas. Essa abordagem fundamenta práticas de preservação ambiental que se alinham ao respeito aos recursos naturais, vistos como sagrados. Em um contexto de intensificação da crise climática, essa visão tradicional oferece uma perspectiva distinta para a conservação de rios, florestas, montanhas e outros ecossistemas, defendendo uma relação de respeito e cuidado que vai além da sustentabilidade convencional.
Para os praticantes do Candomblé, a natureza não é apenas um recurso, mas uma entidade viva e sagrada. Os Orixás, divindades da religião, são associados a elementos específicos do meio ambiente, como rios, mares, ventos e florestas. Essa relação estabelece uma visão em que a preservação ambiental torna-se um dever espiritual e não apenas uma prática ecológica. O que está em jogo não é apenas a saúde do planeta, mas a manutenção de um equilíbrio sagrado entre a humanidade e o universo.
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Segundo Baba Thales, Bàbálorisá do Ilè Ojú Ayrá, “sacerdote”, essa relação é enraizada nos ensinamentos ancestrais, que orientam o respeito e a proteção do meio ambiente como parte essencial da vida. “Respeitar os Orixás é, acima de tudo, respeitar o meio ambiente. Cada elemento tem sua função e precisa ser preservado, assim como os ensinamentos ancestrais nos guiam para uma convivência harmônica com o planeta”, afirma. Ele explica que, nos rituais e práticas do Candomblé, existe uma consciência ambiental que valoriza os recursos naturais e busca seu uso consciente, evitando o desperdício e promovendo o equilíbrio.
Para a religião, a atual crise climática é vista como um reflexo de um desequilíbrio entre o ser humano e a natureza. Essa abordagem entende que a exploração excessiva dos recursos naturais é um problema que não afeta apenas o meio ambiente, mas também a própria espiritualidade e bem-estar da humanidade. O conceito de equilíbrio é central para o Candomblé, e a destruição de ecossistemas é percebida como uma ameaça não só à biodiversidade, mas à continuidade dos próprios valores espirituais.
Ao unir espiritualidade e responsabilidade ambiental, o Candomblé representa uma perspectiva de preservação que vai além das práticas convencionais. Sua abordagem reforça a importância de cuidar da natureza não apenas por questões de sobrevivência, mas como parte de um dever com a própria essência divina que, segundo os praticantes, habita o mundo natural e exige respeito e proteção para as futuras gerações.
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