Nos últimos 50 anos tenho acompanhado algumas iniciativas sobre o combate ao racismo na educação. Você será surpreendido pela encenação do espetáculo “Para o meu amigo branco”, que está em cartaz no SESC do Belenzinho, no bairro de mesmo nome, Zona Leste da cidade de São Paulo.
“Para meu amigo branco” é uma apresentação teatral inteligente, que nos cativa desde as primeiras cenas, pela temática atualíssima: branquitude. Um texto bem escrito e de fácil compreensão.
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Quantas vezes uma situação abertamente racista não foi interpretada como “não foi bem assim”, “a intenção não era essa”, “eu não enxergo a cor e sim seres humanos” ou até mesmo, “é você quem vê racismo em tudo”?
Ficamos impressionados pelo texto da peça teatral, escrito por Mery Delmond e Rodrigo França, que mostrou ser um trabalho de pesquisa em autoras negras como: Cida Bento, Kiusam de Oliveira, Petronilha Gonçalves e Silva, Sueli Carneiro, Nilma Lino Gomes, Rachel de Oliveira e tantas outras e escritoras e cientistas maravilhosas. E autores como Guerreiro Ramos, Abdias do Nascimento, Eduardo de Oliveira e Oliveira, Henrique Cunha Jr. e Luiz Alberto.
O espaço do teatro estava ocupado por casais de pessoas negras em sua maioria. Muita gente bonita e elegante na plateia. Em cada cena que observei, registrei olhares atento e comentários que se traduziram em merecidos aplausos. O elenco está impecável. Vale a pena ver a grandeza, a sensibilidade da representação daqueles atores, que nos mantêm conectados a cada fala, gesto, diálogo e movimento no palco. Que beleza. Quanto revelação.
Seria ótimo se professores e professoras do ensino fundamental, ensino médio e superior se articulassem para assistir. O espetáculo dialoga, em especial, com os docentes e propõe reflexões. Não há receitas, nem um manual de como combater o racismo. Há uma disposição de se aprender a superar o racismo, brancos e negros sem concessões, sem paternalismos, com um enfrentamento corajoso.
Como diz a historiadora Ynaê Lopes dos Santos no livro “Racismo Brasileiro: uma história da formação do país”, de leitura obrigatória: pensar o racismo a partir de um “contrato racial”. Esse contrato pode ser entendido como uma estrutura de poder específica, definida por regras formais e informais, por privilégios socioeconômicos e pela distribuição diferenciada dos bens materiais, das oportunidades, dos ônus e dos bônus e, também, dos direitos e dos deveres.
Recomendo que você chegue um pouco mais cedo ao SESC Belenzinho, em São Paulo, pois há uma exposição de arte negra maravilhosa: ‘Dos Brasis’. Além do espetáculo “Para Meu Amigo Branco”, que está em cartaz às sextas e sábados, às 21h30 e aos domingos às 18h30, visite a exposição.
Se você for, poderemos nos esbarrar ou nos encontrar na plateia, pois voltarei muitas vezes e levarei muitos amigos para assistirem. Vale a pena.
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