Se você ainda não assistiu o documentário ‘Cidade de Deus – 10 anos depois‘, lançado em 2013 e disponível na Netflix, está perdendo uma oportunidade de entender como acontece o racismo estrutural, mesmo com um grande elenco negro, que fez história no cinema nacional e no mundo. Neste Dia do Cinema Brasileiro, 19 de junho, fica o questionamento: os atores negros estão sendo devidamente valorizados no cinema nacional?
Recentemente, em entrevista ao Mundo Negro, Leandro Firmino, conhecido mundialmente como o Zé Pequeno de ‘Cidade de Deus’, relatou que ainda passa períodos em casa, aguardando convites para novas gravações. “Pelos trabalhos que ele já fez, se ele fosse um homem branco, ele teria muito mais trabalho e a gente estaria em outro patamar de vida”, desabafou a esposa Leticia Da Hora, junto com o ator.
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FOTO 3X4: Rudson Martins – Produtor de Elenco
Todos sabemos o quanto é difícil se tornar um ator ou atriz de sucesso. Mas não estamos falando de qualquer pessoa. Leandro Firmino e todo o elenco, merecia muito mais pelo trabalho impecável que elevou a qualidade do cinema nacional. Com quatro indicações ao Oscar, ‘Cidade de Deus’ é o segundo filme estrangeiro mais visto no mundo, segundo a pesquisa norte-americana do IMDb.
Através do documentário sobre o vida após gravação de ‘Cidade de Deus’, é possível notar a artista que mais obteve oportunidades e visibilidade na carreira de atriz foi a Alice Braga (Angélica), uma das poucas mulheres brancas do elenco. Depois de ‘Cidade de Deus’, ela recebeu o convite para atuar com o Will Smith em ‘Eu Sou a Lenda’. Já em um de seus trabalhos mais recentes, ela é protagonista em uma série Original Netflix ‘A Rainha do Sul‘. Enquanto muitos do elenco do clássico nacional, nem conseguiram seguir com a carreira de cinema, ou só conseguiram com muita dificuldade, em passos mais lentos.
Rubens Sabino (Neguinho), por exemplo, foi um dos que não conseguiu seguir a carreira artística e sofreu dificuldades. Ele foi preso quase um ano depois do lançamento do filme, após roubar a bolsa de uma mulher dentro de um ônibus no Rio de Janeiro, e não tinha nenhuma passagem pela polícia antes. “Eu virei um morador de rua famoso, mas não rico, enquanto Cidade de Deus arrecadou milhões”, relatou no ano passado, em entrevista ao jornal Extra.
Outro ator também foi preso depois do lançamento do filme e causou espanto entre as pessoas que o conheciam através do cinema. “Tudo isso não valeu de nada. Não adianta eu fazer um filme que é conhecido mundialmente, e tá duro”, disse Ivanzinho (da gangue do Zé Pequeno), no documentário.
Atualmente, Leandro Firmino tem voltado a ganhar mais visibilidade em produções audiovisuais, integrando o elenco das séries ‘Impuros‘ da Star+ e ‘Operação Maré Negra‘ do Prime Video. Mas, convenhamos, será que se ele fosse um ator branco indo ao Oscar, Festival de Cannes, ele precisaria participar do Big Brother Brasil para ganhar mais papéis notáveis no cinema ou nos streamings?
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