O ator Leandro Firmino, 44, e a esposa publicitária Leticia Da Hora, 34, são um dos poucos casais negros famosos no Brasil. Pais de uma criança atípica, eles se consideram completamente fora do padrão da mídia, e exalam muito amor e união.

Casados desde 2015, o casal compartilhou em entrevista exclusiva ao Site Mundo Negro, em especial ao Dia dos Namorados, como é a vida a dois, os cuidados um com o outro para manter um relacionamento duradouro e saudável, os hobbies, além da luta para trabalharem, cuidarem da casa, das crianças, e contra o racismo estrutural que afeta nessas dinâmicas do dia a dia.

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Leandro, estrela do filme ‘Cidade de Deus‘, diz que não curte muito datas comerciais, mas a Leticia adora o Dia dos Namorados, então ele sempre lhe faz um agrado. “Eu só não gosto mais de sair porque tá tudo muito cheio, tô muito velha pra ficar passando raiva em fila de motel, de restaurante. Eu prefiro dar um rolê antes ou depois. Me contento com um presentinho. Mas não gosto de chocolate, presente de comer. Gosto de coisas duráveis, tipo brincos, relógio”, revela a ativista social.

“Para dar certo, os dois tem que querer de verdade. Porque as adversidades vem, problemas financeiros, incompatibilidades. Todo casal tem. Acho que o mundo está muito volúvel, tudo é muito artificial, raso. E para você manter um casamento, tem que ser algo profundo, intenso”, diz Leticia sobre os relacionamentos.

Foto: Rafa Furtado

Leia a entrevista completa abaixo:

1 – Neste ano vocês completaram oito anos de casados. Qual a receita para um casal se manter juntos por tanto tempo?

Leandro: No meu ponto de vista, o mais importante é saber perdoar e admitir os seus erros. O casamento é o dia a dia, não existe uma receita. A vida a dois é bem complicada, especialmente se ninguém quer ceder.

Leticia: Para dar certo, os dois tem que querer, de verdade, não é mais ou menos. Porque as adversidades vem, problemas financeiros, incompatibilidade de um monte de coisa. Todo casal tem. Mas é querer de verdade. Acho que o mundo está muito volúvel, tudo é muito artificial, raso. E para você manter um casamento, tem que ser algo profundo, intenso. Todo casal passa por um momento de reflexão, mas uma das coisas que eu gosto do Leandro, é o fato de que ele está sempre procurando se desconstruir, melhorar, procurar dar o seu melhor, para construir uma família e faz com que a gente queira ficar. Eu também melhorei bastante, amadureci muito. Agora não dá para entrar em um relacionamento profundo, duradouro, com uma pessoa, com a mesma personalidade de sempre. 

Leandro: Não adianta você querer casar e levar uma vida de solteiro. Por exemplo: terminei uma gravação, vou pro pagode. Isso não existe. Você tem querer estar casado. Ter um compromisso. Isso de sair na sexta e voltar na segunda, como era no caso dos meus avós, isso não existe mais. Quando resolvi casar com a Leticia, eu pensei que a minha vida teria que mudar muita coisa. Eu ainda estou em processo de mudança, para melhorar como pessoa para continuar casado. Meus pais estão casados há mais de 40 anos, se conheceram bem jovens, e até hoje eles passam por muitas coisas. Por exemplo, ajudar a cuidar do bisneto, que acontece muito nas famílias negras, que vivem em comunidades, minhas sobrinhas foram mães muito cedo. Sempre que eu falo com alguém mais jovem, eu aconselho a estudar, trabalhar, viajar, porque tudo isso agrega. E quando for casar, ter uma família, você tem histórias, referências, que podem te ajudar.

Foto: Rafa Furtado

2 – Vocês são um casal negro famoso no Brasil, e infelizmente, ainda temos poucas dessas referências para admirar. Como vocês se sentem neste lugar e qual a importância de valorizar uma família negra, apesar de estarem em um espaço midiaticamente racista, que os coloca como fora do padrão?

Leticia: A gente já está acostumado a viver fora do padrão. Nada novo no rolê (risos). A gente ainda tem uma criança atípica. Mas questão de emprego assola muito mais a gente do que uma família branca. O trabalho de uma mulher preta e um homem preto é muito mais pesado do que o de um casal branco. As mazelas que nos atingem são muito maiores. Por exemplo, meu marido é um homem negro, ator. Com certeza, pelos trabalhos que ele já fez, se ele fosse um homem branco, ele teria muito mais trabalho e a gente estaria em outro patamar de vida. Eu não precisaria, por exemplo, trabalhar 40 horas por semana, igual eu trabalho. Seriam outras condições. Isso afeta na nossa saúde mental, nas nossas divisões de tarefas. A gente não tem uma pessoa que vai nos ajudar nas tarefas de casa. Ele como é um ator negro que nem sempre está trabalhando, fica mais em casa do que eu, então ele dá conta das coisas da casa mais do que eu. Fica muito mais com as crianças, lava mais a louça, porque eu tô fora. 

Foto: Rafa Furtado

3 – A chegada de uma criança mudou muito a rotina de vocês?

Leticia: Uma criança muda totalmente a rotina. E uma criança atípica demanda muito mais. Questões de trabalho, de cuidar, porque ela precisa de mais necessidades do que outras, e questões emocionais. Antes de receber o diagnóstico do autismo, foi todo um rolê de terapia, de psiquiatra, da dúvida do diagnóstico. Foi muito dolorido pra gente, mas também fez a gente amadurecer enquanto casal. Essa foi a maior barra da minha vida. O Leandro não conseguia falar sobre isso, eu ainda falava, chorava. Então a gente encontrou apoio um no outro. O estresse que também causou devido a sobrecarga sobre mim e sobre ele. E a gente vê que tem muitas famílias assim, especialmente com mulheres negras, que são mais preteridas. Mulheres negras e com ensino superior tem mais chances ainda de ficar sozinha. E uma pessoa que escolheu ficar, apesar de todas as dificuldades, manter a nossa família, o nosso relacionamento, é muito bom. Ter um filho autista é punk, é caro, cansativo fisicamente e emocionalmente.

Foto: Rafa Furtado

4 – Como casal, vocês tem algum hobbie? O que vocês gostam de fazer quando estão apenas os dois juntos?

Ambos: Dormir juntinhos.

Leandro: Uma das coisas que a gente mais gosta.

Leticia: Quando a gente tá cansado, dormir de tarde é maravilhoso. Quando a gente consegue, pode.

Leandro: Hoje em dia é muito raro fazer isso no final de semana. 

Leandro: Cada vez mais eu tenho gostado de ficar dentro de casa. A Leticia que faz força para sair, mas por mim faria tudo dentro de casa. 

Leticia: Ele e o Miguel [filho mais velho do Leandro, de 11 anos] são caseiros. Eu e o Levi [6 anos] gostamos de rua. Eu trabalho a semana inteira, aí final de semana eu já quero sair. E a gente também adora comer. Conhecer uma milhão de culinárias diferentes. 

Foto: Rafa Furtado

5 – Apesar de terem trabalhos diferentes, vocês costumam se apoiar de alguma forma no trabalho um do outro? 

Leandro: A gente se ajuda muito. Ela me convence a postar status, cria os textos. 

Leticia: Os vídeos com maiores visualizações, eu que fiz o roteiro (risos).

Leandro: Nos últimos meses, ela tem me ajudado. Porque se depender de mim, eu não tenho paciência pra isso, ficar pensando em vídeos: ‘amanhã vou falar sobre o que?’. Uma coisa é filmar, ir pro set, gosto de ficar dentro de um set.

Leticia: O Leandro também ajuda na divulgação do Mulheres da Parada [ONG idealizado pela publicitária].

Foto: Rafa Furtado

6 – Vocês se casaram mais de uma vez. Foi ficando cada vez mais tranquilo ou vocês tiveram aquele famoso ‘frio na barriga’?

Leticia: Foi bem tranquilo, mas eu fiquei muito mais feliz com o casamento no religioso porque eu sou protestante, e pra mim tinha um significado bem importante. A gente se casou três vezes. Casamos no civil, tivemos uma recepção no CDD [Cidade de Deus – RJ], e depois no religioso. E eu pretendo fazer bodas. Porque a gente casou velho e dificilmente vamos fazer 50 anos de casados. E eu queria comemorar a cada 5 ou 10 anos.

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