Larissa Nunes, 27, começou sua carreira artística em 2010 e a cada ano que passa conquista mais e mais espaço no audiovisual. Ela começou a ganhar espaço em “Coisa Mais Linda”, da Netflix, e hoje é a protagonista de “Americana”, da Star+, que está sendo gravada no interior de São Paulo.
Em uma entrevista exclusiva ao Mundo Negro, Larissa falou sobre sua personagem Sebastiana, em “Americana”, e sobre o destaque que vem ganhando nos últimos trabalhos.
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“O que importa é a história que estou contando e o espaço que estou conquistando”. Com quase 13 anos de carreira, nos últimos tempos Larissa vem conquistando papéis relevantes. Em 2022, ela interpretou Letícia Carvalho, na novela “Além da Ilusão”, da Globo, e também a “Cleusa”, na série “Rei da TV”, da Star+.
Para a atriz, que tem a maioria dos seus trabalhos no streaming, trabalhar em uma novela foi um sonho realizado. “Sempre quis fazer novelas, sempre me encantei pelo universo da dramaturgia, acessível, aquela que todo mundo vê, que todos os públicos acompanham. Então para mim foi a primeira vez que eu tive algum tipo de visibilidade que pudesse ir além do público específico que o streaming me traz, que é interessantíssimo”, disse Larissa que também mencionou que não tem preferência: “Eu sou do streaming, da TV, eu sou de onde me chamarem (risos).”
Sebastiana, personagem de Larissa em Americana, é uma mulher inteligente e a frente do seu tempo, que sem saber foi um experimento social da sua ex-proprietária, ela aprendeu idiomas, matemática, estratégia e piano. Em Americana, onde vive confederados da Guerra Civil nos EUA, ela e seu atual proprietário, Tobias, vão investigar a morte de um menino indígena.
“É uma investigação que ela acaba chegando nela mesmo, porque ela começa encontrar umas figuras na cidade, como por exemplo, o Benedito, que é interpretado por David Junior, que é um rapaz preto que também tem um lugar bem ousado e acaba despertando coisas e questões que nunca tinha vivido antes. É uma história que fala de descobertas, investigações, fala sobre muitas coisas (risos). Eu acho que tem a ver com uma jornada consigo mesma para se encontrar”, revelou a atriz.
Para Larissa, o tempo que estamos vivendo, com diversos protagonistas negros, nunca aconteceu antes. Mas ainda é preciso continuar se qualificando para “mostrar pra que realmente a gente veio”.
“A medida que a demanda está aumentando a gente precisa se qualificar mais, mostrar pra que realmente a gente veio e é isso que estou tentando fazer nessa série, é isso que quero fazer nos próximos trabalhos e naquilo que eu me propuser a fazer. Eu acho que protagonismo é muito importante, tem lugares que muitas mulheres precisaram ir primeiro, como Zezé Motta, para estarmos aqui, agora temos o compromisso, uma responsabilidade no momento que a gente se torna protagonista, de contar a história com a magia e dignidade que ela deve ter. E cada uma encontrar a sua maneira de contar suas histórias. Pra mim tem sido isso”, disse a atriz.
Leia a entrevista completa a seguir:
Mundo Negro – Você já viveu vários papéis em diversos projetos, como Coisa Mais Linda e 3%, da Netflix, a novela Além da Ilusão, da Globo e Rei da TV, da Star+. Para você, como mulher negra, as portas estão se abrindo cada dia mais?
Larissa Nunes: Eu acho que hoje de alguma maneira as oportunidades estão mais a nossa vista, mesmo que os desafios de permanecer e ter um lugar na sua carreira artística ainda seja desafiador. Esses desafios ainda existem. Mas eu acredito sim, é muito nítido a diferença de como as oportunidades rolavam há 10 anos atrás, só de pensar que em 2010 eu quis ser atriz e comecei a estudar e aquele cenário já era muito diferente do cenário que to vivendo hoje e que meninas da minha idade daquela época estão vivendo hoje, uma oportunidade de poder atuar não só no teatro, mas no cinema e na televisão. Tem mudanças acontecendo sim.
MN – Falando sobre Além da Ilusão, como foi para você trabalhar em uma novela e voltar agora para as séries/streamings? Há muita diferença?
Larissa Nunes – A experiência de gravar uma novela foi muito incrível pra mim porque acho que tem um imaginário muito forte quando a gente começa atuar. Pelo menos eu, sempre quis fazer novelas, sempre me encantei pelo universo da dramaturgia, acessível, aquela que todo mundo vê, que todos os públicos acompanham. Então para mim foi a primeira vez que eu tive algum tipo de visibilidade que pudesse ir além do público específico que o streaming me traz, que é interessantíssimo. Porque eu acho que no streaming você consegue perceber mais o gosto de quem tá assistindo e o que você produz vai ali na afinidade de cada espectador. Em Coisa Mais Linda, por exemplo, muitas mulheres vinham até mim falando: “eu gosto muito dessa série”, “gosto muito dessa personagem”, “A Ivone é incrível”, “me inspiro nela”, enfim. Então, eu acho que trabalhar [atuando] hoje em dia é poder andar por todos os lados. Eu acredito que a televisão é um lugar que para mim é importante, mas eu sou uma pessoa que veio do streaming, eu gosto dessa rotatividade, dessas mudanças e ambientes que a gente acaba construindo. Eu sou do streaming, da TV, eu sou de onde me chamarem (risos). Para mim, o que importa é a história que estou contando e o espaço que estou conquistando.
MN – Nessa questão de história, a Ivone, em Coisa Mais Linda, e Larissa Carvalho, na novela Além da Ilusão, que são personagens de épocas passadas. Como é agora em “Americana” vivenciar uma personagem em uma época há mais de 100 anos atrás?
Larissa Nunes – Eu acho que de uns tempos pra cá, essa construção da minha carreira como atriz vem muito com um certo tipo de máquina do tempo, eu acabo fazendo épocas porque de alguma maneira para mim o passado tem coisas que precisamos resgatar para contar histórias do futuro e do presente, principalmente. Eu gosto de personagens que atravessam estes tempos e coincidentemente eu fiz algumas épocas. Eu comecei com “Coisa Mais Linda”, anos 60, depois eu fui para o “Rei da TV”, que é a biografia do Silvio Santos, fiz a primeira fase, nos anos 70, depois eu fui para Além da Ilusão, falando um pouco dos anos 40 e agora eu to completamente dentro de um século que eu sei da importância histórica que ele teve, principalmente no brasil, que é o século XIX. Um período bem conturbado, intenso, ainda estávamos no auge da escravidão, então sao assuntos que conversam com o presente o tempo todo. Mas eu gosto muito das viagens que minhas personagens me levam e agora tem tido muito espaço para um contemporâneo que vem surgindo, eu acabei de terminar as gravações de uma série, dirigida pelo Gustavo Bonafé, chamada “Vidas Bandidas”, ela se passa em 2024 e minha personagem Marina é totalmente atualizada e dentro do seu tempo, lidando com os problemas que temos enfrentado como mulher, vivendo um triângulo amoroso intenso. Além dessa série, eu fiz a biografia do Anderson Silva, que também vai estrear em breve no Paramount+, onde minha personagem a Dayane, esposa do Anderson, também vive um lugar contemporâneo, com questões contemporâneas ligadas também a mulher e aquilo que a gente vive mesmo. Todas as minhas personagens estão tentando contar algo muito importante para o presente, é um lugar que eu preservo muito, essas conquistas tem acontecido porque tem personagens muito bacanas que vem surgindo. Para mim tem sido assim, um pouco de atravessar o passado e viver esse presente, contar e imaginar, que faz parte do que faço como atriz. Imaginar é meu motor.
MN – O que podemos esperar de Sebastiana em Americana?
Larissa Nunes – Sebastiana é uma mulher bem reverente, muito peculiar, muito à frente do seu tempo. Ela é uma garota que foi criada de um modo diferente, mesmo no contexto da escravidão no brasil, acaba ganhando muitas habilidades, como piano, idiomas, estratégia, matematica, enfim. Ela é conhecedora de muitas coisas. Ela não sabe que foi parte de um experimento social feito pela proprietária dela que até então ela tinha como tutora, então vamos encontrar uma sebastiana muito inteligente e audaciosa que tem uma certa curiosidade e acaba se tornando uma investigadora juntamente com Tobias, que é o atual proprietário dela. E a relação dos dois quando eles não estão na frente das pessoas é uma relação bem horizontal, são uma dupla. Ele do jeito dele, ela mais ponderada e observadora. Eles acabam se envolvendo em um crime na cidade de Americana e ela sabe que é uma cidade de confederados, que tem recebido pessoas que perderam a guerra civil nos EUA, então ela conhece a intolerância dessa galera e mesmo assim vai, até porque ela ainda depende legalmente do Tobias. Ela acaba se envolvendo mais nesse crime, nesse assasinato de uma criança, quando descobre que é um menino indígena, coisa que até então não sabiam. E Tobias já quer ir embora, é um caso que ele não quer se envolver, mas ela é tomada por uma força de querer ficar por aqui e ela enfrenta tudo e todos pra desvendar esse mistério. É uma investigação que ela acaba chegando nela mesmo, porque ela começa encontrar umas figuras na cidade, como por exemplo, o Benedito, que é interpretado por David Junior, que é um rapaz preto que também tem um lugar bem ousado e acaba despertando coisas e questões que nunca tinha vivido antes. É uma história que fala de descobertas, investigações, fala sobre muitas coisas (risos). Eu acho que tem a ver com uma jornada consigo mesma para se encontrar.
MN – E pra você Larissa, como foi fazer uma personagem no período da escravidão?
Larissa Nunes – É importante dizer, que essa serie Americana, retrata um periódo que apesar de ser a escravidão no Brasil ela tem um olhar muito diferenciado sobre esse momento histórico. Ela vai contar de um ponto de vista que não conhecemos, principalmente quando estamos falando de histórias que poderiam acontecer dentro da escravidão, que são as histórias dos escravos libertos. Aqueles que fugiram e deram conta que se salvaram, dessas mulheres que tiveram, de alguma maneira, contato com a casa grande e tiveram ali, de uma maneira contraditória e complexa, algum tipo de conhecimento e de contato que fizeram elas se salvarem também, uma vez que aprendem a ler. Estamos contando histórias de pessoas extremamentes inteligentes e que estão tentando além de sobreviver tentar encontrar outras pessoas pretas. Eu gosto muito de dizer que Sebastiana é uma mulher muito mágica, cheia de habilidades, tem um porte muito vivido nesse período. ela é uma mulher que vive um processo de apagamento e esse processo faz com que ela de alguma maneira sobreviva a essa sociedade racista e eu acho que isso tem muito a ver com nosso contemporâneo. Porque a gente também tem muitos processos de se descobrir como pessoa preta, a gente vive um processo de apagamento e embranquecimento sem perceber. Então eu acho que esse é o caráter que a série vai abordar, de como se perceber e se conhecer é um caminho sem volta, estamos retratando um período histórico com peculiaridade, com coisas que o público não é acostumado em ver, eu tenho tido esse olhar sobre a história.
MN – Queria saber de você, uma mulher negra protagonista no audiovisual em uma época que temos novelas da Globo com protagonismo negro ganhando muita audiência, acha que as novelas e os streamings, estão enxergando que esse caminho da representatividade é mais rentavel?
Larissa Nunes – Eu acho que o momento que estamos vivendo nunca vivemos anteriormente. Ver tanto a televisão aberta como streamings com esse olhar de protagonismo que tá tentando contar boas histórias, que não é apenas só estar lá por ser uma pessoa preta, tem sido muito interesse. Eu acho que o público também precisa prestar atenção nesse momento, nessas pessoas que estão contando a história. Tem muitas mudanças muito incríveis de lá pra cá. Acho que esse protagonismo precisa ser cada vez mais com qualidade, com variedade e com diversidade de histórias, tem coisas que estão acontecendo que são muito bonitas, mas a gente tem sempre que se atentar aos estereótipos, aos clichês, as coisas que tem a ver com a nossa realidade, mas que o público no geral acaba não percebendo. Acho que tem ainda um lugar do mercado de exigir e reparar que é uma demanda. Virou uma demanda representatividade, ter pessoas pretas, as pessoas reclamam quando não tem, então sim, tem um olhar mercadológico nisso, mas em contrapartida, tem gente [preta] criando, tem pessoas pretas atrás das câmeras, diretores, roteiristas. A medida que a demanda está aumentando a gente precisa se qualificar mais, mostrar pra que realmente a gente veio e é isso que estou tentando fazer nessa série, é isso que quero fazer nos próximos trabalhos e naquilo que eu me propuser a fazer. Eu acho que protagonismo é muito importante, tem lugares que muitas mulheres precisaram ir primeiro, como Zezé Motta, para estarmos aqui, agora temos o compromisso, uma responsabilidade no momento que a gente se torna protagonista, de contar a história com a magia e dignidade que ela deve ter. E cada uma encontrar a sua maneira de contar suas histórias. Pra mim tem sido isso.
MN – Já estamos quase na metade de 2023, quais são seus planos e expectativas para o resto do ano?
Larissa Nunes – Eu quero muito continuar trabalhando e vendo quais são os próximos trabalhos a vista, estou aberta às novidades que vierem. Ao mesmo tempo que tem sim um desejo muito grande de viajar, [colocar] o repertório de vida de novo em jogo, uma viagem internacional, um lugar que eu possa conhecer mais pessoas. E basicamente curtir minha família, ficar com minha mãe, ficar com meus amigos. Eu acho que tem sim um momento que provavelmente vou tirar um tempo pra mim e ao mesmo tempo plantando novas sementes para os novos trabalhos.
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