A pergunta é simples, mas carregada de significados: onde estão os negros no carnaval do Brasil? Nesta semana, ela gerou uma importante conversa nas ruas e nas redes sociais a partir de uma projeção que aconteceu no centro de São Paulo (SP). Hoje, revelamos com exclusividade que ela marcou o início da narrativa da Feira Preta e do Mercado Livre, que juntos convocam a sociedade a resgatar a origem do abadá, valorizando os afroblocos e celebrando a ancestralidade da cultura preta na maior festa popular do país.
Historicamente, o carnaval foi marcado pela presença de grupos negros, que deram origem às festas de salão, aos afoxés e aos diversos gêneros musicais que consumimos. Indo além, é impossível falar sobre a origem do carnaval brasileiro sem citar a existência e a resistência dos afroblocos, organizações culturais, educativas e recreativas que promovem verdadeiras transformações sociais através de suas músicas e suas histórias.
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Ao longo do tempo, os afroblocos perderam espaço no cenário carnavalesco. Mesmo em estados enegrecidos como Rio de Janeiro e Bahia, os preços dos abadás, a privatização de espaços públicos e o valor alto dos ingressos para acessos aos shows dos artistas, deixaram a população negra à mercê do carnaval. A festividade, que antes era um momento de pura celebração, se tornou em muitos aspectos um cenário elitista, branco e com poucas oportunidades para a população negra.
“O carnaval ao longo do século 20 foi fundamentalmente preto, africano, a sua tipologia na sua organização, na sua mobilização, na sua tecnologia midiática, de todos os recursos. Ele começa a ficar profundamente branco no século 21. Tem uma virada de chave que são os anos 60, em função do enriquecimento da classe média a partir dos anos 50. Há uma cristalização dessa política que muda muita coisa com o início da transmissão do carnaval pela televisão”, explica Juarez Xavier, ativista antirracista, professor e vice-diretor da Unesp.
Para o acadêmico, os afroblocos representam o carnaval das possibilidades: “eu gosto de chamar os blocos de arranjo midiático. O bloco tem um papel importante do ponto de vista político, do ponto de vista organizacional, do ponto de vista da geração de renda, do ponto de vista de uma tecnologia social, de intervenção no espaço social do espaço urbano. Então tem toda uma importância estratégica. Ter esses blocos significa mais do que uma resistência. Eu acho que é a afirmação do universo negro nessas diversas políticas do carnaval. Como eu disse anteriormente, tem o carnaval da perversidade, que é o branco racista, tem o carnaval da fabulação, que é da classe média, que quer ser democrata e não é, e aí tem um carnaval das possibilidades, que são dos blocos africanos”.
Os afroblocos são parte integrante do carnaval, eles representam uma demonstração não só de festa e folia, mas de fé e afirmação da cultura afro. E foi esse carnaval mais popular e raiz um dos mais prejudicados com a elitização e embranquecimento do carnaval. Para além da celebração, o carnaval é um dos eventos mais lucrativos do calendário nacional, no entanto, a cor do dinheiro há tempos não fica nas mãos de quem deu origem a essa festa.
Ao ouvir a sua comunidade negra, formada ainda por parceiros como a Feira Preta, o Mercado Livre identificou a necessidade de iniciar um diálogo sobre a origem do Carnaval e o papel do empreendedorismo e dos afroblocos. Para isso, contou com a ajuda de pesquisadores para identificar e celebrar a origem e símbolos dessa cultura por meio da moda para a criação da ‘Coleção Abadá’, que reúne peças que resgatam e valorizam a ancestralidade da cultura preta. A palavra abadá tem sua origem na África, do iorubá. Trazida pelos negros malês para a Bahia, continuou sendo chamada assim e, até hoje, é a indumentária dos capoeiristas. Após o início das festividades nas casas brancas, o povo reinventou a celebração à sua cultura, passando a usar o abadá como principal ferramenta de expressão da sua ancestralidade. O abadá é a essência, a alma, a veste de celebração.
“Além de impulsionar as causas nas quais acreditamos, sempre com o apoio dos nossos parceiros e comunidade interna, as nossas campanhas têm nos ajudado a seguir uma trajetória consistente de aprendizado, permitindo enfrentar de maneira coletiva os desafios à equidade racial, que sabemos que são complexos. Estamos impulsionando projetos e afroempreendedores para ampliar e valorizar a cultura preta dentro do carnaval, fazendo jus a uma festa tão democrática. A visibilidade pode ser transformadora, nos motivando a investir em ações que ajudam a construir uma sociedade mais inclusiva”, conta Thais Nicolau, diretora de Branding do Mercado Livre na América Latina.
Elemento central dessa narrativa, e que dá nome à coleção, o abadá foi resgatado pelas marcas Nazura Art, Casa Cléo, e Studio Aurum, que criaram peças inspiradas em importantes afroblocos nacionais. “As marcas foram escolhidas em uma curadoria da própria Feira Preta, para captar profissionais que tivessem a brasilidade nas criações. Já os blocos foram escolhidos de acordo com o tempo de inatividade, de existência e atuação junto à sua comunidade. A partir daí, a criação da coleção foi feita em uma colaboração entre os estilistas empreendedores e os próprios patronos dos blocos, levando cerca de 20 dias para ganhar vida”, diz Thais.
O Mercado Livre vai, ainda, apoiar financeiramente esses três blocos que deixaram de desfilar neste carnaval, permitindo que se reestruturem ao longo de 2023 e que voltem a desfilar pelas ruas do Rio de Janeiro em 2024. São eles o Afoxé Maxambomba, um dos mais notáveis da baixada fluminense e que está inativo desde 2015, o Tafaraogi, movimento afro pioneiro na zona oeste carioca, cujo último desfile também foi há oito anos, e o bloco Olodumaré, que tem influência do baiano Olodum e que não desfila desde 2019.
São esses blocos que inspiraram as peças das marcas que assinam a Coleção Abadá. “Foi mais de um mês de incessantes pesquisas para que todos os blocos e afoxés – mais de 100 pelo Brasil – pudessem apresentar suas histórias e suas tradições, seus relatos e o trabalho social que realizam no entorno de onde vivem. A partir dessas pesquisas disponíveis e de outros levantamentos que conduzimos, olhamos para todos os elementos norteadores do carnaval pela ótica dos blocos e afoxés de matrizes africanas, assim como as centenas de características que ocupam espaço nesse universo afro cultural”, explica Flavia Cocozza, pesquisadora que apoiou o Mercado Livre no projeto.
Questionando o uso que foi dado ao abadá ao longo dos anos, a campanha assinada pelo Mercado Livre e Feira Preta ajuda a contar esse lado pouco valorizado da história, trazendo ainda mais visibilidade para marcas e empreendedores negros. “Desde 2018, o Mercado Livre atua em prol do fortalecimento do afroempreendedorismo e da valorização da inventividade preta, por meio de diversas iniciativas desenvolvidas em parceria com a PretaHub e outras organizações latinoamericanas”, destaca Laura Motta, gerente sênior de Sustentabilidade do Mercado Livre. “Ao promover a venda online de itens feitos por afroempreendedores, patrocinar eventos como o Festival Feira Preta e valorizar diferentes expressões da cultura do povo negro, como a música e agora o Carnaval, nós reconhecemos o lugar que a cultura ocupa na história de resistência do povo preto. Reconhecemos a capacidade que ela tem de levar mensagens relevantes para cada vez mais pessoas, de maneira acessível, e o impacto da economia criativa e do afroempreendedorismo para a geração de renda.”
A campanha, que começa no dia 09 de fevereiro, terá desdobramentos antes e após o carnaval. As peças criadas para essa coleção serão disponibilizadas na loja oficial da Feira Preta no Mercado Livre, onde as vendas vão impulsionar as próprias marcas e apoiar o trabalho do Instituto Feira Preta. A ação visa celebrar a origem do carnaval brasileiro e a importância dos afroblocos como símbolos de resistência e empreendedorismo negro. “A campanha Abadá vem bem conectada com o nosso dia a dia junto aos afroempreendedores, com o nosso propósito de democratizar o acesso ao mercado e ao dinheiro, e com o nosso compromisso de contribuir para uma sociedade mais diversa e inclusiva. Queremos ampliar a voz de um Carnaval que tem nas raízes da cultura negra a sua mais pura essência, valorizando quem sempre fez essa festa acontecer e enaltecendo afroempreendedores que, através da moda, celebram a ancestralidade”, completa Laura.
Para Adriana Barbosa, CEO da PretaHub, apesar de elitizado, o carnaval ainda pode retornar às suas origens de diversidade. “O abadá, que antes era usado como forma de identificação das pessoas pertencentes a blocos e escolas de samba, passou a se tornar uma ferramenta de exclusão da população negra quando as empresas começaram a oferecer e garantir experiência e acesso premium a lugares e serviços, por meio de sua venda”, diz Adriana. “Camarotes, cordas de trio elétrico, blocos de rua, escolas de samba, todos estão cada vez mais brancos, e o motivo é o valor que custa para estar presente nesses lugares. Não acredito que seja um caminho sem volta, é preciso que a população e as organizações, privadas e públicas, contribuam para que essa festa, que tem em sua raiz a diversidade, acolha e celebre todos os povos, inclusive aqueles que contribuíram com a sua concepção. Sei que não vai ser fácil mudarmos a lógica do uso do abadá e retornarmos para o que era antes, ainda mais quando falamos sobre lucro, mas não acho que é impossível.”
Esse é um conteúdo pago por meio de uma parceria entre o Mercado Livre e site Mundo Negro.
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