Por: Ricardo Corrêa
Dia 20 de janeiro de 2023, completa cinquenta anos do assassinato de um dos maiores revolucionários que surgiu no continente africano. Estou falando do poeta, pan-africanista e engenheiro agrônomo − Amílcar Lopes Cabral −, nascido em 1924, na cidade de Bafatá, Guiné-Bissau. Ele foi co-fundador do Partido Africano Para a Independência da Guiné-Bissau e Cabo Verde – PAIGC (1956), e se tornou a principal liderança do partido na luta pela independência. Naquela época, o desafio dos países colonizados por Portugal era demasiadamente complexo, pois o país estava sob o governo violento do ditador António de Oliveira Salazar (1933−1968),
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Amílcar Cabral compreendia que a assimilação dos valores dos colonizadores, pelos colonizados, era um fator que necessitava ser desconstruído para que a independência, quando fosse alcançada, se tornasse completa. Para tanto a retomada da cultura africana seria imprescindível. Ele até nomeou de “reafricanização dos espíritos” referindo-se as atividades artísticas que resgatavam a identidade do povo africano. Com esse objetivo, defendeu incondicionalmente a educação no processo de descolonização, tanto que declarou que a utilização de armas como instrumento de combate era um recurso imperativo, por causa da demanda concreta, porque se dependesse da sua própria vontade os livros seriam mais desejáveis.
O método pedagógico de Cabral, na construção da consciência política, considerava a realidade do povo em permanente dialética com a teoria. Em virtude disso, acabou chamando a atenção do educador pernambucano Paulo Freire, que passou a estudá-lo profundamente “[…] eu cheguei realmente até ter um projeto de fazer um estudo, assim uma espécie de biografia da práxis de Amílcar e era um grande sonho; em certo sentido eu me sinto frustrado até hoje, porque não pude fazer isso […]. Eu cheguei até a ter o nome do livro que eu quis escrever, que não pude escrever que se chamava ‘Amílcar Cabral, pedagogo da revolução’.”
A independência de Guiné-Bissau foi reconhecida oficialmente em 1974, e Cabo Verde, em 1975, entretanto, o “Pedagogo da Revolução” foi assassinado antes de presenciar o resultado da vitoriosa e memorável luta. De qualquer maneira, as suas ideias continuam circulando e influenciando a todos que combatem a opressão dos povos oprimidos, e considera a educação como fundamento para a emancipação política; Paulo Freire (2016) não o conheceu pessoalmente, mas aproveitou as lições “Em Cabral eu aprendi uma porção de coisas, digo em Cabral significando também com Cabral, que aprendi um bando de coisas, eu confirmei outras coisas de que eu suspeitava, mas eu aprendi, por exemplo, uma coisa que é a necessidade que têm o educador progressista e o educador revolucionário.”
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CABRAL, Amílcar . Guiné-Bissau – nação africana forjada na luta. Lisboa. Nova Aurora, 1974.
CABRAL, Amílcar. Unidade e Luta I. A Arma da Teoria. Textos coordenados por Mário Pinto de Andrade, Lisboa: Seara Nova, 1978.
FREIRE, P. Sobre Africanidade: Amílcar Cabral, pedagogo da revolução. In: FREIRE, P; ARAÚJO, A. M. (org.). Pedagogia da tolerância. 5. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2016. p. 115-155.
ROMÃO, José Eustáquio; GADOTTI, Moacir. Paulo Freire e Amílcar Cabral: a descolonização das mentes. São Paulo: Editora e livraria Instituto Paulo Freire, 2012.
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