Em junho celebramos três santos importantes para o catolicismo brasileiro: Santo Antônio (13), São João (24) e São Pedro (29). Cada um com suas características singulares, Santo Antônio certamente é conhecido por ser o santo casamenteiro. Ele também é aquele santo que recebe os castigos mais inusitados, há devotas que colocam o santo dentro da geladeira quando ele não atende suas preces, ou mesmo de cabeça para baixo em cima da geladeira. São João, festejado quase no final do mês, é por excelência o santo dono da fogueira dos festejos juninos e é dele também o feriado de junho em muitas cidades do Nordeste brasileiro. São Pedro é o mais sério desse pequeno grupo do mês, é quem decide quem entra ou não no céu. Ele é o guardião da chave do paraíso.
É na metade do ano que as ruas de todas as capitais do Nordeste estão coloridas com bandeirinhas e balões (e tantos outros símbolos juninos) para festejar. É um importante momento de sociabilidade urbana e rural, pois no interior dos estados desta região do Brasil festas nas ruas e nas casas ocorrem.
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Escrevo este texto muito influenciada por minha própria experiência (nem sei se é possível escrever fora na nossa experiência). Lembro-me da concepção de escrevivência de Conceição Evaristo. Lembro-me daquela escrita que surge do cotidiano, das memórias e da experiência pessoal e coletiva. Escrevo com certo encantamento. Mas irei justificar. Nasci e passei o maior tempo da minha vida em Niterói, região metropolitana do Rio de Janeiro, há quase três anos me mudei para a Bahia. Então, pensei que seria minha primeira experiência no São João baiano. Porém, enfrentamos a pandemia do covid-19 e por dois anos os festejos foram suspensos. Uma ação mais do que necessária. Finalmente, em 2022, com calma e responsabilidade, as celebrações juninas voltaram. Com ela toda a nossa vontade de celebrar a vida dos santos e as nossas.
Essas comemorações são negras, nordestinas e fruto de um catolicismo próprio, o catolicismo afro-brasileiro. Diversas práticas religiosas festivas guardam certo sincretismo. Não aquele sincretismo racista e simplista descrito por Nina Rodrigues, no final do século XIX e início do XX. Não é um sincretismo de sobreposições, mas sim, de relações alicerçadas em hierarquias, porém num processo constante de negação dessas mesmas hierarquias. Falo de um sincretismo como aquele cantado por Maria Bethânia na música São João, Xangô Menino. Das lembranças sobre as características comuns entre Santo Antônio e Exu pelas aventuras de ambos e pela ideia de que eles abrem os caminhos. Há também quem relacione Santo Antônio com Ogum. Pelo senso de justiça, aspecto marcante tanto de Xangô, rei de Oió, quanto de São Pedro, que com a chave do céu toma importantes decisões. As relações entre santos e orixás são regionalizadas, o que a gente pode encontrar no Rio de Janeiro não é o mesmo que encontra em Salvador ou mesmo em Recife. Elas também mudam com o tempo.
Como uma admiradora de Iansã, terminarei este pequeno texto com o fogo. Para lembrarmos, ao longo dessa segunda metade do ano, da alegria da fogueira de São João e da energia forte do fogo de Xangô.
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