Por prof. Dr.Ivair Augusto Alves dos Santos
A novela da televisão da Globo, no horário das 19 horas tem se caracterizado por um banho de emoções de belas cenas. Uma das imagens mais belas e singelas que assisti foi com a menina Maria Eduarda, a Duda, interpretada pela atriz mirim Manu Estevão, filha mais nova de Carlão (Che Moais) e de Sol (Sheron Menezzes).
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Duda está no colégio e ao terminar as aulas, ela se recusa a sair da sala de aula e pede que chamem seu pai. O pai vai busca-la, mas ela cochicha algo em seu ouvido. Ele mostra surpresa e oferece a blusa para ela enrolar na cintura. O pai conforta a menina, pede para ela não ter vergonha e que no caminho de casa vai comprar absorvente feminino. A cena é singela e bonita.
A menina poderia ter pedido ajuda para professora, para uma amiga de sala, pedir a presença da mãe, mas ela escolhe o pai. Naquele momento, todos os homens noveleiros como eu, se emocionaram e viram o Carlão como o grande herói. Um homem negro trabalhador, que acolhe a filha, que tem a confiança e amor do pai.
Infelizmente, o personagem faleceu no capítulo desta terça-feira (14), após sofrer um grave acidente de carro, mas Carlão deixou uma mensagem importante. Ser pai negro de uma menina é um orgulho, e assumir isso diminui a sobrecarga sobre as mães, mas são raros os pais que compartilham esse momento tão íntimo e tão maravilhoso que é a primeira menstruação de uma menina.
Os homens se colocam distantes e pedem ajuda da mãe quando se deparam com esta situação. Carlão tinha recurso e comprou absorvente, de vários tipos e tamanhos e orientou a filha a conversar com mãe sobre como utilizá-los.
Quando vi a cena do Carlão abraçado a Duda e comemorando que sua filha estava se tornando uma mocinha, fiquei emocionado e me vieram algumas questões. Os homens estão preparados para cuidar das sua filhas? E os pais que não têm condições de comprar absorventes, como eles se sentem?
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), vetou totalmente o projeto de lei que previa a distribuição gratuita de absorventes em escolas, no sistema prisional e para pessoas em situação de rua e de extrema pobreza.
O governador não deve ter visto a novela Vai Na Fé, e nem tampouco teve sensibilidade de perceber que o Projeto de Lei tinha o grande objetivo de definir diretrizes de uma política pública, “Menstruação Sem Tabu”, com ações de conscientização sobre a menstruação e combate à pobreza menstrual.
O PL, de autoria das deputadas Delegada Graciela (PL), Janaina Paschoal (PRTB), Beth Sahão (PT) , Edna Macedo (Republicanos), Leci Brandão (PCdoB), Marina Helou (Rede) e Patrícia Gama (PSDB), foi aprovado em dezembro de 2022 pela Assembleia Legislativa; uma verdadeira unanimidade entre as mulheres deputadas de diferentes siglas partidárias.
O veto de fato impede a universalização de um direito básico das mulheres. O Governador, para justificar o veto, disse que existe o “Programa Dignidade Íntima”, que prevê a distribuição de absorventes, coletores menstruais, lenços umedecidos sem perfume e sacos para descarte de absorvente. Mas esqueceu a abrangência que o Projeto de Lei previa.
A luta política de combate à pobreza menstrual exige que os homens tenham a consciência e a sensibilidade do Carlão da novela Vai Na Fé, que tanto orgulhou todos os pais negros do país.
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