Por Ivair Augusto Alves dos Santos

Carlão (Che Moais) morreu. Foi um pai dedicado, apaixonado, amoroso, trabalhador, apoiou sempre a mulher em seu trabalho de dançarina, mas o mais extraordinário foi ele assumir a paternidade de um filho que não era seu. Não pediu DNA, nem discutiu quem era o pai, simplesmente amou sua mulher acima de qualquer coisa do passado. Ao ver as cenas, me sinto orgulhoso de ver um pai presente. Fico pensando quantos casais podem estar passando por esta situação. Ele amou sua mulher preta.

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Em tempos de epidemia de feminicídio, assistir um homem preto tão corajoso, íntegro, nos enche de simpatia e de admiração. Puxa vida, que belo exemplo de pai. Sem aquelas imagens de violência que estamos acostumados a nos ver representados na teledramaturgia, nas novelas, nos filmes, séries de TV.

Ontem ficou difícil assistir outras novelas da Globo, por exemplo, Travessia que contém discursos tóxicos e brigas entre casais. Chega a ser sufocante. E ver novelas do SBT, Bandeirantes, Record e demais canais tornou-se insuportável. Não consigo ficar diante da TV cinco minutos. São imagens chocantes e de uma TV branca. Não há presença negra nos elencos. Só isto já torna difícil assistir e gastar o nosso precioso tempo.

Hoje me organizo diariamente para assistir a novela Vai Na Fé, com cenas do cotidiano de uma família de trabalhadores da periferia das grandes cidades. O que me impressiona é que nenhum programa de governo assiste aquelas famílias: nem Vale Gás, nem Bolsa Família, não há menções sobre o papel do poder público.

Impressionam também aqueles jovens negros e negras que parecem não ter opção no campo da educação. Estamos falhando com a juventude negra, que parece não tão bem retratados na novela, só aquelas famílias que conseguiram apoiar seu filhos a chegar na universidade, mas o nosso maior gargalo, tem sido no ensino médio. Com poucas alternativas para a juventude negra.

Mas a existência de pais pretos responsáveis, quebra o estereótipo do pai que abandona a família. E valoriza as famílias que fazem o sacrifício de manter seus filhos na universidade. E essa juventude guerreira que estuda em condições difíceis, resiste e segue em frente. O importante é o apoio mútuo de jovens negros para vencer as barreiras de um ambiente tão hostil.

Carlão (Che Moais) morreu em um acidente de trabalho, que tem mutilado e levado à morte milhares de trabalhadores. A ausência de um pai numa família humilde tem enormes repercussões nas vidas de seus filhos. A dor e a falta de apoio financeiro é um testemunhos real da vida de muitas famílias negras.

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